"Eu gosto!"
Os publicitários adoram que se diga bem do seu trabalho. Envie-nos a sua opinião sobre os
materiais de que gosta.

 
 


Oito ou Oitenta
Texto de Carlos Silva

Quando viajo sozinho, quase sempre procuro a companhia  dos spots de rádio emitidos pelas estações locais. São, infelizmente,  verdadeiras pérolas a colocar num futuro museu da publicidade. O tom de voz  feirante-radialista, a catadupa de adjectivos generosos e a utilização de  expressões com prazo de validade já caducado, têm como único mérito  ilucidar-nos sobre a forma como se criava um spot há umas boas décadas atrás.  Ouvi-los é uma espécie de voltinha pela história da publicidade. Caros ouvintes e estimados clientes e outras expressões  que julgavámos já extintas, encontramos cuidadosamente preservados nesta  reserva natural da publicidade que são os spots publicitários das rádios  locais.
Não é descabido afirmar que a inteligência, a subtileza  e a modernidade que Bill Bernbach trouxe nos anos 50, não é um facto conhecido  por todos os profissionais da publicidade. Basta folhear uma revista não mainstream, ouvir uma rádio local ou  ver um outdoor numa qualquer zona fora de Lisboa para perceber isso mesmo.  
Seguindo o critério Bill Bernbachiano, podemos assim  constatar que uma parte da publicidade que se faz em Portugal tem um módico  atraso de 50 anos.  
Em contraste, agências como a THOMPSON, BBDO, RED CELL,  TBWA e FCB desenvolvem um trabalho que as coloca entre as melhores da europa e do mundo de cada um dos respectivos grupos internacionais.  

Servirá o trabalho destas agências como estímulo para  as agências com menores performances? A resposta é obviamente sim, mas isso  exige uma capacidade que não está ao alcance de todos os publicitários: a de  saber reconhecer a qualidade do trabalho da THOMPSON, BBDO, RED CELL, TBWA e  FCB.
Texto de Carlos Silva carlos_mdsilva@clix.pt

O Anúncio do Gordo.
Texto de Carlos Silva

Confesso que relativamente à publicidade made in Portugal, na minha escala Richter do Entusiasmo, raramente o meu sismógrafo atinge os valores mais elevados. Com a intenção de dignificar o seu trabalho e não de me contrariar, a Partners criou uma das mais interessantes campanhas para a Associação Portuguesa de Cardiologia (A.P.C.) que me recordo de ter visto. Mesmo descontando o facto de cheirar a pró-actividade, assim parece, a campanha é um forte candidato ao pódio de 2005. Se pró-actividade significa uma maior dose de liberdade, a verdade é que nem sempre a palavra liberdade rimou com genialidade. Folheando o portfólio dos anos 90, década em que a Abraço e a Comissão Nacional da Luta Contra a Sida fizerem despoletar o voluntariado criativo, encontramos muitos anúncios cujo o único mérito é apenas a sua intenção.

As peças da campanha da A.P.C que tive oportunidade de conhecer, rádio e televisão, possuem uma clareza, maturidade e perspicácia próprias de agências com nome mais sonante, mas saudavelmente assinadas pela recente Partners. A campanha em causa, retrata o estigma social que recai sobre os miúdos com excesso de peso. A clareza da mensagem é demolidora. Os miúdos gordos estão sujeitos à descriminação dos colegas. A sua personalidade e nome desaparecem perante o peso da aparência. Aliás, para ser mais cruelmente correcto, os/as gordos/as são discriminados socialmente. Quem assistiu ao programa televisivo onde a eco-empresária Annita Roddick, a Ceo da BodyShop, passava por uma pantagruélica obesa, pôde confirmar isso mesmo.

O primeiro mérito da campanha ---foi ter-se apropriado de uma observação perspicaz da vida real. Cria uma espécie de documentário ficcionado disfarçado de filme publicitário. O que é que itso tem de especial? Precisamente a sua raridade. Não é este o tipo de abordagem mais frequente nas campanhas resultam de divagações ficcionais hiper-super-criativas que atestam a dotada capacidade inventiva dos seus criadores, mas revelam um elavado grau de miopia em observar a realidade circundante. É uma éspecie de fuga para a ficção e tem como provável explicação a dificuldade ou a incapacidade em resolver as questões terrenas e comezinhas dos clientes.

Reconheço, contudo, que nem sempre um insight da vida real poder ser a solução mais adequeda. A fantasia também faz parte do património de algumas marcas e produtos, mas enxertar sistematicamente a publicidade com devaneios criativos, não é ,seguramente, a melhor forma de responder aos problemas de comunicação colocados pelas empresas.

A realização do filme também merece um pequeno comentário. Num livro que vivamente recomendo editado pela Cinemateca Portuguesa, dedicado ao realizador Abas Kiorostami e que tem como subtítulo FAZER VER SEM MOSTRAR, o realizador defende insistentemente a ideia de que o realizar deve passar desapercebido, fazendo assim jús à máxima futebolista de que quando o árbito é mesmo bom nem se dá por ele. No filme da A.P.C a câmara assume o papel discreto de observador e não a de um intruso participante. Acho sinceramente que isto é óbvio mas por vezes é preciso relembrar. Assim como um anúncio não deve servir para mostar o quanto os criativos são geniais, um filme publicitário não serve para mostrar as piruetas circenses de que o realizador é capaz de fazer com a sua câmara. O realizador, que francamente ignoro quem seja, limitou-se a retratar a situação e não a interferir nela. São pequenos nadas, eu sei, mas Allah, como diria um velho anúncio, is in the details.

Apenas um senão. Um minúsculo senão. No filme, a cena com o miúdo entrando no prédio parece-me desnecessária. É prática corrente em Hollywood, o storyboard para as longas metragens. Uma dos principais méritos desta prática consiste em perceber quais as cenas essencias e as desnecessárias. Significa isto que se se tiver toda uma sequência ilustrada, (onde cada cena é um quadrado de storyboard) se pode realizar o seguinte exercício: se se retirar um quadrado e mesmo assim a história continua a fazer sentido, então ela é dispensável. É precisamente o que acontece neste filme. Se eliminar-mos a cena do miúdo entrando no prédio, a história continuaria a fazer todo o sentido. A este nível, o spot de rádio parece estar melhor resolvido, pois se não se houve a porta a abrir nem o miúdo entrando para o prédio, deve-se exclusicamente ao simples motivo de que não era necessário. Retirar esse plano seria a cereja em cima do bolo.

