Tio Olavo 11
por Edson Athaide
 

 

Globalização


Há alguns anos, o recém eleito Presidente do Brasil, Tancredo Neves, foi impedido de tomar posse, devido a uma estranha doença chamada "diverticulite". Daí que as TV brasileiras, tentando explicar que doença era aquela, tivessem feito uma série de peças, nos telejornais. Uma dessas peças consistia numa série de entrevistas com famosos, que declaravam o que achavam da diverticulite do Tancredo. Em meio de votos de pronto restabelecimento e análises sobre a conjuntura política do país, uma declaração surpreendeu. Uma sambista carioca não pensou duas vezes, quando perguntada pela diverticulite, e respondeu: "Sou contra. Como pessoa de esquerda, sou contra essa diverticulite engendrada pela direita para impedir que o Tancredo assuma." Como é óbvio, a sambista não sabia o que era uma diverticulite, mas sabia que devia protestar contra tudo o que atrapalhasse a ordem democrática do Brasil. Penso sempre nessa história quando vejo os recorrentes protestos contra a globalização. Todas as imagens relacionadas com as manifestações contra a reunião do G8 trazem em si a mesma marca: a da bagunça. Não, não estou a referir me à forma (os protestos públicos tendem a ser naturalmente confusos) e sim ao conteúdo. Não dá para perceber nos manifestantes a clareza de uma causa. A impressão que fica é a de que cada um tem o seu protesto próprio, cada um está ali a gritar pelos seus interesses, que não têm nada necessariamente a ver com o interesse do outro. Daí que, mesmo não simpatizando com os oito estarolas que comandam o mundo industrializado, também não consiga achar grande coisa às manifes contra a globalização.

O DN publicou ontem uma pesquisa onde avisa que mais de metade dos portugueses são contra a globalização. Mas tenho a leve suspeita de que a maioria das pessoas do planeta não faz a mais pequena ideia do que seja a globalização. Diz se não à coisa por se dizer. Acham que os jovens que protestam são boas pessoas, porque a tradição mostra que os jovens protestam sempre por boas causas. Não é bem assim. Um grupo de jovens nazis não passa de um grupo de energúmenos. Um grupo de jovens racistas não passa de um grupo de idiotas. Daí que um grupo de jovens barulhentos e violentos a brigar por causas egoístas não passe de, no mínimo, um perigoso grupo de ingénuos úteis. De certa maneira, é se contra a globalização como se poderia ser contra a diverticulite ou a doença do legionário; é se contra a existência de coisas que não dependem da nossa opinião para existirem. O que só prova que todas as unanimidades são burras (parafraseando Nélson Rodrigues) e que a massa tem o péssimo hábito de fazer mais barulho do que obter resultados.

Preocupado com o tema, fui falar com o meu Tio Olavo. O velho, ajudado pela sua fabulosa colecção de citações, deu me as seguintes declarações.

Tio Olavo, os protestos contra a globalização deixaram me curioso quanto à sua opinião sobre alguns temas. Vou fazer o seguinte: digo lhe um conceito e o senhor responde me. Por exemplo, jovens reformistas. Os jovens, antes de saírem, para reformar o mundo, deveriam, primeiro, dar um jeito em seus armários.

Injustiças. Quando se foi ameaçado de uma grande injustiça, o melhor é aceitar uma injustiça menor como um grande favor.

Guerras. As guerras são uma espécie de embriaguez colectiva e, digam o que quiserem os pacifistas, o povo é a favor delas, pelo menos nos primeiros trinta dias.

Pacifismo. Acho um grande conceito. Mas, cuidado. Se um sujeito aparece e corta a sua mão, você não lhe oferece a outra mão para ele cortar. A não ser que esteja a querer parar de tocar piano, é claro.

Crise mundial. O mundo chegou ao fundo do poço e agora roubaram o fundo e o poço.

Capitalismo. Nem todos os problemas que se têm com a namorada se devem necessariamente ao modo capitalista de produção.

Progresso. É um progresso quando um canibal aprende a comer de faca e garfo?

Multinacionais. A ignorância e a estupidez são as maiores multinacionais do mundo.

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Conselhos do meu Tio

A voz do povo é a voz de Deus. E o povo costuma dizer que se conselho fosse bom ninguém dava, vendia. A verdade é que fruto da minha actividade profissional (caso não saiba, sou publicitário), uma vez por outra acabo por ter que meter me nas hostes do marketing político. Não que seja a minha especialidade, há quem se dedique ao tema como forma de ganhar a vida. Vejo o marketing político mais como um exercício enviesado de cidadania, como se eu fosse um espécie de militante que, por acaso, pode interferir na maneira como o discurso, as ideias e a imagem dos candidatos e partidos chegam até a sociedade.

