Coisas Sérais 3 - 1999  

 

Defesa da privacidade na WWW de novo em questão

Poucos operadores de web sites nos Estados Unidos estão a cumprir as directivas federais quanto à protecção da informação pessoal de utilizadores da Internet e o Congresso deveria aprovar legislação para punir as violações da privacidade, disse o Centro para a Democracia e Tecnologia (CDT), uma organização de defesa de direitos na Net.
O departamento oficial responsável, a Federal Trade Commission, e o presidente da comissão senatorial encarregada de velar pela defesa de privacidade na Internet, no entanto, não estão de acordo. Segundo estas duas fontes, citadas pela Associated Press, a Internet está a evoluir demasiado rapidamente para determinar se as indústrias privadas poderão regular por si próprias a sua actividade.
O problema tem vindo a agravar se ultimamente e não diz respeito apenas aos Estados Unidos, dado o carácter universal da rede. A maior parte dos sites não cumpre a directiva de privacidade, a que não são legalmente obrigados, e nada garante que dados pessoais transmitidos por um utilizador português, por exemplo, não sejam transferidos do site para onde os enviou (devido a uma transacção comercial ou qualquer outra actividade) para um outro que nada tem a ver com o primeiro.
A falta de privacidade na Internet contribui para a sensação, que todos temos, de que "alguém nos está a vigiar", disse Deirdre Mulligan, jurista do CDT, a uma subcomissão do Senado, acrescentando que "a privacidade na Intemet deveria ser a regra e não a excepção". O CDT foi apoiado pelo senador Conrad Burns, que subscreveu um projecto de lei destinado a exigir aos operadores de sites que indiquem nas suas páginas o respeito pela privacidade, mas será pouco provavel que essa legislação venha a ser aprovada num futuro próximo, dada a oposição da Federal Trade Commision e de outros membros do Senado e do Congresso.

(Copiado do "Diário de Notícias"


Europa limita anúncios na TV

Publicitários investem na criança, sabendo que influencia 40 % dos gastos familiares. Suécia quer proibir publicidade na UE
Por Céu Neves

Consumidores directos e indirectos e futuros compradores, as crianças são particularmente visadas na publicidade. É que representam um largo mercado, influenciando 40 % dos gastos dos pais. A sua utilização abusiva levou alguns países a impor restrições. A Suécia proibiu anúncios televisivos para menores de 12 anos, medida que quer alargar à UE. Em Portugal, defende se a auto regulação.
O que está em causa não é, apenas, a utilização abusiva da criança, mas também o anúncio de brinquedos e jogos que a podem influenciar negativamente. Esta última razão levou alguns países europeus a impor restrições. A Grécia limita a propaganda de jogos considerados violentos. A Irlanda proíbe os anúncios destas diversões dirigidos a crianças entre os três e os cinco anos. Na zona flamenga da Bélgica, existe a "regra dos cinco minutos", que impede esta publicidade cinco minutos antes e depois dos programas infantis. Mas a Suécia vai mais longe ao impedir toda a imagem dirigida a menores de 12 anos. A Dinamarca analisa a situação e, fora da UE, a Noruega tem legislação idêntica à sueca e a Polónia estuda medidas.
E em Portugal? Qual será a reacção de todos os intervenientes nesta matéria, sabendo se que a Suécia pretende exportar a proibição total aos outros 14 Estados membros da UE quando assumir a presença, no prmeiro semestre de 2001?

Mário Cordeiro, presidente da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), defende medidas menos radicais. "A Suécia tem todo um leque de iniciativas, como a existência de um provedor da criança, e já está numa fase mais adiantada. Uma lei dessa natureza fará sentido neste país, mas não pode estar dissociada da sociedade. Portugal até chegar a esse ponto precisa de fazer todo um caminho e é aí que temos feito muito pouco", diz.
Aquele médico pediatra defende um debate urgente que junte todas as pessoas com responsabilidades nesta área. Até porque considera que se acumulam os abusos à exploração da criança na publicidade, especialmente na televisão. "Tem havido uma hiperutilização da criança, quer como agente de consumo quer como influenciadora da decisão de compra dos adultos, sabendo se que há uma certa vulnerabilidade destes: os pais dizem mais facilmente "sim" do que "não"», explica.
Mário Cordeiro prefere uma consciencialização dos profissionais, uma ética profissional, às soluções "fundamentalistas". Em suma, a auto regulação, uma opinião que é partilhada por Rui Trigo, da agência MKT. Diz que não faz sentido impor regras proibicionistas e justifica: "É necessário investir na moralização para que a criança não seja utilizada de forma abusiva e a forma como a publicidade lhe é dirigida não seja penersa." Acrescenta que a lei da publicidade é suficiente.
A legislação diz que a publicidade deve ter em conta a "vulnerabilidade psicológica" dos menores, abstendo se de explorar a "inexperiência ou credulidade" dos menores, de os "incitar a persuadirem os pais ou terceiros a comprarem produtos ou serviços", de "conter elementos susceptíveis de fazerem perigar a sua integridade física ou mora". O problema, dizem os consumidores, é que não é cumprida.
"Cada vez mais se atinge a criança para chegar ao agregado familiar. Esta é facilmente influenciável e tem um grande poder de persuasão junto dos pais. Há estudos a confírmar que os filhos influenciam os gastos familiares em 40 %", diz Femanda Santos, da Deco. Daí que defenda medidas mais restritivas.
Aquela técnica dá um exemplo de uma promoção a passar actualmente na SIC. Numa campanha de solidariedade para a associação Sol (apoio a crianças afectadas pelo vírus da sida), o actor Joaquim Monchique dirige se directamente às crianças, incentivando as a telefonar para uma linha telefónica de valor acrescentado. Recorde se que recentemente foi proibido o anúncio destes seniços para menores de 16 anos.
(Do "Diário de Notícias")


