DANYEL SAK
Crónicas 3

 
 

ANDALUCÍA 1 X MUNDO 0

Caros Amigos:

Onde se pode encontrar o melhor talk show? Aquele que não deixa assunto pela metade. O que faz exactamente as perguntas que nós queremos fazer. O que consegue verdadeiras confissões espontâneas.
Em NY? L.A? Será o Letterman?, o Jay Leno? Será o Gaultier com o Eurotrash? A Maria João Pires? Ou o Jô Soares? A Marília Gabriela?
Quem consegue esta proeza quem diria é "El Vagamundo".
Mas, como um canal local, de uma província da Espanha, a TV Andalucía (ou chamado Canal Sur) conseguiu? A resposta é sempre a mesma: vontade e profissionalismo. Nem é preciso dizer que ganharam um premio nacional, fato raríssimo. Mas se não ganhassem o problema era dos premiadores.
Ratones Colorados (o antigo nome do programa era “El Vagamundo”) consegue uma proeza incrível: é local e global. O entrevistador é perfeito e o ambiente Andaluz colabora muito para isso: o calor humano do Sul.
O cenário não é o clichê ultra gasto de skyline de cidade grande ao fundo. E nem o cleanésimo fundo infinito: entrevistado e entrevistador estão frente a frente em uma grande mesa retangular, no centro de um grande salão.
O salão está envolto na penumbra. Ao redor dele e ao fundo, de forma difusa, gigantescas válvulas de rádio amareladas e sub reptícias. Um cenário maravilhoso e profissional, como poucos.
A música que acompanha Ratones Colorados é simplesmente maravilhosa: trechos de músicas instrumentais nostálgicas e cinematográficas. Ao início e ao fim do programa, temos a locução do apresentador, lendo textos e pensamentos. Perfeito.
Sobre os convidados figuras nacionais e internacionais ao final da entrevista, invariavelmente comentam que a foi uma das melhores da sua vida. É verdade. Porque na verdade não é entrevista: é conversa.
Uma das grandes magias do programa são os convidados fixos: pessoas que o olho clínico do apresentador escolheu pelas ruas de Sevilha, Cádiz, Málaga, Tarifa ou outra cidade do Sul.
Pessoas únicas que você encontraria na sua cidade: o melhor conversador do bar, o louco da sua cidade, o filósofo da região. Pessoas simples, mas que não se abstem e principalmente, não se intimidam em dar a sua opinião sobre os fatos mais espinhosos e complicados. Sempre respondidos com inteligência, vivacidade e humor Andaluz. Um deleite.
Nesta categoria encontramos Sábio Tarifa, Risitas e o seu Cunhado, Tito Triana.
E a bebida do apresentador e convidado, vem naquele clichê de canequinha? Mas é claro que não. As bebidas são de acordo com o gosto e a personalidade do entrevistado: alguns artistas notívagos sorvem whisky, outros convidados da terra bebem um Fino (Pale Cream), alguns optam pela água, pelo tradicionalíssimo café com leite ou a copita de vino. E em todas as ocasiões, o entrevistador acompanha o entrevistado em brindes e mais brindes.
O tempo da entrevista? O tempo do programa é Andaluz, ou seja: as entrevistas duram o que tem que durar, exatamente como o tempo das conversas nos bares da Andalucía.
E se o tempo acabar? No hay problema: a entrevista continua no próximo programa, pois o aparelho de edição de imagens deve estar com teias de aranha.
No final do programa estamos satisfeitíssimos, contentes, como se tivessemos degustado uma maravilhosa refeição: Andalucía 1 x Mundo 0.

Ratones Colorados TV Andalucía Canal Sur

Um Abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

ooooooooooooooooooooooooooooo

SAUDADE DOS PLÖ.