Adiante. Agora que a corrida ás autárquicas começa a aquecer (na verdade um falso arranque, devido à previsível ida a banhos dos eleitores), pedi ao meu Tio Olavo que desse alguns conselhos aos candidatos. 0 velho, apoiado na sua infinita colecção de frases e citações, deu me as seguintes respostas:

Tio Olavo, gostaria de saber a sua opinião sobre algumas palavras e conceitos que, de alguma maneira, têm a ver com o poder, a política e os políticos. A primeira seria "aparência".
Elegância não passa de um pouco de água e sabão.

Cargos públicos.
Cada vez que um governo preenche um cargo público está sempre a gerar um ingrato e dez descontentes.

Coerência.
Em Portugal, às vezes a coerência não passa de oportunismo escrito de trás para a frente.

Comícios.
Está provado cientificamente: o cérebro humano começa a trabalhar no momento em que a pessoa nasce e não pára até que ela sobe num palanque para fazer um comício.

Corrupção.
0 último a sair rouba a luz.

Crise.
Há quem ache que a crise está tão feia que já começou a latir no quintal para economizar o cão.

Democracia.
É o regime onde você diz o que quer e faz o que lhe mandam.

Discursos.
A melhor plateia para um discurso é uma plateia inteligente, educada e ligeiramente bêbada.

Eleições.
Vote no candidato que prometer menos. Você ficará menos decepcionado.

Estatísticas.
Está provado que fumar é uma das principais causas das estatísticas.

Honestidade.
Existem os homens de bem; os homens que se dão bem; e os homens que são apanhados com os bens.

Humanidade.
0 homem é o único animal inteligente que se porta como um imbecil.

Imprensa.
Para um político, sair na primeira página ou na página 30 depende do medo que os jornalistas têm dele.

Indecisão.
Toda gente sabe o que acontece com uma pessoa que fica no meio do caminho: acaba atropelada.

Frontalidade.
Trate todas as pessoas com as mãos enquanto der. Quando não der, ponha as no chão e trate as com os pés.

Pessimismo.
As coisas costumam piorar muito, antes de piorarem de verdade.

Verdade.
A verdade é uma coisa tão preciosa que precisa ser protegida por um escolta de mentiras.

Vergonha.
As vergonhas passam quando a vida é longa.

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"Achismos" de Verão

o mais provavel é que você esteja a ler esta minha crónica sentado na areia de alguma praia. Ou pelo menos gostava de estar. Quanto mais Julho avança menos neurónios resistem à vontade de descansar. Não vou maçá lo com grandes raciocínios (de resto, os meus raciocínios nunca foram grandes). Prefiro dar espaço para o meu Tio Olavo, que enviou me uma catadupa de achismos, que têm a intenção de distrair a sua atenção neste início de Verão. Por exemplo:

"Eu acho que nada vem do nada"
Lucrécio

"Eu acho que ela herdou essa beleza natural do pai, ele é cirurgião plástico."
Grouxo Marx

"Eu acho que os tempos mudaram. Hoje em dia, há muitos príncipes encantados que andam por aí atrás de outros príncipes encantados"
Vasco Leite

"Eu acho que certas mulheres gostam tanto, tanto dos seus maridos que, para não gastá los, usam os das suas amigas."
Sérgio Leite

"Eu acho que nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até ser enfrentado."
James Balduyn

"Eu acho que quero um homem que seja gentil e compreensivo. Será que é pedir de mais de um milionário?"
Zsa Zsa Cabor

"Eu acho que quem inventou o trabalho não tinha o que fazer."
Frederico Saldanha

"Eu acho que nunca se deve convidar uma mulher que diz a sua verdadeira idade. Se ela diz isso, é capaz de dizer qualquer coisa.
Oscar Wilde

"Eu acho que cada um deve defender se como pode. Os cães mordem. Os bois chifram. Os deputados da oposição votam contra."
Frase de um deputado brasileiro

"Eu acho que não adianta ponderar muito tempo em quem votar. Não importa que você escolha. Irá ganhar sempre um político"
Sérgio Leite

"Eu acho que uma mulher inteligente é aquela que sabe como recusar um beijo sem se privar dele."
Cabriela Saldanha

"Eu acho que no dia em que me conhecer de verdade vou sair correndo."
Davi Amarante

"Eu acho que não somos um país especialmente corrupto. Somos é mal auditados."
Stephen Kanits

"Eu acho que a tirania é sempre melhor organizada que a liberdade."
Charles Peguy

"Eu acho que a fé move montanhas. Mas não se esqueça de ficar empurrando enquanto reza.
Bruno Mota

"Eu acho que quero viver até à minha morte."
Cotte

"Eu acho que não se deve emprestar nem livros nem mulheres aos amigos. Os livros nunca são devolvidos. As mulheres sempre."
Fabiano Bonfim

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A felicidade é um estado imaginário


Você é feliz? Não, não perguntei se você está feliz, perguntei se é.

