Tio Olavo 8
por Edson Athaíde
 

 

Quanto vale uma vírgula?

1. Com a evolução da web, uma questão há muito esquecida está a voltar à baila: pode um site de conteúdos exigir dinheiro para ser visionado?

Poucos sites no mundo vendem os seus conteúdos. E muitos dos que tentaram não conseguiram vender nem uma só vírgula. Até agora está a valer a máxima de que ninguém quer pagar para ler (ou ver ou ouvir) o que quer que seja na Intemet. Mas há quem duvide que as coisas fiquem assim para sempre.

Cada vez mais fica provado que o dinheiro da publicidade não é o suficiente para financiar projectos de fôlego na web. E com o aparecimento dos portais (portais verticais relacionados com um tema ou grupo de interesses), criados por todo o tipo de empresas para atrair a atenção dos consumidores para os seus produtos e serviços, o dinheiro disponível para a publidade digital toma se cada vez menor.

Junte se a isso a grande indiferença que os intemautas relegam aos banners publicitários e a coisa fica ainda pior.

Como resposta a esses problemas, muita gente está a voltar a pôr na mesa a questão do pagamento para visionamento. De resto, os sites pornográficos acabam por dar uma grande lição sobre esse assunto. Não se engane, a pornografia é a indústria de conteúdos que mais cresce na web. E é a única que assume que não há almoços grátis.

Não deixa de ser curioso que o mais antigo negócio do mundo acabe por apontar direcções aos visionários da web. Poderíamos dizer, parafraseando Karl Marx, que a história realmente sempre se repete.

2. Prepare se, «privacidade» vai ser a grande palavra dos próximos tempos. Tudo o que se passa na web passará pela garantia de sigilo e segurança. A verdade é que ninguém gosta de ser bisbilhotado. Nem de saber que os seus dados pessoais andam a passear por aí pelos departamentos comerciais de várias empresas. Prova disso é o aparecimento de companhias como a PrivaSeek (www.provaseek.com), especializada em tecnologias que protegem a recolha de dados dos internautas. Mais cedo ou mais tarde, todos os sites vão ter que publicitar que protecção estão a dar a quem passeia, compra ou cadastra se neles. Mais que uma tendência, estou a falar de uma realidade. A festa dos dados pessoais está para acabar.

3. Alguém percebe o que realmente está a acontecer com a Microsoft? Afinal, os tipos vão mesmo ter que dividir a empresa? Ainda há esperanças de que isso não ocorra? E se ocorrer, quem é que vai ficar a ganhar com isso? Por mais que leia sobre o assunto, menos compreendo. A verdade é que os orgãos de comunicação não colaboram muito. Primeiro vaticinam que a divisão será irrevogável. Depois, dizem que não. Depois voltam a dizer que vai ser. Como não estamos a falar de uma empresa comum, gostaria que alguém me explicasse melhor as coisas. Ou sou eu que sou muito burro (uma possibilidade que não deve ser descartada) ou realmente há muito fumo a sair desta fogueira.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Dizem as más línguas que o Word e o Explorer já não dividem o mesmo tecto."

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Sapos e dinossauros

Não sou eu que estou a dizer, é a revista Time desta semana, logo, deve ser verdade. As agências de publicidade tradicionais estão cada vez mais parecidas com os dinossauros. Pelo menos na opinião de um já imenso exército de ex publicitários, ex marqueteiros, ex qualquer coisa, que migraram da chamada velha economia para a (também chamada) nova economia.

O tema é amplamente debatido no artigo "And land goes cyber". O foco é o de sempre: as grandes agências de publicidade estão estruturadas de uma maneira altamente burocrática (ou "burocrática", como gosta de dizer um amigo meu) e sem a agilidade necessária para um mundo que anda cada vez mais em alta velocidade. Pode ser verdade. Pode ser que não. Realmente, as grandes agências demonstram uma notável inabilidade em se adaptar aos novos formatos de comunicação. E pensam, via de regra, que tornar se digital é apenas uma questão de colocar uma placa na porta de uma sala e criar um novo departamento ou empresa associada (muito parecido com o que no passado fizeram, com péssimos resultados, com as disciplinas do marketing directo, design e relações públicas). A diferença é que quem paga a conta (ou seja, os clientes) não está a querer ir nessa cantiga.

O que o artigo da Time destaca é que o ruído provocado pelo aparecimento exponencial de pequenas agências virtuais começa a preocupar os gigantes da Madison Avenue.

Aparentemente, há cada vez mais grandes companhias a apostarem no talento e competência de quem pensa cyber todos os dias. Um bom exemplo disso é a agência StrawberryFrog (www.strawberryfrog.com), uma empresa canadiana com sede em Amesterdão (até geograficamente os tipos são anormais). Os tipos defendem que são capazes de fazer publicidade multicultural, baseada nos valores presentes e divulgados através da Web. Defendem também que aquele velho bullishit de que só as grandes agências conseguem dominar o know how de como fazer publicidade foi para o lixo. Faz algum sentido. Ainda vão existir durante um tempo marqueteiros capazes de comprar uma agência apenas pelo paleio que conseguem desenvolver numa apresentação, apesar de o produto criativo da tal agência ser uma grande nódoa. Mas isto tem os seus dias contados.

Tal como na teoria da evolução das espécies, sobreviveram os mais ágeis, os mais competentes, os que tiverem a melhor capacidade de adaptação e não necessariamente os maiores e mais fortes.

Não sei se não passa de banha da cobra, mas se olharmos o livro da missão da StrawberryFrog encontraremos coisas extremamente inteligentes e defensáveis, como, por exemplo: "Nós somos seres humanos... e toda gente merece divertir se e gozar a vida"; "As ideias podem vir de qualquer lugar"; "Confie nos seus instintos"; "Não temos que ser grandes, temos que ser rentáveis"; "Ninguém é grande o suficiente para ser independente de todos os outros... nenhum de nós é mais esperto do que todos nós juntos".

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Você é grande, mas não é dois."

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"E política"

Há coisas que conseguem ser menos do que são. O marketing político em Portugal, por exemplo. Há muita parra e pouca uva nessa área. Há mais mistificação do que realidade. Falo isso com conhecimento de causa. Há anos que exerço nas horas vagas uma coisa vagamente parecida com o marketing político. Não tenho nenhuma vergonha em afirmar tal coisa. Os factos são o que são. Para se fazer marketing político é preciso a utilização de variadas (e caras) ferramentas de análise, que passam por um bocadinho mais do que levantar o dedo para o ar e sentir para onde vai o vento.

E se Portugal ainda mal entrou na era do marketing político analógico, fico a pensar o que irá acontecer (daqui a poucos anos) quando a política digital estiver plenamente implantada.

A semana passada tive a oportunidade de reflectir sobre o assunto ao participar de um debate sobre a e política (num seminário promovido sobre o tema pelo ISCM). Para uma plateia de jovens (uma boa parte deles perfeitamente despolitizada) técnicos, publicitários, politicos e jornalistas cruzaram ideias sobre o futuro das novas tecnologias e a sua relação com a nossa boa e velha democracia ocidental. Resultado: Internet, 10 classe política, O.

Tendo em vista a revolução que já está a decorrer no comércio, na indústria e no comportamento social em geral, devido à difusão das tecnologias de informação, fica se com a sensação de que os partidos portugueses estão muito atrasados. Que estão (mais uma vez) a perder o barco da história. Que não percebem (por miopia ou preguiça) a importancia que a web pode ter no seu relacionamento com os eleitores.

Não interessa a desculpa de que a Internet ainda não está dentro da casa da maioria dos portugueses. Isso é conversa para boi dormir. Daqui a pouco, a Internet vai estar dentro da casa de toda a gente. E só vai saber utilizar esse meio de maneira eficaz (nos primeiros tempos) quem avançar desde agora.