Modelo virtual poderá revolucionar mundo da moda

POR RACHEL EMMA SILVERMAN
Repórter do THE WALL STRET JOURNAL

A Elite Models Management foi responsável pelo lançamento das carreiras das supermodelos Cindy Crawford, Naomi Campbell e Kate Moss. Neste momento, a agência internacional têm em mãos uma nova candidata ao título: Webbie Tookay.
"A Webbie é perfeita. Nunca se vai queixar das longas horas de trabalho, nunca vai engordar, nunca se vai preocupar com namorados, advogados ou agentes", diz um porta voz da agência. Só que também não é real.
Webbie Tookay é uma "top model virtual", parte da nova divisão da Elite intitulada Illusion 2K Virtual Models & Actresses Management (agência de modelos e actrizes virtuais).
Como um manequim animado, ela poderá posar para a web, revistas, catálogos, publicitários e filmes. "Ela estará disponível para qualquer tipo de trabalho em qualquer media", diz Luciana Abreu, uma das directoras da Illusion 2K, uma empresa da web de São Paulo, no Brasil, associada da Elite. "O cliente diz nos o que precisa, e nós preparamos a Webbie para fazer exactamente o que ele quer".
As vantagens são enormes, diz Luciana: "Imaginem que alguém contrata uma modelo normal para um anúncio de televisão. Os produtores vão ter de contratar igualmente uma cabeleireira, uma maqulhadora, uma estilista, um fotógrafo, e um estúdio. Agora podem trocar tudo isso por uma equipa de programadores de computadores para a animar"
A Webbie Tookay não é apenas muito atraente tem várias opcões também. Programada com um perfil de personalidade, a Webbie até está disponível para entrevistas. "Ela está preocupada com o que se passa no mundo. É uma pessoa muito consciente", diz Luciana. Steven Stahlberg, um animador sueco, desenhou a modelo de forma a poder incorporar vários tipos de mulher. Assim, a Webbie pode transformar se numa loira voluptuosa, numa latina de pasmar, ou numa asiática exótica três tipos bastante representativos das modelos de hoie. segundo a Elite.
Para as próximas versões, a agência preparou mais algumas funções e melhoramentos para "emagrecê la, tornar o queixo mais pequeno, as pernas mais longas. etc". informa Miguel Avalos, assistente do presidente da Elite, John Casablancas.
A Weebie Tokay vai ter companhia para o ano, mais modelos virtuais, incluindo modelos masculinos.
Por outro lado, em Setembro, a Elite vai lançar um concurso de beleza virtual, a Illusion 2K Virtual Model Look, aberto a animadores por computador.
(Transcrito do jornal "O Público"


Ingleses podem ser pagos por estar "online"

Navegar na Web e ser pago por isso já era uma realidade nos EUA, mas uma companhia do Reino Unido (Sharhunt.com) acaba de lançar uma proposta semelhante como estratégia de promoção.
O esquema é simples: os utilizadores (que terão de se fazer membros) só precisam de fazer o download de um programa que acrescenta à janela do browser uma barra (ocupando dez por cento do monitor) contendo publicidade. Os anúncios vão mudando em cada 20 segundos e os utilizadores recebem 25 pences (cerca de 76$00) por hora online. Por outro lado, se recrutar mais gente para o sistema, o utilizador recebe mais dez pences por hora do que essas pessoas online e ainda cinco pences por cada 60 minutos que uma terceira e quarta pessoas (recrutada pela segunda) estejam a navegar.
Em teoria, portanto, uma pessoa que, no emprego, por exemplo, tenha o terminal ligado à Web 24 horas por dia e recrute nove colegas para o sistema que, por sua vez, recrutem terceiros e quartos utilizadores, acaba por "ganhar" 1800 libras (550 contos!) por mês.
Mas, como em tudo, há o reverso da medalha. Assim, a Sharkhunt vai limitar os pagamentos a 20 libras por mês até se assegurar da eficiência deste modelo. E, por outro lado, só fará pagamentos quando o utilizador "acumular" 75 libras de utilização. Será dada aos cibernautas a possibilidade de compra de produtos online através da empresa.
A faceta porventura menos aliciante do sistema é a obrigatoriedade de fornecer alguns dados pessoais, além das preferências (sites) do utilizador, que serão monitorizadas pela empresa. A Sharkhunt, no entanto, garante que os dados serão tratados com confidencialidade.