Finalmente, e porque a publicidade também deve ter uma pontinha de ética, interrogo-me se o protagonista do filme, após esta exposição pública, não corre o risco de ser massacradamente apelidado de gordo por amigos, colegas, vizinhos e afins. Esperemos sinceramente que não.

 Texto de Carlos Silva carlos_mdsilva@clix.pt


BALEAL SEM CARROS ?
MAIS VALE TARDE QUE NUNCA ...


Com algum atraso, pois este "outdoor" já figura no Baleal há algum tempo, aqui vai este belo exemplo de Criatividade Nacional !!!
Ao "graffitizar" com um bom sentido de humor "aquilo" que foi uma bem intencionada tentativa de criar algum espírito cívico nos frequentadores da Praia do Baleal, conseguiu-se apenas com a mudança de A por DE  um total e completamente novo sentido de comunicação da "peça"!
Não posso deixar de dar os parabéns ao autor da brincadeira que conseguiu sem dúvida deste modo uma maior atenção para esta "peça publicitária"... (se é que tal se lhe pode chamar...)
 
MANUEL TEIXEIRA
(Amigo do Baleal de longa data)


A VERDADEIRA PUBLICIDADE SUBLIMINAR – ou – O FANTASMA DO CAMEL(O)?
Pela ordem das imagens :
CAMEL frente – tiras o maço da máquina e lês o aviso em letras GARRAFAIS – ficas preocupado com a tua saúde e com o mal que farás À saúde dos outros se acenderes o cigarrinho…
CAMEL verso – lês outro aviso com as mesmas letras GARRAFAIS – ficas ainda mais preocupado com a tua saúde com a agravante de se acenderes o cigarrinho, correres o risco de te faltar a “ponta” logo no dia em que conseguiste engatar aquela boazona…
CAMEL frente a abrir – de qualquer modo abres o maço – e antes de conseguires sacar o cigarrinho encontras um cartãozinho e pensas, “EH PÁ , ISTO AGORA TRÁS BRINDE…”
CAMEL saram! – puxas o cartãozinho e SARAM!... descobres que o mal que podes fazer à tua saúde e à dos que te rodeiam incluindo o risco de ficares sem ?ponta?, não é nada comparado com o AUTÊNTICO PRAZER de FUMAR UMA MISTURA EXCEPCIONAL COM TODO O SABOR e que se chama CAMEL FILTERS. Feita esta análise, puxas do cigarro, acende lo com o maior desfrute, e CAGANDO (não sei se posso usar esta expressão) para os AVISOS em letras GARRAFAIS sais esfumaçando pela rua, enquanto lês no verso do cartão que embora a denominação LIGHT tenha sido retirada por imposição legal, podes continuar a pedi la sob o nome de BLUE?
Lindo não é?

Luís Barreiro
16/9/2003


Ainda não tive tempo para saber, quem fez mais uma marca parecida, com o estalo de um chicote.
"INOVE" da TMN, tem sinais de belíssima elaboração.
A realidade de uma marca, nunca deve deixar dúvidas e a maior dúvida de uma marca, reside nos factores de resistência menores que ela pode conter.
Os factores de resistência de uma marca encontram se nos conteúdos que ela deve exprimir de forma imediata e de uma outra, a forma futura naquilo que ela deverá proporcionar, evoluindo.
"INOVE" da TMN, vai longe, por não ser também, uma marca silenciosa.
Manuel Peres


O meu País é frequentado por gafanhotos do ensino.
Vivem fora das escolas com os livros apertados nas axilas dos outros, que desejariam saber das inflamações de aulas incompletas.
Restam entre eles outros coleópteros, mas de asas violeta, que não se podem confundir com as matemáticas dos estaleiros de qualquer docência.
Venho lembrar que frequento todas as aulas das Artes, das Faculdades delas e às vezes por lá, sou apanhado como professor independente,isento, para mais uma avaliação. Para mais uma, porque desejaria que mais fossem. É tão bom ficar com gente que vai às aulas.
Quero dizer vos que há alguns anos acompanho o que se faz pelas aulas do que faço. Design.
Há três anos que me dedico a investigar as actividades da FBAUL (Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa).
Por lá, quem trabalha, faz bem e muito.
Parecem coleópteros de asas violeta que voam atrapalhando gafanhotos.
O Professor Jorge dos Reis não tem asas. O professor não pára.
Com o que Jorge dos Reis ensina, não só se aprende, como se abarca a história universal da tipografia, fazendo se profissionalmente, todos os dias e também de noite.
Com ele é de reviver o humanismo dos perfis que corriam o risco da ameaça do progresso de algumas técnicas modernas. Com ele é de reviver tudo o que aprendeu no seu doutoramento no norte da Europa.
Aconselho a todos que gostam de tipografia, uma visita à esplêndida obra gráfica que editou com os alunos do terceiro ano, que editou com um verdadeiro espírito da vocação, que deveria existir em todas as escolas.
Na FBAUL, o Professor Jorge dos Reis não está só. Está numa Escola digna de um sério exame.
Manuel Peres


Indo eu, indo eu pela web do Guardian, dou de caras com esta pérola que agora lhe envio. Um anúncio que começa num desses clientes dos nossos pesadelos (uma seguradora) e que termina numa peça que brilha em qualquer bobina. Que podia até ser a única peça a colocar na bobina até porque ofusca todas as outras.

Talvez o entusiasmos seja excessivo. Talvez ... mas numa altura em que todos dizemos procurar a novidade mas em que todos acabamos por nos copiar uns aos outros, em que vivemos no reinado da direcção de arte e em que a ditadura dos festivais faz com que o como dizemos se sobreponha ao que dizemos, e em que por tanto olhar para o umbigo quase fazemos do corcunda de Notre Dame um exemplo de rectidão, faz bem ver uma peça que está nos antípodas de tudo isto e que nos prova que nunca no mundo real uma imagem poderá valer mais do que mil palavras.

Não importei todos os links da página, mas vale a pena accionar los e conhecer o racional e o que está por trás deste anúncio. E vale a pena vê lo uma e outra vez e ter a vontade de o mostrar ao mundo inteiro. Sobretudo a alguém que enche a sua página web de poemas. E que ainda assim é um publicitário.

Se tiver tempo e vontade, depois envie me a sua opinião.
Até lá,
Um abraço do
João
Clique na imagem para ver o filme.
Claro que vou escrever ao João que labuta por terras de Espanha.