Fazer política na Internet não é ter um site com meia dúzia de informações sobre o partido. Fazer política na Internet é ter a consciência de poder lidar directamente (numa lógica de marketing político one to one) com cada um dos eleitores.

Para se ter uma ideia, o ano passado, durante as primárias americanas para a escolha dos candidatos à presidência dos EUA, alguns candidatos tinham nos seus sites mecanismos de utilização fácil, onde os visitantes poderiam fazer simulações de quanto pagariam de impostos se aqueles candidatos vencessem. Ou seja, o eleitor poderia saber exactamente o que aconteceria com o seu bolso se optasse por esse ou aquele candidato. Digam o que disserem, democracia também é isso aí.

Aqui na aldeia a procissão ainda não vai nem no adro. E, em vez de investirem algumas coroas a desenvolverem projectos de marketing digital, os partidos ainda preferem os números de circo dos congressos e convenções. É por isso que falam cada vez mais sozinhos. Circo por circo, o Chen é mais divertido.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Os partidos nunca aprendem. Só os eleitores."

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A solucionática

O pacato cidadão pode até não perceber, mas muito do que se faz por aí pela Internet não passa de uma isca para apanhá lo. Não estou a falar de criminosos que querem descobrir o número do cartão de crédito, estou apenas a comentar o facto de que quem navega pela Web vai deixando um pouco por todo lado sinais do seus gostos, desejos e ansiedades.

A batalha do marketing do futuro (ou seja, daqui a pouco) será totalmente travada através de três letrinhas: CRM (costumer relationship marketing).

O CRM significa a convergência de várias coisas. Por um lado, é uma nova maneira de trabalhar as bases de dados. Por outro, tende a ser um programa de controlo de custos, orientador de gestão, ferramenta logística nas áreas de produção e distribuição. Mas, dentro de uma visão de marketing, o CRM poderá ser uma grande arma de definição dos comportamentos dos consumidores.

Ou seja, o fulano cadastra se num site, faz compras, pede informações. Na verdade, o tipo vai definindo a sua própria personalidade enquanto consumidor. Se houver um bem feito cruzamento desses dados, temos a perfeita caracterização do seu perfiL A partir daí, cada escudo gasto na tentativa de vender coisas para ele pode ser mensurado ao detalhe.

Boa parte daquilo que se diz sobre o marketing one to one tem a ver com isso. Aliás, para que um dia o marketing one to one possa realmente existir terá de ter tudo a ver com isso.

A lógica comercial e industrial dos próximos tempos passará pelo CRM. A questão será aumentar a rentabilidade da empresa pelo conjunto de vendas para um mesmo cliente. O importante será cativar por um prazo alargado o número de compras de cada consumidor. Produzindo na quantidade exacta da possibilidade de vendas e não ao contrário.

O problema dessa fabulosa utopia é o mesmo de sempre: em vez de os responsáveis pelas empresas perceberem que tudo não passa de uma questão humana, acreditam que basta comprar meia dúzia de máquinas e um pacote de softwares que a coisa está resolvida. Um boa parte dos programas de CRM que começam a ser implantados um pouco por todo o mundo tem como ponto de partida (e de chegada) a construção de uma base numérica e científica sobre os consumidores. Daí a contratar bons analistas para destrinçar essa base numérica, nem pensar. E em vez de o CRM ser usado para entender o comportamento do consumidor, passa a ser apenas mas um conjunto de dados só percebidos por financeiros, engenheiros e informáticos.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Não me venham de problemática que eu ataco de solucionática."

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Inomináveis

Uma das primeiras coisas que mais me chamou a atenção em Portugal quando cá cheguei foi a maneira simpática e ingénua com que eram dados os nomes às empresas. Bastava apanhar uma auto estrada e ver a profusão de "Ferreiras & Irmãos" ou de "Baptistas & Filhos". Longe da lógica do marketing, onde a marca é tudo, os donos dessas empresas (que ainda existem por aí) queriam deixar claro que se tratavam de projectos familiares e pcssoais. Como um clã, um império ainda a começar. Consequência directa disso é o desporto nacional de confundir os grandes grupos empresariais com os nomes dos seus fundadores.

Falo tudo isso para lembrar a importância do nome para uma empresa. Não sei se já teve a oportunidade de abrir o seu próprio negócio, mas se teve sabe bem do que estou a falar. Baptizar um projecto é um processo tão ou mais doloroso do que escolher o nome para um filho. É que o filho (desde que não o chame Emengardino ou Rispoleta) pouco ou nada terá a dizer sobre a sua escolha. Passarão anos até que ele possa declarar algo sobre o assunto. E aí já será tarde de mais.

Já com relação a uma empresa o processo é diferente. Toda a gente que conhece (da sua mãe ao papagaio da vizinha) vai querer dar o seu contributo, a sua opinião. Além do mais, o nome escolhido terá que passar pelo teste de mercado. Será que ele é bom o suficiente para agradar e agarrar o consumidor?

Pois bem, se esse processo nunca foi pacífico, com o advento da Internet ficou ainda mais complicado. Hoje em dia, é quase inconcebível abrir um negócio sem abrir um site em simultaneo. O problema é que para se ter um site é preciso ter um nome e um endereço na Internet. E é aí que mora o busílis da questão.

Tente fazer uma busca de nomes na Internet. Vai descobrir que quase todas as palavras (ou combinações de palavras) com algum sentido lógico já estão registadas. O seu negócio é ligado à telefonia? Nem pense em usar os radicais "tel" ou "fone". Nem em português, nem em inglês. Não terá sorte nenhuma. Como também não terá sorte com nenhum outro radical de uso comum.

Daí o aparecimento sistemático de empresas com nomes estranhíssimos como "Zunga", "Blip Blop" ou "Acaratchanca". Está bem, estábem, a coisa ainda não é assim tão comum em Portugal. Vai ser, aposto. É o que está a acontecer já a algum tempo em países como os EUA ou o Brasil.

Outra questão relevante é ser identificado com alguma facilidade entre o universo da empresas com presença na Web. Queiram ou não, a Internet é o território do imediatismo. Um nome para ser bom dentro dos critérios ponto com deve ser forte, sonoro, marcante. Ou seja, não precisa ser necessariamente lógico (se for, melhor) mais fundamentalmente fácil de memorizar.

A propósito desse tema, a revista americana Business 2.0 de Maio traz um interessante artigo sobre companhias que tiveram que mudar de nome para se destacarem dentro do ruído da Web.

Lá encontramos os casos da empresa Total Entertainment Network que mudou de nome para Pogo.com, da Dow Jones Reuters Business Interactive que tornou se simplesmente na Factiva ou da Computer Litarcy que virou Fatbrain.com.

Todas essas empresas tiveram que ser rebaptizadas para serem melhor percepcionadas, para que os seus nomes pudessem contribuir como uma arma na arena do marketing.

Aqui pela aldeia a coisa tende a ir por esse caminho. Não estranharei se dentro de alguns meses empresas da economia tradicional tiverem que ser renominadas na sua passagem para o ambiente digital.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Há certos nomes por aí que são simplesmente inomináveis."

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Macrosoft

A notícia da semana é, obviamente, o caso Microsoft. A não ser que você seja extemamente distraído, ou esteve os últimos dias no planeta Marte, deve saber que o governo americano decidiu desmantelar o império de Bill Gates em duas empresas, ao fim de uma longa e difícil batalha judicial. A coisa ainda não é definitiva, a Microsoft já avisou que vai recorrer, mas so por um mlagre pode haver um volta face.

