Coisas Sérias 6  

 

INTERNET E OS SEUS PERlGOS

Dez mitos sobre compras na Web

NÃO É PRECISO realizar dispendiosos estudos de mercado para perceber o que é que, em Portugal, impede um maior ritmo de
crescimento do comércio electrónico. Se quisermos encontrar uma só palavra para definir o problema, ela é ''confiança''. ou melhor, a falta dela.
Os portugueses são desconfiados por natureza mas o problema não é apenas esse: a Internet é nova e nem todos têm acesso a ela; uma compra via Internet é, por definiçáo, uma compra por catálogo e os portugueses não estão habituados a comprar por catálogo; a forma mais prática de comprar "on line" é usando o cartão de crédito e Portugal está na cauda da classificação quanto ao uso do cartão de crédito.
Quando se junta tudo isto, percebe se que é difícil encontrar um cruzamento de vontades capaz de criar um mercado suficientemente interessante: os potenciais utilizadores de compras via Internet são aqueles que têm acesso à rede (uma minoria); os que não se importam ou até gostam de comprar por catálogo (uma minoria); e os que têm e usam cartão de crédito (outra minoria).
Pior ainda, mesmo no caso dos portugueses que reúnam todas estas condições: na verdade é que também existe uma maioria que volta as costas às compras via Internet. Porquê? Por falta de confiança. Porquê? Por falta de informação.
Por isso, nesta semana, Computadores pretende contribuir para desmistificar alguns aspectos do comércio electrónico e abrir a via para mais compras "on line".

Mito 1

A Internet é um meio intrinsecamente inseguro e desadequado a transacções que envolvam dinheiro.

Errado. A Internet é um meio perfeitamente usável para comércio electrónico desde que compradores e vendedores respeitem regras mínimas de conduta. O vendedor tem obrigaçáo de oferecer transacções seguras, serviço pós venda, garantias; o comprador deve rodear se dos mesmos cuidados como se estivesse a comprar na rua. Afinal, é diferente comprar numa loja com créditos firmados, garantias, facturas, etc., do que num vendedor de esquina que desaparece no momento seguinte. Na Internet, aplica se a mesma regra.

Mito 2

Faça o que fizer, não use o cartão crédito na Internet.

Errado. Pelo contrário: usar o cartão de crédito dá lhe um mínimo de garantias, uma vez que a entidade emissora funciona como intermediária na transacção. Pior seria enviar um cheque e receber a mercadoria depois... Por outro lado, se o seu problema é segurança, porque é que paga refeições, gasolina ou roupa com cartão de crédito? Também, nesse caso, a loja fica com um registo da transacção todos os dados do cartão, incluindo a sua assinatura!

Mito 3

O facto de não ser preciso assinatura nas transacções electrónicas, significa que qualquer pessoa pode usar o meu número de cartão de crédito.

Errado. A assinatura existe como segurança para quem vende e não para quem compra. Mais: ela não é usada para validar a transacção mas apenas como forma de, "a posterior;", caso exista reclamação por parte do comprador, se poder concluir se ela foi de facto realizada pelo titular do cartão ou não. Além disso, praticamente todas as lojas que vendem na Internet solicitam mais do que apenas o número do cartão pedem o nome nele inscrito, a data de validade e a morada do seu titular (por vezes, apenas o código postal). Muitos só entregam a mercadoria na mesma morada do titular do cartão (a qual consta apenas da ficha da entidade emissora e que nenhum "hacker" poderá adivinhar) e a quase totalidade nem quer ouvir falar de entregar em apartados.

Mito 4

Na Internet, é impossível distingulr um comerciante legítimo de um que o não é.

Errado. Tal como no mundo físico, há sinais óbvios de ilegitimidade para os quais convém estar atento. Se, em todo o "site", não existe uma forma de contactar a empresa (E mail, telefone, fax, morada física), não faça compras aí. Se existir, use essas formas (o E mail e telefone, por exemplo) antes da compra e espere pela resposta. Se ela não for satisfatória em termos de rapidez e conteúdo, vá fazer compras a outro lado. Afinal, se não existe suporte a clientes antes da compra, porque é que há de existir depois? Se, ainda assim, não se sentir confiante, procure versões electrónicas de lojas que já conhece no mundo real ou tente encontrar alguém que já tenha tido uma experiência positiva de compra com a loja virtual que pretende visitar.

Mito 5

As empresas 100 por cento virtuais têm melhor serviço que aquelas que começaram no mundo físico e passaram depois para a Internet.

Errado. Estudos realizados nos EUA no período que antecedeu o Natal de 1999 mostram precisamente o contrário: como o serviço após venda é, sobretudo, uma operacão logística, quem demonstra melhor serviço são, precisamente, as empresas com experiência no mundo real. As ".com" puras podem saber muito de comércio electrónico mas ainda têm que aprender os segredos corriqueiros mas cruciais dos "stocks", das encomendas e das entregas.

Mito 6

Mesmo que tudo corra bem, se eu usar a Internet, os meus dados vão circular por todo o lado e eu nunca mais vou ter sossego.

Errado. Enfim, pelo menos errado no sentido de que não é apenas com a Internet que isso acontece. Mesmo antes do advento da Internet, qualquer pessoa que alguma vez assinou uma revista especialmente estrangeira percebeu que os seus dados são transaccionados sem controlo: a quantidade de correio endereçado mas não solicitado aumenta de forma dramática. Apesar de tudo, Portugal tem melhores leis de protecção de dados pessoais do que os EUA, mesmo que, na prática, as diferencas acabem por não ser muitas. Se tem dúvidas, procure no "site" que visita quais os termos em que podem ser usados os seus dados pessoais; se não lhe agradar, compre noutro sítio.

Mito 7

Só é possível comprar na Internet usando o cartão de crédito e eu, apesar dos conselhos em contrário, não quero mesmo usá lo.

Errado. Isso só é verdade se pretender adquirir alguma coisa num "site" fora de Portugal. Mas, nos (ainda poucos) sítios portugueses onde se pode fazer compras, o cartão de crédito é apenas uma das muitas formas de pagamento possíveis. Existem até outras formas electrónicas, como o pagamento por Multibanco, que é praticamente à prova de fraude. Mas, em Portugal, a forma mais usada de pagamento é ainda o envio contra reembolso.

Mito 8

Se eu comprar alguma coisa fora de Portugal, pela Internet, não pago impostos.