 ( Do DN) (Ah, ah, ah!!!) isto sou eu a rir com aquela graça da "confidencialidade"!)


Web afasta gente de outros media

Os órgãos de comunicação tradicionais têm algumas razões para ver na Internet um rival de peso. De acordo com um estudo efectuado por uma empresa norte americana, a Editor & Publisher (www.mc diainfo.com), a utilização da Web está a fazer com que as pessoas acabem por recorrer com menos frequência a outros meios de comunicação.
Segundo este inquérito, realizado junto de 53 mil leitores de setenta e cinco jornais online de todas as dimensões (regionais, nacionais e internacionais), o visionamento de videos é a actividade que surge mais detectada pelo recurso à Web. De facto, 35 por cento dos inquiridos afirmaram que passam, desde que têm acesso à Internet, menos tempo a ver filmes. Se não fosse o facto de a ligação à Web depender sempre de uma linha telefónica, as companhias de telecomunicações também teriam motivos para ficar apreensivas, pois 30 por cento dos cibemautas afirmam que passam agora consideravelmente menos tempo ao telefone.
A televisão, a rádio e a leitura de jornais são as "próximas vítimas", perdendo importância para 29, 25 e 18 por cento dos cibernautas que responderam ao inquérito.
As notícias locais são aquilo que mais interessa aos leitores das edições electrónicas de jornais. A imprensa escrita bem pode pensar em mais e melhores estratégias para captar leitores, pois a maioria dos inquiridos afirmou que, tendo possibilidade de ficar ao corrente das notícias recorrendo à Internet, não hesitará em deixar de comprar jornais impressos.
No entanto, os jornais que têm optado por criar páginas na Web podem ficar descansados. É que, de acordo com os resultados obtidos, 82 por cento dos cibernautas ligam se à Net para ver a edição electrónica do seu diário favorito.
À frente dos jornais ficou o e mail: 91 por cento dos inquiridos revelaram que a principal razão que os leva a fazer o seu login diariamente é verificar a corres pondência. Por outro lado 77 por cento dos leitores acabam por acrescentar a edição do "seu" jornal ao seu bookmark.
Além das notícias locais, que é aquilo que interessa a 72 por cento dos ciberleitores, a informação meteorológica é também um assunto cujo tratamento tem uma importância considerável, pois 40 por cento dos elementos do painel afirmaram aceder às edições online para consultá la. No leque de preferências seguem se as notícias nacionais, procuradas por 39 por cento dos inquiridos e, por fim, os anúncios classificados, cuja consulta é a motivação de 38 por cento dos cibernautas para aceder às suas páginas. Registe se, no entanto, que 50 por cento daqueles que procuram notícias de âmbito nacional ou internacional não o fazem nas edições online dos jornais regionais, mas sim em sites mais generalistas, como a CNN ou a MSNBC.
Salvaguardando as devidas proporções os principais diários de referência portugueses, mesmo juntos, não têm tiragens de centenas de milhares de exemplares como nos EUA uma das ilações deste estudo que pode ser útil para os profissionais da comunicação portugueses é que o investimento nas edições electrónicas só pode servir para captar cada vez mais adeptos dos jornais que todos os dias circulam nas bancas.
(Do "Diário de Notícias"


A Internet em tempo real

A transmissão de dados, imagem e áudio em tempo real e um aumento considerável da velocidade de navegação na Internet a preços cada vez mais reduzidos vai tornar se possível, quando, em Maio do ano 2000, começar a funcionar a maior rede de fibra óptica do continente Europeu. Portugal, no entanto, não consta da lista de países que deverão, a partir desta data, ficar ligados.
A rede será a primeira a nível mundial com capacidade de transmissão de dados na ordem dos petabites (um petabite corresponde a mil terabits, ou seja, um trilião dez seguido de 12 zeros de bites). Actualmente, recorde se, as ligações à Internet e a transmissão de dados fazem se à velocidade de 56 mil bytes por segundo (bps).

O projecto, designado por i 21 ( Internet 21st Century), consiste na construção de uma rede de fibra óptica de última geração (fibra óptica G655) que deverá ligar 70 cidades em 17 países. A rede terá um comprimento total de 20 900 quilómetros e será constituída por 200 pontos de presença. A primeira fase da construção já começou e até ao fim do próximo ano cobrirá todos os países envolvidos.

A i 21 (www.i 21future.com) foi lançada pela Interoute Comunications, uma empresa de comunicações do Reino Unido e a construção será assegurada pela Alcatel francesa, a quem foi adjudicado um contrato de 1,5 mil milhões de dólares. A Corning Glass, uma empresa norte americana, deverá fomecer a fibra óptica. O financiamento do projecto está a cargo da Fundação Sandoz, sedeada na Suíça. Esta rede permitirá que um utilizador faça downloads, por pedido, de vídeos, utilizando um sistema designado por DSL (Digital Subscriber Lines, ou seja, Linhas Digitais de Subscritores) e os visione em tempo real.
Estes downloads podem ser feitos quer por empresas quer por particulares. Os responsáveis da empresa acreditam que esta iniciativa levará a uma quebra do preço das chamadas bandas largas.
Ohad Finkelstein, porta voz da Interoute, afirmou na conferência de imprensa de lançamento do projecto, em Londres, que a ideia é criar "uma nova era de telecomunicações na Europa com bandas de largura virtualmente ilimitada".

