Coisas Sérias 5  

 

Publicidade na Net é mais eficaz que na rádio ou televisão

"`Navegadores" americanos revelam tendências

De acordo com um estudo da empresa Andersen Consulting, 25% dos navegadores frequentes da Internet afirmam que os banners publicitarios os levam à compra. Já os an´nncios de imprensa apenas influenciam 14%, enquanto os spots televisivos persuadem 11%. Em último luger surgem os anúncios de rádio e a publicidade exterior, conquistando ambas as categories 4% do público. Se à partida a referência ao preço do produto nos banners poderia parecer um factor essencial, a verdade e que só uma pequena percentagem dos entrevistados evocou aquele elemento. Segundo esta pesquisa, o que leva os consumidores a comprar online prende se com uma economia de tempo e uma maior conveniência. Outra tendência revelada é o aumento de clientes via e mail 80% dos navegadores disseram que iriam comprar as prendas de Natal através da Internet, um valor que, no passado apresentava uma percentagem de 56%.
O inquérito foi feito a uma amostra de 1500 norte americanos, utilizadores da Net.


do CIBERDUVIDAS

Tema

A língua portuguesa em Angola

Pergunta/Resposta

 Qual é a importância e origem do português em Angola?
Mehak Verma

   Temos de partir do princípio de que o país Angola foi criado através de um pacto de colonização interno, depois da partilha de África pelas potências europeias. Foi um pacto entre o colonizador e o colonizado, entre o vencedor e o vencido, entre o ocupante e o ocupado. A unidade territorial Angola, criada, penso, a partir do século XIX e mantida até hoje, não dispunha de nenhuma língua sua, mas antes de sublínguas com a mesma raiz, um pouco como as línguas europeias neolatinas.
   As principais eram (e são): kikongo, kimbundu (quimbundo), umbundu (umbundo), tchokue e cuanhama, considerados pelos portugueses como dialectos. A língua portuguesa foi se impondo como a língua da totalidade angolana, uma imposição de fora. A ideologia da colonização era simples neste aspecto: sobrevalorizar a língua do colonizador e desprezar, de acordo com os interesses estratégicos do ocupante, as sublínguas locais.
   Isto culminou com a exclusão das línguas locais do ensino e com o processo de "assimilação". O que era a assimilação? Muito simples: os colonizados não eram cidadãos portugueses. Não tinham direito a bilhete de identidade. O que os tornava "legais" era: 1 o cartão de trabalho assinado diariamente pelo patrão; 2 o imposto indígena reconhecidamente pago. Caso contrário, eram presos nas rusgas diárias e encaminhados para: 1 obras públicas (estradas); 2 serviços domésticos (os colonizadores tinham o direito de ir à prisão da esquadra policial escolher um "rapaz" não nascido em Luanda ou Malanje os destas regiões eram considerados falsos nas suas relações com os colonizadores; os do "sul" eram considerados "pretos fiéis" e por isso com muita procura para os trabalhos domésticos. Os colonizados não podiam por isso casar, mas "amigar". O casamento era para os "mestiços" (a quem os colonizadores chamavam "africanos": uma senhora "africana" era uma mulher mestiça).
   Para se tornarem "cidadãos portugueses" tinham de prestar provas: ser católico praticante, dormir numa cama, ter o exame da quarta classe, falar bem português, ter só uma mulher, comer com garfo e faca, isto é, ter costumes "europeus exemplares". Isto é: o que para um qualquer branco era adquirido por nascimento, para o colonizado era adquirido depois de difíceis provas, em que, muito provavelmente, muitos europeus reprovariam.
   Assim se impôs a língua portuguesa, através de redes de pequenos colonizadores, nas cidades e nos campos. Eram comerciantes, donos de terras concedidas (depois de rapidamente expropriadas aos colonizados), etc, etc. No meu tempo, raros eram os negros ou mestiços que passavam da quarta classe para o liceu. Exemplifico: no meu tempo fui companheiro de três ou quatro crianças negras ou mestiças no ensino primário, para centenas, se não milhares, de brancas. Logo no primeiro ano do liceu só havia um negro na minha turma de 40 alunos. No meu ensino complementar para Direito, havia uma média de 50 brancos para quatro negros e mestiços. Todos os outros ficavam pelo caminho. Isto para uma população de 500 mil brancos 5 milhões de negros/mestiços.
   A língua portuguesa nunca se misturou com as línguas locais, consideradas inferiores. Se houve alguns portugueses que conseguiram, pela sua prática de comerciantes, falar correctamente a língua local, a grande maioria utilizava apenas expressões muito pejorativas dessas línguas. Passo a exemplificar: o que se ouvia os colonizadores (neste caso os brancos) dizer, em tom de galhofa, era: "sundu ia maienu cona da mãe; tuje merda; munhungo prostituição «a gaja é uma preta do munhungo", etc, etc.
   A língua portuguesa impôs se não pela convivência, não pela procura de uma língua de mistura (ou crioula), mas pela exclusão forçada das línguas locais. São raras as expressões de línguas locais que a língua portuguesa absorveu: "maka problema". E é interessante ver as "nuances": um preto era sempre um rapaz, quer tivesse 10 ou 100 anos, sempre tratado por tu pelos brancos; o filho de um branco era sempre o menino; um branco era sempre o patrão; a mulher do branco era sempre a senhora; a mulher negra era a rapariga; a mulher mestiça clara era a senhora africana; os mestiços claros eram os cabritos; os negros escuros eram os pretos fulos; os pretos perigosos eram os calcinhas (de Luanda) e os malanginos e catetes; os pretos "amigos" dos brancos eram os bailundos ou os cabindas, os pretos fiéis.
   Os filmes ou eram para "maiores de 13, assimilados e interditos a indígenas", ou "para maiores de 6 e indígenas". Isto é, um indígena (um negro sem BI) era considerado até à morte como uma criança menor de seis anos. O Cinema Colonial (no bairro de S. Paulo) estava assim estratificado: bancos de cimento sem costas, mesmo à beira do ecrã, para indígenas; a superior, bancos corridos de madeira com costas, para mestiços e assimilados; cadeiras individuais para os pequenos brancos; camarotes, para os menos pequenos brancos. Esse cinema chama se hoje Popular e preencheu me o dia a dia da minha meninice e adolescência. Os colonizadores nem sonham que foi aí, entre um filme de Tarzã e outro do Zorro e do Roy Rogers, que eu aprendi a ser anticolonialista convicto e, sendo branco, tornei me antibranco (porque o branco era a face visível da tirania e da opressão), um menino de 10 anos revoltado contra o racismo, não teórico, mas ali ao meu lado, preenchendo todo o meu espaço vivencial.
   Foi nessa altura que eu comecei a aprender a língua kimbundu (quimbundo), por manuais feitos por missionários. A tal ponto que ainda hoje, se me perguntarem qual é a minha verdadeira língua, eu respondo automaticamente: o kimbundu, mas também o português. Esta visão pode chocar, mas o que escrevi sou eu próprio.
Rui Ramos (*)
(*) Em Angola, muita gente me trata por Rui Musoko: musoko significa aqueles ramos especiais de palmeira que os afilhados ofereciam aos padrinhos antes da Páscoa.