Caros Amigos:

Explicando: os Plö são os vizinhos da varanda de frente. Se o nome deles é Plö...? Não, o antigo carro deles tinha a placa alemã PLÖ e mais os números. Deveriam ser de algum lugar da Alemanha.
Deveriam...? É, deveriam, pois nós nunca chegamos a falar com os PLÖ, e nem eles com a gente.
Mas eram um casal muito educado e polido: sem gritos, sem escândalos, essas coisas.
De vez em quando os PLÖ sumiam por bons tempos. E sabíamos que eles voltavam quando uma tonelada de roupas azuis iguaizinhas, eram penduradas todas de uma vez para secar na varanda.
Concluímos que eles deveriam trabalhar como guias de turismo ou algo assim, pois os desaparecimentos e aparecimentos eram sazonais. Bom, mas se não fôsse isso, já era uma boa explicação.
Compartilhamos muitas coisas com os PLÖ e vibramos quando vimos quando um dia eles aparecerem de carro novinho em folha. Que bom, as coisas estava indo bem. Mas uma coisa muito importante sobre o automóvel: o novo carro continuava com a placa PLÖ. Ainda bem.
Mas o que mais nos unia a eles era o fato de termos em comum o fascínio pela varanda: o cômodo mais bonito da casa. Eles eram os únicos vizinhos como nós que, ao subir apenas um pouquinho a temperatura, já iam correndo comer, beber e petiscar na varanda.
Nos fins de semana de Verão, em toda a redondeza eram só eles e nós: luzinha ligada e conversas até tarde da noite na varanda.
E no Verão o movimento da varanda dos PLÖ aumentava: os amigos da terra deles vinham fazer uma visitinha. E nós já sabíamos disso: era só olhar para baixo e ver o automóvel dos PLÖ descarregando engradados de cerveja para as visitas que vinham. Bom, alemão que se preza tem que vir de engradado mesmo. Faz parte.
Até que um dia, vimos que eles sumiram mais do que o costume. Férias...? Quem sabe.
E depois de algumas semanas os PLÖ apareceram de repente. E vinham com uma surpresa: o Plözinho.
Acho que devem ter tido o Plözinho na terra natal deles, descansado, visitado a família e depois voltado para casa.
O quarto do Plözinho parecia caprichado e de vez em quando encontrávamos de passagem o casal PLÖ e o Plözinho andando no Calçadão, pegando um solzinho. Mas já sem aquele look do Norte da Europa de usar roupa preta monocromática e botas...em pleno Verão: já estavam devidamente tropicalizados e sorrindo. Se eles se amam...? É claro.
Mas hoje, abrimos a janela e quando olhamos pela varanda vimos um movimento estranho: caixas, arrumações, janelas todas abertas.
Olhamos para baixo e vimos o indefectível caminhão de mudanças. Hi...os PLÖ vão embora. Será que vão mudar só de casa...? Vão mudar de cidade....ou...vão voltar para a terra deles..?
O caminhão já fechou e está começando a ir embora. Quem sabe para onde eles vão. Mas já está começando a dar saudade…. puxa...coisas de quem mora fora do país. Bom, só sabemos de uma coisa: gente fina os PLÖ.

Um Abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

ooooooooooooooooooooooooo

DESAYUNO EM MADRID.

Caros Amigos:

Se eu conheço uma chocolateria...? Claro, entra naquela ruazinha...isso, aquela estreitinha e anda até o meio do quarteirão, do lado esquerdo da calçada.
É a Chocolateria La Austríaca. Mas Austríaca, só o nome. Se bem me recordo quando conversamos com eles, era o antigo nome antes de comprarem o local. Eles? Eles quem? Isso é uma longa história, eu diria, a da família Walton das chocolaterias.
Tudo começa em uma travessa da Gran Via em Madrid. E, numa travessa, você tem a Fuencarral, uma rua muito longa, antiga e estreita, onde se encontram a maior parte dos Hostais (Hostales) que você pode imaginar.
Pela sua localização central, aos poucos, os apartamentos de famílias foram transformados em Hostales.
Apartamentos com muitos quartos, verdadeiros labirintos, com aquelas velhas passadeiras nos corredores. E claro, as famílias ainda moram lá, em uma parte reservada.
Os preços são relativamente baratos para uma hospedagem de curto prazo. São locais muito, muito simples e, claro, você encontra de tudo, por isso, é bom procurar.
Quando eu e a minha garota viemos visitar a Europa, fomos direto para a Fuencarral, mochila nas costas e percorrendo as ruas para ver o que fôsse mais barato mas dentro dos limites de acomodações aceitáveis: cama e banheiros (minúsculos) limpos.
Acabamos achando um em que a dona era uma senhora muito gorda e ficava o dia inteiro cuidando da casa/hostal dela.
Naquele hostal, a vida particular dela e dos hóspedes acabavam se misturando...o que era bom para quem queria apreender algo sobre as pessoas locais.
Lembro um dia em que entrei na sala de estar desta senhora para perguntar algo sobre onde poderíamos encontrar um local para tomar o café da manhã, el desayuno.
Logo de manhã, a televisão já estava ligada naqueles programas de concursos, tipo Roda da Fortuna. O marido dela vestindo pijama (claro...ele estava em sua própria casa) estava sonolento diante da TV, enquanto ela, gorda bonachona e com jeito de mamma, tinha uma tigela sobre o colo enquanto batia os ovos para fazer uma tortilla logo mais. No chão o bebê engatinhava procurando conhecer as caras novas que apareciam todos os dias no hostal.
E por falar em caras novas, acabei puxando conversa com as pessoas que estavam em volta da mesa junto à senhora mamma.
O primeiro era um rapaz espanhol que morava na Cantábria e estava ali literalmente morando, pois tinha vindo estudar na Capital, Madrid.
Começamos a falar e eu, que na altura sabia pouco sobre as regiões da Espanha, acabei tendo uma aula (com mapa e tudo que ele foi buscar) sobre as regiões espanholas.
Mas eu não era o único aluno. Ao meu lado estava uma pequena garota japonesa, que prestava atenção muito atentamente a tudo enquanto a mamma continuava batendo os ovos da tortilla.
A história da japonesinha era a seguinte: ela e a família achavam que ela deveria aprender espanhol. Então colocaram a garota dentro de um avião rumo à Madrid e byyyeeee...!
Só isso..? É, só isso. Há vários casos destes entre os orientais que vão para a Europa. Eu mesmo encontrei outra garota japonesa em um trem que ia de Munique para Viena.
Ela também não falava absolutamente nada, só arranhava um pouquinho (bem pouquíssimo) o inglês. Depois de muitas tentativas durante a viagem, consegui entender que ela queria saber absolutamente tudo sobre as óperas e a Ópera de Viena.
Então, se enfiou em um avião e depois em um trem, até chegar em Viena.
Sim, isto não é imersão e muito menos a moleza de intercâmbio no exterior: é a versão japonesa kamikaze de imersão. São postos no avião sem saber absolutamente nada e caem direto no quotidiano. Alguns orientais costumam fazer esta imersão desde jovens, porque além do aprendizado da língua, acabam se defrontando com todas as dificuldades possíveis e imagináveis em um país estranho. E assim, apesar da dificuldade acabam conseguindo uma vivência muito valiosa.
Mas voltando à sala do hostal, eu conversava com o rapaz, que me explicava e me mostrava o mapa e a japonesinha olhava atentamente tudo...e não falava absolutamente nada de castellano.
Depois de muito tempo tentando conversar com ela o máximo que saiu da parte dela foram muitos sorrisos e a palavra “glacias”...e só.
Falei com a mamma do hostal sobre o que a garota japonesa estava fazendo lá. A la mama me disse que ela já estava há uns dois meses e ia ficar naquele hostal durante um ano. E todos os dias se reunia na sala com a mamma preparando a comida, a TV ligada no programa de concursos, el papa sonolento, el niño engatinhando e quem mais aparecesse dos hóspedes para conversar.
