Coisas Sérias 10 2001  

 

"Sites" do Estado em avaliação

Os cerca de 500 web sites pertencentes a organismos directa ou indirectamente ligados à Administração Pública vão ser, semestralmente, alvo de uma avaliação extensiva e directa, anunciou ontem em conferência de imprensa Mariano Cago, ministro da Ciência e Tecnologia. 0 objectivo principal desta iniciativa é produzir recomendações com vista no aperfeiçoamento desses portais.

Esta avaliação irá ser feita por uma entidade privada, ainda desconhecida. Isto porque só ontem foi lançado o concurso público. "Três a cinco meses", garante Mariano Gago, é o tempo que teremos de esperar para conhecer os resultados da primeira das avaliações semestrais. Prometeu ainda que "todos os resultados serão tornados públicos".

Depois de escolhida a entidade, a avaliação será feita através da observação directa dos sites. 0 método de avaliação assentará em duas vertentes, qualidade e maturidade dos portais. Na dimensão qualitativa irão considerar se como critérios: conteúdos, actuaização dos mesmos, navegabilidade e facilidades para o cidadão com necessidades especiais. No que respeita à maturidade, pretende se avaliar o estado de desenvolvimento do site, tendo por base o grau de interactividade permitida.

Mas, Mariano Cago esclarece: "Esta não é uma avaliação dos organismos públicos, mas da informação que disponibilizam na Internet e da utilidade desta para o cidadão."

Para além da classificação dos sites, o relatório final deverá incluir algumas recomendações sobre como aperfeiçoar cada um dos portais. Os critérios técnicos na base desta avaliação irão dar origem a um guia de construção e aperfeiçoamento dos portais. Este estará, brevemente, disponível na Rede em www.cisi.mct.pt. "0 público alvo deste guia são os organismos da Administração Pública", disse Lurdes Rodrigues, presidente do secretariado executivo da Comissão Interministerial para a Sociedade da Informação.
(Susana Leitão "Diário de Notícias")


TAP e PT rumo à "webização"

A TAP Air Portugal e a Portugal Telecom assinaram ontem um acordo que visa a "webização" da companhia aérea nacional. "São duas grandes empresas que se juntam com o objectivo de entrar em força no mercado digital", afirmou, na ocasião, Fernando Pinto, presidente da TAP.

Brevemente, e acompanhando outras companhias aéreas, todos os clientes da TAP poderão aceder à Rede durante o seu vôo. Embora a concretização do projecto não tenha ainda data prevista, ambas as empresas garantem que as tecnologias estão prontas...

Este acordo assenta em diversas áreas de parceria. Sendo a primeira o desenvolvimento de soluções de comunicações de voz para os passageiros da TAP, mas também a disponibilização de telefones móveis a passageiros VIP. Esta parceria visará ainda a criação de um portal dedicado às viagens de lazer e profissionais.

Rumo à "webização", a TAP aproveitou o dia para apresentar o seu novo site na Internet. Completamente reestruturado, em www.tap airportugal.pt os utilizadores vão encontrar o novo rosto desta companhia aérea. Determinados a entrar em força na nova economia, o portal disponibiliza novas funcionalidades aos utilizadores, das quais se destacam a possibilidade de emitir bilhetes a partir do computador, com o papel ausente de todo o processo.

A área dos conteúdos foi também reestruturada e ampliada, de forma a facilitar a consulta e navegação dos cibernautas. A informação divide se em seis zonas principais: Empresa, Serviços, Contactos, Programa Qualiflyer, Horários/Reservas e Leilão Virtual. Este último coloca semanalmente 15 destinos diferentes, com bases de licitação bastante atractivas. Criado em 1997, o Leilão Virtual recebe semananalmente a visita de muitos milhares de cibernautas.
(Susana Leitão "Diário de Notícias")


Publicidade privilegia linguagem universal
Difícil identificar nacionalidade e mercados onde entram os anúncios
Cátia Almeida em Cannes

Um concurso de ideias globais. Os trabalhos inscritos no Festival Internacional de Publicidade, que decorreu na semana passada em Cannes, "falavam" uma língua universal que transcendia diferenças culturais. Seria impossível identificar a nacionalidade dos autores dos anúncios sem ler as respectivas fichas técnicas. Um exemplo. À lista final das peças criativas na categoria de Imprensa chegou um anúncio onde o protagonista era Luís Figo. A fotografia era acompanhada da mensagem: "Tenho o meu próprio grupo de seguidores. Chamam se defesas". Uma campanha da Nike que se poderia esperar ser proveniente de Portugal ou Espanha. Engano. Foi elaborada e veiculada em Singapura.

As boas ideias não têm nacionalidade. Quando as propostas são avaliadas por jurados de 20 ou 30 países diferentes, de vários continentes, a criatividade desenvolvida localmente deixa de ter sentido. Por outro lado, as grandes marcas também não competem a nível local, necessitanto de uma comunicação internacional.

Segundo Bob Isherwood, presidente do júri do Film/Press & Poster e director criativo da Saatchi & Saatchi, "a vantagem de competir em Cannes é poder testar anúncios a nível mundial. O festival dá oportunidade aos publicitários de se certificarem que os seus trabalhos resultam noutro país que não o seu". Veja se o exemplo da campanha da cerveja Budweiser, que venceu o Grande Prémio de filmes no ano passado. A marca conseguiu criar uma espécie de chavão popular entre todos os participantes. O cumprimento "whassup" (what's up) conseguiu vingar em poucos dias. Este ano a marca desenvolveu a mesma ideia noutros trabalhos. A aceitação foi a mesma. Quando os anúncios eram transmitidos nos auditórios do festival, seguia se sempre um forte aplauso. Descurando uma produção e execução brilhante, os filmes apostam na dramatização de situções quotidianas divertidas que se identificam com o público. Para Isherwood, a comunicação deve vir do coração e não da mente. O objectivo é criar uma relação emocional entre a marca e o consumidor. E foi precisamente isso que a Budweiser conseguiu fazer.

De resto, a categoria de Bebidas Alcoólicas agradou à maioria do público. A Heineken apostou no humor ao criar uma campanha onde "provava" que aspectos que marcaram comportamentos dos homens se deviam à cerveja. Um exemplo: num concerto, um dos elementos do público abaixou se para procurar uma garrafa de cerveja. Como era noite, serviu se de um isqueiro. As pessoas à sua volta começaram a imitá lo acendendo isqueiros. O anúncio termina com a mensagem que foi a partir daqui que começou este hábito nos concertos.
("Diário de Notícias")


Ciberpornografia atrai técnicos

Os infelizes contemplados pela onda de despedimentos que tem afectado a nova economia e o comércio online encontraram um outro ramo de negócio na Internet, que lhes garante uma segurança de emprego muito maior. Na indústria da pornografia online, em pleno neste momento e sem indícios de recessão, não se fala de despedimentos em massa nem de mudanças sistemáticas de direcções, centros de distribuição ou ramo de actividade, o que tem levado muitas pessoas com competências para trabalhar online a optar por um emprego mais seguro, ainda que menos público.