do CIBERDUVIDAS


Lembranças do Tio Oavo
Por Edson Athayde in "Diário de Notícias"

O meu Tio Olavo queria viajar no fim do ano, mas andava preocupado com o bug do milénio. Não é oue ele tenha medo de avião, na verdade tem pavor. Na dúvida, resolveu ir mais cedo para uma ilha paradisíaca perto de Porto Seguro na Baía ("É uma espécie de viagem de estudos. Estou a investigar os 500 anos dos descobrimentos. Agora mesmo estou a pesquisar umas nativas"). Nos tempos livres, ele anda a coleccionar frases e pensamentos. Mandou me alguns por e mail. Nada que tenha alguma coisa a ver com a publicidade e o marketing, mas, bolas!, de vez em quando é bom relaxar das coisas sérias. Pois segundo o meu Tio Olavo:

"É melhor morrer de vodca do que de tédio."

"Nada é ilegal se cem empresários decidirem fazê lo."

"A ironia é a higiene de mente."

"O que o mundo precisa é de mais génios modestos. Hoje resta pouca gente tão boa como nós."

"Quando o seu Ql chegar a 30, venda."

"Nunca deixei que o período que passei na escola interferisse na minha educação."

"Não é triste mudar de ideias. Triste é não ter ideias para mudar."

"Só os competentes são modestos."

"Bem feito é melhor do que bem explicado."

"O problema dos nossos jovens escritores é que todos eles estão na faixa dos sessenta."

"Eu fumo porque, na minha idade, se não tenho algo em que segurar, caio."

"Para evitar o stress, evite ficar excitado. Ou seja, passe mais tempo com a sua esposa."

"O problema do sexo em grupo é que você nunca sabe onde colocar o cotovelo."

"É perigoso estar certo quando o Governo está errado."

"É incrível: sou um dos poucos homens contemporâneos do meu tempo."

"Onde há fumo, há tosta."

"Caspa não cai do céu."

"Não ficamos adultos, apenas parvos grandões."

"Em geral, os meus netos recusam se a comer qualquer coisa que não cante e dance na TV."

"Nada é bastante para quem considera pouco o suficiente."

"Se nem Jesus agradou a toda a gente, não sou eu que vou agradar."

"O que certos políticos não fazem com as suas esposas acabam por fazer com o país."

"Não existem mulheres frígidas; apenas mal aquecidas."

"Moro em cima dos meus sapatos e por baixo do meu chapeu."

"Os cargos são finitos, mas a vontade de ocupá los é infinita."

"As mulheres de certa idade não têm idade certa."

"É mais fácil sustentar dez filhos do que um vício."

"O invejoso emagrece com a gordura alheia."

"A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda"

"Quando pobre come frango, um dos dois está doente."

E para terminar o meu Tio Olavo afirma: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira."


Pagos para ver publicidade
Ruben Eiras ("Espresso")

Ao passo que a mundo se torna num "emaranhado" de fios e computadores, onde as pessoas interagem através de um clique num botão, o "marketing" electrónico começa a despontar no seio da economia digital.

E com o comércio electrónico a conquistar uma quota de mercado cada vez maior a Forrester Research, uma empresa de consultoria de Internet, prevê que em 2003 este atinja o valor de três triliões de dólares , multiplicam se as inovações nas técnicas de venda de produtos no ciberespaço.