A diferença não é grande e não é apenas semântica.

A maioria das pessoas dá pouca importância à felicidade.

Estamos todos mais preocupados com coisas menores, como a alegria, por exemplo.

A humanidade quer se alegre, o ser humano tem um infinita vocação em se tornar numa espécie de hiena bêbada.

Um poeta dizia: a felicidade é um estado imaginário.

E acrescentava: não, uma pessoa não pode ser normal e feliz ao mesmo tempo.

Daí aquela velha história de que só os loucos são felizes.

Segundo percebo, a questão da felicidade é mais ou menos nova para a nossa civilização.

Até há bem pouco tempo, estávamos mais preocupados em encontrar batatas para comer, viver até aos 30, não ser queimados pela Inquisição e em evitar em mandar piropos à mulher do rei.

Agora, com a vida mais ou menos estendida pela Medicina e com os fins de semana livres para uso próprio, é que temos tempo para reflectir sobre coisas mais ou menos importantes como a felicidade.

Ou se a luz se apaga quando fechamos a porta do frigorífico.

Preocupado com o tema, fui conversar com o meu Tio Olavo.

O velho, ajudado pela sua infinita colecção de citações, deu me as seguintes respostas:

Tio Olavo, o que é a felicidade?
Felicidade é ter uma família grande, amorosa, cuidadosa, que se preocupa consigo e está bem unida, só que em outra cidade.

Só isso?
Bem, a felicidade está nas pequenas coisas...
Um pequeno iate, um pequeno rolex, uma pequena mansão, uma pequena fortuna...

É uma questão de dinheiro, portanto.
Para falar a verdade, nem tanto. A verdadeira felicidade custa pouco; se é cara, desconfie, deve ser falsificada. De qualquer forma há coisa mais importantes na vida do que ter algum dinheiro. Ter muito dinheiro, por exemplo.

Como ser feliz?
A felicidade não passa, afinal de contas, de um certo subtil equilíbrio entre o que a gente é o que a gente tem.

 

A idade traz felicidade?
Às vezes. A felicidade é uma questão de ter boa saúde e péssima memória.

Teve uma vida feliz?
Acho que sim. Se eu tivesse que viver a minha vida outra vez, cometeria os mesmos erros, só que mais cedo. Aliás, não leve a vida tão a sério. Ela não é permanente.

Que conselhos daria para quem deseja uma vida mais feliz?
Escreva diariamente o seu próprio horóscopo. Pare de se levar tão a sério. Principalmente porque, quando você morrer, o sucesso do seu funeral vai depender apenas do tempo que estiver a fazer. Diariamente, sorria e diga "olá" a pelo menos cinco estranhos que encontrar na rua. Esqueça todos os rancores, perdoe todos os inimigos. Se conseguir fazer isso, diga me como.

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Velho é a avozinha


A maioria das pessoas são como os espelhos, reflectem sem pensar.

Não estou livre deste vício.

Mas, confesso, com a idade, aprendi a pensar menos e, em contrapartida, a tentar pensar melhor.

O que não deixa de ser contraditório.

Dizem que a velhice traz sabedoria.

A mim está a trazer apenas rugas, gorduras localizadas na zona do abdómen e dúvidas inteiramente novas.

Estou naquela fase a que os mais novos chamam meia idade e os mais velhos período produtivo.

Mais uma vez, os termos e as expressões não dizem nada.

Não me sinto a meio caminho de coisa nenhuma (muito menos, no caso, do túmulo) nem acho que ando a produzir o meu melhor.

Uma coisa é verdade, até há bem pouco tempo achava estranho quando me tratavam por senhor.

Hoje quando não me tratam, acho que é falta de educação.

Envolto neste mar de questionamentos, fui falar com o meu tio Olavo.

Sábio como sempre, apoiado na sua infinita colecção de citações, ele deu me algumas respostas.

Tio Olavo, o que é ser adulto?
O adulto é uma criança recheada de idade.