De facto, de acordo com uma investigação conjunta da CNN e de empresas de estudos de mercado, tem se mesmo verificado uma crescente contratação de profissionais em novas tecnologias e modelos de negócio online por parte de empresas com actividade na ciberpornografia. Por outro lado, são também os próprios migrantes os primeiros a adimitr que a transição faz todo o sentido, uma vez que lhes oferece segurança de emprego e oportunidade de continuar a trabalhar com aquilo de que mais gostam e sabem: novas tecnologias.

A PHE, uma empresa de venda de jogos de sexo, filmes pornográficos e outros produtos, é uma das organizações que mais pessoas tem contratado nos últimos tempos. Shea Trisdale, directora de comércio electrónico da empresa, não tem problemas em adimitir que "a relutânica inicial em aderir foi ultrapassada depois de conhecer a tecnologia empregue no desenvolvimento de negócios e o desafio constante colocado aos ténicos". Neste momento, é ela quem contrata outras pessoas, e está a liderar a reformulação do site de vendas da PHE, o www.adameve.com
. Dois engenheiros de software, recentemente despedidos de outra empresa, são as suas mais recentes aquisições.

Ao contrário de outros tipos de negócio na Internet, a pornografia online tem mostrado sinais de sanidade. De acordo com um recente estudo da Media Metrix, o número de visitantes individuais de sites de sexo aumentou cerca de 30 por cento nos últimos dois anos. As estimativas indicam que os 22 milhões de visitantes frequentes de Dezembro de 1999 são agora quase 30. Convém referir que se trata de pessoas que realmente pagam para usufruir dos conteúdos. Subscritores habituais.
(Diário de Notícias")


Distribuição encarece comércio "online"

O comércio na Internet seduz distribuidores e consumidores pela sua simplicidade, por um lado, mas, por outro, implica também elevadas taxas de distribuição que pesam fortemente no valor final das vendas e nos preços dos serviços online. Segundo um inquérito realizado pela empresa Jupiter Media Metrix, 45 % dos distribuidores online americanos afirmaram perder dinheiro ao fazer a embalagem e a entrega dos seus produtos.

Ao facturar a distribuição por unidade e não de acordo com o peso dos produtos adquiridos, os distribuidores correm o risco de aumentar os custos, em vez de favorecer o serviço ao cliente, sublinha a Jupiter Media Matrix. De acordo com este estudo, 54 % dos comerciantes online facturam a entrega segundo o número de artigos vendidos e 30 % sobre o peso. Estas elevadas taxas fazem com que 63 % dos consumidores desistam de fazer as suas compras através da Rede, já que o preço não compensa.
(Diário de Notícias)


Napster junta se a editoras na Net

O Napster acaba de assinar um acordo com o MusicNet, a plataforma de distribuição de música na Internet das três maiores editoras mundias, facto que lhe permitirá fornecer serviços por assinatura paga.

O conhecido site passa então a contar, legalmente, com os catálogos das editoras AOL Time Warner, Bertelsmann (BMG) e EMI, em troca de uma comissão, que será obviamente sustentada pelos pagamentos dos utilizadores do Napster. Por enquanto, porém, ainda nada é definitivo, já que o acordo foi firmado apenas com os responsáveis do MusicNet, faltando o aval oficial das editoras que este representa. O único entrave ao desenlace do caso parecem ser as reservas que a indústria fonográfica mantém sobre a verdadeira protecção dos direitos de autor e distribuição, mesmo nas plataformas por si desenvolvidas e mantidas, como é o caso da MusicNet.

A menos de 24 horas de mais uma audiência em tribunal, considerada crítica para a sobrevivência do Napster enquanto projecto, surge então a notícia que pode, de um momento para o outro, inverter o rumo que o processo contra o Napster tomava. A indústria fonográfica, mesmo com a notícia do acordo, não parece, no entanto, querer desistir da queixa interposta contra o site.

Independentemente de tudo o que possa acontecer na sala do Tribunal Federal de São Francisco, a verdade é que, confirmado pelas palavras do director interino do site, Hank Barry, "está prestes a nascer um novo Napster". No entanto, o site atravessa o pior momento da sua "curta" história. Desde que foram colocados filtros que bloqueiam a troca ilegal de músicas, o número de utilizadores frequentes diminuiu substancialmente. Há, no entanto, um dado que permanece intocável, e no qual os responsáveis pelo site acreditam piamente: o Napster goza ainda de uma imagem extremamente positiva junto do público, e, mais cedo ou mais tarde, e mesmo com serviços pagos, vingará enquanto plataforma de distribuição de música na Internet.

De acordo com um estudo efectuado pela Webnoize, foram trocados mais de 360 milhões de ficheiros de música durante Maio, o que significa menos 87 por cento em relação ao passado mês de Fevereiro. Nessa altura, os cibernautas membros do Napster transferiram entre si qualquer coisa como 2,70 mil milhões de ficheiros MP3, sendo que cada um contém uma música. Só que, aí, não havia filtros, o cerco das editoras era apertado, e a irreverência da comunidade Napster estava ao rubro.

Agora, os filtros impostos pela Justiça americana causaram grande desilusão entre os utilizadores, que começaram a migrar para outros sites semelhantes, como o Gnutella. É possível, de resto, constatar no estudo efectuado uma relação de causa consequência entre o aparecimento dos entraves à livre troca e a fuga dos utilizadores. Mesmo assim, uma recente sondagem indica que 40 por cento dos estudantes americanos, o público original do Napster, estão dispostos a pagar pela utilização do Napster, que continuará a ser um palco privilegiado para bandas novas ou sem contratos com editoras.

Outro dado interessante depreendido do estudo é a modificação no comportamento dos cibernautas. É que, embora os downloads tenham decrescido significativamente, ainda existem imensos utilizadores frequentes do site. A Webnoize indica que o software Napster continua a ser bastante utilizado nos PC, mas para organizar e segmentar as músicas no disco rígido.

Fica se, portanto, à espera do aval das editoras e da decisão da juíza, que não tem sido nada abonatória para com a defesa.
(Diário de Notícias)


"E mails" à mercê do Echelon

A Comissão do Parlamento Europeu encarregue do inquérito ao sistema internacional de escutas Echelon, presidida pelo eurodeputado português Carlos Coelho, convidou ontem os cibernautas europeus a codificarem todas as suas mensagens de correio electrónico, evitando acesso dos serviços de espionagem dos países que alegadamente usufruem do sistema, cuja existência nunca foi confirmada oficialmente.