Com efeito, a tendência mais recente é, imagine se, o cibernauta ser pago para visualizar anúncios enquanto navega na rede. Esta nova técnica funciona em dois sistemas: o esquema de afiliação e o de visualização de anúncios.

No primeiro, o cibernauta ao tornar se um "afiliado", tentará atrair os utilizadores da "web" a clicarem num link na sua página ou publicação electrónica, que os levará a outro "site" que está a comercializar um determinado produto ou serviço. Se o internauta visitante comprar, o "afiliado" recebe uma comissão.

Todavia, o cibernauta deverá ser cuidadoso na escolha dos esquemas de afiliação, para não ser logrado. Alguns dos mais seguros e efectivos no momento são o www.freedrive. com, o www.activemarketplace.com, o www.killertactics.com e o www.sitesell.com.

No segundo sistema o mais recente a maioria dos esquemas requer ao aderente a inclusão de uma barra de visualização nos cantos inferior ou superior do "browser". Esta barra é utilizada para mostrar os anúncios. O aderente é pago enquanto "surfa" na rede, desde que a barra de visualização se encontre em funcionamento. Aqui, há que fazer um "download" de um programa que possibilite a visualização dos anúncios e o controlo do crescimento da rede. Em geral, a adesão a estes esquemas não traz quaisquer encargos financeiros aos cibernautas. A maior parte dos sites também prestam serviços de apoio à gestão da rede criada pelo aderente.

Marketing à medida

Por exemplo, na www. alladvantage.com, o aderente é pago se conseguir que outras pessoas também adiram ao sistema, e assim sucessivamente. O objectivo é criar uma comunidade de clientes com preferências e características demográficas, geográficas e comportamentais semelhantes. Os anunciantes ficam a saber como anunciar, o que anunciar e a quem anunciar. Por sua vez, os aderentes vêem os anúncios que lhes são úteis e ganham dinheiro com isso. Quanto ao montante que o aderente pode ganhar, estes esquemas assentam numa remuneração mensal base que varia, normalmente, entre os 20 e os 50 dó1ares, o que em dinheiro português totaliza entre 4.000 e 10.000) escudos, respectivamente. Embora à partida este valor não seja muito atractivo, poderá tornar se muito maior se o aderente introduzir os amigos, colegas e conhecidos designados "referrals" dentro do esquema. Se tal acontecer, o aderente é pago segundo o tempo de navegação na Internet daqueles que introduziu no sistema. O controlo do crescimento da comunidade construída pelo aderente é realizado através da inclusão do seu número de identificação na ficha de adesão dos seus "referrals".

Imagine, como exemplo, que introduzia quatro pessoas num esquema deste tipo. Depois, aquelas quatro pessoas, com a sua referência, introduziam outras quatro cada uma e assim por diante. Se toda a rede cerca de 1024 pessoas navegasse 40 horas por mês, a sua remuneração poderia atingir a soma de 1.4270.000 escudos.

Contudo, este valor não passa apenas de uma hip6tese. Isto porque a eficácia e rentabilidade destas novas técnicas dependem exclusivamente do esforço e cooperação entre os aderentes. Mas, por outro lado, quando a utilização das redes é maximizada, torna se possível obter um perfil fiel e personalizado das diversas comunidades de clientes, dado que o utilizador só recebe publicidade sobre os produtos que prefere ou que tem necessidade. Em resultado, com um "marketing" específico para cada cliente, aumenta se as probabilidades de vendas e reduzem se os custos na publicidade.

Se o leitor desejar saber mas sobre as novas tendências do "marketing" electrónico, visite o site www.rnakemoneyonline bizhosting.com.

Não resisto a acrescentar: cheira me a pirâmide!!!


Governo vai regular comércio na Net

As vendas online ou por correspondência terão de ser confirmadas por escrito pelo comerciante até ao dia da entrega do produto e na semana seguinte este será obrigado a aceitar devoluções sem qualquer indemnização ou justificação.

Os novos direitos dos consumidores que compram bens e serviços por estes meios constam de um projecto de decreto lei governamental que será sujeito à apreciação do Conselho de Ministros que também regulamenta as vendas ao domicílio, automáticas e esporádicas.

O documento, a que a Agência Lusa teve acesso, transpõe uma directiva comunitária de protecção dos consumidores em matéria de contratos à distancia e aplica se apenas entre os membros da União Europeia. Fora dela, nomeadamente nos EUA, são aplicadas as regras de direito intemacional. Nas vendas à distancia, exceptuando os contratos relativos a serviços financeiros e os celebrados para a construção e venda de bens imóveis, cuja regulamentação é excluída do diploma, o vendedor fica obrigado a confimmar por escrito a sua identidade, as características do bem, o preço, as despesas de entrega (se existirem), as modalidades de pagamento e a existência do direito de rescisão do contrato.

A confirmação deve ser recebida pelo consumidor "em tempo útil" e o mais tardar no momento da entrega do produto, segundo o artigo 3.° do projecto de decreto lei. "Em qualquer contrato à distância, o consumidor disporá de um prazo de pelo menos sete dias úteis para rescindir o contrato sem pagamento de indemnização e sem indicação do motivo. As únicas despesas eventualmente a seu cargo, decorrentes do exercício do seu direito de rescisão, serão as despesas directas da devolução do bem", lê se no documento. Para exercer esse direito, o prazo conta se, no que se refere ao fomecimento de bens, a partir do dia da sua recepção e, quanto à prestação de serviços, a partir do dia da celebração do contrato.