Tem saudades da sua juventude?
Às vezes. Tudo era mais fácil. Um jovem não precisa de razões para viver, apenas de pretextos.

Isso quer dizer que era um jovem feliz.
Juventude e felicidade são conceitos antagónicos. O jovem vive tão intensamente que não pode ser feliz o tempo todo. Isto de juventude feliz é invenção dos velhos.

E é bom ser velho?
Nem tanto. Hoje em dia, o único respeito que se tem com os mais velhos é quando eles vêm engarrafados.

É assim tão mau?
Um bocado. Mas de qualquer maneira, envelhecer é ainda o único meio que inventaram para se viver muito tempo.

E isso é a mesma coisa para um homem e para uma mulher?
Uma mulher de 45 anos parece sempre mais velha do que um homem de 45. E sabe porquê? Porque, na verdade, ela é.

Explique me melhor a influência da idade nas mulheres.
Aos 20 anos, a mulher é instável, como a Ásia. Aos 30, é ardente, como a África. Aos 40, é pragmática, como a América. Aos 50, está fora do circuito, como a Austrália. Aos 60, ela debruça se sobre o seu passado e lamenta não ter aproveitado a vida, como a Europa.

O que é a terceira idade?
É quando você precisa de usar óculos até para ouvir rádio.

E qual é a verdadeira diferença entre as idades?
Os velhos crêem em tudo; as pessoas de meia idade suspeitam de tudo; os jovens sabem tudo.

Interessante.
Isto faz me lembrar um poema, que diz o seguinte: Às vezes fico aflito./Nada faz sentido./Quanto mais cresço,/menos o mundo cabe//no meu umbigo.

Para finalizar, quer dar algum conselho?
Torna te velho cedo, se queres ser velho por muito tempo.

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Dar em doido


Sou brasileiro, mas sou também o primeiro a concordar com a ideia de que o Brasil não é, boa parte das vezes, um País sério.

Já Portugal é diferente.

Portugal é seríssimo. Às vezes sério até de mais.

Às vezes de uma seriedade que beira o absurdo.

O absurdo sempre me interessou.

Deve ser por isso que sempre admirei o trabalho de Ionesco, o pai do teatro do absurdo.

Há um "quê" de Ionesco em Portugal.

Portugal é um bom País.

Diria mesmo que é um belo País.

Com um povo pacato e hospitaleiro.

Católico e respeitador dos bons costumes.

Daí que sempre fico surpreso quando Portugal enlouquece.

Nem é uma coisa que aconteça assim de maneira tão pouco frequente. A histeria nacional ocorre com cada vez mais assiduidade. E, nessas horas, Portugal parece ficar fora de órbita, como um planeta atingido por um pesado meteorito.

Mesmo a língua parece outra: por mais português que se fale ou escreva, as ideias parecem todas fora de ordem, sendo impossível compreender os seus conteúdos.

De uma hora para outra, Portugal deixou de se preocupar com todas aquelas coisas normais com que os países se preocupam (a saúde, a economia, as drogas e a selecção nacional, para citar apenas as mais importantes) e pôs se a discutir a televisão.

Um marciano que chegasse este fim de semana aqui não compreenderia nada.

Acharia pouco influentes o Presidente, o primeiro ministro e todos os bispos e cardeais, se comparados fossem com o Ediberto, a Lili Caneças, o Jorge Gabriel e os pais da Margarida.

Basta ler os jornais para se ficar com a ideia que, de absurdo em absurdo, Portugal vai caminhando para se tornar numa peça de Ionesco, onde palco e plateia se confundem. E onde fica cada vez mais difícil saber a hora que o pano vai descer para que possamos bater as palmas. Como se desse vontade de bater palmas.

Fui conversar o meu Tio Olavo sobre estas metafísicas questões. E ele, ajudado por sua infinita colecção de citações, deu me as seguintes respostas:

Tio Olavo, qual é sua visão da actualidade?
O mundo está se tornando um hospício dirigido por loucos.

É o caso de Portugal?
O problema não é Portugal parecer cada vez mais um vasto hospício. O problema é que anda a faltar remédios.

Defina me a loucura.
A loucura é o sonho de uma pessoa. A razão é a loucura de todos.

E os loucos?
Um louco é alguém que crê em tudo que vem à sua mente.

A loucura é uma coisa assim tão má?
Nem sempre. Mais vale um homem que expõe a sua loucura do que um que esconde a sua sabedoria.

Acha que muito do que anda a escrever por aí sobre os reality shows é uma mostra de loucura?
Sim. Ou de burrice. Para qualquer burrice que você escreva encontrará sempre um burro para dar apoio.