O projecto de resolução, que deverá ser votado até ao final de Junho, alerta particulares, empresas e administrações públicas da União para o facto de uma das vertentes do Echelon ser a espionagem industrial. EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia são os alegados criadores do polémico sistema.

A UE envia assim um recado à Grã Bretanha, já que, sublinha, é "intolerável que o sistema de escutas seja utilizado para procurar vantagens concorrenciais para as empresas nacionais. Se permitir a espionagem industrial, está a faltar à obrigação de lealdade e atenta contra a ideia de mercado comum: se um estado membro participa num tal comportamento, viola o direito da União".

De facto, os reduzidos cuidados dos milhões de cibernautas europeus na troca de e mails faz com que, de acordo com dados revelados pelo Parlamento Europeu, o correio electrónico no Continente seja considerado o mais vulnerável dos meios de transmissão de mensagens em relação à acção dos sistemas de espionagem electrónica, entre os quais de encontra o sofisticado Echelon.

O Echelon tem capacidade de intercepção de comunicações ao nível planetário. O estudo do PE permitiu saber, por exemplo, que se o sistema de espionagem internacional quiser interceptar todos os e mails portugueses trocados num dia tem capacidade técnica para o fazer. O Echelon intercepta cerca de três mil milhões de mensagens por dia em todo o mundo, escuta milhares de conversas telefónicas, e possui computadores dicionários para as traduções simultâneas. A solução passa mesmo por adquirir software de encriptação, disponível no mercado.
(Se que seguir o cnselho do "Diário de Notícias" encontra um programa de encriptação em http://www.pgpi.org Gratuíto!!!)


A fuga da coitanaxa

Enxameiam os termos ingleses, no novo Dicionário, dito da Academia. Vi badge e blues, bluff e copyright, design e stick, stock e stop, stress e striptease. Em nenhum caso as transcrições no alfabeto fonético internacional coincidem com as que são dadas pelo The Oxford English Reference Dictionary, ed. Judy Pearsall e Bill Trumble, Oxford University Press, 1995. E então compreendi tudo: a Academia resolveu ir em socorro da Loira AIbion com um dicionário de pidgin (a transcrição de pidgin também diverge...) que criou as suas próprias modalidades de pronúncia paroquial, um variegado "buquê" entre o Kitsch piroso e a possidoneira tonta. Mas, se o "dossiê", mesmo com pronúncia carregada à moda do Porto, fosse só isso...

Diz a "Introdução" que, "seguindo a tradição dos dicionários académicos anteriores, as acepções das palavras são abonadas ou atestadas pelas autoridades da língua" e que por isso se utiliza na obra "um vastíssimo número de autores contemporâneos (sécs. XIX e XX), portugueses, brasileiros, africanos e outros".

0 dicionário desvirtua a própria tradição que invoca.

Mete no mesmo saco autoridades da língua e uma caterva de utentes dela que não o são, nem de perto nem de longe.

Por esta capciosa confusão, não se encontram nas suas fontes documentais nem Gil Vicente, nem Bernardim, nem Sá de Miranda, nem Barros, nem António Ferreira, nem Camões, nem Jorge Ferreira de Vasconcelos, nem Mendes Pinto, nem o P.e Bernardes, nem o P.e Vieira, nem tantos outros que escreveram até fins do século XVIII. Apenas ficou D. Francisco Manuel de Melo, certamente por lapso vicioso. Mas também no nosso século há pérfidas omissões, como as de Guimarães Rosa, Drummond, João Cabral, Alexandre O'Neill...

Diz se ainda que, das palavras do vocabulário clássico e arcaico, são registadas "as que, embora não tendo sobrevivido até à actualidade, apresentam uma certa importância cultural, como reflexo dos objectos ou conceitos que outrora designaram".

Mas não se encontra uma boa porção de termos de Os Lusíadas, como, p. ex., "anafil" (I, 47), "equáreo" (IX, 48), "fota" (II, 94), "profligado" (X, 20), "quadrupedante" (X, 72), "trasunto" (X, 79). Da Lírica, também não constam, p. ex., "estígio" (soneto "Está o lascivo e doce passarinho") e "podalírio" (ode ao conde do Redondo). D. Francisco Manuel de Melo, o tal que escapou miraculosamente à razia, não tem melhor sorte. Fui ver "caorzada", que o Melodino emprega no sentido de "soneto" naquele cujo incipit é: "São dadas nove. A luz e o sofrimento." Não vem.

0 dicionário desmente se a si mesmo. Afinal, só reconhece a "importância cultural" da certidão de óbito. Nessa veleidade totalitária, é barbeado à máquina zero tudo o que não se conformar com o seu Diktat modernaço.

Uma opção dessas não é uma opção. É uma aberração e uma estupidez. Será concebível qualquer bom dicionário espanhol, francês, inglês que não proporcione o acesso a Cervantes, a Ronsard, a Shakespeare? Será normal que se dê a etimologia, grega, latina ou outra, para um vocábulo e, havendo abonações, que se omita o seu uso pelos maiores escritores da Língua? Que se espere que a maioria das pessoas interessadas tenha de recorrer pelo menos a dois dicionários?

Mas, por complexo de esquerda requentado ou dúbio recalcamento freudiano, o dicionário abomina o passado.

Um só exemplo: em "varão", no sentido de homem valoroso ou ilustre, vai se até Plutarco. Mas não se abona com "varões assinalados"... Livra: ainda lhe chamavam "reaccionário"!

Fui também aos autores que constam das fontes. 0 Garrett escreveu "cordura ousada" (Camões, 1, VI). A "cordura" evaporou se. Do Camilo, ocorreram me "reinícola", "tabardão", "gasofilácio", "às canhas", "regambolear". Nicles. Do Aquilino, foi a vez de "coitanaxa". Salvo erro, é o Malhadinhas quem diz, às tantas, que da coitanaxa fez dona. Pois a coitanaxa tinha se posto ao fresco, a ingrata. Procurei "mátria", termo tão prezado por Natália Correia. Viste Ia. Mário de Carvalho emprega "ergástulo". ó Mário, a palavra evadiu se...

Já foi só por exercício sado funerário que procurei, ao acaso, "alciónico", "anatocismo", "asinha" (até a Amália cantava "asinha"), "barinel", "catábase", "chacona", "fabiano" (referido ao socialismo da Fabian Society), "hetaira", "loxodromia", "paquife", "patena", "prelaciar", "tosão", "travertino", "venusino"... Foram dar uma volta. Mas há novidades suculentas que me deixaram "nocaute". Por exemplo, "missaia" com dois ss, falicamente abonado duas vezes por "mini saia", com hífen. Ou, no verbete "pintura", a sensacional descoberta das "pinturas [sic] rupestres de Foz Côa"! Ou o prodigioso "despoletar", em que se afirma que tirar a espoleta impede o disparo ou a explosão e nos é dado um sentido e o seu exacto contrário: o de, tirando a espoleta, fazer deflagrar um mecanismo de explosão, que está certo, e o de ímpedir uma explosão ou anular uma tendência, que é uma autêntica bacorada.

