Histórias da Publicidade 1  


A história conta se em duas palavras.
Nesse momento estava de visita a Portugal a Princesa Margarida de Inglaterra, irmã da Raínha. Veja se, pois, há quantos anos!...
Depois de gravar uns anúncios para a Margarina Vaqueiro fui ler o noticiário para o Rádio Club Português.
Foi assim, que naquele noticiário, a Princesa Margarida passou a ser a Princesa MARGARINA!
Ninguém deu por isso a não ser o Alberto Nunes que, do outro lado do vidro, se rebolava às gargalhadas!

Luís Gaspar

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Já lá vai um bom par de anos (para ser preciso 25 anos) !
Na Panorâmica 35 e Estúdio E decidimos comprar, cada um de nós,a sua moto para enfrentar o trânsito caótico de Lisboa (não me recordo do Presidente da Câmara da altura, mas não era João Soares).Eu, o Gaspar, o Figueiredo Nunes e o João Rapazote lá fomos comprar à IBA uma Honda Amigo, pequena motorizada com cestinho de rede na frente, frágil mas suficiente.
Recordo me de ter chegado à Nacional Filmes nesse dia e ter dito ao Eduardo que, da Musicorde à Calçada de Santana me chegaram 15 minutos e não tive problema com o estacionamento!
Fui gravar um filme para o Ary dos Santos. Não sei se Knorr ou Woolmark. No final, fui interpelado pelo Ary, que queria saber por onde eu ia.
"Vou pelo Marquês, direito ao Rato e daí para Campo de Ourique !"
"Dá me uma boleia para o Franjinhas !" (na Brancamp,onde era a Espiral).
"Está bem", disse eu, sem dar parte de fraco, esperando que ele desistisse e fosse de táxi quando lá chegasse abaixo e visse a pequena motoreta.
Não disse nada. Ou melhor, disse, em altos berros, todo o caminho, montado no assento de trás da pobre motoreta, um truculento "estou a enrabar este gajo...estou a enrabar o locutor !..."
E lá o deixei na Espiral, com algum embaraço.

Lisboa,28/11/97
Carlos Duarte

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Os pés nus e "contentinhos", na cama.

Uma história aqui contada pelo Luís Couto, numa destas semanas, fez me lembrar uma "cena" dos tempos em que a censura existia. Em que os animais falavam!... Porque, amigos publicitários, ela existiu mesmo! Para a publicidade, também!
Se o filme se destinava a "passar" nos cinemas tinha de ser enviado para um organismo, creio que se chamava Inspecção Geral de Espectáculos, para ser "visto" por uns senhores, funcionários públicos (daí a sua inocência: só cumpriam ordens!) que emitiam um papelinho onde, para além da identificação do filme, se dizia, cândidamente "Aprovado pela Comissão de Censura" ou coisa parecida. Esse papelinho era filmado e colado ao início do filme de forma que, em cada exibição, o espectador presente na sala ficasse com a certeza de que não iria ver filmes de publicidade ... ...indecentes.
Quando se tratava de um filme para televisão, o mesmo era "visto" por um de dois senhores, (cujos nomes me escuso de referir) funcionários da empresa concessionária da publicidade na televisao: a Movirecorde. Se "aprovado" o filme passava na televisão. Se contivesse cenas chocantes, na opinião desses dois senhores, claro, havia um telefonema, geralmente para a Produtora, a informar que o filme "não podia ser exibido" por isto ou por aquilo. Davam se ao trabalho de "dar exlicações", os simpáticos! Que diabo, o dinheirinho pago pelo Cliente para a exibição dava muito jeito à Movicorde. Havia, pois, que ser mínimamente simpático com o pagante!...
Naquele dia, como responsável pela Panorâmica, recebi um telefonema da Movirecorde a informar que o filme dos Lencóis "Qualquer Coisa" (já não me lembro da marca) não podia passar!
"Então porquê, sr. Zagalo? perguntei.
"Por causa daquele plano dos pés nus e "contentinhos", na cama." explicou.
" E sabe que dia é hoje, sr. Zagalo?
"??!!"
" 27 de Abril, sr. Zagalo! Será que não reparou que ante ontem houve uma Revolução neste País?!"
"Com certeza, com certeza, sr. Gaspar!"
E o filme foi exibido sem "cortes". O sr. Zagalo terminou a sua carreira na Movicorde, anos depois, calma e tranquilamente.