Um visitante enviou me 4 anúncios da Ray Ban dizendo que gosta. Como eu também gosto, aqui vão eles:


Caros Amigos:

Finalmente não preciso percorrer quilometros e mais quilometros que ligam Lisboa a Madrid para adquirir bens essenciais: Pale Cream (Manzanilla), Alface Iceberg de Múrcia e Mosto (claro, ainda fica faltando o KAS de limão, Horchata de Chufa, entre outros).
É que, como abriu El Corte Inglés por aqui, ficou mais pertinho.
Mas na verdade, o principal mesmo é a democratização do luxo. Este é o segredo do El Corte Inglés: tratar a classe média bem.
Não é por acaso que o seu fundador foi à Cuba e passou pelos USA para pós graduação em como atender o Cliente.
Em parte é exatamente por isso que o comunismo não deu certo: vamos ser todos iguaizinhos e democratizar a mediocridade, ok? Não.
E se tivesse que resumir a democratização do luxo, não iria falar em nenhum dos artigos que eles vendem: iria para o último andar, direto. Sim, porque é lá que se consagra a tal democratização.
Me recordo quando morava na Espanha e davamos uma passadinha no El Corte Inglés.
No último andar eles fazem questão de fazer a Cafetaria. Mas porque no último? Pela vista, claro.
Então, você ia de andar em andar, percorrendo todos os artigos e no final dizia: acabou.
Acabou? Nada...na verdade começou.
Você olha meio de lado e pensa: eu não vou entrar aqui, deve ser caro. Um salão enorme, garçons vestidos como deve ser, aprumados e em roupa de algodão, cadeiras confortáveis estofadas, ar condicionado perfeito, vista da cidade, ambiente agradabilísimo e serviço e pratos rapidos de primeira. Acho que não vou entrar. Mas acaba entrando. E descobre agradavelmente que você, pagando muito pouco (pode ser apenas uma cerveja) está sendo tratado como merece.
Fomos conferir se em Lisboa ocorria o mesmo que na Espanha....e ainda bem que foi o mesmo.

As pessoas já descobriram e aderiram. É só olhar no rosto delas e você vê que elas vieram para serem bem tratadas. Você pode ficar as horas que quiser, que não é importunado.
Um dos poucos lugares espalhados pelo mundo que faz com que as pessoas sintam se bem em ficar, em permanecer. Porque no fundo, não basta o que se come e o que se bebe: as pessoas querem também comer com os olhos. Y para passar un buen rato, jogar conversa fora y
disfrutar. Perfeito.
Agradabilíssimo olhar em volta e ver a expressão das pessoas, a democratização do luxo, mesmo gastando tão pouco...numa Loja de Departamentos.

Um abraço

D.

PS1: Os sanduíches são excelentes e pelos acompanhamentos valem por uma refeição.
PS2: Isso sem falar nas duas outras partes anexas para maior poder aquisitivo: o
Restaurante e a parte de Petiscos (Tapas y Pinchos)


Ó MEUS AMIGOS, SEI ONDE ESTAIS !

O meu coração defende se das vozes que sintonizo.
A doçura dos corações ao microfone, não fracassa nunca naqueles homens.
Cavalaria do som do sonho, enquanto o automobilista do lado, tira com a unhaca mindinha mais uma ramela do orifício nasal. A comodidade do seu Jaguar oferece lhe espaço para um gesto intimo. Percebo que ao volante, ele ouve o mesmo que eu, porque o sal daquele burrié estremeceu lhe de repente o sobreolho. Fechou a pálpebra lentamente, de seguida, abriu a, na direcção do hi fi.
Ah! de repente, que nos querem essas vozes?
São nove da manhã. Estou no quilómetro doze, muito mais a sul que o funcionário das oito e trinta. Porque tenho outras sortes, outros sacrifícios modestos da profissão. Vou chegar tarde e com o sono que me obriga a visitar o umbral do lado do meu acento. Ouvindo a rádio. Ou melhor, ouvindo as palavras de uma poderosa vizinha sentada á sombra de seus filhos, em voz alta, em todas as línguas do saber.
O meu coração defende se daquelas vozes que anunciam favores políticos, cantares, um sotaque de Mirandense, crianças enfermas no estrangeiro, um lugar de mel entre escarpas, gentes de alhures, ou tempos de um grande calor, sem destinos prometidos. O meu coração defende se e frequenta sem fios, a Telefonia. São ainda nove e trinta, quando surgem as bagas amargas de uma aeronave, notícia, caída.
"Mas por agora ainda é o dia". Di lo, Fernando Alves.
Eu fico condutor, sobre o poder das palavras que o homem da frequência maravilhosamente modelada entoa, com voz inconfundível e sob as raízes de minhas veias.
O Sacrifício da manhã recebe bem cedo os caminhos do mundo, sem aniversários de laços ou auroras incompreendidas. Um gosto para a alma, onde os ódios são cantados do outro lado da reportagem. Há lugares neste som feitos autoridade, não deixando que o céu prevarique contra a terra.
Vai lá mais de hora e meia, que comecei a escutar hoje a Telefonia sem Fios. O mundo está entregue ás suas dúvidas, que são as minhas explicações, porque continuo em viagem.
Uma inebriante voz de mulher anuncia um outro favor que não o do microfone. Imagino a com um chapéu de enormes abas de seda, a seduzir me e descubro entre as vozes estonteantes – Helena, Eduarda, Margarida, Augusta, Inês e Carlos Andrade, também noutras horas, em debates de cal viva.
Há muitas coisas sobre a Terra para se ouvirem nesta Telefonia que não deixa nada por celebrar. Como antigamente, com mensagens trocadas, sem delimitações.
Lá fora, um semáforo hospeda uma luz detestável, no golfo á pinha de um cruzamento, quem dera ele desse á luz um potro, no lugar de tantos cavalos.
Passo a cinquenta uma avenida carregada de frutos humanos. Hora mais vasta que esta, desconheço.
A entrada da garagem, engole de uma só vez o meu volante e mais. Faço brilhar as lâmpadas da frente que as detrás se lixem.
As vozes da TSF pousam na falta de um sinal enfraquecido, no fundo da garagem.
Amanhã á mesma hora, todos os caminhos do mundo estão novamente abertos, a propagarem se subitamente, em diâmetro, de 89.5. O silêncio é que não, não vá ele exclamar lodos de memórias em trânsito.