O preço das bandas é um dos factores que coloca a Europa numa situação de atraso em relação aos Estados Unidos. Uma rede entre Madrid e Bruxelas com capacidade de dois mil bps custa 45 dólares por quilómetro, enquanto que um projecto semelhante entre Boston e Nova Iorque orça apenas em cinco dólares por quilómetro. "Vamos acabar com o monopólio do Estado no que diz respeito ao preço e disponibilidade das larguras de banda", afirmou o nesmo responsável.

"Pode ser que a Interoute obtenha a liderança, mas haverá algumas redes além da deles", afirmou Stewart Anderton, funcionário de uma fimma de consultoria inglesa (Ovum), à BBC. "Neste momento, há já 14 ou 15 organizações dispostas a lançar redes pan europeias deste género", disse. A Ovum fez estudos de mercado para a British Telecom (BT), que lançou a sua própria rede europeia em Abril, tendo como parceiros empresas estatais de comunicação de outros países da Europa como a Alemanha, a França e a Espanha.

"Algumas empresas estão a construir as suas redes colocando a fibra óptica no solo e comprando, em seguida, bandas a outras companhias, como a Interoute. A BT deverá ser auto suficiente e poderá vender capacidade a outros organismos", explicou.

A rentabilidade do projecto deverá ser um elemento essencial, até porque o financiamento está a ser feito por entidades privadas. Para o consultor citado pela BBC "haverá certamente procura, devido à saturação da indústria de comunicações e à frustração relacionada como preço da banda larga". Os responsáveis do i 21 prevêem que a desregulação do mercado europeu e a introdução de serviços que requerem banda larga, como o áudio e o vídeo pela Internet, leverão a uma explosão na procura de bandas com uma consequente descida de preços.
(Do "Diário de Notícias" de 2 de Julho)


Barbarismos da linguagem corrente

E N S U R D E C I M E N T O V O CÁ L I C O

À parte uma ou outra excepção de fonética regional, como bolinha, rosinha e portinha, cujas primeiras vogais, na graciosa pronúncia nortenha, soam sempre abertas, determina a regra, conforme ensinamento propinado pelo saudoso professor Eça de Almeida, que, nas palavras paroxítonas, as vogais orais a, e, o (não ditongadas) ensurdeçam, quando passam de tónicas a pretónicas. Vejam se os seguintes exemplos: boca (ô) boquinha (u); capela (é) capelinha (e); casa (á) casota (ca); colo (ó) colinho (u); corneta (ê) cornetim; estalo (á) estalinho (a); fado (á) fadista (a); gata (á) gatinha (a) ou gotícula (u); papel (é) papelinho (e); va/a (á) valeta (ê), e assim por diante.
É também por esta razão que o adjectivo sadino (relativo ao rio Sado) se deve articular com a surdo, a rimar com os termos: ladino, latino e Sabino. É preciso reparar, no entanto que quando se estabelecem divergências entre duas prolações, mais cedo ou mais tarde, uma delas acabará por derrotar a outra, fcando sozinha em campo. Neste caso, por mais convincentes que sejam, de nada valem os eruditos conselhos flológicos. Há que obedecer apenas, até nova ordem, às imposições do uso. Ocorre nos referir aqui, por exemplo, os casos de amnesia e eutanasia, que se deviam articular com acentuação tónica no i, como acontece aos termos glicemia, uremia e leucemia, para não citar outros da mesma natureza, mas cuja pronúncia foi tornada esdrúxula pela força do uso. Vem a talho de foice mencionar também aqui o verbo ganhar, proferido com ambos os aa abertos, na zona do portugues padrao, situada entre o sul do Mondego e o Vale do Tejo, mas que os brasileiros e os habitantes da região interamnense pronunciam com o primeiro a surdo, apesar de todas as provas históricas de que essa dicçao nao é tradicional.

Como dissemos oportunamente noutro local, Fernão de Oliveira, na sua "Gramática da Linguagem Portuguesa", publicada em 1536, ensinou que as vogais duplas foram usadas, até aos princípios do século XVI, para indicar sons abertos e não surdos. Recordem se, entre outros, os exemplos seguintes, em que se verifica a fusão ou crase das vogais duplas: Aaveiro (= Aveiro); See (= Sé); moor (= mor, forma reduzida de maior); aaquelas (= àquelas); ou guallee (= galé).

Em tempos mais recuados (precisamente no século XIII), Afonso X, o Sábio, rei de Castela, no seu "Foro Real", cuja tradução portuguesa, actualizada por José de Azevedo Ferreira, foi publicada pelo "Instituto Nacional de Investigação Científica" em 1987, faculta nos outros exemplos da abertura da primeira vogal do verbo ganhar; gaanasse (página 154), gaanã (pág.183), gaanho e gaanhe (pág. 264), gaanhar (pág. 206 e 238), gaanhou (pág. 206 e 238). Isto a par de outras formas reduzidas, tais como: gaar (= ganhar), gaa (= ganha), gaadas (= ganhas), gaerem (= ganharem), gaaou (= ganhou), gaacas ou gaanças (= ganhos).