Bom, a fome foi apertando, nos despedímos do rapaz e da japonesinha e fomos perguntar à mama onde poderíamos tomar café...era Inverno e estava muito frio lá fora.
Ela disse que numa travessa da Fuencarral, na Calle de San Onofre, 3 havia uma cafetaria, no meio do quarteirão, do lado esquerdo da calçada.
Nos despedimos e enquanto nos afastávamos ainda vi aquele complicado e divertido diálogo entre o rapaz espanhol e a japonesinha.
Descemos, andamos alguns metros, olhamos a placa...sim...aí está a rua, dobramos à direita e de repente encontramos a cafetaria...gente saindo pelas janelas.
Aos trancos e barrancos entramos. Quentinho lá dentro, ah. Acabamos conseguindo um local para sentar lá no fundo, no meio de tanta gente.
Ea impossível ver o balcão, pessoas animadas (11h da manhã, pausa espanhola para tomar o café) como é típico, falavam todas ao mesmo tempo, e como é costume, em altos brados, divertidíssimo.
Deixei a minha garota lá no canto e disse, antes de partir para a minha viagem em direção ao balcão “fica aí, não se mexe, não some” e fui remando através da multidão. Olhei o que o pessoal pedia e pedi o mesmo.
Mas só consegui estender o braço e falar para alguém que não vi o rosto.... “dos chocolates, dos media lunas, una de churros y un jugo de naranja, por favor...”
Claro que no meio de tanta gente pensei “foi um pedido que se perdeu no turbilhão de vozes”...mas qual não foi o meu espanto que apenas uns minutos depois ele veio completo. E correto.
Voltei a remar entre a multidão e acabei encontrando a minha garota com os olhos brilhando ao olhar todo aquele pessoal.
E só então notamos o chocolate....delicioso. O melhor chocolate que já provamos até hoje. Tão quente e espesso que daria até para cortar com faca, inesquecível.
Fomos nos deliciando com ele e com as medias lunas e de repente o ambiente começa a esvaziar, esvaziar, esvaziar e estamos só nós e eles, os donos...finalmente conseguimos vê los.
A senhora era a típica espanhola; voz firme, boca e olhos pintados e sempre com energia.
Ao seu lado estava o marido, um senhor forte e com cara simpática. E para completar estava o vovô, um senhor magro de cabelos brancos, olhos vivos e muito agitado.
Eles formavam um time profissional. No meio daquele caos a senhora conseguia lembrar de todos os pedidos (sempre atendidos corretamente), distribuir as tarefas aos brados e ainda fazer todas as contas simpaticamente. Detalhe: eles não cobravam, a pessoa é que se dirigia até eles para dizer o que consumiu.
Muitos anos depois, agora morando na Europa fomos dar um pulinho até Madrid, e nos lembramos da cafetaria. Fomos até lá, ansiosos para que, tantos anos depois ela ainda existisse.
Fomos nos aproximando passo a passo...espera...a cor da parede está diferente...a porta também...vamos nos aproximando...novamente aquela multidão....entramos temerosos e de repente...eles...A Família Walton...eles...exatamente iguais.
Abrimos abrimos um sorriso um para o outro como se tivessemos encontrado velhos amigos. Entramos e fizemos o teste crucial: “dos chocolates, por favor”.
O marido, o especialista em tirar os chocolates atendeu o pedido e recebemos as xícaras...estavam iguais...perfeitas...chocolate fumegando...espesso...delicioso.
Após o café, já com a cafetaria vazia, começamos a conversar com eles que tínhamos vindo há muito anos atrás e que a cafetaria estava diferente.
Mary (a dona simpatissíssima e sempre muito bem maquiada) disse que eles a haviam reformado. Mas a cafetaria continua sendo um local muito simples e escondidinho naquela rua muito estreita. O que não mudou foram as comidas e o serviço (familiar); continuavam iguais. Acabamos conversando com o vovô também. E agora a filha deles e mais algumas pessoas davam uma mãozinha.
Soubemos então o nome foi herdado do negócio anterior (“...muita burocracia para mudar os papéis...”). Hablando, hablando, acabamos sabendo que eles eram uma família que veio lá do norte, de Santander onde está o frio Mar Cantábrico.
Apesar de serem muito discretos, se você puxar um papo, eles acabam sendo muito simpáticos.
Mas, voltando ao café da manhã, imperdível também é a torrada com manteiga (atenção: na Espanha eles consideram uma torrada a metade de um pão) e claro el café con leche, uma instituição nacional tomado às 24 horas do dia.
Claro, se você aparecer em outros horários começa a sessão de pinchos, bocaditos, copita de vino, etc.). Mas isto é outra história.