Manuel Peres mperes@iol.pt


Só mais um desenho

Desenha rostos de homens, desenha mulheres desconhecidas. Desenha mãos, saídas de carvão e madeira, como soldadura escorregadia e quente e deixa brisas ligeiras nas rugas que nos rostos desenha. Como um poema de Miguel Hernandez.
Nunca o preocupou em nada ser o primeiro. Recusando se.
Sentia uma vaidade pelo nome porque dava. Maquetista. Como se apurasse o seu último vinho, desenhava figuras, objectos de maestro, corpos sem lamentos. Escapavam lhe as horas nas ideias e enquanto pensava, voltava preguiçosamente a desenhar. Aquele estúdio da agência, enorme nos seus centímetros quadrados, sem vidros ou portadas, impediam no de gritar. A vida só a alguns custa a ganhar e que eu saiba, o Jorge fez sempre parte daqueles que preferiram não pôr preço em certas merdas.
Recordo o antes ainda dos seus primeiros cabelos jovens e brancos. Satírico e irónico até lhe ficar bem.
Espreitava o rumor das suas ideias nas tarefas baças e monótonas da profissão. Lembro os momentos resignados de um bloco de lay out ao sentir o rough do Jorge, para uma campanha do Cutty Sark e veio me á recordação um "máximo" desabafo " mais um que não brinca em serviço" . Aquilo era a vergonha do explícito. Inesperado. Toda a excitação de uma agência mas em formato A3. Por debaixo do rough, numa outra folha, lá passeavam aquelas figuras ás escondidas (mas não para mim), os seus desenhos a lápis. Por estes anúncios para o Cutty Sark, recebeu o seu primeiro prémio merecidamente e quando lhe deram a notícia, sofisticou o sorriso, safadamente. com um palavrão.
Hoje deram me uma das notícias que demoram há mais de doze anos.
Que a Agência EDSON FCB é autora do lay out para Samsung, peças que internacionalmente vão desenhar uma parte do Mundo. Resultado de uma participação num trabalho feito por todas as Agências do Grupo a que pertence. Um trabalho do Director de Arte Jorge Barrote.
Que mal faz Jorge, pedir te mais um desenho, objecto teu, de maestro.

Manuel Peres
08 março 2002


O António Damião diz que gosta...

O meu amigo Antóniio Damião enviou me este anúncio publicado na revista da TVCabo afirmando perentoriamente que gosta do anúncio. Esqueceu se de dizer porquê. Porém, a linha fica aberta!


Passa, neste momento, nas rádios, uma campanha dos esquentadores Vulcano. De qualidade acima do vulgar, dos três "spots", destaca se um. E porquê? É um "spot" bem escrito, bem interpretado, bem dirigido e bem sonorizado. No essencial parece que o "main point" é transmitir a ideia de que o novo esquentador é mais pequeno, mantendo, para além disso, todas as suas características. E isso é certeiramente conseguido colocando duas personagens, um casal, em diálogo num registo de interpretação que lembra o bom (saudoso?) teatro radiofónico. Ele não encontra o esquentador. Ela responde que está na cozinha numa caixa pequena. O diálogo é mantido à distancia numa planificação perfeita. A interpretação é fundamental para se conseguir esse efeito mas outros elementos ajudam, como os passos dela a aproximar se dele. Qundo ele se refere à potência do esquentador a resposta dela balbuciando ternuras e dando lhe um beijo, cria uma atmosfera erótica muito interessante.
Apenas o facto dela ter proferido o nome completo e a adjectivação do aparelho ( "é o novoClick HDG inteligente e autónomo e agora compacto") rouba um pouco da credibilidade conseguida no diálogo. Esta informação poderia ter sido dita pela "voz da companhia" que, aliás, dá ainda outras informações sobre o produto. Mas o Cliente, que merece os parabéns por ter aprovado este "spot", acharia, provavelmente, esta transferência de competências (em falar tecnicamente do produto) para o locutor como..."demais". Há no "spot" interjecções muito conseguidas e a isso eu chamo bom "copy". Uma interjecção vale, muitas vezes, por mil palavras.
A interpretação esteve a cargo da Mila Belo e do Diogo Infante. A "voz de companhia" foi a do Jaime Fernandes. A direcção em estúdio (Som de Lisboa) esteve a cargo de Laurent Cruveillier e a sonorização foi do Mike.
A ciatividade foi da Tux & Gill a agência da Vulcano.


Como se trata de publicidade estangeira, não tenho da dar bocas a dizer que gosto por isto ou por aquilo. Deixo essa tarefa ao Manuel Peres. Por mim digo simplesmente: EU GOSTO. Aqui vai:



Perguntam me frequentemente o que mudou na publicidade portuguesa desde os meus tempos a esta parte. Entendam se os meus tempos como os últimos trinta e sete anos, ou seja, ao contrário do acontecido com a minha idade, os anúncios foram rejuvenescendo, embora nos últimos tempos esta minha convicção e lamúria não seja tão visível como eu esperava nos últimos anúncios que fiz. Para minha vergonha ainda, quanto mais a publicidade envelhece mais louca e ágil se torna. Isso mesmo, uma velha actividade cada vez mais no começo. Não têm sido os anos que se têm aproximado silenciosamente da publicidade mas sim a publicidade que tem deixado para trás os tempos e com uma barulheira ensurdecedora.
Agora vejamos como tenho razão.
Um anuncio só envelhece quando surge outro com menos defeitos no rosto, o que pode acontecer com uma pequena diferença de horas ou só ao fim de uma centena de anos e por muito que digam de contrário, a juventude de um anuncio é bonita se lhe passar por cima alguma quantidade de anos sem que lhe nasça uma ruga.
Esta semana parei numa rua de Lisboa em frente de um anúncio da BBDO, para Sonasol. Um anúncio saído da dupla Nuno Jerónimo e Rogério Serrasqueiro. O anúncio diz. "Novo Sonasol, limpeza perfeita sem riscos", mais ainda, " Limpa vidros sem riscar". O rectângulo do anúncio é preenchido com uma foto de um rosto masculino com óculos, mas em plano fechado sobre a vista esquerda deixando assim aparecer só uma das lentes. Um anúncio novinho e que se vai manter assim por muitos e bons.
Esta semana também, ao mexer no baú de trabalhos de há catorze anos fui dar com um anúncio da Park, para Sonasol, saído da dupla Eduardo Homem e Manuel Peres ( sim, eu mesmo).
Claro que não comentarei o anúncio que diz, " Um puxão de orelhas um pano e lava tudo". (Nesse tempo, o Sonasol dava pelo nome de "Lava Tudo"). Nem tão pouco dedico ao anúncio de há catorze anos uma única palavra deste texto, porque cabe aqui melhor, uma chapelada com vénia á BBDO, ao copy, ao director de arte e ao "Sonasol" , um produto que sabe envelhecer sem riscos no rosto.
Manuel Peres


Eu gosto, posso?
Se estiver de acordo, o Manuel Peres que teorize. Eu, repito, gosto!