Errado. Existem alguns bens que passam perfeitamente pelas malhas do fisco livros, discos, pequenos objectos desde que tenham baixo valor declarado. Como norma, tudo o que tenha um valor superior a 15 contos, paga impostos. Mas o tipo de impostos varia consideravelmente: em muitos casos, pode ser apenas o IVA; noutros, existem taxas de importacão específicas (mas não os equipamentos informáticos, que estão isentos!). Quando se compra a partir de um sítio estrangeiro, há que ter também em atenç ão que, de acordo com o bem e o seu valor, podetá ser necessário recorrer aos serviços de um despachante, pelo que o custo é ainda maior.

Mito 9

Na Internet, é tudo mais barato.

Errado. O que a Internet permite é, muitas vezes, encontrarmos produtos ou serviços que, de outra forma, seria impossível obter. Mas o factor preço nem sempre é decisivo. Acresce que os melhores preços se encontram frequentemente em sítios fora da Europa e, nestes, há que ter em atenção as questões relacionados com os custos de envio referidos no Mito 8.

Mito 10

Se eu seguir estes conselhos e algo correr mal, a culpa é do Computadores e do autor deste artigo, e eu posso vir pedir lhes explicações.

Errado. Com ple ta men te errado.

ANTÓNiO EDUARDO MARQUES / Casa dos Bits
(Texto do "Público")


Ataques são pesadelo americano

Os prejuízos causados por ataques de piratas informáticos a sites da Internet, pelo menos aqueles passíveis de serem verificados, e outras acções ilícitas mais do que duplicaram o ano passado, atingindo 265 milhões de dólares, segundo um estudo efectuado conjuntamente pela polícia federal americana, o FBI, e o Computer Security Institute (CSI), de Sao Francisco.

No estudo, 90 por cento das empresas e outras instituições que responderam disseram ter verificado falhas de segurança nos seus sistemas, mas especialistas em segurança dizem que a maior parte dos ataques não é detectada, pelo que o volume real dos prejuízos é dificil de calcular. Por outro lado, muitas empresas e instituições mostram se relutantes em admitir que os seus sites foram vandalizados.

Este estudo, que é feito anualmente, revela que o problema tem vindo a piorar. "A tendência continua na mesma direcção. Vai de mal a pior em termos de ameaças exteriores, enquanto a ameaça intema [dentro das próprias empresas] não desaparece", disse à Reuters Richard Power, do CSI.

Este ano, mais de 640 grandes empresas, bancos e departamentos governamentais responderam a perguntas sobre os seus sistemas informáticos, tendo apenas 42 por cento avaliado os prejuízos financeiros dos ataques de que foram alvo. Enquanto as ameaças internas continuaram a níveis idênticos aos anteriores (vírus, furtos de laptops e utilizações ilícitas dos sistemas, entre outras), pelo menos 74 por cento dos respondentes relataram quebras mais graves de segurança, incluindo furto de informação, fraudes financeiras, penetração de sistemas por piratas, sabotagem de dados ou de redes e, ainda, ataques de negação de serviço.

O furto de informação armazenada em computadores e as fraudes causaram os prejuízos maiores, no valor de 68 milhões e de 56 milhões de dólares, respectivamente, mas os ataques de negação de serviço, como os que paralisaram temporariamente sites como o Yahoo!, o eBay, o Buy.com e muitos outros, em Fevereiro, são um problema de crescente gravidade, segundo Richard Powers.

Os prejuízos causados por estes ataques foram apenas de 77 mil dólares em 1998 e o ano passado alcançaram cerca de 116 mil dólares, segundo outros estudos, mas este novo relatório, analisando números anteriores aos ataques em massa de Fevereiro, estima perdas superiores a 8,2 milhões de dólares. Todavia, números revelados depois desses ataques foram bastante superiores àquela quantia, atingindo várias dezenas de milhões de dólares.

Para Bruce Gephardt, do FBI, todos estes números revelam que a segurança informática se está a transformar num enorme problema para as polícias, que necessitam de aumentar os seus quadros para o combate a este tipo específico de criminalidade.
(Diário de Notícias"


Dados pessoais mais protegidos

A União Europeia (UE) e os Estados Unidos chegaram ontem, em Bruxelas, a um acordo de princípio relativo à protecção dos dados pessoais no comércio electrónico, anunciaram os negociadores europeus e norte americanos.
"Conseguimos regular as questões em suspenso e estamos prontos para recomendar às nossas respectivàs instâncias a aprovação do conjunto destas questões", declarou o director geral da Comissão europeu responsável pelo Mercado Interno, John Mogg.
O subsecretário de Estado do Comércio norte americano, David Aaron, confirmoua conclusão deste acordo de princípio, insistindo na dificuldade em que consistiu "apanhar um comboio em pleno andamento", dado que o comércio electrónico constitui um "meio altamente fluido e móvel".
Com esta discussão, que se prolongou durante quase dois anos, a UE pretendia obter da parte dos EUA um grau de protecção dos dados pessoais para o comércio electrónico equivalente ao oferecido pela directiva europeia, que entrou em vigor a 25 de Outubro de 1998.
Esta directiva prevê a possibilidade de interromper o fluxo de dados pessoais úteis ao comércio electrónico para os países onde esses dados não são suficientemente protegidos. Porém, até agora, esta cláusula nunca foi aplicada.
A principal dificuldade residia no facto de o sistema norte americano se basear exclusivamente em "códigos de boa conduta" das empresas para a transmissão dos dados.
O objectivo dos negociadores europeus era impor regras legais mais restritas para o sistema da protecção de dados aplicado nos Estados Unidos.
David Aaron explicou que as empresas norte americanas que pretendam, doravante, aceder aos dados pessoais de cidadãos europeus deverão registar se no comité federal do Comércio dos EUA, fazendo menção aos compromissos que assumiram. As violações a esta regra serão passíveis de sanções.
Refira se que as organizações de. consumidores europeus, por várias vezes, criticaram o sistema norte americano, nomeadamente a ausência de obrigação de as empresas comunicarem aos particulares os dados que lhes diziam respeito.
Depois de limadas as últimas arestas, o acordo será divulgado na próxima semana. Depois da adopção formal pela Comissão Europeia, este acordo deverá, até Julho, ser aprovado pelo Conselho de Ministros da UE e o Parlamento Europeu.
Entretanto, os negociadores norte americanos e europeus prosseguem em Bruxelas discussões sobre a parte do comércio electrónico relativa aos serviços financeiros.
(Do "Diário de Notícias")