Se o fomecedor não tiver cumprido a obrigação de confimmação por escrito das informações, o prazo (para rescindir o contrato) é alargado para três meses.

"Quando o direito de rescisão tiver sido exercido pelo consumidor, o fornecedor fica obrigado a reembolsar, no prazo máximo de 30 dias, os montantes pagos pelo consumidor, sem quaisquer despesas para este», diz ainda o artigo 4.o.

O direito de rescisão só não pode ser exercido nos contratos de fomecimento de gravações de áudio e vídeo, de discos e de programas informáticos a que o consumidor tenha retirado o selo, bem como nos contratos de fornecimento de jomais e revistas e nos de serviços de apostas e lotarias.

A utilização fraudulenta de um cartão de crédito, quando comprovada a ausência de culpa do legítimo titular, dá lugar à anulação do pagamento efectuado e à restituição do respectivo montante pela entidade bancária ou financeira emissora do cartão, num prazo máximo de 60 dias. A restituição não prejudica o direito do banco reaver junto dos autores da fraude o montante que pagou por conta do consumidor Na venda em máquinas automáticas, quando o valor unitário dos produtos ultrapassar os mil escudos, vai ser obrigatória a emissão de talão comprovativo do pagamento pela compra.

As vendas esporádicas, realisadas de forma ocasional fora dos estabelecimentos comerciais, em instalações ou espaços privados, ficam sujeitas a autorização prévia da Direcção Geral do Comércio e da Concorrência.

E passam a ser proibidas as ofertas para venda de bens ou prestação de serviços efectuadas fora dos estabelecimentos comerciais, realizadas na via pública e em que o contrato seja concluído noutro local, nomeadamente nas instalações da empresa vendedora.

O diploma, depois de aprovado, vai assim proibir, por exemplo, as vendas promocionais que os bancos e outras empresas fazem nos centros comerciais.

A nova legislação das vendas à distancia está neste momento a ser sujeita ao parecer de várias entidades e só depois será aprovada, ou não, pelo Conselho de Ministros.
(Do "Diário de Notícias")


O princípio do fim dos "browsers"
RICARDO DAVID LOPES (Diário de Notícias)

Bill Gates, a Microsoft e muitas empresas de software e hardware vão ganhar uma nova dor de cabeça. A curto prazo, o acesso à Net pode dispensar, pura e simplesmente, a presença de um browser e de um PC. Novos aparelhos deverão substituí los alguns serão apresentados a partir de domingo em Las Vegas, na décima edição da Comdex. Durante uma semana, 2100 expositores vão mostrar a um público que deverá atingir as 200 mil pessoas os seus últimos inventos. A maioria são aparelhos portáteis que introduzem novos conceitos na fomma de navegar na Intemet e receber e enviar correio electrónico. Quando todos estes dispositivos forem comercializados, a guerra antitrust travada nos tribunais pela Microsoft vai parecer a Bill Gates a menor das suas preocupações. O próprio Windows (e o concorrente Netscape Navigator) vão ter de ser profundamente repensados.

Muitos dos aparelhos que agora vêem a luz do dia correm em ambiente Linux, o sistema operativo altemativo ao Windows que ganha cada vez mais aderentes, por via da frustração que este sistema operativo acaba por trazer aos utilizadores mais experimentados: está constantemente a crashar (bloquear) e é lento a arrancar. "Nas últimas de edições da Comdex a Microsoft saiu em glória", afirmou à agência Associated Press Richard Doherty, consultor industrial do The Envisioneering Group, uma empresa de Seaford, Nova Iorque. "Mas o Windows vai, agora, conhecer a concorrência." A Netapliance Inc., por exemplo, vai mostrar o seu i opener, um aparelho que custa 200 dólares (menos de 40 contos) e que pemmite, com o seu monitor de dez polegadas, verificar na Web (a troco de uma mensalidade) as cotações do mercado bolsista, a metereologia ou proceder ao envio e recepção de e mail.

A InfoGear Technology Corp., por sua vez, apresenta o i Phone que custa 400 dólares (77 contos) e vem com três anos de navegação e serviço de e mail gratuitos. Outras empresas apresentam produtos do mesmo tipo. Por 399 dólares (pouco mais de 76 contos), a Global Converging Technologies vai lançar o NetDisplay (sem fios), um monitor sensível de seis polegadas onde se navega na Web e troca correio.

Outros aparelhos, com fio, podem ligar se em qualquer ficha telefónica. Com tudo isto, em breve vai aplicar se à Intemet a velha máxima: "A tradição já não é o que era."


Desordeiros identificados através da Net

As autoridades britânicas prenderam, por terem recorrido à Intemet como meio de identificação, dez indivíduos envolvidos nos desacatos provocados no passado 18 de Junho em Londres, quando uma marcha inicialmente pacífica de seis mil pessoas Carnival Against Capitalism se transformou numa guerra campal.

As imagens dos desordeiros, captadas em camaras colocadas ao longo do percurso, foram colocadas na Web, tendo a polícia pedido a todos os que conseguissem para identificar os envolvidos, numa iniciativa que é inédita na Europa. Nos EUA, recorde se, uma operação semelhante foi desencadeada este Verão, no seguimento do caótico final do festival de Woodstock.