ANÚNCIO de MODÉSTIA
Consta se que num restaurante italiano, um cliente deixou uma gorja de três mil e quinhentos contitos. O restaurante, segundo se consta também, não é lá grande coisa , já que por quem lá passa , mais passa para ser visto do que para ver o que lhe põem na mesa.
É bom lembrar que a modéstia de servir à mesa tem sempre a ver com a generosidade de quem é servido.

ANÚNCIO DE ESTRATÉGIA CRIATIVA
Junte se a este anúncio outro ainda mais curioso. O dono do restaurante abriu o seu estabelecimento por não ter encontrado trabalho como criativo publicitário, vendo se obrigado a desistir da carreira porque tanto sonhara.
Há sempre que ter em conta que existem várias profissões para além da nossa, onde a finalidade é uma boa gorjeta.

ANÚNCIO de MORTOS e VIVOS
Em Maio, na véspera do dia em que faço anos, um rapaz de 32 primaveras, será executado com uma picada letal por ter sido condenado à morte, dado que cometeu um atentado com o qual vitimou 168 pessoas. Os sobreviventes e os familiares de todos os falecidos no ataque terrorista, vão ter a possibilidade de assistir em directo à execução de Timothy McVeigh e o FBI controlará o "sinal" , para que outras televisões fiquem inacessíveis.
Está assim provado que há modos de vida que terminam com uma razoável audiência.

ANÚNCIO COM ARTE
Um semanário acaba de anunciar que a pintora Graça Morais é "mais aberta" do que outro pintor, o francês Balthus e que este foi, como hoje é a pintora de Trás os Montes, uma pintora «d´après nature». A pintora vai entretanto expor em Paris.
O sr. Balthus sentirse à lisongeado com este artístico anúncio de semanário. Bem que as suas obras poderiam ser promovidas e expostas pela Gulbenkian em Trás os Montes, seria útil , como uma ajudazita ao sr. Balthus.

ANÚNCIO sem ANÚNCIOS
Mário de São Vicente acaba de anunciar o fim de uma curiosa página com a participação (a última) do António Pilar, que seja a última do António Pilar porque não me consta que António se dê bem com coisas do tipo, dizer mal ou bem do quer que seja mas antes, pelo que poderia eu imaginar em contrário, o moço, generoso e espertíssimo como é, bem soube dar a volta ao próprio texto que de sua autoria não parece, mas vamos lá também ter em conta , que para a reforma ainda lhe restam uns tempos e que até lá, promete dar umas porraditas.
Foi pena. Escapava por vezes à página o imcomparável, diagramação à parte mas pouca, o sr. Mário São Vicente sempre soube disto. Lia se a ideia do comentarista embora a nossa fosse antecipada. O receio de parecer estúpido surgia com o receio do é desta que um gajo qualquer vai dizer uma patacoada e mijar em cima da minha obra a graça da coisa era pequena, mas era assim e fazia sentido, ás vezes de bom humor. Uma piada a gosto para uns. Um sacana de um mau jeito de crítica para outros. A critica consiste sempre em dizer dos outros tudo aquilo que não conseguimos dizer de nós, mas de outra maneira . A maneira de passarmos por inteligentes, encobrindo alguma estupidez, porque esta doi por mal que pareça aos dois lados da crítica. Da página, maneirinha, muitos gostavam. Um criticado, passa a sentir sempre na pele também a inteligência que nunca teve antes. O prazer da crítica convem aos dois lados e aqui é que reside a pedagogia do gozo, excepto para alguma clientela. Foi pena, porque quanto ao caso, onde as lisonjas de uns estraçalhavam os orgulhos e interesses de alguns, pois, estes que se danem já que na ignorância lhes bem cabia o bem e o mal dizer. Ora quem nada sabe, bate palmas. Mas batam nas com as mãos abertas, porque se as fecharem, não aprendem nada, outra vez. Destes não vou ter pena, vão ficar a saber menos porque mais uma página se foi. Podem continuar a ovacionar a própria ignorância.

ANÚNCIO a UMA BODA IMPRESSA
A "Índigo" teve uma iniciativa feliz, logo daí saltou para capa de revista, pulei e voltei a ler mas de pernas para o ar, eu não, a revista. Eu já sabia, alguém me disse um dia. "Comer e beber mantem a alma e os corpos unidos". O articulista assim não quer.
Mas continue grande senhora "Índigo". O sr. Manuel Faria bem sabe, que um bom jantar só sabe bem a quem está presente e a propósito, só há dos franceses uma máxima que me satisfaz, " As pessoas só se devem sentar à mesa para serem úteis umas às outras", e olhe meu querido Manuel, a comida e a festa só faz bem a quem nestas chega ao fim, pois como nós sabemos, Manuel Faria, a gula de uns, começa muito antes de outros matarem a fome de uma grande amizade. Bem haja pela iniciativa e deixe lá "os animais pastam, o homem come" mas apenas o Manuel, de espírito, há muito sabe com quem deve sentar se à mesa.

Manuel Peres


Caros Amigos:

Me perguntaram qual era a Campanha ou anúncio que eu mais tinha gostado.
Bom, existem milhões de anúncios ruins...e milhares de anúncios bons.
Então muitos deles passaram pela minha cabeça...será este..., Ou aquele...? Não...acho que é aquele outro.
Mas afinal, acaba sendo uma escolha muito difícil, e ainda mais é como aquelas listas de "in e "out...o que é para uns, para outros não é.
Assim sendo, uma escolha pessoal, deixei a pergunta vagar lá pelo cantinho do inconsciente e esqueci ela lá. E quando isso acontece, a resposta acaba aparecendo: pode ser no dia, na semana ou depois de alguns anos.
Mas eu não estava preocupado, pois ela ia aparecer.
Até lembra uma pergunta que ficou "pendurada, que uma amiga minha me fez...sobre escutar a música brasileira.
Olha, poderia ter respondido esta pergunta na hora. Mas para os brasileiros (...mas brasileiros mesmo de verdade...daqueles que sabem que o Ary Barroso deveria estar no Panteão e Aquarela do Brasil deveria ser reconhecido como um hino contemporâneo). Mas voltando, como disse, poderia ter respondido esta pergunta na hora...mas isso é coisa muito séria. Então a pergunta está criogenizada Ou algo assim)...tipo o Walt Disney...congeladinho até hoje esperando quea ciência consiga que ele volte lépido e fagueiro. O mesmo acontece com a resposta para a minha amiga...aguardando até que surja a
resposta mais que perfeita; a resposta com alma.
Então, estava andando pela rua, olhando a tudo e a todos e a resposta surgiu. No outro lado da calçada estavam tres homeless e virando o olhar para baixo, quem estava...? O cachorro.
E logo veio a resposta para a tal pergunta sobre a melhor Campanha.
Lembrei de uma Campanha impressa americana e me emocionei. Mas é isso: para mim ela é a melhor. E mesmo para mim existem outras tão melhores como ela.
Mas só o fato de me lembrar dela instantaneamente mostra que, depois de tanto tempo ela continua funcionando (seja com gerúndio) ou a funcionar (ou mesmo sem gerúndio).
Porque as Campanhas impressas hoje em dia é o tal esquema: a foto em primeiro plano, um titulozinho, uma frasezinha e o logo e slogan à esquerda bem pequenininho. Mas, claro, depois de alguns minutos já não lembraremos dela. Ou mesmo nem a olharemos de tão ruinzinha que ela poderá ser...buscando apenas a piada fácil.
Mas, esta Campanha a que me refiro, conseguiu tudo de uma forma compacta: fotos simples e maravilhosas, conjugadas com um título curto que é o slogan ao mesmo tempo.
E acreditem: tudo funciona. E o melhor de tudo: funciona, vende. Afinal é para isso que serve a publicidade.
Então, se me perguntassem qual Campanha eu gostaria de ter feito, diria muitas, mas podem ter a certeza que esta estaria incluída.
Ela é de uma concisão, de uma verdade, de uma leveza que nos leva a à profundiade e nos faz pensar não só no que ela anuncia, mas também no seres humanos, mas nossas vidas.
Pena que não tenho esta Campanha impressa para mandar via net.
Mas como me perguntaram e tenho que responder, vai a descrição...meia xôxa...mas é o que tem, freguês.