FREENET GARANTE LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Está em fase de testes uma nova rede de troca de informações que, ao
contrário da Web, garante o total anonimato dos produtores e consumidores de conteúdos. Os utilizadores da rede apenas necessitam utilizar um programa Java para pesquisar a informação que desejam através de linguagem natural e não através de URLs. A FreeNet não utiliza DNS nem endereços IP pelo que é praticamente impossível tentar efectuar censura.
A rede utiliza um sistema de replicação em que os dados são transferidos entre os seus nós de forma automática e os utilizadores nunca chegam a saber em que servidor reside a informação a que acedem. Os objectivos da criação da rede são a preservação da liberdade de expressão e garantir a privacidade dos cibernautas.
http://ip.pt/recortes/


Internet na rede eléctrica

EDP vai começar, já este Verão, as experiências práticas da transmissão de telecomunicações e outros dados através dos fios da electricidade. A tecnologia promete preços muito mais baixos

A EDP vai arrancar no Verão corr a primeira experiência prática dc Digital Power Liner (DPL), usando as suas linhas de electricidade para fazer chegar ao consumido todo o tipo de comunicações, incluindo o acesso à Internet, a preços muito mais baratos. O parceiro para a operação já está também escolhido mas, em declarações ao DN, a administração da empresa escusou se a adiantar mais pormenores. Se esta tecnologia tiver o êxito esperado irá abrir uma "guerra" entre as empresas de electricidade e de telecomunicações. A ganhar, deverá ficar o consumidor.

Em breve, alguns dos actuais clientes da EDP irão receber em sua casa, além da energia, também o telefone, Internet e outros dados através de um simples fio de electricidade. É o primeiro passo de uma experiência da EDP para pôr em prática a DPL, uma tecnologia inovadora, que permite usar as vulgares linhas dentro e fora de casa para fazer todo o tipo de comunicações. E parece só trazer vantagens: é mais rápido, simples e económico. E já está instalado em quase todas as casas.

"Estamos numa fase de investigação ainda muito incipiente", referiu ao DN fonte da empresa de electricidade. Todavia, à semelhança do que já aconteceu na Suécia e Suiça, os primeiros países a utilizarem experimentalmente a DPL, a EDP está também em condições de, entre os seus clientes, escolher as "cobaias" para passar à fase prática da investigação. "A EDP está na linha da frente desta nova tecnologia", referiu a mesma fonte, adiantando que "lá para o Verão, já deverá haver alguns utilizadores."

Para não perder o comboio do futuro, a EDP associou se, no final do ano passdo, à Enersearch, uma organização sem fins lucrativos que se dedica à investigação desta nova tecnologia. Entre os associados da Enersearch estão, além da EDP, grandes grupos energéticos europeus, como a Sydk Kraft, ECN, Preussen Electra e também empresas de computadores como a IBM ou de engenharia como a ABB.

Até agora, nos países onde os testes já foram realizados, a experiência foi um êxito. Na Suécia e Suiça foram utilizados 40 consumidores. Em Espanha, a Iberdrola arrancou recentemente com a DPL em oito utilizadores.

Os experts estão seguríssimos da tecnologia, mas ainda há incógnitas em relação a que tipo e quantidade de dados poderão ser transmitidos. Até agora não existe nenhuma experiência comercializada, prevendo se que isso venha a acontecer a partir de 2002.

Para as empresas de telecomunicações, principalmente as que possuem as maiores infraestruturas tradicionais, a potencial comercialização da DPL apresenta se como um importante desafio, já que vêm as sua situação "monopolista" comprometida perante as novas possibilidades tecnológicas. De acordo com um analista de telecomunicações, as operadoras tenderão a estabelecer alianças e projectos conjuntos com as companhias da rede eléctrica nacional.

Um mercado promissor que, um pouco por toda a Europa, está já a provocar uma corrida dos investidores às acções das companhias de electricidade.


O poder das escutas

A França vai processar os Governos dos EUA e do Reino
Unido por causa dos satélites espiões da rede Echelon

PODE não se acreditar em bruxas e partir se à caça delas afinal, toda a gente sabe que existem. Mas no que diz respeito aos espiões as coisas não são assim tão simples. Na sua versão "positiva", os espiões são heróicos agentes governamentais especializados na recolha de informações classificadas e sensíveis, encarregados de defender a liberdade e combater a tirania e o mal em todas as situações, mesmo naquelas que carecem de cobertura legal. Na versão "negativa" são sinistros e tenebrosos sequazes de forças hostis que, por meio da infiltração, da dissimulação e da subversão, apostam em mergulhar o mundo no caos e na anarquia. Porém, entre o agente 007 e os seus inimigos existe ainda com cada vez maior frequência um terceiro grau, o dos espiões a soldo, já não motivados por preocupações de justiça ou subversão, mas apenas pelo vil metal.

O que os espiões fazem é espiarem se uns aos outros. A sua maior ambição é poderem espiar toda a gente, assegurando um controlo total sobre a circulação da informação e, evidentemente, sobre a informação que circula telefonemas, faxes, mensagens de correio electrónico, a qualquer hora e em qualquer ponto do mundo. Já não resta qualquer dúvida sobre a posse de um tal sistema por parte de um grupo de paises anglófonos (naturalmente liderado pelos Estado Unidos e pelo Reino Unido) logo após a confirmação documental da existência do projecto P415 Echelon, o correspondente em Paris do circunspecto «The Times» divulgava esta semana a notícia de que os Governos britânico e norte americano vão ser processados judicialmente em França por haverem interceptado comunicações privadas de empresas, diplomatas e ministros no interior do seu próprio território.

Entre outras razões, os advogados franceses afirmam ter provas de que, em 1995, o consórcio europeu Airbus perdeu indevidamente um concurso internacional no valor de 35 biliões de francos que viria a ser arrematado pela Boemg; os valores constantes da proposta europeia foram passados à empresa norte americana, que pôde assim ultrapassá la.

O assunto é muito incómodo, não apenas por pôr a nu as fragilidades menos conhecidas da tradicional aliança entre o velho e o novo continente, mas também por revelar o papel de extrema duplicidade desempenhado pelo Reino Unido, que, enquanto membro da União Europeia, tem vindo a colaborar na espionagem dos seus parceiros um caso que, em termos diplomáticos, tem vindo a ser descrito como sendo de "agudo conflito de interesses" e que, no fundo, talvez pudesse mudar a sua configuração se os meios fossem partilhados.