E o senhor não é apenas mais um exemplo?
De certa maneira. Mas isso não é problema. Toda gente é meio burra, só que em assuntos diferentes.

Mas o senhor tem a mania de que é um intelectual.
E daí? Já está provado: se você cortar a cabeça de um intelectual quase sempre ele morre.

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Os homens preferem as loiras


Está bem, está bem, as anedotas de loiras são sempre politicamente incorrectas.

Demonstram um tipo de sexismo desprezível, ajudam a estigmatizar um grupo de pessoas que não pode ter as capacidades reduzidas à cor dos seus cabelos, são injustas com relação a todas as loiras que são inteligentes.

Na verdade, algumas das mulheres com melhores cabeças que conheci eram loiras. Já trabalhei com várias, tive algumas como chefe, já fui patrão de outras. Nunca percebi que pelo facto de serem loiras eram filhas de um Deus menor. Dito isto, fica claro que não concordo de maneira alguma com as piadas de loiras.

Mas o problema é que adoro as. Às loiras e às piadas (também não concordo em comer tarte de chocolate branco com cobertura de chocolate negro quente em cima de um trapézio, servido pela Vera Fischer nua. Não quer dizer que não topasse a sobremesa se alguém me oferecesse).

Fui falar com o Tio Olavo sobre o assunto. O velho, exímio conhecedor do universo feminino em geral (e das loiras em específico), deu me as seguintes lições:

Tio Olavo, porque as loiras não fazem gelo?
Porque elas esquecem sempre da receita.

Como é que sabemos que um fax foi enviado por uma loira?
O fax vem com selo.

Como é que uma loira mata um passarinho?
Retira o da gaiola e atira o pela janela.

Porque as loiras levam uma semana para comer um iogurte?
Porque vem escrito na embalagem: comer em uma semana.

Porque o cérebro de uma loira fica do tamanho de uma ervilha quando ela morre?
Porque incha.

O que uma loira vai fazer numa loja dos 300?
Pesquisa de preços.

Como fazer uma loira rir de uma piada numa quarta feira?
Fácil: basta contar a anedota num sábado.

O que é uma loira com o cabelo pintado de ruivo?
Inteligência artificial.

Como se sente um neurónio de uma loira?
Profundamente só.

O que um homem deve fazer para se casar com uma loira?
Basta ele dizer que ela está grávida. No que ela irá perguntar: "Tem a certeza de que é meu?".

Porque uma loira fica feliz quando consegue montar um quebra cabeça em dois anos?
Porque na caixa dizia: dos 8 aos 80 anos.

Sabe quando uma loira tem dois neurónios?
Quando está grávida. De gémeos.

Como é que se derruba uma loira que está dependurada numa árvore só com uma mão?
Basta acenar para ela.

Como é que seria uma lanterna se fosse inventada por uma loira?
Funcionaria à base de energia solar.

Qual é a diferença entre uma loira burra e uma inteligente?
Na escola, a loira burra copia o que o professor escreve no quadro negro e depois apaga o texto quando o professor apaga o quadro. A loira inteligente nem copia, pois sabe que depois terá de apagar.

Porque as piadas de loiras são tão curtas?
Para que as morenas possam entender.

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"Hay gobierno?"


Não sei quem inventou a frase, mas adoro a expressão Hay gobierno? Soy contra!
O cidadão, via de regra, tem esta mania de querer derrubar o governante no exacto instante seguinte do fim da contagem dos votos numa eleição.
Na verdade, ninguém gosta dos poderosos.
Porque a existência de quem governa remete directamente para a lembrança de que somos governados.
Tendo em vista o recente congresso do PS, o tema veio me à cabeça.
Não que seja contra este governo em específico (muito pelo contrário) mas porque se até me defino como um tipo de centro esquerda (seja lá o que isto quer dizer), na verdade sempre preferi (em tese) a anarquia à democracia.
O único problema da anarquia é que é o sistema mais anárquico que existe. Fora isto é perfeito.
Penso que o meu Tio Olavo partilha mais ou menos das mesmas opiniões.
Fui falar com ele.
E o velho, recorrendo se da sua infinita colecção de citações, deu me as seguintes declarações:

Tio Olavo, defina me o que é um governo.

Há três tipo de governo: o que faz acontecer, o que assiste acontecer e o que nem imagina o que está a acontecer.

E como é que um governo chega ao ponto de não saber o que está a acontecer no país?