Esta coisa bastarda tem ódio à língua portuguesa. Surpreende na tradição da Academia, mas diz lindamente com a nossa política de educação.
Texto de VASCO GRAÇA MOURA na sua coluna do "Diário de Notícias" "As Quartadas"


Internet, o paraíso dos cábulas

Copiar, fazer batota ou recorrer a cábulas tornou se muito mais fácil na era da Internet, onde a informação é disponibilizada instantaneamente mas, nos Estados Unidos, os professores, fartos, decidiram ripostar utilizando as mesmas armas.

Tem que fazer uma composição sobre Leonardo da Vinci? Aquecimento planetário? O teorema de Pitágoras? Com um clique, a Internet salva o.

Nos Estados Unidos, o método é simples e está comprovado: os sites especializados, proporcionando dissertações sobre centenas de assuntos, abundam. O estudante com falta de ideias selecciona o tema e obtém, contra pagamento, dissertações que conseguem as melhores notas.

O estudante "copia", "cola" e está safo, pelo menos no que se refere aos trabalhos de casa.

Na "Cheathouse.com" (a casa das cábulas) poupam se algumas noites em branco por menos de 2200 escudos anuais. O site, que afirma ser visitado diariamente por dois mil estudantes, proporciona 9500 composições.

Teoricamente, é proibido utilizar uma citação ou um texto inteiro sem mencionar o seu autor. "Os trabalhos devem ser utilizados apenas como referências", adverte o norte americano "serve.com/doctor". "Vocês nunca devem apresentá los como vossos porque se trata de plágio e é ilegal nalguns estados".

No entanto este tipo de advertência não dissuade os estudantes. A prestigiosa Universidade de Berkeley, na costa ocidental, constatou uma duplicação dos casos de copianço, em grande parte ligados à Internet, entre 1994 e 1999. Face à avalanche de truques, os professores decidiram
ripostar. Desde que o trabalho seja entregue em disquete ou enviado por correio electrónico, identificar os cábulas tornou se fácil.

Não muito longe de Washington, um professor de Física da Universidade de Virgínia, Louis Blomfield, aprontou numa tarde um arma que permite identificar os deveres suspeitos, quando enviados por correio electrónico. Em cinco semestres, ele identificou 122 cópias "duvidosas" em 1500 trabalhos.

O seu software permite localizar cópias que tenham frases idênticas com mais de seis palavras. Com este sistema, cerca de 60 estudantes podem ter os seus diplomas anulados ou recusados nas próximas semanas.

"Antes, era muito mais difícil copiar e também muito mais difícil identificar os plagiadores", explica Bloomfield, que descobriu que alguns alunos se tinham inspirado em colegas que "inocentemente, deixaram o seu trabalho num computador".

Barbara Glatt, professora de literatura, criou também um software que permite localizar os cábulas.

Os seus colegas podem a partir de agora, por cerca de 68 contos, no "plagiarism.com", encontrar um sistema que identifica as frases copiadas.

"Os professores precisavam de uma arma, em vez de descansarem sobre a sua subjectividade", explica ela.

O site, que propõe também pôr em questão estudantes cujos trabalhos são duvidosos, tem "milhares de clientes", não só nos Estados Unidos, como também na Grã Bretanha, na India ou no Canadá, diz ela.

No "Canexus.com", um outro sítio criado no ano passado, pode se mesmo descarregar um software que permite identificar "todas as fontes de plágio na Internet".

Para Bárbara Glatt, a luta contra os cábulas não é, na era onde a informação é disponibilizada por todo o lado e a grande velocidade, um combate retrógado: "O objectivo do ensino é ensinar a pensar", e, quando se copia, "o processo de aprendizagem deixa de funcionar", defende ela.
("Diário de Notícias")


"Carnívoro" utilizado correctamente

Documentos tornados públicos no último fim de semana nos Estados Unidos da América revelaram que o FBI, afinal, não utilizou o seu programa de vigilância electrónica "Carnívoro" aleatoriamente.

De acordo com a agência Associated Press, que teve acesso aos documentos, a polícia federal dos EUA utilizou o "Carnívoro" apenas 13 vezes entre Outubro de 1999 e Agosto de 2000 para monitorizar comunicações via Internet. O relatório acrescenta ainda que um outro programa semelhante, o "Etherpeek", foi usado 11 vezes.

Desta forma, o FBI conseguiu fazer cair por terra as críticas de inúmeras organizações cívicas, que alegavam que o "Carnívoro" estava a ser uma ferramenta de espionagem arbitrária, e que violava o direito à privacidade dos cidadãos. Outra das críticas que, a ser verdade o conteúdo dos documntos, se revela infundada é aquela que os contestatários, nomeadamente os fornecedores de acessos à Internet, classificam de "técnica", uma vez que a utilização do "Carnívoro" em grande escala poderia reduzir substancialmente a velocidade das suas ligações.

No entanto, até que estas informações sejam realmente comprovadas, e reconhecidas pela própria polícia federal, os críticos continuarão a campanha, e até já conseguiram ser ouvidos por altos responsáveis da Administração do Presidente George W. Bush.

É que, afirmam eles, um programa que consegue espiar até ao mais ínfimo pormenor os e mails, as páginas na Internet, as salas de conversação e outros tipos de comunicação pode tornar se extremamente perigoso caso caia nas mãos de pessoas mal intencionadas.

Por outro lado, a contestação ao "Etherpeek" não atingiu tamanhas proporções, uma vez que é um programa disponível no mercado público, e é muito menos preciso e eficaz nas monitorizações. Trata se de um software muito utilizado pelos patrões para controlarem os conteúdos acedidos pelos funcionários e até os e mails enviados.
("Diário de Notícias")


Totalitarismo electrónico a crescer

Coreia do Norte, Cuba e Síria são apenas alguns exemplos de países cujos Governos tentam a todo o custo controlar o acesso dos seus cidadãos à Internet. O medo de que os cibernautas consigam aceder ou colocar na Net material considerado subversivo, e que possa de certo modo desestabilizar a sociedade, está a provocar autênticas manifestações de totalitarismo um pouco por todo o mundo, mas principalmente em Estados ditos ditatoriais ou autocráticos.