Um Abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

ooooooooooooooooooooooooooooooo

BUENAS TARDES, SEÑOR.

Caros Amigos:

Sempre escutei falar que os espanhóis tinham os horários um pouco estranhos; que jantavam muito tarde; coisas assim.
Lembro que, quando ia para a Argentina, estranhava a hora do jantar, sempre muito tarde em relação aos nossos horários. Pensava que era jeito deles. Que jeito que nada; hoje sei a resposta correcta: herança dos conquistadores espanhóis.
Claro que em matéria de horários, não estou falando das exceções que são os adolescentes, artistas, boêmios, guarda noturnos, publicitários ou coisas assim. Estou falando mesmo é da nossa classe média.
Os espanhóis mais precisamente os madrileños – nasceram adiantados no tempo, vivem algumas horas à frente em relação à média dos horários ocidentais. Todo o sistema de vida é adiantado. É como você entrar em outra dimensão.
Adaptação difícil mas não impossível. Para quem vem de fora com outra rotina, é algo a ser contornado.
Imagine a cena: Inverno, temperatura de 4 graus centígrados...e descendo, chuvinha fina e noite caindo muito cedo, lá pelas 17:30h.
Saindo do trabalho, 21:30h, noite escura e de repente andando pela rua lembro...“vê se tem aquela água de colónia, não esquece...”. Lembrei que a minha garota pediu para passar em uma perfumaria quando pudesse.
Desviando do frio, da chuva e das pessoas, entro na perfumaria mais próxima. Sinto o aquecimento me envolvendo confortavelmente e me dirijo ao balcão onde, ao longe, o dono da loja vê a minha aproximação.
Abro um sorriso para cumprimentá lo. Mas, antes de poder falar qualquer coisa ele dispara de forma natural
“Buenas Tardes, Señor...”.
“Buenas Tardes...?” Meio confuso, só consegui balbuciar um “ola” acompanhado de um sorriso amarelo, enquanto rapidamente buscava o relógio para confirmar: sim, eram 21:35h e tudo lá fora estava escuro, em pleno Inverno.
Como é que com uma noite daquelas (de cachorro ficar deitado ao lado da lareira e não querer ir para fora de jeito nenhum) alguém tem coragem de dizer... “Buenas tardes”...?
É como se fôssem 8 horas da noite e alguém dissesse “Vamos tomar o café da manhã?”. Simplesmente não combinaria. Se ao menos fôsse Verão, tudo bem velhinho, o sol se põe tarde e mesmo depois da janta ainda está claro. Mas, em pleno Inverno...?
Bem, afinal acabei por não encontrar a água de colónia.
Agradeci com um hasta luego e quando me dirigia à porta de saída veio o segundo disparo, de despedida, diretamente nas minhas costas...“Buenas Tardes, Señor”.
Continuei andando e, nos poucos passos que me separavam da rua até acreditei que depois de um “Buenas Tardes” às 21:35, de repente apareceria um céu azul e um calor deliciosamente tropical: nada...tudo continuava escuro, frio, árvores nuas e aquela chuvinha fina prosseguia.
Antes de descer para o Metro dei uma olhada rápida nos bares e restaurantes, sempre lotados, quentes e animados; luzes amareladas, verdadeiras ilhas de calor em pleno inverno europeu....Madrid.
Puxei rapidamente o zíper do casaco e me dirigi aos corredores do Metro ainda pensando no tal “Buenas Tardes, Señor...”.
Chegando no apart hotel; 10 horas da noite, pensando em uma refeição que deixasse o meu estômago quentinho, cumprimentei rapidamente o rapaz da recepção...buenas noches e, apertando o passo entrei velozmente no elevador.
Porta do elevador fechando, resta apenas uma frestinha e por ela insinua se e entra a resposta do rapaz da recepção?.Buenas Tardes, Señor...?
São 22:02 e viajo dois andares tendo como companhia o tal “Buenas Tardes Señor” do rapaz da portaria.
Segundo andar. Entro em casa, encontro a minha garota que me recebe com o tradicional e brasileiro “tudo bem?” Ao que eu respondo: Tudo bem...???...Cancela o jantar e vamos tomar o chá da tarde!