De acordo com um responsável policial citado pela BBC, a iniciativa tem tido grande sucesso. As autoridades receberam já cerca de 20 "dicas", depois de terem colocado online 200 fotografias de pessoas envolvidas na manifestação. "Ter posto estas fotos na Web ajudou nos a encontrar gente que, de outra fomma, não teríamos conseguido identificar."

A própria manifestação, de resto, foi em parte organizada a partir da Internet. Às sete da manhã, cerca de 23 grupos de pessoas juntaram se no centro de Londres. Ao meio dia, junto à Liverpool Station, eram seis mil os manifestantes que, até então, foram pacíficos.

A partir daí a multidão dividiu se em três grupos. Um deles, que seguiu até à sede da London Intemational Financial Futures Exchage, em Downgate Hill, tornou se agressivo, atacando no caminho polícias e transeuntes, danificando montras e roubando lojas.

Uma vez junto ao edifício, os manifestantes tentaram forçar a entrada. Como não conseguiram, fizeram o mesmo em prédios vizinhos. As autoridades policiais acabaram só por "desarmar" ao final da tarde, quando o grupo, finalmente, acabou por dispersar.
(Transcrito do "Diário de Notícias")


Internet levanta voo na entrada do milénio

O crescimento das trocas comerciais na maior rede informática do mundo ainda mal começou

Os analistas não têm dúvidas de que o comércio electrónico está apenas a decolar da pista. O voo em velocidade cruzeiro deverá chegar em 2003, altura em que a Internet será palco da módica quantia de 280 mil milhões de contos de vendas. Para quem gosta de comparações, são "só" cinco vezes o total de vendas de produtos e servços do momento em todo o território português.

A estimativa é da casa de analise Forrester Group, que refere que o comércio electrónico está neste momento a terminar a sua fase de aceitação e que se coloca agora a milímetros de um "hipercrescimento", a iniciar se já durante o próximo ano. Com a viragem do milénio (e se o bug não fizer das suas), entra se assim na segunda vaga do e business, uma fase que a Unisys não se cansou de referir na apresentação da sua estratégia.

Segundo a Unisys, a mudança vai ser nítida nas empresas que já operam no sector. Sociedades do tipo dotcom (do inglês "ponto com", o sufixo dos endereços comerciais da Internet), que neste momento não têm qualquer activo, não passando de casas quase virtuais, vão começar a ter recursos físicos, armazéns e outras estruturas típicas de uma empresa tradicional. Sociedades que serão clientes da empresa informática.

Dados recolhidos pela IDC indicam que a maior fatia do comércio electrónico em 2003 virá de transacções entre empresas, e não do consumidor particular, ao contrário do que se possa pensar. O grosso das transacções terá lugar entre consumidores institucionais e com origem em trocas entre fornecedores e parceiros comerciais. E é aqui que reside grande parte da aposta do programa e@ction?.

Mesmo em Portugal, onde a "moda da Internet" tem ainda uma história muito recente, começa se já a notar a forte expansão da possibilidade de efectuar transaccões com um simples teclado e o clique de um rato. O que dantes aparecia do outro lado do planeta e que demorava meses a chegar a terras lusitanas, pode ser obtido agora no espaço de apenas uma ou duas semanas, numa revolução electrónica que conquista cada vez mais adeptos.

"Todas estas perspectivas de mercado dão à Unisys tremendas oportunidades de ajudar todos os intervenientes comerciais a criar volume de vendas", defendeu a empresa na apresentacão, evocando casos semelhantes ao português. E condenada a uma ainda maior capitalização fica também a própria Unisys, que conseguiu, nos primeiros três meses deste ano, uma factura,cão de 1,87 mil milhões de dólares (355 milhões de contos).


Entrevista de José Carlos Campos

 Clube de Criativos combate fantasmas

No 2º festival, realizado entre 28 e 30 de Outubro, só entraram trabalhos "autênticos". Mas "é fácil contornar a regra".
Cátia Almeida ("Diário de Notícias"

O Clube de Criativos de Portuga foi criado há cerca de dois anos Que balanço faz das actividade, promovidas e dos objectivos delineados?

O nosso grande objectivo a criação de um anuário regular foi alcançado. Ao contrário de muitos países, em Portugal não existia um livro que perpetuasse o que de melhor se faz em publicidade a nível nacional.

Para além do anuário, irá ser realizado todos os anos um festiva] de publicidade?

Organizar um festival anual é também um dos nossos objectivos. Este ano o festival teve a ambição de trazer pessoas de outros países para transmitirem conhecimentos aos nossos profissionais. Ainda não se pode considerar o mercado português como sendo evoluído. Daí a formação dos profissionais ser bastante importante.

O festival passa a ter, a par dos prémios, essa função de formação?

Sim. É importante que as pessoas ganhem prémios, mas é igualmente necessário que o clube ofereça aos profissionais momentos de aprendizagem.

Há pouco dizia que Portugal está a passar por uma fase de falta de criatividade. Porque é que diz isso?

Portugal atingiu um nível médio razoável em termos de trabalho criativo. Mas já há muitos anos que estamos a fazer o mesmo. É muito raro aparecer uma coisa no ar que surpreenda e que faça o consumidor ficar altamente sensibilizado. Há falta de mensagens que seduzam os consumidores e que sejam altamente relevantes para as marcas. E preciso que todo o mercado (criativos, empresários...) tente fazer coisas diferentes. Acho que a comunicação estagnou.