Porque, no fundo, trata se de um segredo de polichinelo. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, os cinco principais países anglófonos EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelandia estabeleceram entre si um acordo de colaboração para a recolha de informações electrónicas, que ficou conhecido como "Ukusa (UK USA) Security Agreement", embora a sua existência nunca tenha sido confirmada oficialmente por qualquer dos envolvidos. Esse sistema evoluiu até à criação de um sofisticado dispositivo de escuta electrónica mundial que utiliza redes de satélites geoestacionários, bases terrestres e supercomputadores, conhecidos por "dicionários", que conseguem adquirir, filtrar e examinar em tempo real quantidades astronómicas de informação (digital ou analógica), extrapolar os dados relativos a mensagens que contenham uma ou várias das palavras chave da pesquisa, descodificá las e remetê las automaticamente para os serviços de informações interessados.

Todos os países do pacto estão obrigados a rastrear uma determinada área do planeta, excepto o Canadá. As comunicações europeias são controladas a partir de uma base situada na Inglaterra (em Morwenstow, a cerca de 100 quilómetros de Exeter); o tráfego comunicacional do continente americano é rastreado a partir da base de Sugar Grove, na Virgínia; a vigilancia do Pacífico reparte se entre a base militar de Yakima (a 250 km de Seattle), a a estação de Waihopai, na Nova Zelandia, e a de Geraldton, na Austrália, que domina igualmente o oceano Índico.

A rede de satélites espiões começou a ser montada durante os anos 70, sob o nome de código Vortex, mas a sua última geração que aparentemente foi colocada em órbita em meados dos anos 90 recorre apenas a três engenhos geoestacionários. O que vigia a Europa está localizado a 36 mil kms de altitude sobre o continente africano, e é controlado a partir da base inglesa de Menwith Hill, no norte do Yorkshire.

O projecto P 415 Echelon tem vindo a ser alvo de campanhas de protesto por grupos de activistas localizados de ambos os lados do Atlântico, que no passado dia 21 de Outubro tentaram levar a efeito um "Jam Echelon Day", convidando todos os utilizadores da Internet a incluírem "palavras proibidas" nas suas mensagens, por forma a sobrecarregar o sistema.

A União Americana para as Liberdades Civis (ACLU) promoveu a criação do "site" "Echelon Watch" (www.echelonwatch.com ) em colaboração com a britanica Omega Foundation. E o Parlamento Europeu encomendou ao jornalista escocês Duncan Campbell um relatório "Intercephon Capabilities 2000" posteriormente publicado em http://www.iptvreports.mcmail.com/interception_capabilities_2000.htm

Em meados de Janeiro, um investigador norte americano da George Washington University, chamado Jeffrey Richelson, publicou na Internet uma colecção de acervos documentais que implicava o Governo do seu país no reconhecimento do projecto Echelon. No início de Fevereiro, o Presidente Clinton apresentou ao Congresso a sua proposta orçamental para 2001, que inclui detalhados reforços orçamentais na área da vigilancia electrónica. A Comissão do Parlamento Europeu para a Justiça, Direitos e Liberdades Civis deverá debater o tema na próxima semana.
Jorge P. Pires ("Expresso")
Jorgepires@co.terravista.pt


Ataque, OK, enter
(Transcrito do "Expresso")

O ÍNDICE Dow Jones caiu 258 pontos na quarta feira, aparentemente devido ao terror pelas eventuais repercussões económicas do assalto ao comércio electrónico, perpetrado esta semana por piratas informáticos, e que levou à imobilização dos portais mais populares da Internet. O Presidente Bill Clinton convocou uma reunião urgente, o FBI reagiu imediatamente e Janet Reno, responsável pela Justiça, garantiu que ia "levar os criminosos a tribunal".

Contudo, para muitos especialistas, o mais assustador de tudo isto é que ficou mais uma vez provado como os Estados Unidos e outros países ocidentais se estão a tornar vulneráveis à guerra no ciberespaço.

Preparativos para a guerra

Washington já começou a preparar se para a guerra Ciberespacial. O Pentágono, a CIA e a National Security Agency puseram a funcionar departamentos para a guerra ciberespacial. Os seus planos incluem tanto acções defensivas como esforços para desenvolver acções de ataque que permitirão aos Estados Unidos destruir a rede informática de qualquer país com o qual possa vir a entrar em guerra.
Até que ponto os EUA conseguiram progredir na construção de um ciberarsenal é um segredo guardado a sete chaves.

Planos suspensos no Kosovo

Mas os analistas acreditam que está a ser desenvolvida uma extensa gama de armas, incluindo o recurso a vírus informáticos ou "bombas lógicas" para desorganizar redes inimigas, a introdução de falsas informações, para semear a confusão, e de imagens de vídeo em canais de televisão estrangeiros como meio de despistar.

Durante a guerra do Kosovo, o Pentágono quase chegou a colocar esses planos em acção, mas suspendeu os apenas porque as "regras" da guerra da informática ainda não tinham sido estabelecidas.

Em Outubro, o Pentágono anunciou que estava a consolidar planos para operações ciberespaciais de defesa e ataque, sob a liderança do general de quatro estrelas que chefia o US Space Command, em Colorado Springs.

No ano passado, a Rand, uma empresa privada que se dedica à segurança, elaborou um estudo descrevendo um eventual assalto ciberespacial aos EUA.

O estudo mostrava acidentes como a imobilização das máquinas de multibanco na Geórgia, o colapso da rede telefónica de Washington, o choque de um comboio de passageiros de alta velocidade contra um comboio de mercadorias enviado para a linha errada, bem como a avaria do sistema de comunicações do Pentágono, tornando impossível o envio de tropas para ajudar a defender a Arábia Saudita contra um ataque iminente.

Fácil até para rapaz de 15 anos

No ano passado, num discurso na cerimónia de graduação da Academia Naval dos EUA, Bill Clinton anunciou um novo plano em três fases que classificou como de "máxima prioridade".

Entretanto, o nível de vulnerabilidade é espantoso. Ron Dick, chefe da secção de investigação informática do FBI, disse na quarta feira que as ferramentas necessárias aos ataques "para negação dos serviços de distribuição", verificados esta semana, são tão fáceis de encontrar que "um rapaz de 15 anos as pode utilizar para lançar este género de ataques".