Ainda ontem, o Governo chinês decidiu, em mais uma etapa da sua iniciativa de "controlar os conteúdos na Net", encerrar todos os cibercafés da principal avenida de Pequim, bem como aqueles que se encontrem a menos de 200 metros dos edifícios governamentais e escolas. A interpretação estatal chinesa da utilidade da Internet tem incidido muito mais nas suas potencialidades comerciais do que como meio de comunicação. Com o número de cibernautas chineses a duplicar de seis em seis meses, analistas internacionais acreditam que daqui a poucos anos o mandarim será a principal língua na World Wide Web, e que o Governo comunista tudo continuará a fazer para controlar hipotéticos focos de "subversão". O recurso a pesadas penas de prisão está já a ser utilizado para esse efeito. Na semana passada foi condenado a quatro anos de detenção um jovem que, segundo organizações humanitárias, havia difundido artigos a favor da democracia.

No entanto, se na China o Governo ainda tenta tirar algum partido da Net, na Birmânia, Coreia do Norte ou Vietname isso pura e simplesmente não acontece. Totalitários de uma forma ou outra, os poderes oficiais destes Estados têm desenvolvido um rigoroso controlo de tudo o que circula na Net. Processos burocráticos para a obtenção de uma ligação ou obstáculos legais à abertura de cibercafés são os recursos mais utilizados. Na Birmânia, quem quiser tornar se cibernauta tem de se registar nas esquadras. Na Coreia do Norte e no Iraque, o uso individual da Internet é pura e simplesmente interdito. Em Cuba, acredita se que não haja um e mail que escape ao controlo das autoridades. No Irão e na Arábia Saudita há bloqueios a páginas "contrárias" aos valores islâmicos. Na Síria, o acesso individual é autorizado de forma arbitrária.
("Diário de Notícias")


Banca virtual sim, mas não muito.

Apesar de os consumidores continuarem a sentir se cada vez mais confortáveis na utilização das novas tecnologias da informação, os bancos e todos os outros tipos de instituições financeiras devem usar a Internet como um instrumento auxiliar para facilitar a vida das pessoas, mas não para substituir de todo o contacto através dos balcões ou dos gabinetes.

Esta é uma das conclusões a que chegaram centenas de especialistas reunidos numa conferência, sob a égide do grupo norte americano Tower Group, subordinada ao tema "Serviços financeiros e tecnologia".

No entanto, apesar daquela conclusão, um dos critérios que os consumidores utilizarão cada vez mais para a escolha do seu banco é a quantidade e a qualidade e segurança dos serviços e dos produtos onlíne que cada um oferece aos seus clientes.

0 Tower Group, aliás, divulgou recentemente um estudo que revela que, apesar da criação de uma nova geração de consumidores através da Rede, o balcão continua a ser a principal forma dos cidadãos recorrerem ao banco ou a toda a espécie de serviços financeiros. Nesse estudo, revelava se que 92 % dos (ou das) chefes de família americanos tinham tido, no mês mais recente, qualquer tipo de contacto com os serviços convencionais dos bancos, designadamente através dos seus balcões. Mais, desses cidadãos americanos, apenas 17 % consideravam necessário o seu banco ter serviços onlíne o que não impede que o Tower Group mantenha o conselho aos bancos para desenvolverem parcerias estratégicas com empresas de tecnologia para encontrarem formas mais eficientes de expandir os seus serviços na Net.

O pagamento de contas através de meios electrónicos parece ser, segundo este mesmo estudo, a área de maior potencial para este casamento entre bancos e as tecnologias de informação

Mas mesmo essa, só se prevê que venha a ter um crescimento exponencial dentro de três anos, depois de desfeitas algumas dúvidas sobre a segurança dos sistemas. Talvez nessa altura o ebanking possa conhecer uma nova era.

Entretanto, em Espanha, a Direcção Geral da Concorrência acaba de permitir à Terra Lycos, uma empresa do grupo Telefónica, a aquisição de 49 % do banco virtual Uno e, que pertence ao grupo do Banco Bilbao_Vizcaya. Este negócio inviabiliza a entrada no Uno e do banco britânico First e, que também opera na Internet. A Terra tem, aliás, nos últimos tempos feito um grande esforço de investimento no sector financeiro relacionado com a Net.
(Diário de Notícias)


Cibercrime aumenta mil por cento

0 crime na Internet está em alta e pode aumentar mil por cento nos próximos três anos. Um estudo feito por uma empresa especializada em investigação tecnológica, a Gartrier, acrescenta mesmo que nos próximos dezoito meses haverá pelo menos um crime em massa, que prejudicará, provavelmente, milhões de consumidores. A culpa desta proliferação crimínosa? Tanto os indivíduos corno as empresas, na prática, preocupam se pouco com a segurança, e as várias polícias que deveriam combater esta espécie de crime estão mal equipadas e tecnologicamente atrasadas.

Pelo seu lado, os cibercriminosos têm ao seu dispor o melhor e mais moderno hardware e software, que lhes permite porem em prática o próximo grande golpe: o roubo, através da Internet, de uns poucos de dólares a cada uma de milhões de pessoas em simultâneo.

Durante os próximos tempos deveremos assistir a acções que não passam de treinos para tornar possível o grande golpe sites tornados inoperacionais, como aconteceu recentemente com a Arnazon.com, assaltos a bases de dados de cartões de crédito, proliferação de vírus.

Embora as empresas de cartões de crédito tenham um sistema viável de detecção de fraudes que envolvam grandes montantes, são vulneráveis a um ataque em massa de pequenos montantes debitados em cada conta. Terão de ser esses milhões de consumidores lesados a dar pela fraude, através de uma análise minuciosa dos seus extractos.

Como podem os consumidores evitar serem lesados? Terão, muito provavelmente, de abrir mão de algumas das maravilhas tecnológicas que lhes facilitam e alegram a vida, desligando se de alguns sítes que os põem em rede com cibernautas desconhecidos, Terão, muito possivelmente, que desactivar os Java, ActiveX e sistemas correlativos. Terão, com grande probabilidade, que instalar firewalls nos computadores que estão ligados à Net.

Mas, o método mais eficaz, é mesmo manterem um controlo constante das suas contas com empresas de cartões de crédito, e, sobretudo, manterem neles, um plafond de crédito propositadamente baixo.
(Manuel Ricardo Ferreira correspondente em Nova Iorque do "Diário de Notícias")


o valor do título Provedora dos Leitores do "Diário de Notícias"
Estrela Serrano
Titular é uma das operações mais dificeis e complexas do processo de produção de um texto jornalístico: implica dar o máximo de informação num espaço limitado, o que significa condensar, em termos rigorosos, os dados disponíveis. 0 título é o lugar privilegiado do acontecimento. É também o primeiro indicador do "valor" duma informação, o qual não provém apenas da originalidade do seu conteúdo, mas, sobretudo, do facto de o jornal o reter como informação. No título, o jornal indica duas coisas: informa sobre um assunto e mostra que informa. 0 título principal da primeira página a manchete é o mais importante e o mais sensível dos títulos do jornal e, por isso, um dos motivos mais fortes de adesão ou rejeição do leitor relativamente a uma determinada edição do jornal.