Como qualquer ser humano, tinha medo do gigante Microsoft. Mas como qualquer marqueteiro, não posso deixar de achar a decisão do governo americano extremamente injusta. A Microsoft é o ícone máximo da era do marketing. Ninguém na história conseguiu ser tão competente a compreender e implementar os conceitos da ciência que é a mercadologia. Cresceu pela própria capacidade de acertar ou corrigir os seus erros. Ganhou dimensão a vender o que fazia. Se não fosse assim, teria falido e desaparecido na poeira dos dias.

Não vou entrar no mérito da questão sobre a sua atitude com relação aos seus concorrentes. Até onde eu sei, ninguém está no mercado para favorecer a concorrência. Talvez os tipos tenham realmente exagerado na sua agressividade comercial. Mas nem aí encontro nenhum dolo real ao consumidor.

Ainda é cedo para compreender o que realmente irá acontecer com a Microsoft. Mas tenho um palpite: depois de alguma movimentação indesejado no barco, o capitão Bill (com a ajuda dos milhares de profissionais competentes que a Microsoft tem espalhados um pouco por todo o mundo, inclusive Portugal), vai controlar a situação e transformar a Microsoft naquilo que é hoje em dia, ou seja, um empresa gigante, poderosa e plena de sucesso.

As leis dos tribunais devem ser sempre seguidas. Mas existem leis mais fortes do que a da gravidade e a do mercado.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Dentro em breve, o mundo vai conhecer o novo Bill Gates. Por coincidência, o nome dele é Bill Gates."

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Rugas na alma

Empapuçado pela responsabilidade de escrever qualquer coisa sobre os 500 anos da descoberta (ou achamento, vá lá) do Brasil, não pude na semana passada dedicar a minha crónica a um tema realmente importante do ponto de vista político, filosófico e social, ou seja, o meu aniversário.
Fiz 34 anos há pouco tempo. "34 anos não é pouco e não é muito, é o suficiente", disse me um amigo. Estou a tentar compreender até hoje o que ele queria afirmar com lSSO.
Quando se é jovem, há sempre a desculpa de que ainda virá muita coisa pela frente. Por isso, podemos cometer todos os erros, passear alegremente no território da irresponsabilidade, promover a nossa incoerência, enfim, viver com um bocadinho mais de graça.
A velhice tem pontos de contacto com isso. Também ao velho é permitido mais liberdade. O velho pode sempre desdizer toda a sua vida, com a desculpa de que amadureceu. Quantos doces velhos não foram ao longo da vida tiranos irascíveis? E quantos velhos sábios não foram durante décadas soberbos idiotas?
Já nós, os de meia idade, não temos safa alguma. Ou somos bons como somos ou somos péssimos em toda a linha.
Ter a idade suficiente quer dizer que não nos podemos desculpar de nada. O mundo inteiro está de olho na gente, não nos devemos esticar.
O pior é que a coisa chega de fininho. Outro dia, ainda era um tipo que podia gozar com os meus próprios defeitos. Hoje, não, tenho de ter orgulho deles. É suposto, inclusive, promovê los. Afinal, terei de conviver com eles até chegar o sublime período da senilidade.
Mas qual é o real significado de ter 34 anos nos dias que correm? É, por exemplo, ainda ter sonhos eróticos com a Rachel Welch. É ainda ter retido numa gaveta qualquer da memória um golo do Pelé, assistido em directo pela TV. É saber quem foi que matou a Odete Roitman. É ser capaz de solfejar uma música qualquer dos Bee Gees. É ter escondida no armário uma calça à boca de sino amarelo ovo. É lembrar um Paul Newman que ainda dava para as curvas. É recordar um tempo em que, quando se dizia que íamos ver "o último do Fellini", não estávamos a ser tão literais.
Quem tem hoje 34 anos assistiu ainda miúdo ao desaparecimento dos ícones das eras anteriores. Viu morrer Chaplin, Elvis, Lennon e a moda da minissaia. Em contrapartida, viu nascer coisas maravilhosas como a televisão a cores, a videocassete, o telemóvel, o microndas, o silicone da Pamela Anderson e o bíquini fio dental.
Quem tem 34 anos é jovem de mais para morrer e velho de mais para o rock'n' roll (como se alguém em pleno ano 2000 ainda fizesse rock'n'roll). Daqui para frente, sei que terei de conviver com uma cada vez mais protuberante barriga, terei de começar a dizer adeus aos meus cabelos e sonhar com a hipótese de que, já que fui um jovem feiinho, pelo menos serei um coroa enxuto.
Os filhos dos meus amigos mais jovens tratam me por senhor. As filhas dos meus amigos mais velhos tratam me por tio. Sou apresentado em reuniões como doutor. Já não sou mais um rapaz, passei a ser um aglomerado de epítetos.
Mas também há coisas boas. Já posso fumar um charuto e beber um copo de whisky sem parecerum puto ridículo. Também posso reclamar da minha úlcera (como se eu tivesse alguma úlcera) com alguma credibilidade. Posso utilizar no meu discurso expressões como "no meu tempo" e palavras como "alvíssaras", "homessa" e "outrora", que ninguém vai achar estranho. Enfim, um sem número de vantagens.
Com a idade que tenho não preciso preocupar me mais em mudar o mundo, ser rebelde, acreditar na humanidade. Agora posso dedicar me a coisas realmente palpáveis e relevantes como aprender a jogar golfe e preparar me psicologicamente para a minha primeira lipoasplração.
Sabe aquela velha história do copo de vinho meio vazio ou meio cheio? É isso: ter a idade suficiente é olhar para o copo e não saber o que ele quer dizer. Na dúvida, vou pedir ao empregado que me traga mais uma garrafa.
Ou como diria o meu Tio Olavo, quando perguntado se não pensava em fazer uma cirurgia plástica: "Por favor, deixem em paz as minhas rugas. Levei anos para consegui las."

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Ligeiramente grávido

No limite, tudo na vida será "pontocom". Basta . olhar para os lados para perceber a rapidez com que as coisas entram na era digital. Outro dia, estava a ver as capas das revistas numa banca de jomal e reparei (estupefacto) que em quase todas havia referências à Internet. Inclusive numa publicação feminina (dessas que explicam as razões do orgasmo e esclarecem que a virgindade não provoca cancro), havia uma chamada de capa a promover o artigo: "Como comprar na Web de maneira segura."

Estive no final do ano passado numa pequena aldeia no interior da Baía (que faz parte do interior do Brasil, que faz parte do interior do mundo). Já haviam várias tascas a destacar nos seus cartazes que, além de terem caipirinhas, tinham também páginas na Internet.

Quando uma vila de pescadores entra na Web, pouca coisa mais falta entrar.

Quem tem a oportunidade de viajar para lugares como Londres, Nova Iorque e São Paulo sabe com maior rigor o impacte da coisa. As três letras mágicas "www" estão penduradas em todos os sítios, aparecem nos lugares mais improváveis, estão ligadas às coisas mais prosacas do mundo.

Fulano vai à igreja e no fim da missa o padre avisa que o sermão do dia está disponível na Web. Beltrano entra numa livraria e na caixa é surpreendido com o conselho da funcionária que, se quiser comprar livros, o melhor é visitar as páginas da livraria na Net. Cicrano ouve um CD em casa do amigo e gosta tanto da música que pede para usar o computador só um minutinho para comprar um disco igual na Amazon.

As coisas cá no burgo também avançam. Ainda não entramos em total histeria, mas para lá caminhamos. Como diz o povo: ninguém consegue ficar ligeiramente grávido. Ou se está ou não.

E a verdade é que Portugal, como o mundo, está gravidíssimo. E prepara se para parir a sua entrada definitiva numa nova era.