A Campanha é de uma instituição de animais e tem como objetivo incentivar a adoção de cachorros.
Nas fotos dos anúncios, dos mais variados vemos por exemplo:

. em um anúncio vemos um homem na sua casa, gordíssimo, feio, mal vestido e a casa uma espelunca

. em outro um travesti rampeiríssimo, arrumando se, com aquelas roupas típicas e maquiagem carregada procurando disfarçar a condição masculina

. no outro uma senhora gorda querendo parecer jovem à todo custo; e por aí vão os anúncios.

Então olhamos as imagens e ela nos obrigam realmente a ir ao título. E ao chegarmos lá apenas lemos:

They really don,t care. (Eles realmente não ligam).

Apenas isso e mais nada. Então vem o efeito "caiu a ficha...now I know. E ato contínuo, como toda Campanha espetacular...ela nos faz novamente percorrer a foto todinha, esquadrinhá la. Mas agora com outro estado de espírito, pensando não só no cachorro da foto (...que sempre tem uma cara amigável para com o seu dono que está na foto) mas na condição humana, nos nossos sentimentos, preconceitos, ganâncias, etc.
Quem fez a campanha deveria realmente orgulhar se dela: na minha opinião particular ele conseguiu.
Porque o material com que foi feita a campanha foi a observação, a realidade, os sentimentos e a verdade.
E depois que vi esta Campanha, nunca mais esta frase me saiu da cabeça "They really don,t care....eles realmente não ligam.
Goste você ou não de animais (..espero que sim), esta é para mim uma daquelas verdades imutáveis: eles realmenre não ligam.
Quantas e quantas pessoas você já viu andando na rua, maltrapilhas e em muitos casos...acompanhado de um cachorro. E olhem bem....lá vem a frase de novo: They really don,t care...!!
E hoje ao andar...vi os homeless a Campanha veio imediatamente á mente. Então olhei para eles, olhei depois para baixo e vi o cachorro bem nos olhos e ri comigo mesmo...They really don,t care.
Quem sabe um dia nós poderemos ser todos assim.
Respondido.

Um abraço

D.
PS: Se um dia vocês puderem ver esta Campanha acho que concordarão comigo.

(Danyel Saak)


 Melhor que mau, Ótimo !

Se cair e esmurrar os queixos, vá ao posto de socorros. Está curado? ótimo, agora vá para casa, agasalhe se e se no caso de você ou o seu filho apanharem uma pneumonia, vá ás urgências, corra que a coisa é grave, mas passa, é só ser cuidadoso e vai ver que é ótimo voltar ao trabalho logo mais, mas não se admire de encontrar aquilo num caos, ótimo, agora pode segurar os problemas e despedir a incompetente da garota, ótimo, consegui uma uma solução que lhe ficou numa pipa de massa ,vai ver que valem a pena esses dois meses até encontrar outra secretária ótima. Não se precipite, amanhã vai entrar de férias, o seu puto de convalescênça, e a sua secretária também entra, mas em pânico, por você estar ausente, que puta de confusão, mas vá lá vá de férias, o quê? não tem carro? ótimo ! Vá alugar um e olhe que é ótimo porque só lhe vai custar duzentos e dez continhos para trinta dias de férias.
É ótimo vair ver, vá até á "Europcar" ou ouça o spot na T.S.F., e ria como eu.
Manuel Peres


O bacalhau do Zé e outras postas restantes

Não tenho anúncios, out door, imprensa, tv, porque se goste ou não, não quero meter hoje um ferro de foice em seara alheia, seca, nesta semana que eu gosto. Mas que me perdôe o mar meu deus, que não o fizeste para dar bacalhau desfiado a spots de rádio e a história começa assim.
Manhã de hoje, está fresco e são sete horas e está escuro e sento me agachado no banco que comprei como sendo de couro a fazer parte da viatura com telefonia que ligo e como se não bastasse a aldrabice de uma ´marca para automóveis que lembro em todas as manhãs, salta me às orelhas vindo das colunas, que raio de nome para buracos sonoros, que susto de palavras tão cedo, que spot de rádio para bacalhau de marca "Rui Costa Sousa e Irmãos" .
Para quem gosta de bacalhau este spot para rádio não cai bem nem com "batata a murro" e para quem já o ouviu como eu, prefere à "Gomes de Sá" a "Rui Costa Sousa e Irmãos" anunciante de peixe seco. O texto da coisa é um diálogo entre um moço e uma moça tão bem dispostos que me senti na casa mais conhecida dos portugueses. "Estás com um aspecto ótimo Zé" , diz a moça para uma posta de bacalhau macho. O Zé volta se para a posta de bacalhau fêmea e não se fica, "olha, pareces um bacalhau desfiado". A coisa é mais ou menos assim e quase não consigo levar isto até ao fim. Lá pelas tantas ouve se um grunhido tipo arroto e o diálogo continua até que a posta macho de nome Zé pergunta, "vai uma garfada?". " Ui ! " exclama a outra posta queixando se com um suspiro, "essa doeu" . Assim termina a melhor garfada de propaganda ao bacalhau numa telefonia a que altero o som, porque não é de perder.
Apago os mínimos . Dou pelo começo do sol de hoje, o noticiário está na telefonia antecedido por outro bloco, que diabo nem uma canção, nem um estado de trânsito melhor que ontem, mas sim, ouço agora alguém estatal ter comprado um nada na bolsa de uma luminosa companhia e ponho o rádio e o resto de um automóvel às escuras, porque tudo desligo, para entrar na leitaria que me serve o costume ao lado de uma vitrine com pastéis, alguns de bacalhau.
Manuel Peres