Mais próximo de nós, o professor Claudino Dias, no rodapé da página 53, edição de 1889, dos seus "Rudimentos de Gramática Portuguesa", ensinou que o a da primeira silaba do verbo ganhar é sempre aberto. Esta norma foi posteriormente confrmada por João de Deus e António José de Carvalho, a páginas 435 do seu "Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil", edição de 1895.

Alguns anos antes (justamente em 1858), António de Morais Silva, no tomo segundo, 6ª edição do vetusto "Dicionário da Língua Portuguesa", para que não surgissem quaisquer dúvidas quanto à articulação do substantivo gánho (= lucro), colocou lhe um acento sobre a vogal da penúltima sílaba.

COM APENAS
Segundo manda a regra, o advérbio de exclusão apenas, bem como os seus congéneres (só, somente, unicamente), agora um pouco arredados (não descortinamos porque) da fala quotidiana, jamais se colocam depois das preposições, mas sim antes delas. A prática inversa, presentemente muito em voga, está porém, em vias de subverter irremediavelmente a sintaxe portuguesa, o que se considera lamentável.

Para verificarmos a incongruência da nova construção, copiada subservientemente da língua inglesa, apresentamos aqui somente um exemplo. Se nos perguntarem com quem tencionamos jantar, e nós não tivermos convidado outra pessoa para a refeição, responderemos unicamente deste modo: "Vamos apenas contigo'" Nunca diríamos, por se tratar de estrambótico disparate: "Vamos com apenas tigo " E, para reforço da nossa tese, não precisamos de acrescentar mais nada ao que acima ficou expresso, pois não?
Texto de Francisco Alves da Costa
in "Jornal dos Olivais" de Junho/99


Império da Microsoft ataca a ameça do Linux
Por LEE GOMES
Repórter do THE WALL STREET JOURNAL

Há um novo cargo na Microsoft: perseguidor do Linux.
Num típico caso de "O Império Contra Ataca", a gigante do software reuniu nas últimas semanas uma equipa de engenheiros e especialistas de marketing para acompanhar todos os movimentos do Linux, o sistema operativo independente que está a expandir se com grande rapidez em todo o mundo. O grupo, que trabalha em Redmond, no estado americano de Washington, é pequeno tem menos de dez pessoas , mas tem uma missão importante: conter um movimento Que evoluiu de simples contrariedade para ameaça real. A equipa da Microsoft já está a mexer se para convencer potenciais utilizadores de empresas que o Linux não reúne as condições necessárias para ocupar um lugar ao sol no mundo da informática.

O movimento de combate ao Linux espelha a resposta da Microsoft a outras ameaças, como a linguagem Java, da Sun Microsystems. Enquanto identifica potenciais problemas relacionados com o Linux. a equipa continua a estudar o programa para melhor compreender a sua potencialidade.

"Entender como pensam os nossos concorrentes é uma das melhores práticas da Microsoft", diz Jim Ewel, director de marketing da organização Windows 2000, responsável pelo ataque ao Linux.
Mas o Linux não é um alvo qualquer. É o produto da mente de Linus Torvalds, um finlandês de 29 anos que ajuda a coordenar uma rede global de voluntários que vem testando e melhorando o programa. O esquema aberto de desenvolvimento do Linux e a sua solidez há muito que vêm atraindo os técnicos de computadores. Mas nos últimos meses o sistema operativo foi adoptado por muitas empresas de grandes dimensões e compete, em servidores, com o Windows NT da Microsoft.

A batalha é desigual. A Microsoft é uma organização totalmente voltada para as suas actividades e faz a maior parte do trabalho de desenvolvimento de produtos à porta fechada num recinto da empresa especialmente concebido para o efeito. No caso do Linux, programadores em diversos países planelam, discutem e discordam quanto a eventuais mudanças técnicas a introduzir no sistema, em frente de quem quiser assistir, normalmente através de grupos de notícias na Internet. A Microsoft controla directamente cada faceta do Windows; Linus Torvalds tem uma postura muito mais relaxada em relação ao sistema operacional, como acontece, por exemplo, com a sua interface entre utilizadores, que delega em terceiros.
Além disso, enquanto a Microsoft é a empresa mais valiosa do mundo, o senhor Torvalds não tem sequer uma secretária. Recentemente, quando regressava ao seu escritório numa empresa de microprocessadores em Silicon Valley, na Califórnia, depois de duas semanas de férias com a família, deparou com duas mil mensagens de correio electrónico a si endereçadas.