A primeira queixa apresentada à provedora vem do leitor Alberto Arons de Carvalho e incide sobre o titulo principal da edição do passado dia 12 de Março, relativo à tragédia da ponte de Entre os Rios. 0 título dizia: "Operações de busca foram mal conduzidas". 0 título baseia se em "declarações ao DN" proferidas por "Luís Wren Viana, doutorado pela Universidade de Londres em estruturas moleculares de metais pesados". Nessas declarações, Luís Viana afirma ser "impossível" "as viaturas desaparecidas encontrarem se debaixo da ponte" e acrescenta que "as operações deveriam ser deslocadas para cerca de sete ou oito quilómetros a jusante da ponte. Em sua opinião "estão a desperdiçar tempo e dinheiro ali", uma vez que "24 horas depois do acidente o autocarro já estaria a um mínimo de três quilómetros da ponte".

0 jornal assumiu "corno sua a opinião de um alegado especialista", afirma Arons de Carvalho. "Afinal", continua o leitor,"ao contrário do parecer deste especialista e do categórico título do jornal, as operações de busca estavam a ser bem conduzidas e tiveram resultado positivo". "0 jornal não assumiu o erro", acusa ainda Arons de Carvalho."Quem quisesse encontrar no jornal um justificadíssimo mea culpa teria de procurar nas entrelinhas do editorial do dia 21 uma frase demasiado ambígua em que, com uma muito benévola interpretação, se pode ler algo que pode significar o reconhecimento do erro", acrescenta o leitor.

No editorial a que se refere Arons de Carvalho, intitulado "Os limites de uma tragédia", o director do DN alude ao "valor simbólico da retirada do autocarro das profundezas do Douro" e refere "a persistência e a capacidade técnica e científica necessárias para conseguir aquilo em que muitos já não acreditavam". Noutro passo, o dírector do DN reconhece que "a palavra impressa se tem distinguido sobretudo pela amargura, pela crítica contundente e pela desilusão" e deixa "por contraponto, um registo de satisfação e agradecimento» aos homens "que nunca desistiram ( ... ) procurando passar uma mensagem de convicção sobre o êxito das buscas". 0 editorial termina com um "Tinham. razão. Ainda bem". A solicitação da provedora, o director do jornal, Mário Bettencourt Resendes, reconhece "existir na matéria em causa um procedimento criticável por parte do DN", acrescentando que "o título em questão permite, de facto, ilações indevidas sobre a opinião do jornal".

A carta do leitor Arons de Carvalho coloca algumas importantes questões: em primeiro lugar, o uso, nos títulos, de expressões baseadas não em factos, mas em presunções ou inferências; em segundo lugar, o não reconhecimento, de uma maneira clara e objectiva, do erro e da injustiça cometidos relativamente às pessoas individuais ou colectivas implicitamente acusadas no título, e ainda a ausência de sensibilidade perante os possíveis efeitos sobre as famílias das vítimas da tragédia, causados pela afirmação categórica de que as operações de busca estavam a ser "mal conduzidas".

Sobre esta última questão, escreve Arons de Carvalho: "Um jornal de grande tiragem, com a credibilidade do DN, ao divulgar aquela crítica, com o relevo e nos termos categóricos que usou, provocou intranquilidade acrescida entre as famílias das vítimas, lançando uma grave suspeição em relação ao trabalho competente e esforçado desenvolvido pelas equipas de salvamento."

Arons de Carvalho termina a sua carta manifestando se chocado por, segundo escreve, "o mesmo jornal que é capaz de ser tão duro nas suas apreciações em relação aos outros não seja depois minimamente capaz de aplicar a si próprio a severidade com que aprecia os actos dos outros".

0 Código Deontológico do jornalista refere que "os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso" e que o jornalista deve "considerar a acusação sem provas" como "grave falta profissional". 0 código refere também que "o jornalista deve promover a pronta rectiricação das informações que se revelem inexactas ou falsas".

Parece claro que, no caso assinalado pelo leitor Arons de Carvalho, o DN assimilou o discurso da sua fonte o doutorado Luís Viana veiculando um ponto de vista não suportado em factos nem contrastado com outros. Por outro lado, não procedeu à rectificação do erro quando o autocarro foi localizado e se verificou que afinal não tinha razão.

A referência feita pelo director no editorial do dia 21 não pode, com efeito, ser considerada como o reconhecimento do erro.
("Diário de Notícias" 9/4/01


Cursos do MIT chegam grátis à Net

O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) decidiu oferecer, gratuitamente, todos os seus cursos e programas académicos pela Internet. Open Course Ware é o nome deste projecto, que pretende aproveitar as capacidades da Net para expandir a cultura e os interesses dos norte americanos e dos intemautas de todo o mundo.

Os cursos disponibilizados pelo MIT, uma das mais prestigiadas e célebres universidades do mundo e que se dedica a matérias como a matemática, fisica ou electrónica , incluem conferências com convidados, exames, trabalhos de especialistas e avaliação. A universidade gastará cerca de 100 milhões de dólares para criar portais para os cursos, que incluirão videoconferências com os professores.

0 presidente do MIT, Charles Vest, em declarações ao jornal americano The New York Times, disse não temer que muitos estudantes, que frequentam actualmente os cursos, deixem a faculdade para passar a estudar através da Internet.

Esta inovadora decisão do MIT opera uma grande mudança no modo como os estabelecimentos de ensino têm utilizado as facilidades de comunicação da Web. 0 ensino à distância através da Net, conta já com milhares de cursos especializados, mas nunca uma faculdade tinha decidido pôr todos os seus conteúdos académicos oWine, de modo a poderem ser utilizados em todo o mundo.

"A experiência de conviver directamente nas aulas com os professores, frequentar os nossos Iaboratórios e aprender, ao lado de outras pessoas, é irrepetível" é isso que marca a diferença entre o mundo onlíne e offine.

Os intemautas que usem esta possibilidade não poderão formar se no MIT, mas, com estes conhecimentos, poderão formar se em qualquer outra universidade do mundo.

("Diário de Notícias")


Big Brother espreita Portugal

Pode estar para breve a importação para Portugal dos Big Brother Awards. Simon Davies, responsável máximo pela atribuição destes prêmios, esteve esta semana em Lisboa, a convite do Centro Atlântico, para explicar a natureza do "concurso".

Se tudo correr como a organização pretende, Portugal passará a ter, anualmente, vencedores dos não muito prestigiantes prémios de "Responsável ou organização que mais atentou contra a privacidade dos cidadãos"; "Empresa que maior desrespeito demonstrou pela intrusão abusiva na esfera pessoal, quer dos seus empregados quer do público em geral"; "Projecto público, privado ou misto mais desenvolvido e susceptível de constituir atentado contra a privacidade dos indivíduos"; "Pessoa ou organização (governamental ou privada) que ao longo da sua existência se tenha destacado pelo contributo para a destruição da privacidade".