Existem por aí milhões de livros a ensinar como estar na Intemet. Manuais de como fazer web pages há centenas de milhares. Mas há um livro que outro dia estive a ler e que recomendo, por ser diferente da maioria. Chama se Web Pages That Suck e mostra todos os erros que se podem cometer ao criar se uma página na Intemet. O livro foi escrito por dois divertidíssimos americanos, Vicent Flanders & Michal Willis (publicado pela editora Sybex), e tem capítulos como: "Você não é cool o suficiente. Vai embora!", "Toda a gente pensa que o seu site tem conteúdo", "Links que chateiam" ou "Não ponha na sua web page nada que não queira que o mundo inteiro saiba".

O livro é didáctico que se farta, analisa (e arrasa) várias páginas que existem de verdade e aponta caminhos de como agradar aos intemautas. Recomendo o a todos os curiosos da área. E até mesmo para alguns profissionais que, se calhar, estão a cometer erros de palmatória no desenvolvimento dos seus sites.

Ou como diria o meu Tio Olavo: «O bom de aprender com um erro é ter a possibilidade de depois poder cometer erros inteiramente novos."

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Cristo e o publicitário

1 "Para cada medo há um produto." É com esta frase que Rhidian Brook, um jovem autor inglês, abre o seu livro Cristo e o Publicitário (que está a ser lançado, esta semana, em Portugal, pela editora Temas e Debates).

Além de escrever bons livros, Rhidian também trabalha em publicidade. E traça nesse seu quase romance um quadro cínico e irónico dessa actividade.

Não sei bem por que motivo, também sempre tive vontade de escrever um livro de ficção sobre a publicidade. Talvez porque o ambiente dentro de uma agência seja louco o suficiente para servir de base a uma história plena de surrealismos e tensões. Aliás, é esse o espírito da coisa no Cristo e o Publicitário, cujo enredo gira à volta de uns cartazes para uma companhia de seguros ilustrados pela imagem do filho do Criador.

Logo no início do livro, Rhidian define muito bem o que está por detrás da criação de um anúncio. Rhidian escreve: "Precisava de uma boa frase. As palavras certas, pela ordem certa, com o ritmo e a ressonancia certas, podiam significar a diferença entre o sucesso e o fracasso. Ele só precisava de sete ou oito palavras para transformar um banal doce de laranja na mais desejada compota da Terra."

Recomendo vivamente o Cristo e o Publicitário. Nem que seja pelo facto de um dos personagens principais ser um brilhante redactor chamado Edson. É a isso que eu poderia chamar de "uma estranha e feliz coincidência".

2 Já que estou a falar de Cristo e da publicidade, não resisto a contar uma velha anedota que tem tudo a ver com esses temas.

Um dia, o dono da Fábrica de Pregos Baptista decidiu fazer uma grande campanha a promover os seus produtos. Foi até uma agência da moda, fez o seu briefing e teve a garantia do director criativo de que os anúncios seriam extremamente criativos e de grande impacte.

Passadas duas semanas, o dono da fábrica de pregos estava no seu carro a ir para o trabalho e deparou se com uns cartazes de rua a mostrar a fotografia de um Cristo de cabeça para baixo, pregado apenas pelos pés. Nos cartazes, podia ler se: "Se usassem os Pregos Baptista, ele não caía."

O dono da fábrica quase teve um ataque do coração. Foi directo até a agência exigir uma explicação. O director criativo mostrou se supreso com a reacção do cliente. Afinal, tinha feito o prometido: anúncios que chamavam a atenção. Mas o dono da fábrica argumentou que muitos dos seus clientes eram católicos e de certeza não gostariam de ver Jesus Cristo a ser gozado daquela maneira. O director criativo, mesmo a contragosto, aceitou fazer novos cartazes com a promessa de não usar mais a imagem de Cristo. Mas avisou que seriam, ainda assim, peças de grande impacte.

No dia seguinte, o dono da fábrica saiu de casa e viu os seus novos cartazes na rua.

Eram anúncios de grande simplicidade. Onde se viam apenas uma marca de sangue na parte de baixo e uma frase a dizer: "Se usassem os Pregos Baptista, ele não fugia."

Ou, como diria o meu Tio Olavo: "Tenho um acordo com Nossa Senhora de Fátima. Ela não faz anúncios e eu não faço milagres."

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As Leis do Edson

A coisa mais fácil do mundo é ditar regras. Deve ser por isso que praticamente todas as publicações do mundo andam a estabelecer as "leis" para quem deseja ficar rico com (ou na) nova economia. Como não sou alheio a essas coisas, vou também meter a minha colher no assunto. Seguem as "Leis do Edson" para quem quer ser feliz na Web:

1) Não seja parvo. São parvas 90 % das pessoas. Dos 10 % que resta, 9 % são loucas de babar na gravata ou de correr atrás de avião para anotar a placa. Ou seja, apenas 1% tem mais de dois neurónios em pleno funcionamento. E é esta minoria que tem alguma chance de dar certo no que quer que seja, inclusive nos negócios ligados às novas tecnologias. Nem é preciso ser génio. Basta ser menos idiota que os outros.

2) Trabalhe. E triste ter que afirmar isso. Mas ainda não inventaram um negócio onde se pode ganhar dinheiro sem trabalhar. Do céu, amigo, só cai chuva e avião. Para ficar rico na Web, vai ter que levantar o rabo da cadeira e pôr a mão na massa.

3) Seja pessimista. Tudo na vida que tende a dar certo costuma dar errado. E tudo que tende a dar errado com certeza dará. O pessimista nada mais é do que um optimistabem informado. E o único que faz planos altemativos para o caso de as coisas não sairem como o desejado. Num mundo como o da Web, em que tudo é novo e muda do dia para a noite, o melhor é não contar com o ovo dentro da galinha e estar preparado para o pior. E rezar para estar enganado.

4) Tenha humildade. Por incrível que pareça (e por mais injusto que seja), fora a sua mãe, toda a humanidade acha que você não é tão bom como imagina. Todas as manhãs olhe se no espelho e faça uma rigorosa autocrítica. Quanto mais acreditar que é maravilhoso, mais terá chances de enganar a si mesmo e ir de cabeça numa grande furada. A Web está cheia de tipos que investem em negócios que não lembram ao Pai Natal. Gostar de si mesmo é bom. Mas não esqueça que o amor emburrece.

5) Faça as coisas na hora certa. Mais do que em outras áreas, na Web é preciso ter uma fabulosa noção de timing O que ontem era excelente, amanhã pode ser uma grande porcaria. É preciso estar sempre a inventar e a reinventar. A aprender e a reaprender. Entre nos negócios sempre com a certeza de que eles não têm formatos definitivos. E mude o negócio (ou de negócio) com a rapidez devida. Não se esqueça da grande máxima da vida: jacaré parado.vira bolsa.

6) Não seja saloio. A Web é um negócio transnacional. Não há aqui lugar para provincianismos. Os seus concorrentes directos podem não estar do outro lado da rua e sim do planeta. A nova economia nada mais é do que intricado jogo electrónico, com os jogadores sentados em frente a computadores nos quatro cantos do mundo. Tudo é feito numa lógica de reacção em cadeia. Aquela história da borboleta que bate as asas na China e provoca um terremoto em São Francisco, na Web é verdade.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Não tente ser um novo Bill Gates. Nem o Bill Gates quer ser um novo Bill Gates."

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Manual de "start ups" e rumba

Leis, regras, gurus. Cada vez mais a era digital se assemelha à era do marketing (principalmente o período entre meados dos anos 80 e meados dos 90). É natural. O ser humano tem uma infinita capacidade de se sentir inseguro e de necessitar como pão para a boca de magos e iluminados a estabelecer portos seguros.

Mas, como veio a verificar se há alguns anos, boa parte dos autores e profissionais de seminários (tanto em relação ao marketing quanto às novas tecnologias) não passam de divertidos showmen ou charlatões. Há também o caso dos executivos de grandes empresas da área. Se calhar estes são os mais sinceros e também os piores. Só uma alma muito ingénua pode acreditar que o líder de uma grande organização pode ir a um congresso falar todos os segredos da sua companhia, apontar o caminho correcto a seguir (sem se preocupar se na plateia há alguém da concorrência) e não ser despedido no dia seguinte pelos seus accionistas.