Meu filho, o maior défice de certos governos situa se entre as orelhas dos seus governantes. Então está claro que um governo será tanto melhor quanto mais conseguir ouvir a opinião dos outros.

Em teoria sim, na prática tenho as minhas dúvidas. A orelha não é um órgão pensante. É preciso que o que seja dito também faça algum sentindo. Veja o caso de Portugal, por exemplo. Se conversa mole fosse avião, este país teria a maior frota aérea do mundo.

Isto quer dizer que dependemos da inteligência dos políticos. Também não vamos exagerar. Os governos dependem mais ou menos dos políticos, assim como o tempo depende mais ou menos dos meteorologistas.

Já que estamos a falar de inteligência, há quem diga que no Congresso do PS havia quem tivesse apenas dois neurónios (e que nunca foram apresentados um ao outro).

É verdade que em todos os congressos partidários há sempre a presença de alguns idiotas. Mas os idiotas constituem uma boa parte da população de qualquer país e merecem ser bem representados.

Prefere governos de direita ou de esquerda?

O poder é como o violino. Toma se com a esquerda e toca se com a direita.

Considera se uma pessoa conservadora?

Não.
Um conservador é um homem que nasce com duas excelentes pernas mas que nunca aprende a andar para a frente.

Em todo o mundo, as oposições estão sempre a pedir para os governantes gastarem menos. O que pensa disto?

Querer convencer os governantes da necessidade de cortar verbas é a mesma coisa que tentar explicar o significado do Natal a um peru.

Lembra se de alguma história engraçada relacionada a um governo?

Recordo me do discurso de um antigo presidente brasileiro que ao assumir o seu segundo mandato declarou: "Quando assumi, quatro anos atrás, estávamos à beira de um precipício. Desde então demos um grande salto adiante."

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"Workhaolics"
Amanhã é o Dia do Trabalhador.

Coerente com a data, também é um dia para não se fazer nada.
A verdade é que pelo facto de cair numa terça feira, hoje (segunda) é um dia que não existe.
O hoje nacional não passa de pura ficção. Metade do País viajou. A outra metade anda por aí a fingir que está a fazer alguma coisa.
Com a catadupa de feriados que estamos a ter, há quem já tenha ido para o Algarve e só volte em Setembro.
Não sei qual é o impacte disto na vida económica nacional, mas se um marciano aterrasse em Portugal pensaria que neste País ninguém trabalha.
Como dizia o Padre António Vieira: "Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos."
Pelo visto, a maioria das pessoas que conheço preferem "durar" até a eternidade.
Já Albert Einstein tinha a seguinte teoria: "Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada."
Preocupado com o tema, fui conversar com o meu Tio Olavo.
O velho, ajudado por sua colecção de máximas e citações, deu me as seguintes declarações:

Tio Olavo, o que pensa a respeito do trabalho?
As pessoas fazem coisas horríveis por causa de dinheiro; inclusive trabalhar.

É só isto: uma questão de dinheiro?
Meu filho, o dinheiro não tem a mínima importância desde que se tenha muito.

Mas nem toda gente que trabalha fica rico.
Para fazer fortuna, não é necessário ter talento; basta não ter correcção. O trabalho é honesto; mas há outras ocupações muito menos honestas e mais lucrativas.

Que virtude é necessária para uma pessoa ter sucesso?
Não se preocupe com isso. Primeiro ganhe dinheiro; a virtude vem depois.

Não sei se concordo.
Sempre acreditei naquela máxima que diz que "só existe um lugar no mundo onde a palavra sucesso vem antes da palavra trabalho: no dicionário."

Pode ser.

Mas para isso não basta ser bem sucedido.
Os outros também precisam fracassar.

Qual o melhor tipo de trabalhador?
Bem, eu nunca gostei de pessoas que trabalhassem comigo e concordassem com tudo. Sempre preferi pessoas corajosas que não tivessem medo em contradizer me, mesmo que eu tivesse que despedi las por isso.

Era um chefe um bocado duro, pois não?
Nunca me considerei chefe de ninguém. Era apenas um companheiro de trabalho que tinha sempre razão.

Que conselho daria para os trabalhadores deste País?
Nunca fiquem até tarde na cama. A não ser que seja lá que ganhem o seu dinheiro.

Para finalizar, qual é pior tipo de trabalho?
Pensar é o trabalho mais duro que há.
Deve ser por isso que tão pouca gente a fazê lo.

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Parvoíces

De todas as características da alma humana a que mais me encanta é a estupidez.

Sim, porque a inteligência tem limites.

A imbecilidade, não.

O imbecil está em todos os lados, diria mesmo que está dentro de toda gente.