Mas Linus Torvalds garante que não está perturbado com o sucedido. A Microsoft tem a
vantagem de ser rica e poderosa, mas tem também a desvantagem de não ser apreciada e de não merecer a confiança de muitos, diz.
De certo modo, o Linux fez um favor à Microsoft, permitindo que a gigante argumentasse que enfrenta concorrentes com credibilidade durante o julgamento antimonopolista que está a ser movido contra si. Mas a concorrência não está apenas na boca dos advogados da Microsoft. A International Data Corp., de Framingham, no estado americano de Massachusetts, garante que a fatia de mercado dos sistemas operacionais Linux em termos de unidades vendidas subiu de sete por cento em 1997 para 17 por cento no ano passado, a maior taxa de crescimento registada no sector. Por outro lado, a fatia de mercado do Windows NT da Microsoft ficou praticamente estagnada nos 36 por cento.
Números como esses ajudaram a derrubar a noção de que era impossível conter o Windows NT, especialmente no disputado mercado para servidores. "Quando um rival atinge determinar patamar, a Microsoft comeca a prestar atencão", diz Tony Iams, analista da D.H. Brown, uma consultadoria de Port Chester, no estado de Nova Iorque. "O Linux chegou claramente a esse ponto."

O desempenho do Linux é um dos temas que, ultimamente, opõe os dois sistemas. A Microsoft foi humilhada por um teste de velocidade feito por uma revista de informática que demonstrava que o Linux era 50 por cento mais rápido que o Windows NT num típico PC de um iniciante. A Microsoft reagiu e contratou uma empresa para fazer testes em computadores mais potentes. Venceu no primeiro round, mas perdeu quando o teste foi refeito.
(Transcrito do "Público")


Humor negro na linha da frente dos Clio Awards

A Cliff Freeman & Partners foi nomeada a agência do ano por um júri que apreciou sobretudo o humor negro. A DDB é a rede mundial do ano e a Volkeswagen o anunciante mais destemido
(Texto de Cristina Dias Neves)

 Os prémios para as categorias de televisão e cinema entregues no passado dia 20 de Maio no Town Hall de Nova Iorque, dois dias depois de terem sido distribuídos os Clios para as categorias Print&Poster, privilegiaram o humor sórdido. Steve Henry, presidente do júri desta categoria, explica que este ano procuraram sobretudo ideias muito claras, que pudessem ser imediatamente percebidas pelo espectador. E também a ironia, o humor e o espectáculo. Aliás, foi notório. Grande parte das peças premiadas enquadravam se perfeitamente nestes conceitos. Destaque, sobretudo, para os pequenos grandes vencedores nesta categoria. Os filmes para os sites norte americanos Outpost (Grand Clio) e Fox Sports e para a cadela de video clubes Hollywood Video, concebidos pela agência norteamericana Cliff Freeman & Partners, foram os grandes vencedores desta categoria. A agência, que preza por difundir o humor negro, ganhou o prémio para agência do ano, conquistando, com os trabalhos apresentados, 12 Clios de Outro, dois de Prata e outros tantos de Bronze. Todos os seus trabalhos têm como base ideias que poderiam chocar até os menos puritanos. Cenas com jovens a maltratar velhos, grandes a bater em pequenos e histórias afins foram o prato forte da criatividade nova iorquina. O slogan da campanha da Outpost é ilustrativo: &laqno;Send complaints to Outpost.com...» ( enviem as reclamacões para a outpost.com).

A rede DDB foi a outra grande vencedora do certame, conquistando o prémio para a melhor rede de agências. O galardão deve se essencialmente aos trabalhos apresentados pela brasileira DM9 DDB e pela britânica BMP DDB, onde se destacam as campanhas de promocão para o Volkswagen Polo e de produto para o Lupo, pródigas em humor típicamente britânico, que nunca deixa de surpreender.

A marca Volkswagen ganhou também o prémio para o anunciante do ano. Este deveu se não só às campanhas elaboradas para a Europa, nomeadamente Inglaterra, França, Alemanha e Holanda, concebidas pela DDB, mas também ao trabalho que desenvolveu nos Estados Unidos com a ajuda da Arnold Communications, de Boston. Aqui, foi várias vezes referida a campanha de lançamento do novo carocha que, apelando ao "misticismo" do modelo na geração dos Baby Boomers, conseguiu transformar o novo beetle num caso de sucesso nos Estados Unidos.

(Cristina Dias Neves da "Meios & Publicidade)


Onda de acessos ilegais à Net
(Texto de João Dias Miguel no "Público")