Basta passar pela secção de gestão de qualquer livraria para sentir um leve cheiro a esterco. Só a má fé pode explicar a quantidade cada vez maior de livros com títulos impublicáveis como "Matando tubarões na era da Internet", "Querida, ampliei as stock options numa empresa de novas tecnologias", "De baby sitter a presidente de uma incubadora de empresas Web", "Manual para quem quer montar start ups ou aprender a dançar rumba" ou "Seja um empresário de sucesso e um hacker feliz".

OK, estou a exagerar (mas não muito). Há também livros escritos por gente honesta a relatar experiências de grande valor. Como também há publicações que servem como catalisadores de ideias, ajudando a quem já tinha vontade de fazer alguma coisa a ganhar segurança e partir para a luta.

Mas, acredite, como em tudo na vida, as boas coisas não são regra, são excepção. Tenha muito cuidado com tudo o que lê ou ouve sobre a Web. Tente separar o trigo do joio. Tente perceber as reais intenções de todos os gurus.

Não se esqueça que a maioria dos tipos que assinam os livros de gestão nem sequer os lê. Há uma infinita nação de gostwriters, pagos para escreverem platitudes que depois serão assinadas por outros tipos famosos. Há também a tendência para se escrever livros completamente vazios de conteúdo. Ou seja, o autor tinha uma ou duas ideias aproveitáveis e originais. Quando muito dariam para um bom artigo. Mas, em vez disso, elas são esticadas ao máximo, enquadradas com outras nove ou dez completamente inócuas ou sem pés nem cabeça, e aí viram um volume de 300 páginas. Falo isso com conhecimento de causa. Sou um verdadeiro devorador de livros de gestão e sobre novas tecnologias. Não passo uma semana sem comprar uma publicação dessas áreas. E há muito descobri que quase nada resiste a uma leitura mais cuidada. Na verdade, na maior parte das vezes, basta ler as primeiras 15 linhas de cada capítulo e as dez páginas finais para que o assunto fique arrumado. As outras 200 páginas não passam de papel impresso (um desperdício de árvores que deveria ser combatido pelo Greenpeace).

Sendo assim, não se deixe enganar. Não leve em consideração 90 % do que é escrito sobre qualquer coisa. Inclusive o que escrevo semanalmente nesta coluna. Quem pode garantir que não estou a querer dar lhe a volta?

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Desconfio de clubes que me aceitam como sócio."

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Quem quer ser um netmilionário?

Não quero deitar água na fervura, mas há algo de exagerado na mediatização das fortunas feitas na Web em Portugal. Há portugueses a ganhar dinheiro na Internet. Daí a transformar todos os "webeiros" em George Soros vai uma grande distância. Tudo é uma questão de timing e dimensão. Assim como fica difícil imaginar um escritor português que fique milionário só com a venda dos seus livros no País, é também impossível (neste momento) a quem faz negócios na Web em Portugal reformar se antes dos 30 e ir viver para as Caraíbas.
Realmente a Web possibilita uma lucratividade alta e rápida para quem desenvolve projectos com pés e cabeça. A bem da verdade, nem é preciso isso. Basta ter um pouco de sorte e oferecer ao mercado a coisa certa na hora certa e o negócio a ser feito também pode ser muito bom. Mas estamos sempre a falar num negócio de milhares e não de milhões.
Quando me refiro à questão do timing, estou a dizer que tudo é uma questão de quando e como for criado (na prática) o mercado lusófano na Internet. Aí sim, acredito que haverá quem ganhará dinheiro em grande escala. Pois o negócio a ser feito não incidirá mais sobre o nosso pequeno mercado e sim sobre a base de mais de 200 milhões de criaturas a falar português.
Antes que diga que a guerra é desigual entre Portugal e o Brasil, é bom que se diga que a Web ainda é um terreno de ideias e de parcerias. Nada impede de alguém em Portugal ter uma ideia brilhante para a Web e criar um site tão interessante que interesse aos brasileiros (tanto do ponto de vista do utilizador como do investidor). Aqui e ali vou sabendo de projectos portugueses nesse sentido. Ainda são poucos, espero que apareçam mais.
Já quanto a parceria a coisa é mais dificil. É preciso quebrar a lógica empresarial portuguesa que um negócio só vale a pena quando se é dono dele. Na Web não é assim. Daí a onda de fusões internacionais na área da Internet. Na Web (quando a coisa resvala para o high business) é preciso cnar dmensão rapidamente. Nenhum grande negócio na Web (fora dos EUA) pode ser compreendido (a médio prazo) como um negócio local. A Web é, por natureza, uma indústria multinacional. Na Web, mais vale ter 20 % de uma coisa grande do que 100 % de coisa nenhuma.
O negócio da Web em Portugal só valerá realmente a pena (fora do ambito da especulação financeira pura e simples) quando atravessar o Atlantico e ganhar o Brasil. Não estou a falar nada de impossível. Estou só a traçar o cenáro dos próximos dois anos. Com a diferença que, a depender do que está a se passar agora, o mais provável é que aconteça justamente o contrário. E que seja o Brasil a apanhar um voo da Varig e vir ganhar o mercado português. Ainda vamos a tempo de reverter o processo. Mas para isso é preciso criar dinâmica, perder preconceitos e partir para a luta. Aí sim, poderemos falar de netmilionários. E eu espero ser um deles.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Há quem não perca uma oportunidade de perder uma oportunidade."

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www.truca lda.pt

Nos últimos anos, um pouco por toda a parte, apareceram no espaço da Web milhões de sites criados e mantidos apenas pelo espírito empreendedor de uma pessoa. São os personal portals, páginas que reflectem os interesses dos seus criadores mas feitas a pensar nos utilizadores.
Quem navega com alguma frequência, já esbarrou com sites absolutarnente estúpidos e loucos como o do tipo que colecciona fotos de sinais de transito. Já nos personal portals, os conteúdos são relevantes, têm cuidado em agradar aos seus públicos alvo e em nada diferem (a não ser em dimensão) dos grandes portais generalistas.

Dou exemplo: há pouco mais de um ano, não havia nenhuma publicação online portuguesa direccionada especificamente para o mercado das agências de publicidade (um nicho de interesses como outro qualquer). Até que um locutor de spots publicitários decidiu transformar a sua homepage num personal portal. Está bem, está bem, provavelmente nem ele sabia que estava a fazer isso. Mas a Internet é boa parte das vezes exactamente isso, o fazer primeiro e o descobrir o que foi feito depois. O locutor chama se Luís Gaspar e é um veterano nas lides publicitárias. É um dos mais competentes locutores da praça, além de excelente actor (embora recuse se a dar a cara em anúncios de televisão, dentro da lógica, acertada, de que uma voz não deve ter um rosto). O site do Luís está na morada www.truca lda.pt. É actualizado todas as sextas à noite. E tem uma secção chamada Fofocas & Anedotas que é um primor do ponto de vista jornalístico.

O Luís circula por todo o mercado de publicidade e vai pedindo notícias. Conta com uma rede de informantes dentro de todas as agências e produtoras. O que sai lá escrito é, via de regra, verdade. E fala daquilo que mais chama a atenção das pessoas, ou seja, as próprias pessoas.
O site do Luís só interessa realmente a quem viva dentro deste mercado (e, principalmente, os criativos publicitários), mas acaba por ser um dos mais competentes meios deste sector. O que sai no site do Luís não é necessariamente importante, mas (cumprindo uma lei que deveria ser respeitada por todas as publicações) é sempre interessante.