Ao dizer isso concluo que o nível de criatividade dos trabalhos inscritos no festival deste ano não difere muito em relação ao ano passado.

Bem,.essa avaliação não é a minha missão. No entanto, posso dizer lhe que, este ano, o objectivo do jurí, presidido pelo Pedro Bidarra, foi fazer um rastreio mais exigente. No ano passado, por ser o primeiro anuário, houve alguma benevolência. Se calhar entraram alguns trabalhos no anuário que não devia ,m ter entrado. Este ano queremos um anuário mais exigente, onde não haja anúncios que não tenham qualidade acima da média.

Em relacão aos anúncios fantasmas, acha que eles deviam ser banidos dos festivais de publicidade?

É muito dificil controlar isso, ou até impossível. No ano passado, no Festival de Cannes, segundo infommações divulgadas pela imprensa, a DM9 conquistou o troféu de melhor agência do mundo só com fantasmas. As pessoas diziam: "Não, o anúncio saiu num jomal no interior de São Paulo." Mas o anúncio saiu uma vez porque a agência se dispôs a pagar esse espaço. Acho que os fantasmas servem para estimular a criatividade, mas não se pode trabalhar sempre assim. Na minha opinião, os fantasmas, em Portugal, não cumpriram esse objectivo.

Mas Portugal tem ganho prémios com os tais fantasmas...

Ganhamos muitos prémios com os fantasmas, mas na realidade ainda existe algum conservadorismo. Não estamos a lutar para fazer um bom trabalho. É preciso também salientar que muitas condições não são as melhores. Nos outros países há tempo para pensar nas campanhas. Em Portugal, em muitos casos, a primeira ideia que surge é aquela que tem de seguir. Não há tempo para avaliar outras possibilidades. Não há condições de trabalho. Por isso é que muitos profissionais começam a sair do País para trabalhar no estrangeiro.

Caso fosse possível vedar a entrada de anúncios fantasmas nos festivais, concordaria com essa regra?

Sim, se fosse aplicada a todos os trabalhos. Acho que esse tema vai ser uma discussão eterna na publicidade. É muito fácil contomar essa regra. Fiz muitos fantasmas durante um período da minha vida, hoje não os faço. Sei bem como é fácil "dar a volta" a esta questão.

Mas num evento de ambito nacional, não deve ser assim tão fácil inscrever anúncios fantasmas no concurso como sendo autênticos. Há trabalhos fantasmas neste festival?

Em princípio não há. É uma das exigências que fazemos, até porque estamos a tentar combater os fantasmas.


CINCO MILHÕES DE INTERNUTAS FALAM PORTUGUÊS

Português é a língua que mais cresce na Net

A língua portuguesa é a que mais vai crescer na Internet no próximo ano, segundo um estudo recente da Euromarketing Associates. O estudo é objecto de análise no espaço do Ciberdúvidas na edição de Novembro da revista "Inter.face".
O português é a sexta língua mais falada do mundo, mas no ciberespaço, está actualmente em 11º lugar, com cerca de 3,4 milhões de utilizadores. Mas de acordo com a análise da Euromarketing Associates, "o português é a língua que registará a maior taxa de crescimento na Internet até ao ano de 2001", diz o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa num comunicado. Mesmo assim, segundo Tito de Morais, responsável para a Internet do Ciberdúvidas, o número actual de utilizadores de português na Web estimado pela Euromarketing está subavaliado.
Segundo o Ciberdúvidas, os cálculos da Euromarketing baseiam se em dados desactualizados no que toca à penetração da Net em Portugal e no Brasil, e ao número de falantes de português nos Estados Unidos. Por outro lado, "o estudo deixa de fora utilizadores em países com importantes comunidades de língua portuguesa, como sejam a Alemanha, França, Venezuela e África do Sul, entre outros".
"Resumindo, podemos eventualmente assumir que o número de utilizadores da Internet de língua portuguesa rondará, ou mesmo ultrapassará, os cinco milhões", conclui Tito de Morais. E, assim sendo, o português será não o 11º idioma mais utilizado no ciberespaço mas o oitavo a seguir ao inglês, ao japonês, ao alemão, ao chinês, ao espanhol, ao francês e ao italiano.
De acordo com a 13ª edição do "Ethnologue", publicação do Summer Institute of Linguistics International, a língua portuguesa é, a par da russa, a sexta mais falada do mundo como primeira língua, com um total de 170 milhões de falantes.
O idioma mais falado do mundo é o mandarim (com 886 milhões de falantes), seguido a larga distância pelo espanhol (332 milhões), o inglês (322 milhões), o bengali (189 milhões), o hindi (182 milhões), o português e o russo, o japonês (126 milhões) e o alemão (98 milhões). Os idiomas francês e italiano ocupam, respectivamente, o 13º e o 27º lugares..
( Do jornal "O Público" no Suplemento Computadores)


Internet é receita para deixar de pensar

Clifford Stoll é um criador do sistema precursor da Net. Hoje é um inimigo do culto desta
JUERGEN SCRIBA
RAFAElA BREDOW
"Diário de Notícias"

Em 1972, Clifford Stoll criou o sistema Arpanet, precursor da actual Internet. Ficou mundialmente conhecido por, em 1987, ter desmantelado um grupo de sabotagem que na Alemanha vendia informações secretas à KGB. Entretanto, passou a ser inimigo declarado do culto da Internet.