A seccão de Investigacão da Criminalida de Informática e Telecomunicacões (SICIT) da Polícia Judiciária já identificou, desde Setembro do ano passado, mais de dois mil utilizadores ilegais da Internet, num total de 120 processos, ainda em curso, por acesso ilegítimo à rede. A PJ está preocupada com o número crescente destes casos e adverte que, mais cedo ou mais tarde, os prevaricadores serão apanhados.
Alguns cibernautas portugueses têm sido surpreendidos com facturas de valor muito superior em certos casos ultrapassando os mil contos por mês àquele a que corresponderia o tempo efectivamente passado na rede. A Telepac, um dos fornecedores de acesso à Internet, reconheceu já o problema e enviou aos clientes, na factura deste mês, uma série de conselhos práticos para evitarem estas desagradáveis surpresas.
As fraudes informáticas são praticadas quando o "username" (nome do utilizador) e a "password" (senha) de entrada na Internet são indevidamente utilizados por pessoas que não os seus legítimos possuidores. Estes casos podem ter origens várias, como o simples descuido ou a utilizacão de códigos de acesso óbvios (género "Benfica"). Mas a grande maioria é possível graças a um programa de computador disponível na própria Net e que permite aos "hackers" ("piratas" informáticos) terem conhecimento dos dados do utilizador: o Back Orifice.
Este programa (e também o Netbus) introduz se como um vírus no PC dos mais incautos e permite o acesso do "pirata" ao seu interior. Um vez conhecidas a senha e o nome do utilizador, as intrusõe tendem a multiplicar se, podendo atingir valores astronómicos num só dia.
O Back Orifice não é um vírus, mas um pequeno programa que abre uma "back door" (quando um computador está ligado, a Internet tem uma série de portas, que deveráo estar fechadas em situação normal e que são automaticamente abertas quando se fazem determinados acessos; normalmente, o Back Orifice abre a porta 33337 que permitirá ao "pirata" controlar à distância, literalmente, o computador da vítima.
Uma vez na posse do "username" e da "password" do dono do computador, este pode ser defraudado por vários prevaricadores ao mesmo tempo. Isto porque, não raramente, o "pirata", ao conseguir as informações, as difunde pela rede, atraindo outros para a "boleia" (há, aliás, "sites" que divulgam códigos de acesso obtidos ilegalmente), e também porque os fornecedores de acesso não controlam se o mesmo código é utilizado por um, dois ou 20 utilizadores.
Além disso, o acesso pode ser feito por qualquer telefone, não existindo uma listagem de números autorizados a entrar na rede por cliente. "Isso seria contra a própria filosofia da Internet", explicou fonte ligada ao sector. "Imagine se os computadores portáteis, por exemplo."
Outra das formas conhecidas de obtenção de informações confidenciais é o jogo "online". "Detectaram se casinos virtuais onde a pessoa, além de perder dinheiro ao jogo, perde também, por exemplo, a informação relativa ao seu cartão de crédito que permitirá, depois, a sua falsificação", disse a mesma fonte. Num destes casinos virtuais, sediado fora do país, era utilizado ilegalmente o nome de um famoso casino português.
"O aumento do número de casos de acesso ilegítimo à rede deve rondar os 200 por cento, mas haverá muita gente que não se queixa, ou porque não repara ou porque não está para se dar ao trabalho", disse ao PUBLICO um elemento da SICIT. "As pessoas parecem convencidas de que não serão apanhadas, mas é praticamente impossível não o serem porque os fornecedores de acesso ficam com 'backups' [registos] dos acessos."
Nos conselhos de que faz acompanhar as facturas deste mês, a Telepac recomenda aos clientes que não deixem a "password" gravada no computador, limitem o acesso de terceiros a ela, ponham a correr um antivírus eficiente (embora o Back Orifice seja uma "backdoor", pode ser detectado por alguns destes programas) e confirmem "on line" as suas utilizações, para, logo que detectarem acessos que não Ihes pertença, mudarem rapidamente de código.
Os contratos desta empresa especificam segundo informou uma funcionária do departamento comercial que este tipo de risco corre sempre por conta do cliente, pelo que é mesmo conveniente fazê lo.
A SICIT, por seu lado, aconselha a mudança frequente de "password" e que esta seja composta de letras e números, de forma a dificultar o trabalho de quem anda "às cegas". Entre os cibernautas portugueses, há quem entenda que programas como o Netbus e o Back Orifice "provam que o Windows é um sistema operativo com muitas falhas de segurança".
A Secção de Investigação da Criminalidade Informática e Telecomunicações, criada há pouco mais de um ano e constituída por 11 elementos, tinha pendentes, em Janeiro, 45 processos relativos a 1997 e 113 referentes a 1998.
(Do "Público" de 24 de Maio)