O Luís incentiva debates, publica os e mails que Ihe enviam, manda recados, avisa quem mudou de emprego e até ajuda a quem está desempregado a encontrar uma nova colocação.
O www.truca lda nunca fez um anúncio a divulgar a sua existência, mas está a se tornar um facto incontornável para os publicitários portugueses. E é a prova de que apenas uma pessoa é capaz de fazer conteúdo para a Web tão bom quanto uma equipa de especialistas no assunto.
Ou como diria 0 meu Tio Olavo: "Mais vale um competente na mão do que milhares de marqueteiros beócios voando"

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Torre de Babel

Das muitas esquisitices que ando a acumular na minha vida, o facto de ter lido toda a Bíblia aos dez anos é a mais curiosa. A Bíblia é um bom livro de histórias (de certeza mais empolgante do que As Novas Aventuras do Gato de Botas). E uma das passagens bíblicas mais interessantes é a da Torre de Babel (aquela que simboliza a multiplicação das línguas e a confusão gerada desde então).

Talvez por ser um emérito monoglota, o caos linguístico mundial sempre me interessou. O meu sonho é ver o português adoptado como uma língua de referência no mundo dos negócios. Pelo menos, seria sempre mais fácil para mim tocar os business.

Pois a web está a trazer me novas esperanças. Graças à Internet, começa se a falar no universo lusófano dentro de um enquadramento totalmente monetário e não apenas poético e ideológico. Juntos, somos quase 200 milhões de almas a falar o português. Não é pouca gente. E há quem esteja de olhos abertos para essa situação. A recente compra do site brasileiro Zip.Net pela PT Multimedia (um negócio avaliado em 365 milhões de dólares) é apenas um sinal disso. O que está em jogo aqui é a criação de uma plataforma única, capaz de prover acesso, intermediar o comércio electrónico, vender publicidade e dispor de conteúdos para toda a comunidade lusófana.

Este negócio irá desencadear outros na mesma direcção. No caminho inverso do Atlantico, o megassite UOL (uma das empresas pioneiras e de maior sucesso na pequena história da Internet brasileira) já anunciou que irá aterrar em Espanha e em Portugal até Março.

E já há boatos vários sobre quem serão os seus parceiros estratégicos portugueses nas áreas dos acessos e dos conteúdos.

O curioso desta questão é que juntos, Portugal e Brasil podem formar um bloco muito mais coeso e comercialmente interessante do que a Espanha e os países da América Latina Neste momento, o volume de negócios na web realizado em terras brasileiras é dezenas de vezes maior do que tudo o que se faz nos outros países latino americanos. E com um potencial de crescimento imediato exponencialmente superior.

Mas o mercado lusófono nem sequer pode ser reduzido a Portugal e ao Brasil (e aos países africanos, que ainda vão demorar muito a entrar na economia digital). É preciso ter em consideração a diáspora portuguesa. São milhões de imigrantes lusos (e seus descendentes) espalhados pelos quatro cantos do mundo, boa parte em comunidades que podem ser perfeitamente encaradas como mercados a explorar. Não vamos esquecer que Paris é a segunda cidade portuguesa. Nem o caso de Luxemburgo e Newark.

Acresce se a isso o facto dos espanhóis não compreenderem a nossa lógica e não serem especialistas na nossa cultura. E muito menos os americanos. Ou seja, está nas nossas mãos (portugueses e brasileiros) a capacidade de transformar essa soberba oportunidade comercial numa milionária realidade. E rápido. Antes que um aventureiro o faça.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "A minha pátria é a minha língua. E a minha conta bancária também."

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Como fazer uma padaria "online"

É provável que não saiba, mas o meu pai é dono de uma padaria no interior do Rio de Janeiro. Até hoje, muito do que sei e aplico nas lides da publicidade e do marteting tem a ver com essa minha origem de merceeiro. Agora está na moda falar sobre o E commerce. Como tudo o que é novo, o E commerce muitas vezes aparece como a panaceia para todos os males. Pode ser, pode ser. Confesso uma total simpatia por esta nova modalidade comercial. Mas, como é óbvio, não há bela sem senão.

Li outro dia, na Internet, um interessante artigo sobre os sete pecados do E commerce. O texto era baseado num artigo do "E commerce Times" e dizia:

1) Engenharia em excesso. Um erro comum é tentar desenvolver um site que acaba por se tornar demasiado complexo para vir a ser implementado. Com frequência projectos bem intencionados não chegam sequer a sair do papel, devido a planos irreais e complicados. Para evitar aplicar engenharia de mais na sua loja online, simplesmente identifique os seus principais objectivos e execute os em primeiro lugar.

2) Olhos maiores que a barriga. O comércio electrónico pode ervolver uma combinação muito complexa de equipamentos, construção de sites e temas de alojamento, assim como as tecnologias de segurança e de cobrança. E a lista continua. É fácil tentar resolver todos esses assuntos quando se instala uma loja, mas a estratégia mais inteligente pode não ser esta.

3) Analisar a viabilidade do produto na rede. Só porque determinado produto vende bem nas lojas de retalho, não quer dizer que vá vender bem online. Na realidade, muitos produtos não podem ser vendidos facilmente na Internet.

4) A pouca segurança. Os hackers da Internet tornaram se um lugar comum nos últimos tempos e os testemunhos de piratarias e roubos parecem crescer a um nível assustador. É preciso que os sites de E commerce façam da segurança da rede a sua prioridade máxima, antes mesmo de entrarem no ar.

5) Lançar se sozinho. Em muitos casos, mesmo quando se utiliza um serviço de alojamento pronta entrega, muitas lojas de E commerce não têm êxito por lhes faltar um design profissional e conhecimentos de marketing. Se puder optar por um apoio profissional, não se lance sozinho.

6) Design ineficiente. Sem um layout de página fácil de utilizar, profissional e direccionado para o marketing, nem a mais sofisticada das tecnologias servirá para incrementar as vendas.

7) Esquecer o número de telefone. É um facto pouco conhecido de muitas lojas online que o ponto de vendas não é, por inteiro, online. Em vez disso, o que acontece é o consumidor percorrer o site, pesquisar, comparar os preços e, quando finalmente decide encomendar, utiliza o telefone.

Ou seja, amigo, digitalize a sua loja, digitalize o seu negócio, seja ele um hipermercado ou uma padaria, mas não digitalize mais problemas do que os que já tem hoje em dia.

Ou, como diria o meu Tio Olavo: "O ser humano é o único animal que não comete apenas os mesmos erros e consegue descobrir erros inteiramente novos para cometer"

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Uma crónica tridimensional

Talvez você seja velho de mais para perder tempo a ir ao cinema ver filmes de ficção científica para adolescentes. Se isto for verdade, você não viu Matrix, um dos fenómenos de bilheteira do ano passado. Matrix tinha por base um único raciocínio: mais cedo ou mais tarde, o mundo será dominado pelos computadores (paranóia velha) sem que o ser humano jamais perceba (paranóia novinha em folha). Dentro desta linha, o homem irá viver num universo ilusório, virtual, totalmente fabricado e manipulado pelos cérebros electrónicos. Neste mundo alternativo, poucos exemplares da nossa espécie vão conseguir perceber a batota dos computadores. Os eleitos serão aqueles que conseguem ver mais do que o superficial, os que tiverem um raciocínio tridimensional.

Matrix, apesar se ser um filme bobo (que eu adoro), serve como excelente metáfora para filosofarmos sobre o universo digital que começamos a viver. De certa maneira, a humanidade ainda pensa em duas dimensões, ou seja, cruza o passado com o presente e daí tira as suas ilações. Boa parte das nossas atitudes e das nossas relações sociais e profissionais tem como base o paradigma da experiência anterior. Fomos habituados a perceber o movimento da história como uma espécie de inércia constante: as coisas vão para a frente de maneira consequente. Na verdade, as coisas estão a deixar de ser assim.