Impressões digitais

É curiosíssimo o que acontece nesta actividade de fazer anúncios, de criar imagem ou conceitos que surgem da expressão da "matéria" cujo papel é contar uma história com ou sem palavras.
Para o "Eu Gosto" desta semana reuni dois casos e em qualquer deles uma boa parte foi feita à mão. Entre eles bem se passaram dezoito anos, o que não é nadinha comparados com o que aconteceu ao longo deles no universo das agências e dos seus clientes.
Ao ano dois mil pertence o anúncio para a Galpenergia que me trouxe boas recordações, enquanto o da Volkswagen foi veiculado no início dos anos oitenta, muito longinho daqui, mas editado em Portugal em mil novecentos e noventa e dois.
Juro que nunca me passou pelas estribeiras relacionar qualquer dos anúncios com um caso de apalpadela, picanço ou chupanço e em lugar de uma doentia e falsa blasfémia, será mais saudável relembrar que nesta matéria os anos passam e os fósseis berram, enquanto deles nem pó, tal impressões digitais que coincidentemente são as minhas em um dos anúncios que não quero referir, porque já não gosto dele.

Manuel Peres


Duas forças criativas.

São escassas as oportunidades de encontrarmos anúncios de imprensa excelentes, mas caramba, compreenda se as dificuldades com que as agências e clientes cada vez mais se debatem no universo alucinado dos tempos em que uma hora se traduz no minuto, enquanto o real e imaginário segundo, surpreende patéticamente o tão raro brilharete capaz de fazer um anúncio emoldurar uma estatueta dourada.
As vidas dos anúncios estão cheias de altos e baixos, como os seus familiares directores criativos premiados, que demagógicamente soltam o "não, não senhor, não sou festivaleiro", "não, nem por isso dou grande importância", "não, isso para mim é coisa secundária".
Tragédia risível ? ou membros superiores atraiçoados pelo peso do ouro, da prata e do bronze?
É na vida de um anúncio menos alto que deve manifestar se a coragem de o conceber como acto de risco da sua existência em um difícil trabalho, mas com o mínimo de talento correcção e bom gosto e nem que se tenha de engollir a pastilha elástica e admitir que o ouro fica para a próxima.
Nunca deixei de dizer o que tem de ser dito sobre as agências, ou acerca de clientes, sem evitar expôr o meu próprio corpinho e que dá pelo nome de trabalho, um processo simples, o do conhecimento físico da imagem aonde enfio o espírito e esqueço a cegueira, porque aos olhos nem tudo é dado a ver.
Neste estado da net meu querido amigo Luis Gaspar, não vale se gosto ou não, também não consigo engolir a lingua a ler anúncios pelo preço de dois semanários, com páginas anunciadas que custam fortunas, mas que valem essa pena, mesmo que de um quilo eu aproveite uma página simples como única e das duas, uma, da que primeiro digo, da outra tambem, mas que guardo para o fim, o último parágrafo.
A W/Portugal assinou um anúncio para "Ozono a revista inspirada na natureza". A W/Portugal tem sabido escolher os seus principais intérpretes para o seu principal papel. A W/Portugal consegue passar para o espectador uma convicção da cultura que sabe exprimir na comunicação com a mesma facilidade e com o mesmo efeito em anúncios dourados que noutros de menos quilates, mas não por isto, nem por isso, com menor profissionalismo, ou menos respeito pela sua "casa", ou pela actividade, que é o seu rosto.
Nem todas as agências de comunicação podem deixar uma boa marca da sua passagem pela terra como a W/Portugal, isto é já sabido por alguns e desconhecido pelo triplo. Mas residirem por cá agências, que se dão ao luxo frustrante de insistentemente produzirem anúncios cuja pobreza nos fazem reflectir ao que serve essa realidade, não. Nesta outra página simples, é angustiante o que se encontra implícito no conceito de produzir um anúncio como o da "Força Criativa" para "City Desk" que considerou como força criativa os seus computadores, "orgulhosamente portugueses", (diz o texto), uma das fotos, os Lusíadas de 1572, assim se comtempla. Uma homenagem justa, anunciada.Talvez, "Por mares nunca antes navegados", com logotipos, fotos e textos à deriva, igual a um dos naufrágios da comunicação.

Manuel Peres


PÁGINA SIMPLES

Na semana passada dei me ao prazer de sublimar em comentário, uma agência, um cliente e uma campanha de imprensa, magnífica.
As páginas duplas de que já falei fazem parte de alguns exemplos com que ilustro os diálogos no início de cada semana em um espaço de tempo que anteriormente se destinava às reuniões de tráfego. Este tipo de convivência cria dois tipos de reflexão e qualquer deles passa por referências culturais da actividade profissional que partilho com os mais jovens. Reflectimos sobre o que fazemos e utilizamos em uma hora a consciência sobre a nossa sabedoria, tenha ela o tamanho que tiver, o que nos deixa por vezes a vergonha na cara por não termos conseguido fazer ainda, certos anúncios brilhantes. Quanto ao tráfego tão familiar, as coisas ficam mais fáceis, a agenda de cada um passa a ser o tráfego rigoroso de todos os dias para o resto da semana.