Os ataques de quarta feira foram os mais massivos de sempre, tendo bloqueado durante várias horas os serviços da Internet do portal Yahoo! e das empresas Amazom e eBay e o servidor da CNN.

TORY JENKINS correspondente (do "Expresso") em Nova Iorque


Inovação na publicidade

LONGE de se limitar apenas a alterar o consumo televisivo e a lógica de fazer televisão, o digital terrestre vai também ter influência no mercado publicitário.

Há quem defenda que à lógica da publicidade dos canais comerciais sucede a lógica da assinatura. "A publicidade desses canais é sempre residual porque quem paga não está interessado em ver publicidade", considera Nuno Cintra Torres, consultor da TV Cabo. Um dos caminhos a segur para encontrar novas formas de financiamento passa pelo recurso ao patrocínio e à publicidade interactiva. "Fazer concursos ou jogos que decorrem paralelamente à emissão de um determinado programa", exemplifica. Uma coisa é certa: "As receitas dos operadores com origem na publicidade clássica tradicional terno tendência para descer e as receitas com origem na comercialização de produtos em consequência da publicidade interactiva tenderá a subir, assim como as receitas das assinaturas."

Os dados relativos à evolução do mercado publicitário televisivo são, a este respeito, bastante reveladores. Em l991, último ano em que a RTPI e a RTP2 fizeram o panorama televisivo, o mercado valeu 32,2 milhões de contos, com o primeiro canal a recolher a maior fatia de investimento (30 milhões de contos), enquanto o segundo canal ficou com uns modestos dois milhões de contos. No ano seguinte, ainda só com a SIC na jogada, os investimentos publicitários cresceram até aos 44,5 milhões de contos de acordo com os dados Publitex/Scanpress fornecidos pela Tempo OMD. E. desde essa altua, a tendência do mercado tem sido crescente, com a RTPl a não conseguir acompanhar o crescimento da SIC, que acaba por se distanciar dos restantes canais. No ano passado, o mercado televisivo valeu cerca de 190 milhões de contos, tendo a SIC sido responsável por quase metade (85 milhões de contos), seguida pela RTPl com 59 milhões de contos e a TVI (45 milões de contos)

Televisão sem publicidade

Certo de que a assinatura não é suficiente para financiar os novos canais Luís Ribeiro. presidente da Telepac, sugere novas fontes de receita ainda por explorar em Portugal, mas que já têm provas dadas noutros países.

"Por exemplo, a partir do momento em que há a "web TV" e que a pessoa encomenda uma pizza, há um percentual dessa pizza que há de ir para o produtor de televisão, uma vez que a pizza foi vendida sem quaisquer custos para o produtor, em termos de serviço e de atendimento", explica. Apesar de apoiar o recurso a formas inovadoras de fazer receitas, o presidente da Telepac não põe de parte a publicidade no "pay TV". Até porque, adianta, "se o espectador quer ter um canal temático, e quer que esse canal seja cada vez melhor em termos de qualidade, vai ter que estar preparado para a lógica de economici dade desse canal".
Porque, se assim não for, em vez de 16 horas de programação passará a ter apenas, por exemplo, dez. Contra a voz corrente, Luís Mergulhão , presidente da Tempo OMD, considera que "as televisões generalistas não vão perder audiência nem investimento publicitário para os novos canais".

Em relação às audiências, Nuno Cintra Torres defende que a lógica também se vai alterar. Nestes canais os rúveis de "share" não são o mais importante. Porque, frisa, "o que interessa é que as pessoas paguem a assinatura e se mantenham fiéis a pagá la. Não são canais que vivam da publicidade". Lus Ribeiro sustenta que "o conceito de audiência e a forma como se associam vai mudar. Se não muda mais depressa é porque as agências ainda não perceberam que é preciso ter outras maneiras de medir o impacto da televisão sobre as pessoas. Porque a introdução da assinatura prejudica o conceito de audiência tal como o conhecemos".
CN/IV ("Expresso")


Se Dante tivesse sido publicitário
Texto de Carlos Quevedo no "Diário de Notícias"

Não tem nada de novo afirmar que, com frequência, a publicidade que vemos pela televisão é superior aos própnos programas. Não escondo (raio de expressão esta) a minha admiração por essas possoas que, sentadas à volta de uma mesa, procuram uma maneira delicada, nem sempre conseguida, de promover um penso higiénico, um medicamento para as hemorróidas ou uma solução definitiva para o mau hálito. E olhem que não desmereço as soluções clássicas e ligeiramente cobardes, como personificar o consumidor numa gaja muito boa enquadrada num grupo social estupidamente feliz e de quimérico poder aquisitivo.

Mas, enfim, não me compete cantar as glónas dos publicitários. Aliás, não necessitam de mim para nada. Sei que serei mais útil no outro lado da trincheira, ajudando com a minha pena a corrigir certos erros produto do excesso de imaginação e cafeína.

Lembro me, há já alguns anitos, de uma publicidade de um chocolate onde crianças e adultos viajavam entediados num comboio. Em certo momento começam a comer o tal chocolate, cujo nome não quero lembrar me, e pumba, tudo se toma uma maravilha em multicor disneylandiano. Não era necessáno ser arrumador de carros para associar os efeitos do sem dúvida delicioso chocolate com sintomas alucinógenos. Nem a DECO nem, sobretudo, as maravilhosas associações de telespectadores tão preocupadas com o sexo e a violência deram por nada. Como é natural, desembaínhei o meu Word.3 (era o que tinha na altura) para abnr os olhos dos pais, dos filhos, da sociedade civil em geral, das autoridades competentes, em particular. Foi em vão? Talvez. No entanto, depois de quase um ano de constante transmissão do toxicodependente spot, foi, finalmente, retirado dos nossos ecrãs. Enfim, pequena vitória do quinto poder do meu Word.3.

Agora mais uma vez tenho de brandir a minha espada (agora um Window 95, modificado por um amigo que sabe muito de computadores, videos e telemóveis).

O anúncio em causa não incita, pelo menos directamente, ao uso de drogas, nem explora cnançinhas, nem atenta contra a dignidade da mulher, nem se serve do sexo para convencer o consumidor das qualidades do produto.

A sua característica é de ser o anúncio mais irritante dos últimos tempos.