Já se tornou rotina comparar o aparecimento da economia digital com a corrida do ouro. A partir deste ponto de vista, estaríamos a viver um ciclo de especulação e crescimento económico como outro qualquer. Mais cedo ou mais tarde, a bolha digital iria explodir e voltaríamos todos ao ponto de partida do processo. Com os princípios básicos do capitalismo preservados e no mesmo lugar.

Este raciocínio é lógico, porém corre o risco de estar incorrecto. O que estamos a viver é um pouco mais do que um simples processo económico. Estamos na verdade a lidar com um cada mais consistente movimento ideológico.

Todas as vezes que a ideologia cruzou com a economia, os resultados foram revolucionários (o comunismo é apenas um pequeno exemplo disso). A diferença é que até agora o homem se definia como um animal político e extremamente ligado à religião. E era em volta das facções políticas ou religiosas que tudo se definia. O movimento digital nada tem a ver com isso. O movimento digital não tem um raciocínio político definido nem quer ter nada a ver com o assunto. Da mesma maneira que não questiona a existência de Deus ou das diferentes divindades que unem ou separam os povos.

A base do movimento digital é a tecnologia. E inclui, pela primeira vez, a ideia do futuro como um dos vértices palpáveis da história.

Isto quer dizer que o futuro deixou de ser consequência. O futuro não é mais o que vai acontecer e sim um dos motores de todas as acções.

Quando falo em raciocínio tridimensional, estou a referir me a isso. O futuro tornou se num catalisador e, ao mesmo tempo, num acelerador de todos os processos.

Exercitar o raciocínio tridimensional significa olhar em redor e tentar ver mais do que a realidade. É compreender que o momento seguinte da realidade já existe e tem como corpo infinitas possibilidades. É como se tudo não fosse mais do que um ponto de passagem. E as decisões tivessem que ser tomadas não pelo que elas provocam no agora, muito pelo contrário. O mais importante é estar bem posicionado no que será o futuro.

Boa parte do crescimento do movimento digital tem a ver com isso. A expectativa do que vai ser retroalimenta o próprio movimento. Como nos mecanismos que regem a inflação, o pensamento colectivo, tendo como base uma visão futura, faz com que uma possibilidade torne se mais real do que a própria realidade.

Voltando ao Matrix, também está presente no filme a questão da velocidade. É como se o mundo fosse dividido em dois: os que raciocinam lentamente (os analógicos, ou seja, nós) e os que estão com a mente fracções de segundos à frente do tempo (os digitais). Ou seja, é incrível como um filmeco de Hollywood pode servir de base às teses mais disparatadas.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "O pior cego é aquele que acha que não precisa de ver."

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Ratos e homens

Um dos maiores investigadores da mente humana chamava se Carl Jung. Contemporâneo de Freud (tendo mesmo sido seu analisado e também seu analista), Jung sistematizou quase tudo o que hoje sabemos sobre a relação entre o homem e os seus símbolos. Para muitos, Jung não passava de um mistificador sem grandes bases científicas. Para outros (o meu caso), Jung serve como uma constante fonte de inspiração. Só mesmo com a ajuda do pensamento de tipos como Jung posso tentar compreender algumas tendências e comportamentos humanos. Fico a pensar o que Jung diria sobre este novo ícone planetário que é o rato de computador. Sim, o rato. Ou mouses, se preferirem.

E olhe que não é a primeira vez que isto acontece. Rato por rato, o Mickey Mouse há décadas que faz sucesso. Há também o Topo Gigio, mas este tem uma carreira irregular: some e reaparece com alguma frequência, o que só ajuda a aumentar os boatos que o envolvem com alcoolismo e drogas.

Mas voltemos ao nosso rato de computador. Não há revista neste planeta que não tenha já dedicado uma capa ou outra a um mouse. Noutro dia, mesmo a "Veja" exibia na sua primeira página uma ilustração de gosto duvidoso onde meia dúzia de ratinhos apareciam a simbolizar espermatozóides a tentarem entrar num óvulo (neste caso, representado por uma fotografia da Terra). Aliás, tal semelhança entre os ratos e os espermatozóides já serviu de inspiração para milhões de outras ilustrações. E, o mais perigoso, é que toda gente acha que tal comparação faz sentido. De certa maneira, o ser humano está a delegar nas novas tecnologias a missão de fecundar o planeta e de transmitir às futuras gerações os nossos códigos de informação.

Pode ser uma completa viagem da minha cabeça ou um caso patológico de paranóia tecnológica (às vezes tenho a impressão de que a única prova de não ter ficado maluco é o factò de ainda não rasgar dinheiro), mas a verdade é que se voltarmos ao bom e velho Carl Jung encontramos alguns sinais de que o que estou a escrever faz algum sentido. Jung afirmava que o homem carrega nos seus genes todo um conjunto de informações que datam da época em que erámos apenas uma amiba à procura de ascensão social. São estas informações que fazem com que tenhamos atitudes institivas e que independente da nossa localização geográfica no planeta e da nossa cultura, possamos reagir de maneira muito parecida a certos estímulos.

O meu medo é que esta capacidade atávica da nossa espécie caia em desuso e que a tarefa de registar e partilhar os nossos conhecimentos seja completamente delegada aos chips de silicone. Assim como sou de uma geração que já nasceu sem o dente de siso, talvez seja o tataravô de um miúdo que só será capaz de sentir certas coisas através um simulador qualquer de realidade virtual.

Se isto se tornar verdade, a profecia então estará completa. E o homem ter se á transformado naquilo que hoje tanto venera e admira: um rato de plástico ou de fibra de vidro.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Eu vi o futuro. E ele não parecia estar lá muito bem de saúde."

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A volta do velho pródigo

Ha três semanas jurei que passaria a dedicar este meu espaço a falar sobre o mundo digital e pouco (ou nada) sobre a publicidade.
O prometido é devido. E para provar que sou um homem de palavra, vou falar agora sobre um dos maiores nomes da publicidade americana dos últimos 30 anos: Jay Chiat. Estou a ser contraditório? Acalme se, rapaz! Já vai perceber, já vai perceber.
Jay Chiat não é exactamente um jovem promissor. Do alto dos seus quase 70 anos, o tipo pode se dar ao luxo de dizer que esteve envolvido em alguns dos projectos mais marcantes da publicidade contemporânea. Muito do que é hoje o mito da marca Macintosh deve se a ele. A Nike também deve lhe qualquer coisinha. E estes são só dois pequenos exemplos.
A sua agência, a Chiat/Day, foi uma fonte de estilo onde qualquer publicitário com dois dedos de testa de qualquer lugar do mundo foi beber um pouco de inspiração. Eu, por exemplo, durante toda a primeira fase da minha carreira, sentia me um inepto total só por não conseguir fazer anúncios tão brilhantes quanto o da Chiat/Day. Hoje em dia, graças a Deus, já consigo sentir me inepto por um milhão de outras coisas.
Jay Chiat ultrapassou todos os limites estéticos e formais ao criar o spot de TV para o lançamento do Mac em 1983. O filme, claramente inspirado no livro 1984, de George Orwell, era a mais cara acção publicitária de todos os tempos. Só passou uma vez na TV, no intervalo do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano. Foi o suficiente. Desde aí o Mac deixou de ser um produto e passou a ser um movimento cultural.
Mas o tempo não pára. Há cerca de três anos, Jay Chiat decidiu que já era hora de seguir outros rumos. Vendeu a loja para o megagrupo publicitário Omnicom e saiu de circulação. Todos pensaram que o bom velhinho iria para Miami descansar de sua longa e produtiva vida e apanhar um cancro de pele de tanto se bronzear.
Engaram se todos. Jay Chiat não só continua na activa como reinventou se. Fundou uma nova empresa, chamada ScreamingMedia, especializada na gestão de conteúdos para Web e em marketing digital.
Parte do sucesso da ScreamingMedia passa pelo seu site que está formatado para ser um produto. A partir de uma assinatura mensal, a ScreamingMedia passa a fornecer para o seu site ou portal os conteúdos necessários para que a sua página fique mais interessante. A vantagem de tal processo é que você evita investir dinheiro na criação de equipas produtoras de conteúdo. E recebe um conteúdo já preaviamente testado e de qualidade autênticada. Isto quer dizer, por exemplo, que você se tiver um site em Portugal e quisesse disponibilizar para os seus usuários conteúdos do New York Times Syndicate, tudo bem. Basta contactar a ScreamingMedia.
Neste momento a empresa de Jay Chiat distribui cerca de meio milhão de peças de contéudo, saídas de 125 publicações.
A moral desta fábula é óbvia e simples: jacaré parado vira bolsa. O facto de Jay Chiat, este ícone vivo da publicidade moderna, ter trocado o dia a dia da criação de anúncios para se ligar no espa,co Web não pode ser encarado de maneira tão leviana. Chiat (meu ídolo, meu amo, meu guru) demonstra uma grande coerência. Quem trabalhou a vida inteira na revolução da comunicação comercial não poderia baixar as armas só porque forrou o bolso com milhares de notas. Chiat está onde sempre esteve: na linha de combate. Já agora, onde é que você está?