Um Abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

oooooooooooooooooooooo

EU SÓ QUERIA UM CAFEZINHO.

Caros Amigos:

Você está andando por Madrid e resolve dar uma parada num café (cafetaria) para espairecer. As cafetarias são uma verdadeira instituição nos países latinos da Europa. Pensando bem, ele é o parente distante da nossa padaria; parecido em algumas coisas diferente em outras.
Parecido porque é na cafetaria que as pessoas vão para bater um papinho ou dar uma paradinha no trabalho.
Diferente porque num café, você sempre tem um lugar para sentar. Mesmo que você já tenha acabado seu café há 3 horas atrás, e o resto dele já esteja petrificado no fundo da xicrinha feito resto de creolina no canto de mictório da Central do Brasil, pode continar lendo calmamente todos os seus tomos da enciclopédia britânica que ninguém vai chegar com a frase “vai mais um patrão..? ”. As conversas são as universais: mulher, futebol, dinheiro, a tourada de ontem, a unha encravada e por fim trabalho.
O garçon (mozo) é sempre um profissional alinhado e na primeira deixa poderia até ser contratado para uma recepção da embaixada, como clone do Embaixador. E sem nenhum dos convidados notar a diferença.
Mas, por outro lado, você não vai receber dele, aquele sorriso de piano e ouvir com detalhes “como é que o centro avante entortou o zagueiro e fez um golaço” (com coreografia ao vivo e tudo, claro).
O café é um esporte praticado diariamente e as verdadeiras cafetarias são as dos países latinos: nos dos outros países são mais um brinquedinho novo que eles descobriram ser chic.
Bem, então depois da teoria, vamos andando, hablando e entramos no primeiro café que encontramos. O que não é difícil, tamanha a quantidade deles por metro quadrado.
Entramos e imediatamente aparece no balcão o mozo clone do embaixador e pergunta ?lo que desean??
Pedimos 2 cafés.
Mas, percebe que o mozo do não foi tirar o café, olha fixamente para você e pergunta:
“Solo...?”
Você então começa a pensar que o mozo está sugerindo algo para quem sabe acompanhar o café. Você fica pensando naquele pão doce com aquela crostazinha de glace branca que tem nas padarias do Brasil. Mas como na Espanha não tem, e lá for a está frio, resolve adquirir calorias e pede:
“Una de churros, por favor.”
E o mozo repete novamente:
“Solo?”
Será que ele acha que você está magro e precisa comer mais? Será que a sua mãe disse para ele que, toda vez que você passasse por lá, ele oferecesse comida “porque mi hijo esta tan flaquito y necessita comer”.
Quem sabe “solo” seja o masculino de “sola”, sim a de sapato; e ele esteja insinuando para que eu olhe para o solo porque devo ter pisado uma caca de cachorro na rua e quando entrei o ambiente ficou cheirando mal.
Olhando imediatamente para a sua sola e vendo que ela está limpa, você não tem outro remédio senão falar que não quer mais nada. E então diz “nada”.
E ele repete: “solo?”
Será que ele é gay e está perguntando algo como“está sozinho”?, “estás solo?”
Já preocupado e pensando em ir a outra cafetaria, escuta a pessoa ao lado falar:
“Dos cafes por favor”.
E o mozo pergunta a ela: “solo?”
Bom, pelo jeito ou ele conhece a mãe de todo mundo que entra lá ou acha todo mundo muito magrinho.
Mas logo após o “solo?” do mozo, a pessoa que pediu o café responde:
“Uno solo y otro con leche”.
Ah...era isso...o que o mozo queria saber era se o cafezinho era sem leite. Então, quando o mozo se aproxima novamente, você calibra a voz e diz orgulhoso: “Solo!”
Ele então traz a xícara de café fumegando, e você aliviado, descobre que a grande maioria dos espanhóis quando pede um café, pede “un café con leche”.
Porque, se pedirem “un cafe”...lá vai o mozo perguntar: “solo...?”
Não que eles não tomem café. Tomam. Mas sempre acompanhado do “solo?”