É assim: plano de um pianista. Rapidamente percebemos que estamos num café, talvez no Porto. Os clientes estão todos muito vestidinhos de quadro médio de empresa. Vemos o empregado de mesa a fazer o seu trabalho. Ao ir de mesa em mesa ouve fragmentos das conversações dos clientes. Todos eles, à ganância, falam das facilidades e ofertas dos serviços de um Banco, o BPI, para ser exacto. Não sei se posso mencionar o nome do banco. Mas caso assim não for, espero ser prudentemente censurado.

Que a taxa de crédito, que o sorteio, que a anuidade grátis... e todas essas coisas normais que os bancos oferecem. Imaginem o pesadelo da cena. Quarenta pessoas a falar do dinheiro que podem sacar. Pior ainda, se alguém está a tomar um café com amigos e fala da quantidade de balcões que tem um Banco, só pode incitar ao homicídio. Esse ambiente de avareza e deslumbramento monetáno é realçado com a pouca profissional coscuvilhice do empregado, que, exultante, termina por dizer para a câmara `"Nunca vi isso!".

Todos as personagens são um monumento ao aborrecimento e à chatice. E o anúncio, além de ser exasperante, parece um recrutamento de candidatos ao Quarto Círculo do Infemo de Dante, onde vão parar os avaros e os gananciosos.

Embora, se fosse isso, tivesse tido alguma graça. Se calhar, certa obscena sinceridade nele é aquilo que nos agasta.

Bem, se tivesse sido feito com criancinhas, marginais ou à beira de uma piscina, talvez não tivesse o efeito pretendido. Mas teria tido graça. Ao menos isso.
Texto de Carlos Quevedo no "Diário de Notícias"


DoubleClick viola privacidade
(Diário de Notícias")

Uma cidadã americana da Califórnia apresentou queixa contra a DoubleClick, acusando esta empresa de publicidade online de recolher e vender ilegalmente informações pessoais relativas a consumidores.
O processo foi entregue no Tribunal de Marin County em nome da "população em geral da Califómia", de acordo com um comunicado emitido pelo escritório de advogados da queixosa, Harriet M. Judnick, e divulgado pela CNN.
De acordo com esse comunicado, a DoubleClick utiliza cookies para identificar os cibernautas, aos quais"segue o rasto" na navegação na Internet, ou seja, o tipo de sites que visitam.
A empresa localiza assim os utilizadores e regista informações por eles transmitidas aos sites que visitam, como o nome, a morada, as preferências de comércio electrónico e até certo tipo de dados de carácter financeiro. Estes gestos, no entanto, são feitos à revelia de autorização do visado.
Um cookie é um pequeno programa a que corresponde um número de série único que é "deixado" pelo cibernauta nos sites por onde vai passando. Os operadores de Internet podem localizar e seguir o percurso destes números de forma a registar o comportamento online do cibernauta.
Segundo Harriet Judnick, a DoubleClick, após ter comprado há cerca de um ano a Abacus Direct (uma empresa de marketing directo), tem combinado a tecnologia de cookies com as informações de consumidores de forma a recolher e cruzar esses dados sem o seu conhecimento ou consentimento prévio. A queixosa alega ainda que a DoubleClick enganou o público ao afirmar que não recolhia informações capazes de colocar em causa a sua privacidade.
Harriet requereu ao tribunal que fosse imposta uma providência cautelar à DoubleClick, de forma a impedi la de continuar a recolher informações sobre cibernautas.
Por outro lado, vai exigir ainda que a empresa forneça aos lesados os meios necessários para a destruição de todas as informações que já foram recolhidas.
A privacidade dos cibernautas tem sido uma questão sensível nos últimos meses. O ano passado, recorde se, a Real Player foi acusada, num processo semelhantes, de recolher informações acerca do perfil dos utilizadores do seu software Real Jukebox (que permite fazer downloads de músicas) sem o seu consentimento prévio.

(Nota: o portal português "O Portal" só autoriza que você lá "entre" se estiver disposto a aceitar os cookies que lhe instalam no seu computador. Nem de propósito, leia o texto seguinte)


CNPD EDITA BROCHURA SOBRE OS DIREITOS DOS CIDADÃOS

Proteger os dados pessoais

Os dados pessoais de cada um de nós só podem ser tratados e transmitidos a terceiros com o consentimento do próprio. Eles não poderão ser utilizados para uma finalidade diferente daquela que motivou a sua recolha e deverão ser adequados e pertinentes em relação aos fins para que foram recolhidos. Estes e outros direitos que assistem a todos cidadãos na protecção dos seus dados pessoais estão explicados numa brochura que a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) agora editou e que estará disponível em locais de atendimento ao público. Esta é uma questão particularmente pertinente para todos os utilizadores da Internet, que cada vez mais são alvo da recolha "on line" de dados pessoais, muitas vezes sem o respeito pela devida protecção.
Intitulada "A protecção dos seus dados começa em si!", a brochura aconselha os cidadãos a exercerem sempre o direito de informação (sobre a finalidade da recolha dos dados), o direito de acesso a todos os dados que lhe digam respeito , o direito de rectificação (de dados incorrectos ou desactualizados) e o direito de oposição (ao tratamento dos dados, nos casos em que a lei o permite) previstos na Lei de Protecção de Dados (Lei 67/98, de 26 de Outubro), disponível no sítio da CNPD na Web, em
http://www.cnpd.pt .
A brochura da CNPD lembra que o cidadão "tem o direito de aceder a todos os dados que lhe digam respeito, bem como conhecer a finalidade do tratamento desses dados". Tem também "o direito de exigir que os seus dados sejam exactos e actuais, podendo solicitar a sua rectificação". Além disso, "tem o direito a ser informado da finalidade da recolha dos seus dados, da identidade do responsável pelo tratamento, a quem se destinam, se a resposta é obrigatória ou facultativa e as condiçóes em que pode exercer o direito de acesso e o direito de rectificação".
"Pretendemos, com esta iniciativa, que as pessoas conheçam os seus direitos e fiquem assim mais habilitadas para o seu pleno exercício", explica a Comissão num comunicado. A brochura é, aliás, a primeira de um conjunto de edições destinadas a divulgar a questão da protecção dos dados pessoais. A CNPD é um organismo independente, que funciona junto da Assembleia da República e cuja missão é "controlar e fiscalizar o tratamento de dados pessoais, em rigoroso respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades e garantias consagradas na Constituição e na lei".
"Sempre que considere que a protecção dos seus dados pessoais não está garantida", diz a brochura, "deve apresentar queixa junto da Comissão Nacional de Protecção de Dados, por carta ou por correio electrónico" através do endereço geral@cnpd.pt. A sede da CNDP é na Rua de S. Bento, 143 3Q 1200 821 Lisboa.
(Texto transcrito do "Público")