Entre outros, deve se a si a existência da Internet. Mas você transformou se num crítico feroz da comunicação electrónica. Como é possível que um entusiasta dos computadores se tenha tornado num inimigo figadal?

Não é verdade. Adoro os computadores. O que me irrita é o culto criado em redor deles. Trata se de uma ideia da Microsoft, da Apple e de mais algumas pessoas de Silicon Valley, que impuseram ao mundo esta mensagem: se não tens e mail, se não navegas na Internet, és um fracassado e um etemo frustrado.

Há gente respeitável, tanto no ramo dos computadores, como no da investigac,ão científica, que o acusa de ser isso mesmo.

Há mesmo quem me odeie violentamente. Sou injuriado, chamam me o idiota total, o destruidor de máquinas. No entanto, eu só faço perguntas a que tais pessoas não sabem responder. E argumentam mostrando me fotografias de crianças felizes por estarem diante do computador.

Que perguntas são essas?

Por exemplo, se essas crianças conseguem falar e brincar umas com as outras, olhos nos olhos, ou se só conseguem comunicar através do e mail. Estou plenamente convencido de que é um disparate atulhar de computadores e ligações à Internet as nossas escolas. Isso gera consequências fatais para o nosso nível cultural e para a nossa educação. Não é por acaso que no massacre de Littleton os assassinos gastavam todos os tempos livres na Net.

Mas, então, todos os "ratos de biblioteca" se transformarão em assassinos: nada isola mais um jovem do que passar a vida agarrado a livros fascinantes.

Mas essa era a tese de Sócrates: ele pretendia que as pessoas não aprendessem a ler, deveriam, pelo contrário, pensar e discutir umas com as outras. Sócrates só fazia perguntas e não punha em cima da mesa soluções feitas.

Também defende essa tese?

Ele tem razão ao afirmar que na escola é mais importante questionar as coisas em vez de receber receitas prontas. Sobretudo, é necessário nunca fazer perguntas estúpidas. Quanto é quatro mais três? Um bom professor nunca fará perguntas destas. Perguntas bem feitas nunca poderão vir do computador.

Mas a função dos multimedia consiste em transformar matérias escolares áridas em assuntos interessantes. Os jovens de hoje não lêem o "Mercador de Veneza" de Shakespeare, mas podem admirar essa peça no Teatro de Stratford recorrendo à Intemet.

Mas isso é televisão! É Shakespeare televisivo! Shakespeare é teatro. Mostre me o chip da Intel que pode transmitir os sentimentos de MacBeth! Arranje me um CD ROM que ensine os meus filhos a representar o MacBeth!

Há uma diferença entre a TV e os multimedia: a televissão é passiva e a Intemet interactiva.

Isso é uma mentira. A única interactividade que existe consiste em carregar no botão para acender ou apagar o aparelho. Não existe nenhum programa multimedia que desperte nos jovens o desejo de conhecer mais aprofundadamente o Shakespeare.

Os defensores da Intemet dir lhe ão que é uma questão de tempo. Em breve, os computadores serão tão rápidos que poderão transmitir toda o tipo de dados.

Que tecnologia será necessária para transmitir a três dimensões um holograma da minha pessoa? E, mesmo que tal venha a ser possível, será isso substituto de um bom professor?

Você está a comparar as potencialidades da Internet com o professor ideal. Porém, onde está ele? A esmagadora maioria das crianças estão condenadas a ler o Shakespeare a preto e branco.

Eu acho isso muito bem. Excita a imaginação das crianças, fomenta a sua fantasia e evita que elas frente ao computador, sejam informadas às colheradas sobre Shakespeare. Na Internet, as crianças vêem o Romeu e a Julieta e dizem: olha, eles são assim. Se lerem o livro, constroem a sua própria imagem dessas personagens. Os multimedia destroem para sempre a capacidade de maginação das crianças.

Não estará você a repetir a mesma argumentação de Charlie Chaplin quando apareceram os primeiros filmes sonoros?

E ele tinha razão: imagem e som ao mesmo tempo duplicam a informação, porém a mensagem perde se. Marshall McLuhan tinha razão quando em meados dos anos 60 escreveu: "A mensagem é o médium." O modo como uma informacão é recebida depende do médium que a transmite. Ora, a mensagem da Internet é só uma: clic! A Internet só ensina a clicar. Não precisas de trabalhar, basta clicar! Não precisas de pensar, basta clicar! Se não gostas do que estás a ver, tens apenas de clicar! Por isso é que navegar na Net é uma excelente receita para deixar de pensar.
(Do "Diário de Notícias")