Embora não haja ainda data prevista para a intrudução dos prêmios em Portugal, juntando se aos que são atribuídos na Alemanha, Austria, Suíça, EUA e França, os esforços da organização, segundo Davies, "estão a produzir efeitos".

Neste VII Congresso do Centro Atlântico não se discutiu apenas a chegada a Portugal dos Big Brother Awards. As diferentes formas de capitalização da Internet a nível empresarial e a utilização desta para a formação profissional, uma das variantes do e Iearnig (ciberensino), estiveram também no centro das atenções. Profissionais do sector, jornalistas, analistas, empreendedores e investidores destacaram o conhecimento como ferramenta essencial ao desenvolvimento de qualquer empresa. E a Internet surge como a plataforma ideal.

As reduções de custos, a disponibilização constante dos conteúdos e a fácil actualização destes são as grandes vantagens do e learning. Mário Figueira, da NovaBase, explicou, a necessidade de apostar na educação em rede para a capitalização do conhecimento. Mas, mesmo com o aumento esperado para os próximos dois anos de cerca de 1100 por cento para o mercado do ensino online, há obstáculos a considerar.

Destes, Mário Figueira enumerou a pouca interactividade dos programas, a resistência cultural, a pouca largura de banda e a ausência de normalização das várias plataformas disponíveis.

João Costeira Varela "Diário de Notícias"


Portugal mais ligado que Espanha

No ano 2000, Portugal ultrapassou a Espanha na percentagem de lares que estão ligados à Internet, segundo os números da Comissão Europeia e que fazem parte de dois documentos contributos para o Conselho Europeu que se reúne no próximo fim de semana, em Estocolmo. Os documentos procedem a uma avaliação da estratégia adoptada no Conselho de Lisboa, em Março do ano passado, e que visa converter a Europa, no prazo de dez anos, na economia "mais competitiva e dinâmica do mundo". Um objectivo no qual se enquadra o programa eEurope 2002, dedicado às novas tecnologias da sociedade de informação, com particular realce para a Internet.

Nos documentos "Aproveitar ao máximo as capacidades da União Europeia: Consolidação e ampliação da estratégia de Lisboa" e "eEurope 2002 Impacto e prioridades" é apresentado um quadro da evolução de alguns dos índices ligados à Internet nos diversos países da União Europeia. Em matéria de lares que estão ligados à Internet é apresentado um quadro com a evolução entre Abril e Outubro do ano passado, que revela que, partindo de uma base inferior à Espanha, Portugal superou a marca do pais vizinho. Em Outubro do ano passado, Portugal apresentava uma taxa de 18 % de lares ligados à Net, contra 16 % dos espanhóis. Atrás dos países ibéricos, apenas a Grécia, com 12 %.

Ainda assim, Portugal apresenta números longe da média europeia, que se situa nos 28%, com a Holanda, Suécia e Dinamarca a lutarem pela liderança, todos com mais de metade das casas com ligação à1nternet.

Apesar de tudo, isto representa uma evolução apreciável, quer à escala da UE, onde em seis meses se passou de uma taxa de cobertura de 18 para 28 %, como para Portugal, onde essa taxa, durante esse tempo, passou de 8 para 18 %. Números que levam a Comissão a considerar que qualquer coisa como 40 % da população europeia é utilizadora, ainda que ocasional, da Internet, já que muita gente não dispõe do acesso em casa, mas no trabalho ou na escola. Actualmente, decorre um inquérito à escala europeia para determinar, com exactidão, o número de utilizadores regulares da Net na UE.

Outro dos índices que fazem parte destes documentos tem a ver com a ligação das escolas à Rede, no final do ano lectivo passado. E, nesta matéria, os resultados, em relação a Portugal, são algo contraditórios. Porque se o nosso país surge como um dos que têm uma taxa de cobertura total (100 %) das escolas secundárias (não assim com as escolas primárias, abaixo dos 50 % , a verdade é que, em matéria do número de alunos por computador, Portugal surge, de longe, como o pior do ranking europeu

De acordo com os núneros do Eurobarómetro, de Fevereiro deste ano, existem 75 alunos portugueses por cada computador com ligação à Net (26 alunos por computador não ligados à Rede), muito longe da média europeia, que é de 22 alunos por cada computador ligado à Net (dez alunos por cada computador sem ligação). Algo que dá razão ao que é escrito num dos documentos que a Comissão vai levar a Estocolmo: "Não basta proporcionar as ligações básicas às escolas. É importante fixar objectivos mais ambiciosos quanto ao acesso e utilização da Rede". Nessa perspectiva, uma das medidas do eEurope 2002 é a obrigação de os Estados se comprometerem a dar a formaçao necessária a todos os professores até ao próximo ano.

Para além da formação dos professores, a Comissão exorta os Estados membros a promoverem uma adaptação dos programas escolares no sentido de ser conseguido um aproveitamente pleno das possibilidades que a Internet fornece, em matéria de ensino e de métodos pedagógicos.

0 objectivo a atingir é que a média europeia seja a que hoje é apenas ostentada por países como a Dinamarca, o Luxemburgo e a Finlândia (que têm cinco alunos por computador ligado à Web).

(Duarte Mural "Diário de Notícias")


Cuba promove charutos na Net

Cuba é um dos destinos turísticos preferidos dos europeus. Quer seja pelo exotismo de visitar um país que parou no tempo e é governado por um dos últimos dinossauros comunistas, quer seja para comprar o que só as cubanas (dizem os entendidos...) sabem enrolar, os habanos.

É precisamente neste segundo objectivo que as esperanças saem muitas vezes goradas. Não é rara a compra de falsos Cohibas, Montecristo, Bolívares ou Vegas Robainas. Ao chegar à Europa, alguns viajantes confrontam se com o constrangimento de terem gasto dezenas de contos em charutos para oferecer aos amigos, que um qualquer especialista, muitas vezes o próprio destinatário do produto, afirma serem falsos.

Para evitar que este tipo de situações se multiplique, e provavelmente para melhorar a imagem de um produto selecto, cujas marcas começam a ser alvo de concorrência feroz das suas semelhantes dominicanas, salvadorenhas ou mexicanas no mercado popular, a indústria dos verdadeiros e puros habanos iniciou uma campanha de sensibilização no mundo dos fumadores. E esta iniciativa tem a Internet como instrumento.