Vírus antigos continuam a atacar

Uma análise dos vírus mais comuns em 1999 mostrou que apesar de ter crescido a ameaça de novas estirpes que se autopropagam, como o Melissa, continua a haver ataques de vírus antigos. Um deles, o Form, que afecta o sector de arranque (boot) da máquina, continua a aparecer nos "dez mais", apesar de já existir há dez anos.
O estudo, divulgado esta semana pela BBC Online, foi desenvolvido pela Sophos, uma empresa de software antivirus, com base nos milhares de pedidos de ajuda recebidos ao longo do ano. Na lista dos "dez mais", o primeiro lugar é ocupado pelo Laroux, um programa detectado em 1996 que infecta ficheiros Excel, e o segundo pelo Ethan, que ataca documentos do Word da Microsoft.
Os três vírus com capacidade de se autopropagar através de e mail, o Ska Happy 1999, o Melissa e o ExploreZip, ocupam respectivamente o quinto, sétimo e décimo lugar e o seu problema destes vírus reside precisamente nesta capacidade, que lhes permite propagar se em dias ou meses.
Os vírus mais antigos, no entanto, continuam a constituir uma ameaça importante. "Alguns tornaram se tão comuns que nunca serão extintos arranjarão sempre forma de infectar uma disquete", afirmou Grabam Cluley, consultor da Sophos. Por outro lado, "as pessoas podem estar conscientes das últimas novidades, mas é difícl mantê las alerta para velhas ameaças".
De acordo com especialistas, 2000 será o ano dos chamados vírus hoax, ou seja, e mails, alertando para ataques que, na verdade, não passam de falsos alarmes, mas acabam por gerar confusões. "De certa forma são piores que os verdadeiros, pois geram verdadeiras tempestades de correio electrónico", afirmou Cluley.
Estes falsos alarmes, aliás, provocam grande ansiedade aos utiliadores de Internet. "Recebemos muito mais pedidos de informações sobre um hoax de um jogo relacionado com o Pai Natal do que de ataques causados por vírus verdadeiros."
(Texto transcrito do "Diário de Notícias"


Pivô virtual dá notícias "on line"
(Ricardo David Lopes "Diário de Notícias"

A primeira apresentadora virtual de noticiários vai nascer este ano, por alturas da Páscoa. Ananova uma mistura de Posh Spice, Kylie Minogue e Carol Vorderman, estará nos nossos PC e telemóveis a dar conta das últimas notícias, o que, a avaliar pelo aspecto gráfico da figura, terá certamente um gostinho especial.

Na verdade, por trás da beleza exótica de Ananova estará um computador capaz de actualizar, na Internet, todas as notícias, mais depressa do que qualquer jonalista e a qualquer hora do dia, criando simultaneamente a imagem tridimensional da apresentadora.

A imagem da pivô, criada pela PA New Media, uma empresa britânica fornecedora de noticiários para vários sites de informação possui, de acordo com responsáveis da empresa, o perfíl desejado pela maior parte dos cibernautas. Com 28 anos de idade, Ananova, uma "rapariga urbana", mede 1,73m e adora os Simpsons e os Oasis. Se quer conhecê la um pouco melhor, passe pelo site a partir de onde a iniciativa é divulgada: www.ananova.com. Nesta morada, além de ver Ananova pode fazer pesquisa de notícias e inscrever se de forma a receber em casa actualizações sobre os assuntos que Ihe interessam mais. Por outro lado, os utilizadores vão poder interagir com Ananova (apesar de não ser explicado em que termos se processará esta interacção...) e as suas bases de dados, de forma a encontrar facilmente as notícias sobre as temáticas desejadas.

A ideia, de acordo com a PA Media, vai "transformar a distribui,ção de notícias". "Trata se do produto mais excitante que já desenvolvemos", afirmou à BBC Online Mark Hird, o director da empresa. "Será também aquele que vai ter consequências mais abrangentes em todo o nosso negócio», acrescentou.

Não é difícil de acreditar. Ananova será, de facto, uma revolução até porque o suporte em que vai "trabalhar", a Internet, é também o media do futuro. "Vamos trabalhar com notícias e informação de forma instantânea, convertendo os dados ou os textos em áudio, ao mesmo tempo que criamos os gráficos animados em tempo real de Ananova a apresentar um noticiário", explicou.

Adivinha se um futuro risonho para Ananova e os seus criadores. Se todas as apresentadoras fossem assim, uma mistura de vários ideais, os telejornais teriam audiências ainda mais elevadas. No entanto, neste caso, como em tudo, há o reverso da medalha: imagine se o que seria de dezenas de profissionais se, de repente, a moda pegasse...
(Ricardo David Lopes "Diário de Notícias")


(Nota prévia: experimente substituir, no interessantíssimo artigo do Ruben de Carvalho, a palavra "notícia" por "peça publicitária" e "trabalhadores do leste" por "brasileiros" e "recém formados" e terá um artigo, também interessantíssimo, sobre publicidade)

Quinze zeros
(Ruben de Carvalho "Diário de Notícias")

A leitura de variados jornais e revistas, o acompanhamento de diversos canais de televisão ou a audição de diferentes rádios provoca frequentemente reacções inteiramente contraditórias.

Por um lado, tem se a sensação de viver num círculo único de acontecimentos, repetidamente abordados pelos diferentes medias, quase só com as diferenças que Ihes impõem ou proporcionam as suas características técnicas ou os padrões ideológicos e políticos que globalmente os enformam.

De há muito que na América se chama a atenção para este problema. Dwight MacDonald produziu sobre ele clarividentes observações há mais de meio século, escrevendo que o problema acabava por não ser fundamentalmente as ideias que os mass media transmitiam sobre os factos, mas sim a escolha dos factos sobre os quais transmitiam ideias. Mas é igualmente verdade que a multiplicação de órgãos informativos e de diversão forçam a procura de assuntos, mesmo que por vezes a sua importância se meça apenas no facto de poderem ser um elemento de concorrência.