Quem é que nunca fez algo de estúpido na vida?

Todos os sábios têm sempre dentro de si um idiota, louco para sair para fora.

0 grande escritor Nelson Rodrigues dizia: "Cuidado com os idiotas, eles vão herdar o reino dos céus."

Fui perguntar ao meu Tio Olavo o que pensa do assunto.

Ele consultou a sua extensa lista de citações e deu me as seguintes respostas:

Tio Olavo, acha a humanidade tola como um todo?

Se existisse apenas um tolo, ele teria prosperado.

Mas há quem não seja idiota.

Costumo dizer que toda gente é estúpida. 0 segredo do sucesso é apenas ser um bocadinho menos idiota que os outros.

Dá para quantificar os imbecis que há no mundo?

Milhões, biliões, zilhões.

Se os idiotas voassem, jamais veríamos o Sol. Mesmo os sábios, os filósofos, os intelectuais, a maioria deles é corno os espelhos: reflectem sem pensar.

A culpa de as pessoas serem tão estúpidas está relacionada com o sistema de ensino?

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Nunca deixei que o período que passei na escola interferisse na minha educação.

Vê alguma solução para isto?

Claro que não. Em terra de cego, quem tem olho nunca é visto.

Por esta ordem de ideias, começo a acreditar que sou também um idiota.

Bem, é sempre bom acreditar em alguma coisa.

Não tem medo de estar a cometer um erro de abordagem?

Não creio.

Que eu me lembre, só uma vez achei que errei, mas estava errado.

Há quem irá ficar chateado com as suas opiniões.

Não quero que as pessoas concordem comigo.

Isso poupa me o trabalho de ter que gostar delas.

0 senhor é como aqueles tipos lá do "Big Broter": demasiado frontal.

Meu filho, se eu tivesse duas caras, acha que eu estaria a usar esta.

De qualquer maneira, o senhor não está a ser muito diferente dos outros. Os seus raciocínios estão a ser um pouco rasos.

Pode ser, adoro ser uma pessoa profundamente superficial.

Aliás, a minha filosofia de vida é muito simples: encha o que estiver vazio.

Esvazie o que estiver cheio'

E coce sempre que sentir coceira.

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Politiquices

Platão já dizia que não há nada de mais em não gostar de política, desde que também não se incomode em ser governado por aqueles que gostam.

Confesso que a política não é o assunto que mais me empolga, mas em respeito aos interesses dos meus leitores (todos os dois) fui procurar ao meu Tio Olavo e saber a sua opinião sobre os políticos e a política em geral.

O resultado da conversa foi este:

Tio Olavo, o que acha das crises internas pelas quais passam todos os partidos?

Na política não existem amigos, apenas conspiradores que se unem.
Os ódios comuns são a base das alianças.
De qualquer forma, acho que boa parte das confusões poderiam ser evitadas.
Mas o que fazer.
Os políticos são seres humanos (embora haja quem esteja a pedir provas científicas disso) e, como sabe, só existem duas coisas infinitas: o universo e a tolice humana.

E a crise da justiça, o que tem a dizer?

As leis e as salsichas, é melhor não descobrir como são feitas.
Como sabe, na maioria dos tribunais um homem é presumido culpado até que se prove ser influente.

Acha que estas crises são para ficar?

Meu filho, na vida, fora o motorista, tudo é passageiro.

Há quem diga que há uma conspiração secreta entre os vários "lobbies" contra o Governo.

Não acredito nisto.
Não há coisas secretas em Portugal.
Neste País, só há uma maneira de três pessoas manterem um segredo: com duas delas mortas.

Acha que um político pode ser vendido como um sabonete?

Comparar um político com um sabonete é de certeza uma ofensa aos políticos e nalguns casos aos sabonetes.

0 que acha do líder da oposição?

Acho o Manuel Maria Carrilho um homem muito inteligente.

Não, Tio, estou a falar do Durão Barroso.

Quem?

Esquece, esquece. Mudando de assunto, o senhor está optimista corri o País?

0 optimista não passa de um pessimista mal informado.
Sou um realista, ou seja, não enfrento a realidade.
Mas, já que pergunta, sim, estou optimista, acho que o Benfica ainda tem hipóteses no campeonato.

Concorda que os media amplificam demasiado as tricas dos políticos?

Os media esquecem que na maioria das vezes um pepino é apenas um pepino.
Daí que apareçam tantas interpretações sobre frases e actos completamente menores.

E o que acha disso?

Eu não acho nada.
Mas se achar, devolvo.