P.S. Juro que ainda hoje estou para perceber porque razão a Censura "cortou" um filme meu com o pretexto de que terminava com esta frase: "Quem quer crédito vai ao Totta!".

Luís Gaspar

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NOITE E DIA.

Andava eu pelos trintas. Naquele inverno tinha finalmente conseguido uns dias de férias e fora até Granada e Ceuta. Lembro me bem. Foram as únicas férias que tive.
Por mais que sonhasse em fazer outras coisas, a publicidade ocupava o tempo todo. No entanto, eu brincava a ser o meu dono, como se isso fosse possível nestas vidas.
Ganhara o orçamento para um filme numa agência importante e, no dia seguinte, às nove, tinha a primeira reunião.
Fui para casa antes do dia acabar. Sentei me a ver o pôr do sol no mar, uma das coisas que mais saudades me deixou, da minha casa na Parede.
Apareceu alguém a saber se havia jantar. Havia sempre. Bem, continua a haver. Os anos passaram, mas o gosto por preparar uma refeição e convidar uns amigos, não se perdeu.
Depois, um pouco inesperadamente, a noite complicou se um pouco. Agradáveis sucessos, hoje saudosos, que a idade não perdoa. O certo é que não dormí quase nada.
Levantei me mais morto que vivo, mas bem disposto. Fui para Lisboa cedo, que já nessa altura a auto estrada, tinha demoras. Tentei, mais uma vez, fazer o rádio do carro funcionar, sem o conseguir. Tinha de o mandar arranjar, assim que tivesse tempo. Na prática isto queria dizer: Nunca. Como as férias.
Para meu grande espanto, a entrada em Lisboa, foi rápida. Havia pouco trânsito. Apenas estranhei um pouco, no cruzamento com a Artilharia 1, uns quantos que passaram com o vermelho. Positivamente, não era só eu que tinha dormido pouco. Sorri. Arranjar lugar para o carro, foi inesperadamente fácil. Se a reunião corresse tão bem, ia almoçar fora de Lisboa. Já pensaria com quem. E dei comigo a bater repetidamente à porta da Agência, sem ter qualquer resposta.
Depois de comprovar que a hora era a combinada, fiquei a pensar que se calhar alguém tinha morrido. Mas não haver ninguém...
Voltei para o carro sem perceber e, resolvi ir até ao escritório. Precisava de telefonar para a Tóbis. O costume.
Na Fontes Pereira de Melo, havia uma história qualquer com uns polícias que usavam uns escudos de plástico transparente, mas fiquei sem saber muito bem o que se estava a passar. No entanto como nessa tarde ia ter uma gravação, certamente no estúdio, apareceriam as mais diferentes, contraditórias, e verdadeiras explicações para o caso.
Mas nessa manhã, estava mesmo com sorte. Diante da Unifilme, havia um lugar para o carro. Só faltava, de tarde, chegar à Nacional Filmes e estacionar sem problemas. Bem, não há duas sem três. Dizem.
A porta da Unifilme, tinha uma mola para a manter encostada. Era só meter a mão e, continuar a entrar. Mas o que aconteceu foi que empurrei com a mão, continuei a andar e, dei a maior cabeçada de que me lembro. A porta estava mesmo fechada.
Parei agarrado à cabeça, praguejando.
Se calhar a noite fora mesmo muito mais complicada do que eu recordava. Mas que raio é que estava a acontecer?
Tirei as chaves do bolso, para abrir a porta, mas a Fernanda, a tremer, abriu a de dentro e, ficou diante de mim, a sussurrar que queria ir para casa, por causa da revolução.
Caramba. A minha noite tinha sido mexida, mas revolução!?
Só que não era a minha noite. Era o dia 25 de Abril de 1974.