Contestação à SPA sobe de tom

APAP luta pelo bolo dos direitos de autor

"ONDE ESTÃO OS 650 MIL contos que todos os anos a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) recebe como direitos publicitários?", pergunta a APAP Associação Portuguesa de Empresas de Publicidade e Comunicação. A direcção da APAP diz que a resposta tem sido sucessivamente adiada, apesar de várias tentativas que efectuou, e afirma se disposta a ir até às últimas consequências, não excluindo mesmo a hipótese de avançar para os tribunais.
A SPA defende se, afirmando que já respondeu à APAP, mas "pelos vistos, não terá sido compreendida". Segundo o presidente deste organismo, Luís Francisco Rebello, a situação resume se a um "diálogo de surdos".
"Aquilo que nós pretendemos é distribuir os valores relativos aos direitos da publicidade por quem de direito", disse ao PUBLICO Américo Guerreiro, presidente da APAP. Para isso, a associação vai "solicitar aos "media" a entrega desses valores a uma nova sociedade, cujos estatutos já estão aprovados".
Este organismo terá vários membros, individuais ou colectivos, e deverá passar a ser, de acordo com a APAP, o receptor dos dinheiros respeitantes à publicidade, que a assocação quer saber "por quem são distribuídos, em que quantidade e quanto é que a SPA recebe para si, no mais perfeito sigilo".
Segundo Américo Guerreiro, a nova sociedade vai dedicar se a analisar a melhor forma de distribuir os direitos pelos diversos intervenientes das campanhas publicitárias, agências incluídas.
As acusações da APAP são liminarmente rejeitadas pela SPA, que se defende afrmando que tem um contrato com as emissoras de televisão como os que existem em todo o mundo. Segundo a APAP, actualmente, os três operadores de televisão SIC, RTP e TVI pagam mais de um por cento das respectivas receitas de publicidade à SPA, a título de contrapartida da utilização do chamado "direito de radiodifusão". Este direito não abrange espaços televisivos preenchidos com informação e notícias nem "programas de natureza cinematográfica, dramática, musical ou equivalente", respeitando apenas a "composiçóes musicais e literário musicais", que a APAP considera serem, na sua grande maioria, peças publicitárias.
"É impossível que a maioria desses direitos digam respeito à publicidade, como decorre da própria lei, que frxa um limite máximo para os blocos publicitários", refere Francisco Rebello, que dá como exemplos das "composições musicais e literário musicais" muita da música que surge durante os intervalos dos programas. Por outro lado, "como é possível afrmar que a maior parte da programação corresponde a publicidade?", questiona se ainda o responsável da SPA, que explica que, após o pagamento por parte das estações de televisão, a SPA divide esses valores por todos os autores e distribui os pelos seus membros, nos quais se inclui "um grande conjunto de agentes ligados à publicidade".
O que a APAP exige é que af SPA explique "como recebe e em nome de quem as verbas relativas aos direitos de autor". "A SPA não dá respostas, e nem sequer nos quer receber", queixa se Américo Guerreiro. Francisco Rebello contrapõe que já foram dadas todas as respostas, e que Portugal é o único país onde se coloca este tipo de questões.
Para resolver este conflito, a APAP vai reunir com as estações televisivas, a quem vai colocar o problema. A solução deverá ser encontrada até ao final deste ano, mas, "se for preciso, vamos para os tribunais", concluu Américo Guerreiro, deixando claro que "a APAP não quer enriquecer nem empobrecer ninguém, mas apenas fazer justiça".. P.L.
(Do "Público")


Do "Diário de Notícias":

Net acusada de influenciar matança.

Os americanos consideram que a Internet teve tanta culpa como a facilidade de acesso às armas no tiroteio que ocorreu no dia 20, no liceu de Littleton, e que vitimou um professor, 12 alunos e os jovens assassinos, que se suicidaram no final. A Net junta se à televisão e ao cinema como causas da violência juvenil. Quem o afirma é a Gallup Organization, que, no dia seguinte ao massacre, deu início a uma sondagem sobre o assunto, encomendada pela cadeia de televisão NBC e pelo "The Wall Street Journal" , efectuada junto de 659 americanos adultos. O facto de um dos dois jovens autores do massacre, Eric Harris, ter divulgado, via Internet, instruções de fabrico das bombas caseiras e a sua vantagem como arma eficiente, poderá ter tido influência na opinião dos americanos.

Segundo a mesma sondagem, 82 por cento dos inquiridos consideram que a Internet tem, pelo menos, alguma culpa no tiroteio, pouco menos que os 88 por cento que atribuem culpas à facilidade de acesso às armas. Mais fortemente acusados pelos inquiridos são os pais, seguidos dos programas de televisão, cinema e música, com, respectivamente, 94 e 93 por cento. Os críticos apontam também como responsáveis os jogos de vídeo violentos, como "Doom" e "Duke Nuke Nuie'em", frequentemente jogados pelos jovens assassinos. O editor do "Washington Post" e antigo reitor da Berkeley School of Journalism, Ben Bagdikian, afirmou que a Intemet tem alguma culpa, pois constitui um fórum aberto a mensagens que podem instigar à violência ou simplesmente tornar aceitável o comportamento violento. Também Paul Saffo , investigador no Institute for the Future, afirma que tanto a Net como os jogos que colocam o indivíduo no papel de assassino têm influências no tiroteio, embora não sejam, "de modo algum", a causa principal. Este cientista advoga ainda que a Intemet, tal como a sociedade em geral, proporciona experiências positivas e negativas.

A restrição dos conteúdos acessíveis aos adolescentes através da Internet é considerada uma acção eficaz na luta contra incidentes como este por 77 por cento dos inquiridos. Bagdikian defende também a aplicação de regras à Internet, embora tenha consciência de que regular a Net é quase impossível. Uma maior rigidez nas leis de controlo do uso de armas pelos jovens, um aumento do aconselhamento e o uso de detectores de metais na escola são as propostas mais fortemente apoiadas pelos americanos. No entanto, apenas pouco mais de metade dos questionados acredita que as acções do Governo e da sociedade possam evitar a repetição de atentados como este.
(Artigo publicado no "Diário de Notícias"