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Fazer o que todos fazem é o equivalente a não fazer nada."

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Você e digital?

A coisa não e assim tão fácil. Você nasceu analógico, não irá virar digital do dia pare a noite. Assim como o seu bisavô era movido a lenha, o seu pai a gasolina, você é ainda movido a bateria e não a energia solar. Tornar se digital é um dos grandes desafios de qualquer individuo ligado ao mundo dos negócios hoje em dia. Mas como estabelecer a diferença entre o raciocínio analógico e o digital?

Bem, a revista Veja (www.veja .com.br) publicou a semana passada um interessante artigo sobre as consequências da fusão da AOL com a Time Warner. Trata se de um trabalho que sintetiza (com algum bom humor) alguns conceitos importantes pare quem quiser perceber as diferenças entre o velho e novo mundo empresarial. Segundo a Veja, você não passe de um ser analógico se acredita em coisas como lucro, gravata, conta bancária, horário comercial, shopping center. O reverso da medalha, ou seja, você será um tipo digital se preferir acreditar em valor de mercado, T shirt, doacções, trabalho de madrugada e comércio electrónico.

No fundo, no fundo trata se de uma guerra de valores. Aliás como sempre foi. De um lado temos um grupo de pessoas agarradas ao passado. Do outro gente a querer pular a janela para agarrar o futuro. E esta contraposição sequer é uma questão de idades e gerações. Há muitos jovens por aí que já nasceram com reumatismo cerebral. Aliás, o jovem, por natureza, e um ser inseguro. E se puder reproduzir (fingindo uma rebeldia que não passe de jogo de cena para consumo interno dos amigos) os modelos antigos, tanto melhor. Jovem, via de regra, está preocupado em arrumar um emprego, entrar pare o quadro da empresa e ganhar o auficiente pare tirar férias em Agosto e no Inverno ir duas vezes À neve. Claro que há as excepções. Que nada mais são que os verdadeiros revolucionários. Que ouvem com algum cuidado o que dizem os mais velhos, nem que seja pare discordar com alguma base lógica. Diga se de passagem, há mais trintões por aí a tentar reenquadrar o mundo do que pós adolescentes a preocuparem se com mais coisas além de dinheiro e sexo.

Daí que o primeiro passo para tornar se digital seja justamente o de compreender que o mundo não é um quadro em preto e branco. E que mudar o presente não é a mesma colsa que negar a sua existência. Quem tem olho digital ve o mundo que nos rodeia em mais do que uma camada. E tenta perceber, entre aquilo que fazemos, o que ja não serve e o que tem que ser rapidamente transformado.

Isto não tem necessariamente a ver com a utilização de novas tecnologias. E muito mais uma questão de atitude. O pensamento digital é uma maneira de estar e um não modelo estático do mundo. Quem pensa digital não tem certezas absolutas de nada e sabe que não adianta fazer planos para muitos anos. Quem pensa digital deaconfia profundamente do ser humano (na medida que sabe a capacidade do ser humano em, por motivos pessoais ou ambições egoistas, derrubar projectos empresariais inteiros).

Ser digital é isto. E muito mais que isto. E nada disto. Ou não.

Ou como diria o meu Tio Olavo:"Faça hoje. Duvide amanhã."

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A estratégia da aranha

A culpa foi minha. Tenho a certeza. Na segunda feira passada, escrevi aqui um artigo onde declarava pendurar as chuteiras enquanto cronista publicitário e assumia que passaria a utilizar este espaço para comentar o mundo digital.
Justificava tal decisão com. o facto de preferir escrever sobre uma coisa nova e importante do que sobre algo (o mercado publicitário) em processo de falência moral e económica.
E não é que os americanos leram o meu artigo. Só isto pode justificar que naquela mesma segunda feira fosse anunciada a fusão entre a AOL (America Online) e a Time Warner. Os camones viram, de certeza, no meu texto o sinal de que poderiam avançar com o negócio do milénio (do novo, óbvio). Se até eu, que defendi a minha dama (a publicidade) com toda alma e coração durante tantos e tantos anos, me convenci de que não há mais lugar no mundo para negócios analógicos, não havia mais que esperar. Então apertaram aos mãos e estabeleceram a confusão.
Não sei se está a perceber o que está a passar se bem diante do seu nariz. O que você está a assistir é à História (esta mesma, a com o H grande). É como se você estivesse na mesa ao lado do restaurante no dia em que o Henry Ford decidiu investir numa linha de produçãó de automóveis. Ou como se você trabalhasse na oficina onde o bom e velho Gutenberg inventou a imprensa.
Você, eu, todos nós, de uma hora para a outra, tornamo nos testemunhas oculares da História. E, para ser sincero, estou a curtir à brava isto.
O negócio entre a AOL e Time Warner, além de multimilionário, apenas sinaliza o culminar de um processo (as empresas de Web atingem a sua total maioridade enquanto indústria) e o início de outro (a concentração de interesses económicos diversos ao redor da mesma fogueira: Web).

A Web não é só uma rede, é uma teia. E a única estratégia possível para quem se mete neste mercado é a da aranha. É preciso tecer, envolver, amarrar, fiar e coser. A aranha nunca pára de envolver. Como a Internet nunca pára de crescer.
Abra os olhos, rapaz. Se a Web é a teia da aranha, você é a mosca. Você é a próxima vítima. Ou eu. Ou o seu vizinho. Tanto faz.
E quer saber mais? Não mudaram só as regras do jogo. Mudou o jogo inteiro. Se você trabalha em marketing ou em gestão de conteúdos para comunicação comercial ( actividade conhecida no século passado como publicidade, marketing directo e sucedaneos) e não está acordado para este tema, esqueça, filho, está morto. Quer que eu seja mais claro? Quer que eu explique as reais consequências do fusão AOL/ Time Warner na sua vida? Então vamos combinar o seguinte: se você prometer pensar no assunto sózinho, ao usar os seus próprios neurónios, eu prometo que um dia eu conto. Até lá recomendo que continue a ler esta coluna. Este é apenas o primeiro episódio de uma grande novela. Onde você, se for esperto, ainda pode ocupar o papel principal.

Ou como diria o meu Tio Olavo: "As caravanas ladram e os cães passam. Vai na frente que eu vou atrás."