Quem se dirigir a Cuba com o intuito de comprar charutos sem sofrer um desgosto a posteriori, tem agora um síte na Internet para preparar cuidadosamente a operação de aquisição do tão desejado produto. As principais marcas cubanas uniram se e criaram o www.habanosdecuba.cu, onde se podem reservar charutos de vinte marcas diferentes, com a garantia das melhores lojas de Havana.

Dado que até nas ruas de Havana é extremamente complicado encontrar o "puro" sonhado, a Intemet, nomeadamente este endereço, oferece lhe a oportunidade de o fazer de forma simples e segura. Palavra de Fidel. Tem o "inconveniente" de obrigar os interessados a deslocarem se até Cuba. No site, apenas se pode encomendar e reservar a quantidade e qualidade que desejar, com a garantia das marcas. Uma vez chegados a Havana, basta dirigirem se à morada escolhida para levantar o produto. É um serviço criado sobretudo para quem vai a Cuba e não quer que a sua legítima ignorância propicie uma compra em falso.

Consta que a transição para a Internet da indústria de habanos contou com a bênção do próprio Fidel Castro. Mais do que representar a terceira maior força de exportação cubana, logo a seguir ao açúcar e ao níquel, este site tem uma importância estratégica na colocação de Cuba na Internet.

0 regime de Fidel não ignora as novas tecnologias e o universo electrónico. Só de charutos, existem mais de 200 sites, muitos deles apenas com representação virtual.

Há, de resto, um programa estrutural de levar a Intemet a todas as escolas do país. 0 turismo também é promovido neste meio.
(João Costeira Varela "Diário de Notícias")


Peritos contra voto "oniine"
(João Costeira Varela "DN")

Os defensores do voto pela Net sofreram esta semana mais um revés. Uma comissão de peritos, criada em 1999 pela Casa Branca, publicou na passada terça feira o relatório final de um estudo sobre os modelos de voto através da World Wide Web. No documento, os vários processos de votação analisados são classificados de "ameaças à integridade do processo eleitoral".

Embora avise que "não há soluções fáceis para implantar este tipo de escrutínio", a comissão, mandatada pelo ex presidente dos EUA, Bill Clinton, recomenda que "as investigações neste domínio não sejam interrompidas, dado que os futuros avanços tecnológicos podem vir a permitir que as auto estradas da informação se tomem sítios seguros para votar". Para os advogados, peritos em ciência política e em informática que durante ano e meio se dedicaram à investigação, a tarefa mais dificil de controlar é mesmo a essência do voto pela Internet. Ou seja, o acto de escolha feito a partir de locais isolados, sejam eles casas privadas ou cabinas das secções de voto.

A iniciativa de Clinton, cujo objectivo era calcular a viabilidade e funcionalidade do voto onlíne, não é algo exclusivo da cena política americana. Na Europa, também há trabalho de investigação nesse sentido. Num depoimento ao DN, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, José Magalhães publicamente reconhecido pela atenção dedicada à Internet e à democracia electrónica explicou que "esta questão do voto electrónico tem suscitado mais desconfianças do que esperanças". Magalhães realça a importância de continuar a estudar esta questão, e ironiza com o que está em causa: "Não se trata de votar em laptops no Algarve, entre dois gelados."

0 agora secretário de Estado lembra que ainda há muito trabalho pela frente e alerta para os "riscos de sistemas políticos em que as decisões fossem tomadas por turbas civicamente castradas". Aí, "o televoto seria um tique, ditado pelo toque de telecratas, ao serviço da medonha trindade 'pão, circo e Net'".

Para evitar estes riscos é que surgem iniciativas como a de Clinton. José Magalhães não tem dúvidas de que poderemos escapar ao cenano acima descrito se "soubermos prever e escolher". Também a comissão de peritos americana adverte para os riscos para a integridade do escrutínio eleitoral com a adopção do sistema de voto offline. 0 relatório lança até alguns exemplos de situações perfeitamente passíveis de acontecer, como a "de piratas informáticos se introduzirem no sistema através de técnicas electrõnicas e espiarem os boletins, hipotecar a sua validação ou mesmo modificar a orientação da escolha do eleitor".

Ou seja, a utilização oficial do voto pela Internet não está para breve. Ao contrário, por exemplo, do voto electrónico, um conceito e técnica di erente, mas que causa alguma confusão. 0 voto electrónico é um sistema já utilizado em várias votações. Nalgumas das eleições primárias americanas ou, por cá, em congressos do PSD e PS, os votantes já foram convidados a inserir um cartão numa máquina, dispensando assim a contagem de boletins e tomando o escrutínio do resultado final numa tarefa muito simples e quase que instantânea.

No universo empresarial e associativo, pelo contrário, é o voto realmente online que está a ganhar terreno. São já diversas as entidades, por esse mundo fora, que hoje permitem aos seus membros votar uma eventual decisão estratégica a adoptar através da Internet.


Internet ameaça clubes de video

A Internet pode vir a constituir a maior ameaça de sempre ao circuito de aluguer de filmes nos videoclubes. Isto se se vierem a confirmar as previsões do director do Instituto japonês Novo Cinema, Takashi Nishimura, que, em declarações ontem divulgadas pela AFP, anuncia uma nova era para o consumo de filmes nos lares de todo o mundo. Uma era em que uma gigantesca quantidade de filmes estará à disposição dos internautas, que poderão vê lo com qualidade digital, a troco de um pagamento.

Esta realidade parece estar mais perto de nós do que se poderia pensar. Segundo os especialistas a instalação de redes de alto débito ADSL (sigla de Assymetric Digital Subscriber Line) em quase todas as cidades do mundo, permitirá uma progressiva, mas muito profunda, transformação da indústria do lazer, graças à extraordinária melhoria da qualidade da transmissão (semelhante à dos DVI) de hoje).

Uma mudança que já levou a que muitas empresas norte americanas começassem a preparar a morte da clássica cassete vídeo. Recentemente, a Universal assinou um contrato com uma rede digital de cabo, a Intertainer, permitindo a difusão não só das últimas novidades cinematográficas como dos arquivos de oito dos maiores estúdios de Hollywood. Um acordo que se segue a uma aproximação com propósitos semelhantes entre a Miramax, a Sony e a MovieFly. A ideia da Sony era permitir que as pessoas pudessem gravar em discos compactos filmes, captados através da Internet, mediante um determinado pagamento. Na prática, seria a aplicação ao cinema dos princípios do Napster para a música, com a diferença da salvaguarda dos direitos de autor, através de um pagamento. Para os grandes estúdios de cinema americanos esta poderá ser também uma forma de quase erradicar a pirataria de cassetes vídeo.

Tentando evitar algo que poderá ser desastroso para os seus interesses, a maior cadeia de aluguer de vídeos nos EUA, a Blockbuster propõe, pelo seu lado, um sistema de aluguer de filmes através de linhas telefónicas de alto débito.
("Diário de Notícias")