Dir se á que é deformação profissional, mas assumo a condição de leitor compulsivo de imprensa. E a verdade é que, mais até do que o conhecimento deste ou daquele facto, a acidental consulta de uma publicação habitualmente sacrificada às imposições do tempo (e do dinheiro...) me proporciona com frequência fascinantes revelações iluminadas por reveladores contrastes.

Em todo o mundo ocupou lógicas prmeiras páginas a noticia da fusão da AOL com a Time Warner, um negócio que movimentou a dificilmente imaginável quantia de 70 mil milhões de contos e abre caminho ao aparecimento da maior empresa da área, com um peso determinante no desenvolvimento da Internet e do cruzamento das indústrias de telecomunicações, informação e diversão.

Naturalmente, a dimensão do sucedido não se mede apenas em cifrões: estão em causa questões de ordem científica e tecnológica (definição de padrões, estratégias de desenvolvimento e também seguramente progressos), políticas e culturais (controlo de redes e fornecedores, definição e uniformização de conteúdos), militares, profissionais e muitas outras.

No mesmo dia em que os srs. Steve Case e Gerald Levin anunciaram em Nova York o evento, uma revista portuguesa, a Focus, publicou uma interessantíssima reportagem onde se revela a existência em Lisboa, no Campo Grande, de uma perfeita "praça de jornas" que Soeiro Pereira Gomes poderia descrever quase com as mesmas palavras que usou nos anos 40 para narrar a contratação dos operários agrícolas pelos latifundiários alentejanos.

Há engajadores, carros que chegam para levar os trabalhadores contratados à hora para obras de construção civil, total ausência de legalidade, de controlo, exploração desenfreada, manipulação das dificuldades linguísticas.

Há ainda mais um pormenor: muitos desses trabalhadores são originários de países do Leste, têm formações técnicas como piloto de aviões ou engenheiro químico. Trabalham como pedreiros, abrem valas e podem ganhar 650 escudos à hora oito horas por dia. Quando recebem.

Depois, entretive me a verificar que 650 escudos precisa de três zeros e 70 mil milhões de contos de 15. E, apesar de ir enviar esta crónica através de um precioso e:mail, fiquei com a certeza de que vale a pena reflectirum pouco mais sobre isto.

Ruben de Carvalho escreve neste espaço às sextas feirasRubencarvalho@mail telepac pt


O Futuro da INTERNET

Um "bug" para a história

O esqueleto no armário da indústria informática. O "bug" 2.000 não devia ter existido

O CAIR do pano do século XX, marcado pelas conquistas do átomo e do Espaço, o "bug do ano 2000" entra para a História lembrando que a Humani dade continua a cometer erros

O tremendo esforço feito a nível mundial no último ano e meio permite encarar com alguma confiança o que se vai passar na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro, quando os relógios digitais mudarem ou quatro algarismos da data e durante um segundo, exibirem 01.01.2000, 00:00:00.

Confiança que custou biliões de dólares a obter se e que ainda assim não é suficientemente tranquilizadora: em Portugal, dois ministros estarão de piquete durante as horas críticas e por todo o lado haverão técnicos e responsáveis de telemóvel em punho, seguindo minuciosamente toda e qualquer discrepância nos sistemas informáticos de que dependemos em grau cada vez maior.

Parecem postos de lado os cenários mais catastróficos previstos há dois anos, desde os acidentes em centrais nucleares à paralisação das redes de energia, da cegueira súbita dos aviões ao bloqueio dos sistemas financeiros. Essas áreas críticas foram naturalmente alvo de maiores atenções na resolução do problema.

No entanto, a displicência (e a falta de meios) de muitas empresas e o grau de incerteza que permanece mesmo nos sistemas críticos que foram revistos (em áreas como a Saúde, nomeadamente), são garantias de que alguma coisa acontecerá. Mesmo que não seja o pior.

E mesmo que pouco aconteça no momento esperado, o "bug" ficará para a História como um símbolo da fragilidade humana. Não tanto relativamente ao erro original os programadores que reduziram a marcação da data a dois algarismos para poupar memória, numa altura em que os computadores estavam muito longe de serem vitais , mas sim a marcar a negligência de quantos, em seguida e bem avisados, deixaram que o problema se arrastasse, qual vírus a espalhar se por cada sistema que saiu das cadeias de produção da indústria informáhca.

Em finais da década de 50, Robert Bemer era um dos brilhantes jovens programadores de COBOL, a linguagem original do "bug". De início foi responsável pelo formato de dois dígitos, mas depressa arranjou forma de arquivar os quatro dígitos do ano. Mas quer os seus confrades programadores quer os responsáveis da IBM ignoraram o seu "fix" (calão para correcção de "software"). Os Sistemas 360 da IBM, muito populares nos anos 60, podiam ter saído todos sem mácula, mas chegaram ao mercado com o "bug" nas entranhas.

No final da década de 60 a "Big Blue" tinha tornado os dois dígitos num "standard" industrial. Cada computador, cada programa, cada manual, cada técnico de manutenção nos dizia estarmos em 69 e não em 1969. "Era consensual ser essa a forma de programar", diz hoje um porta voz da IBM. "Reconhecemos ter ficado expostos a acções judiciais".

O "mea culpa" devia ser estendido a toda a indústria, porém. A International Standards Organization adoptou a data de quatro dígitos em 1970 e o Pentágono norte americano prometeu adoptá lo em 1974 mas nada aconteceu. Bemer publicou o seu primeiro aviso sobre o assunto em 1971, repetindo o em 1979. "Como acham que me sinto?", declarou à "Time" em Janeiro deste ano. "Tornei a data de quatro dígitos possível e eles lixaram tudo".

A geração seguinte de programadores também forneceu o seu lote de pessoas avisadas. Peter de Jader, um canadiano que entrou para a IBM em 1977, estava no projecto dos Sistemas 370 e informou o "manager" que o computador não trabalharia no ano 2000. Aquele riu se na face do jovem impetuoso e perguntou lhe a idade. "Isso não será problema até teres 45 anos. Descansa, até lá resolvemos o problema".

Não se resolveu. A atitude de displicência deste "manager" da IBM era geral. Nas reuniões e conferências em que alguém puxava o assunto, todos encolhiam os ombros e riam. Era uma piada privada dos programadores.

Uma piada sem graça, afinal, e cuja repercussão custou incontáveis biliões de dólares a minimizar. Que ao menos sirva de lição.PAULO QUERIDO (Expresso)
pquerido@automail.pt