Um Abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

ooooooooooooooooooooo

MUCHAS FLORES, HOMBRE.

Caros Amigos:

A vida está meio parada, lenta, letárgica? Arrastando se mais que uma cobra Bôa que acabou de devorar um boi?
Cura imediata: pegue o meio de transporte mais rápido e compre imediatamente “Muchas Flores” de Rosário.
Ela conseguiu um CD com arranjos primorosíssimos e músicas cantabilíssimas: mescla de Flamenco, Rock, Big Bands. Tudo o que você quiser está lá: é tocar e imediatamente o sangue começar a formar bolhas, ferver.
Mas não é à tôa. Rosário Flores é irmã de Lolita (com um CD muito bom também) y hija de Lola Flores.
Ocorre que Lola Flores já não é mais uma cantora: ela já é um monumento da Andalucía. E ao partir deixou um clâ do qual fazem parte as citadas Rosário e Lolita, entre outras.
Aliás, Rosário acaba de aparecer no mais recente filme de Pedro Almodovar (não como cantora e sim como atriz). Assim, aproveite, saracoteie até o cinema e veja o filme.
E se você pretende ir para a Andalucía, por favor já comece decorando esta frase: “Si, claro que conozco Lola Flores, hombre”. Com isso o enturmamento está garantido.
Mas não se assuste ao passar por alguns anglo saxões e alemães que aparecem pelo Verão na Andalucía: eles são tomados pela febre combinada de copita de vino + Flamenco + calor + chicas guapas/chicos + música, e acabam saracoteando tanto que, quem passa acaba pensando que é alguém que está sofrendo um ataque epilético em plena via pública.
E quando voltar para sua casa, de certeza que, com as músicas ?Al son del tambor? e ?Muchas Flores? não vai dar para ficar parado. E se for no fim de semana, os vizinhos tem 2 opções: ou internam você ou se auto convidam para a sua festa. Ole!


Um abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

ooooooooooooooooooooooooo

É A TUA!!

Caros Amigos:

Já imaginou gritar um palavrão em um recinto público e a reação das pessoas ser de euforia e aplausos? Pois aconteceu.
É à respeito de uma palavra que para nós tem conotação de palavrão. Bom, nada de novo já que como dizemos, só no Brasil...até um número (24) é palavrão.
A palavra é a tal “pariu”...calma...tudo bem...uns minutos para vocês se recomporem....tudo ok...? Continuando.
Sim, todos nós ficamos chocados porque a palavra sempre lembra o tal palavrão. Se existisse um Hit Parade Bilboard dos Palavrões, ou um Grammy dos Xingamentos ele estaria sempre entre os indicados para ganhar a estatueta ?IS YOURS? É A TUA!
E como esta palavra é usada somente como palavrão, para a grande maioria dos brasileiros isso já é um palavrão….quando deveria ser apenas “dar a luz”.
Pois bem, em Espanha apesar desta conotação, ela é usada em uma outra frase.
Funciona assim: cada vez que alguém canta ao vivo, (por exemplo, um cantor num show) e arrebata a platéia; pode esperar; no auge da emoção, das palmas e dos assobios; alguém sempre levanta da poltrona e grita:
“Bendita sea la madre que te parió!!!”.
Ou seja, “Bendita seja a mãe que te pariu”.
E quem grita, invariavelmente, é sempre uma senhora com voz potentíssima (não me perguntem porquê é a tal senhora).
Depois deste grito frase, o público, que já estava em pleno frenesi, acaba entrando em convulsão epiléptica musical e aplaude ainda mais.
E imediatamente uma parte do público se vira para a tal senhora com voz de trueno (mais uma expressão espanhola....voz de trovão) para aplaudi la e confraternizar se com ela em pleno show!
E a tal senhora, neste momento acaba compartilhando os louros e atenções com o artista, só pelo fato do tal parió que ela pronunciou.
Mas atenção: não é um parió qualquer. É preciso saber entonar a voz da forma correcta e principalmente o momento certo de dizê lo, ter o timming perfeito. Já imaginou um parió na hora errada..?.?nem quero pensar, pois não só prejudicaria a tal senhora, como o público se sentiria frustrado. E o artista, ao invés de ter o seu apogeu, estaria num anti clímax que estragaria todo o espectáculo.
Mas não se enganem: no meio da profusão de aplausos, quando a tal expressão corta a escuridão da platéia feito um raio, quem é brasileiro, tem sempre a mesma reação de susto, por mais “madres que te pariós” que tenha escutado até hoje. E nesta hora, o primeiro pensamento que passa pela cabeça sempre é “mandaram o cara pra pqp”.
Mas, depois de um tempo e passado o trauma, começa a aparecer a tal vontade de participar. E foi exactamente o que aconteceu em um show que fomos em Madrid; de flamenco, perfeito.
Lá pelo meio do show a platéia estava incendiada e eu com vontade de dar o tal grito...tomando coragem...mais...mais...e de repente quando ia dar, aparece de novo, cortando o ar o grito da tal senhora...“BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!!”......ah...pra que...entrei nessa também: “BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!...e o público virando para todos os lados novamente em delírio tentando localizar de onde vinham os LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!!
E eu já totalmente no clima, já incentivava a minha garota...vai...grita...agora...faz a catarse ...vai...repete... BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!......vai...é bom pra treinar o castellano...vai...faz bem à saúde.
Sim, é uma sensação muito boa gritar isso sem ninguém te olhar feio...pelo contrário...todos sorriem para você. Mas no íntimo, você sempre fica aquela sensação de estar gritando um palavrão cabeludo em plena geral do Maracanã.
No meio disso de tantos BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!.…quem não entedia nada era um grupo de ingleses e japoneses que assitiam ao show e foram pegos de surpresa pelos BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!! que voavam pela platéia. What..? Madre...? Palió...?...e o delírio coletivo continuava.
No fim, os turistas japoneses além de levarem o BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!! para o Japão, ainda vão miniaturizá lo e re exportá lo para a Europa em forma de alerts sound para computador.?BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!...SORRY...ERROR 37?.
Já os ingleses, depois das tradicionais milhares de copitas de vino que absorvem durante todo o Verão espanhol, vão levar o BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!! para Londres, sampleá lo juntamente com a voz da senhora e no próximo Verão vão lançar nas discotecas e rádios de toda a Europa o hit BENDITA SEA LA MADRE QUE TE PARIÓ!!!...Yeah!

Um Abraço
Danyel Sak – Publicitário
danyelsak@ip.pt

ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

Crónicas 1 Aqui
Crónicas 2 Aqui