Hoje, segunda feira, a discussão acendeu se, concentrámo nos na selecção de trabalhos que consideramos menos bons ou que nem tanto gostamos e debruçamo nos sobre as razões porque perdemos algumas oportunidades de fazer as coisas bastante melhores. Tocou me fechar o diálogo e assim coube me responder sobre o motivo central da manhã, cuja pergunta foi. " O que eu achava do anúncio de imprensa para "easynet".
A identidade do "easynet", traduzida em um imagotipo razoávelmente elaborado, deixa compreender o que é este portal. Até aqui as coisas vão bem mas a identidade só por si não é suficiente para comunicar o lançamento de um novo produto, empresa ou serviço e porquê?
Todas as mensagens despejadas sobre uma determinada audiência dão pelo nome de imagem corporativa e o que é determinante na imagem corporativa é a forma como ela é recepcionada, o que deve contribuir para o conhecimento adequado da identidade corporativa. Se uma empresa ou um produto utilizam um logotipo ou um imagotipo fascinante, mas esquece esse rigor nas outras vertentes da comunicação, perde o valioso instrumento de identidade que adoptou. O anúncio de imprensa para o "easynet" é o exemplo de uma tentativa falhada para acertar nesses dois coelhos da comunicação, identidade e imagem. Nem sempre dois coelhos se abatem com a mesma arma, ou seja. No caso do anúncio para o "easynet" feriram se duas peças de caça, a identidade e a imagem e por culpa de quem apontou á imagem, uma arma com a mira desajustada.
O que está claro neste anúncio para imprensa é o que se prende ao fraco trato de uma ideia, dos seus icons, edlaine e textos, as desnecessáras alegorias expandidas do imagotipo causam um peso gráfico exagerado e desajustado para a mensagem pretendida, o que prejudicou a verba destinada aos anúncios.
No anúncio está escrito. "se um dia alguém lhe oferecer outro acesso à internet vai perceber porque é que algumas coisas são fáceis e outras não". Certamente que os receptores deste anúncio vão compreender a mensagem, porém com alguma dificuldade.
Manuel Peres


Anúncio privado.

Enquanto o design português é o nosso melhor produto turístico, completo de exergos e estâncias termais para alguns designers, boa parte ingleses, sabedores de materiais mas ignorantes da matéria, eu fico ao sol e protejo a minha ligeira calvice com um chapéu feito de uma página dupla de um jornal que no verso tem reproduzido um anúncio do Banco Privado Português.
Sinto por dever e por direitos adquiridos à custa de um preço extravagante, que devo trazer aqui uma fala sobre o melhor paradigma da publicidade portuguesa actual e exprimir me sobre o sintagma de uma agência de publicidade e de um seu cliente, como unidades de comunicação com nivel superior e porquê?



Não conheço sequer a edição de uma clara e inteligente legenda sobre a campanha de imprensa da BBDO para o Banco Privado Português, que bem merecia editoriais de capa na imprensa especializada em publicidade, em marketing ou porque não, tambem em design. Não existe neste campo matéria jornalística de análise específica e lastima se a estranha ausência, quer deste surpreendente trabalho ou de outros, como motivos fundamentais e urgentes para motivação além fronteiras das agências portuguesas e talvez por falta de vontades ou por falta de saberes ou ainda por culpa de sensações politiqueiras que ocupam papel couchê com audiência de hábitos de inferior gramagem, á pressa solucionados, o que em nadinha contribui para uma cultura profissional, ou para quem dela faz parte todos os dias, aqueles, que por entre os dedos nunca deixam escapar uma Tombo, uma Rotring, uma Montblanc, ou uma ponta de feltro seca. Inversamente, abre à ignorância outras nacionalidades, faculta lhes o espaço, a arrogante consciência e pior, mais grave que esta total presença, é a forma e o conceito como ela é noticiada chegando a requintes de bitates como este. "Em Portugal continua se a confundir design com arte " ou ainda, " os designers Portugueses são tímidos". A esta simplicidade opinativa, poderemos chamar de retórica da importância do desconhecimento sobre uma actividade que se exerce em Portugal com arte e sem timidez. Desde quando a arte não cabe inteirinha na comunicação? desde quando falta a coragem aos designers portugueses para exibirem os seus portfólios entre os melhores? ou isto ainda se vai ver esclarecido numa edição de humor?
Para ilustrar a minha convicção, escolho agora um trabalho de comunicação, porque um excelente trabalho de comunicação deixa de o ser, se o design estiver ausente. As páginas duplas de uma campanha de imprensa que há alguns dias coloco na minha mesa antes de iniciar o meu dia, são uma importante peça de design Universal, um exemplo de que não prescindo tal como de outros. Doa a quem doer, independentemente do idioma original.
Como ordenamento da primeira linguística de um anúncio, a direcção de arte destina á mensagem uma de duas sensações.
A cegueira, ou uma límpida visão. Os anúncios para o Banco Privado Português são peças de design gráfico mestramente cuidadas, pela escolha da tipografia serifada de caixa alta e baixa com detalhes de corpo cursivo rigorosamente distribuídos na corrente do texto e não só.
Parece quase vulgar a produção fotográfica com mudança de fundos, um deles texturado a mogno, madeira que identifico ser de alguma idade, ou algo muito semelhante, onde o direccionamento de luz vem de um só lugar, por se tratar naturalmente de uma peça, um livro, no seu momento próprio, sem rebatimentos forçados de iluminação. O mais entendido esquece que se trata de uma foto de estúdio. A ilustração, cuja presença exerce um efeito de pequeno detalhe é talvez, neste anúncio, um dos sons gráficos de maior importância e que numa orquestra se poderá comparar ao som de uma harpa, impercéptivel, porêm sem ele, a orquestração ficaria mais pobre. Os ruídos gráficos nem sempre são necessários e neste caso, o director de arte substituiu e optou pelo suave som de signos que fariam falta.
O fecho deste anúncio da BBDO está situado na assinatura, Banco Privado Português, mas quem quizer abri lo terá de mudar a página utilizando o como separador, quase que sou tentado a mover o separador e volto a ler o nome do cliente, com letras muito maiúsculas, em caixa alta alta e baixa. Explêndido.
Sem a clara sabedoria que o director de arte colocou neste trabalho pelas áreas de design gráfico que bem soube reunir, o design de comunicação, passaria a design de desorganização, o que felizmente para a publicidade portuguesa não aconteceu nestes anúncios.
Guardei para um quase final a última leitura que faço de duas páginas de texto, que começam por me oferecer um pouco de Ernest Hemingway e me fazem recordar um outro escritor , que em sua vida num maravilhoso dia, saiu de uma agência de publicidade para não mais voltar e que após dois anos, refugiado na cave de sua casa, concluia o começo de uma obra literária que mudaria o mundo. Gabriel Garcia Marques, ex copy da JWT, concordaria por certo com o que nesta campanha de imprensa está escrito e assinado por uma instituição financeira. "É preciso entender que muitas vezes o caminho mais rápido para chegar lá acima é o mais arriscado". Eis o exemplo, em páginas duplas. Uma agência e um cliente, por vezes aos fins de semana, em exibição nas revistas.

Manuel Peres

Autores (informação por amabilidade da BBDO)
Agência: BBDO Portugal
Copy: Pedro Bidarra
Art. Directos: José Heitor
Cliente: Banco Privado
Media: Cada semana um diferente, na revista do Expresso.