Comércio electrónico acelera em Espanha

O comércio electrónico está a expandir se muito rapidamente em Espanha e chegará, em 2002, a um volume de negócios de 255 mil milhões de pesetas (1,532 mil milhões de euros), segundo cálculos da Associação Espanhola de Comércio Electrónico (AECE), noticiou a AFP.
Esse número representa uma multiplicação por 30 do volume de negócios registado ou previsto para o ano em curso, que deverá atingir a soma de 8,5 mil milhões de pesetas, segundo um estudo apresentado pelo presidente da AECE, Fernando Pardo.
Segundo esse estudo, em 1999 verificou se um ligeiro recuo no crescimento do e commerce, em virtude dos receios quanto ao bug do ano 2000, que provocou um abrandamento na entrada na Internet de diversas empresas, masa grande aceleração ocorrerá sobretudo no próximo ano, com a entrada em vigor do euro na vida quotidiana.Em Espanha, a média de transacções pela Internet é actualmente de oito mil pesetas, com cada utilizador a fazer, também em média, três compras por ano. Por outro lado, naquele país, 60 por cento dos utilizadores da Internet usaram já este meio para adquirir produtos, segundo o estudo. As regiões de Madrid e de Barcelona são os principais centros de onde emanam as ordens de compra do comércio electrónico, com 25 por cento das transacções em 1998. Segundo o estudo da AECE, 93 600 empresas espanholas dispõem de uma web page, ou seja, 16 por cento das que têm relações directas com o consumidor.
(Do "Diário de Notícias"


Língua portuguesa e Timor Leste*
Arnaldo Niskier

Uma saudável epidemia tomou conta da imprensa brasileira. Os jornais publicam seções de valorização da língua portuguesa; mas, antes de aprofundar o assunto, preocupo me com o que se passa em Timor Leste, sem nenhum toque de demagogia inconcebível. Já foram assassinadas mais de 200 mil pessoas pelas milícias indonésias, pagando pelo crime de ter uma outra religião (91% de católicos) e de falar outra língua (o português).
Onde é que estamos, perto da virada do século, para se admitir tamanha barbaridade, só agora enfrentada pela ação da ONU, que mais uma vez custou a acordar da sua habitual letargia? O Brasil tem grande responsabilidade em relação a Timor Leste, não só pelo seu interesse estratégico na Ásia, mas principalmente em virtude de ser o maior guardião dos tesouros culturais representados pela língua portuguesa. Já não chega a drástica redução dos falantes, como os de Goa, Macau e Moçambique, por exemplo? Agora o mundo assiste, estarrecido, ao genocídio dos tempos modernos.
Seres humanos são mortos, outros fogem para as montanhas, a capital (Díli) torna se uma cidade fantasma. Como se pode admitir tamanha barbárie?
Numa audiência recente com o presidente Fernando Henrique Cardoso, ao receber a diretoria da Academia Brasileira de Letras, o tema da ameaça à língua portuguesa aflorou com naturalidade, quando era comentada a elaboração do "Dicionário da ABL", que está sendo tocada pelos
especialistas Antônio José Chediak e Evanildo Bechara, todos professores do Colégio Pedro 2º, mais Diógenes de Almeida Campos (representante da Academia Brasileira de Ciências).
Arriscamo nos a uma interpretação, sempre passível de discussão. Em primeiro lugar, pode se registrar o fato, facilmente comprovável, de que nunca se escreveu e falou tão mal o idioma de Rui Barbosa. Culpa, quem sabe, da deterioração do nosso sistema de educação básica. Em segundo, o pouco apreço que devotamos ao gosto pela leitura. Nosso índice "per capita" mal alcança dois livros por habitante; na França, por exemplo, oscila em torno de oito. Não se pode estranhar a afluência de interessados a espaços culturais como o centro George Pompidou, em Paris, por onde transitam diariamente cerca de 25 mil pessoas. Tudo feito de modo científico, para fazer com que os usuários se interessem, desde cedo, pelos mistérios da leitura. O "atelier des enfants" é simplesmente genial; dá
gosto ver as crianças às voltas com os materiais impressos, ricamente ilustrados, competindo com os vídeos em nítida vantagem. Em terceiro lugar, para não ir muito longe, podemos citar a "contribuição" dos meios televisivos. Donos de uma força descomunal, salvo as exceções de praxe, como osx programas gerados pela TV Cultura de São Paulo, praticam um magistral desserviço à educação brasileira. Comunicadores falam mal, atores não se expressam adequadamente, dublagens são feitas dex forma chula, programas infantis deseducam. O que se pode esperar desse triste universo?
Novas formas de regência verbal são adotadas e, também por influência do economês, todos "oportunizam", "absolutizam", "otimizam", "a nível" disto e daquilo, e "colocam" perguntas e dúvidas, "enquanto" alunos...
Para que estudar verbos irregulares, se é mais fácil dizer "interviu" ou "manteu" ou, ainda, descobrir outras utilidades para o "aliás" e o "inclusive"? E o triste "houveram"?
Os chamados anglicismos estão, entre nós, nacionalizados e incorporados ao dicionário por transformação semântica ou morfológica: bife, clube, bonde, dólar, iate, teste não agridem mais a língua nacional.
Também não se ignoram a experiência tecnológica e científica e as relações comerciais, políticas e diplomáticas, que não prescindem de expressões como blue chip, spread, prime rate, bit, software e muitas outras. Constituem um jargão especializado que não interessa à população em geral, maisx preocupada com o salário e os preços do arroz e do feijão...
A conclusão é que se deve cuidar dessa matéria de forma inteligente, sem patriotadas, mas com objetividade, no sentido de valorizar o idioma de Machado de Assis e de Fernando Pessoa. Se a nossa pátria é a língua portuguesa, por que não cuidar bem dela?

* Texto publicado recentemente no jornal brasileiro "Folha de S. Paulo" copiado do Ciberdúvidas