Daria que conselho ao Paulo Portas?

É impossível um homem aprender alguma coisa quando acha que já sabe tudo.

E ao Santana Lopes?

Um bom político deve saber encantar mais o homem comum do que as mulheres incomuns.

Teria alguma sugestão a fazer ao Governo?

0 Governo deveria ter em mente que o importante é o principal, o resto é secundário.

e mail: eathayde@lisbon.fcb.com
Tio Olavo foi dono de um circo de
pulgas e é reformado pela EDP

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 Conversas com o meu Tio

1 Para começar, como manda a boa educação: muito prazer, eu sou o Edson Athayde. Não sei se me conhece (o que é sempre bom perguntar, pois até eu ando a me conhecer cada vez menos), mas, por algum motivo estranhamente obscuro, a direcção deste jornal entendeu que eu deveria preencher este espaço todas as segundas com as minhas ideias. Como não tenho muitas (as poucas que tinha tive de as vender no mês passado na Feira da Ladra para pagar uma antiga dívida de jogo num casino chinês, mas esta é outra história), resolvi socorrer me do meu Tio Olavo, um senhor muito sábio e que tem opiniões claras a respeito de tudo.

0 meu Tio é um coleccionador de frases, provérbios e citações. Muito do que ele diz, na verdade, já saiu da boca de outros. Pode se dizer que é um especialista em reciclar ideias.
0 que até é uma coisa um bocado ecológica. Ou como diria o meu Tio Olavo: "Grandes ideias são tão dificeis de nascer, tão frágeis, tão fáceis de matar... Não se esqueçam disto, todos vocês que nunca tiveram uma."

2 Os media têm na ordem do dia o comportamento dos media. A imprensa escrita acusa a imprensa televisiva de superficialidade e histeria. Já a imprensa televisiva acusa a imprensa escrita de superficialidade e anacronismo. A imprensa escrita e a televisiva acusam a imprensa online de superficialidade e ponto final. Na prática, temos mais um debate estéril e desinteressante que só ajuda a atrapalhar a imagem da imprensa em geral. Em vez da notícia, temos a discussão sobre quem melhor dá a notícia, quem é o dono da notícia, quem deturpa mais a notícia. Fui perguntar ao meu Tio Olavo o que ele pensa do assunto:

"Tio Olavo, o senhor não acha que há gente de mais a dar opiniões nos jornais e na TV?"

"Em Portugal, toda a gente é treinador da selecção, programador da RTP e líder de opinião. Um pouco de contenção seria o ideal. Às vezes é melhor calar se e deixar que as pessoas pensem que você talvez seja um idiota do que falar e acabar com a dúvida."

"É um problema do País ou do mundo?"

"Não sei responder. Mas uma coisa é certa: as pessoas duvidam de tudo o que seja dito em português."

"E o que pensa das entrevistas na TV, onde o entrevistador parece pouco interessado no que diz o entrevistado?"

"Ele não parece, na verdade não está. Vamos ser sinceros, ninguém quer ouvir o que quer que seja de ninguém. As pessoas passam a maior parte do tempo a abanar a cabeça, à espera de que o outro pare de movimentar os lábios, que é a sua deixa para começar a falar. Estamos todos cada vez mais autistas. Mas é bom lembrar: dois monólogos não fazem um diálogo ... "

"Mas, Tio ... "

"Cale se! Não fale comigo enquanto estou a lhe interromper!"

"Mas é que eu gostaria de mudar de assunto. Pelos vistos, é daqueles que preferem os jornais à TV"

"É verdade, começo o dia a ler os jornais. As boas notícias podem ser dadas a qualquer hora, porém as más devem ser dadas pela manhã."

"0 que diz das pessoas que fazem tudo para aparecer nos media?"

"Para aparecer nos media, há assassinos que até assassinam"

"E o que acha da acusação de que os jornais estão cheios de lugares comuns?"

"Não se deve falar mal dos lugares comuns. São precisos séculos para produzir um."

"Porque cada vez que a imprensa começa a criticar a imprensa, a coisa sempre acaba em bate boca?"

"É natural. Só há três coisas que nunca vi na minha vida: cabeça de bacalhau, enterro de anão e quem goste de ouvir criticas"

"E quem o senhor pensa que é para criticar os outros?"

"Frequentemente tenho longas, conversas comigo mesmo, e sou tão inteligente que algumas vezes não entendo uma só palavra do que estou a dizer."

"Tem algum conselho que possa ajudar ao debate?"

"Sim. Amigos, pensem sempre duas vezes antes de dizerem nada."

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