Luís Couto Juromenha, Novembro de 1997

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PORNOGRAFIA

Eram os finais dos anos sessenta, na Telecine. Um dia, estava eu no estúdio, chamaram me ao telefone.
Agora?
Parece que é urgente.
Quem é Eugénia?
Desculpe. É o senhor Ary dos Santos. Muito Urgente! Posso passar?
Passe lá.
Luís Couto?
Sou eu. Diz.
Luís, acabo de saber que fizemos um filme pornográfico!
Um filme quê?!
A voz do Ary adquiriu aquela sonoridade por que ficou conhecida.
POR NO GRÁ FI CO! Temos o filme PROIBIDO PELA CENSURA, a não ser que se repita um plano.
Repete se o plano.
Quando?
Suponho que amanhã. Eu já telefono. Mas que é que nós fizemos? Qual é o plano?
O do pé. Ao sair da banheira.
Mas até é um plano muito fechado.
Não os conheces? Como NÃO se vê A TOALHA, é evidente que toda gente pode PERCEBER, que a rapariga está PORNOGRAFICAMENTE NUA! Vamos repetir, para que se veja MUITO BEM, que HÁ toalha.
Os comentários que se seguiram não vale a pena transcrever.
E lá se fez o filme como os senhores queriam, para poder passar na televisão de então.

Luís Couto Juromenha, Outubro de 1997.

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É BOM!

O Alexandre O'Neill, foi meu colega e amigo na Telecine. Ainda hoje, o recordo com uma enorme saudade. Era amável, atento, esgrimia uma grande ironia que ia, por vezes, até ao sarcasmo. Mas no meio de uma gargalhada, também podia adivinhar se uma sombra de uma tristeza. No dia a dia, no entanto, ele dificilmente resistia a jogar com as palavras, a brincar com elas, como um menino grande. E ria. Sabia rir como ninguém, quando descobria um jogo divertido de palavras. Era muito capaz de ir por um corredor e, parar a rir, com o que estava a pensar.
Um dia, como por vezes acontecia, fui até ao seu gabinete. Ele começou a falar de um filme para uma nova marca de salsichas. E da forma como o tinha resolvido. O único problema era ser preciso um puto muito bom, para o filme resultar em cheio. Aquí começaram os problemas.
Foram vistos ( e ouvidos , claro ) dezenas, sem qualquer resultado positivo. Com os seus sete ou oito anos , as criaturas eram incapazes de dizer " É Bom! " de forma que fosse, pelo menos, aceitável.
Então alguém lembrou:
Alexandre, o teu filho!
Nem penses nisso.
É pá, o puto é tão giro!
Não!
O certo é que o filme começou a ficar atrasado e, um dia o Alexandre, apareceu com o filho.
Faz lá.
E o puto fazia que trincava qualquer coisa, ficava com ar super feliz e dizia:
É bom!
Foi uma alegria de meter risos e lágrimas. Era perfeito!
O Alexandre, entre pai babado e pai duvidoso do que fazer, encolheu os ombros e acabou por dizer que sim.
No dia seguinte, estava tudo preparado no estúdio. A voz tinha corrido e várias pessoas da Telecine tinham vindo e ficado nas zonas escuras para ver o ar engraçadíssimo e convincente do miúdo a dizer aquele: " É bom!".
A Luisa deu a salsicha ao filho do Alexandre.
Foi lhe de novo explicado que tinha que dar uma dentada primeiro e, depois dizer: " É bom! ". Silêncio!
Não se ouvia uma mosca.
Motor!
Faz lá!
Os olhos todos seguiam cada gesto do garoto que mordeu a salsicha, tal como estava previsto. O pai antecipando o prazer que a actuação do filho iria certamente causar, irradiava ternura e felicidade.
Mas alguma coisa não estava como o previsto. Um gesto de surpresa e de nojo tinha invadido a cara do puto que cuspiu a salsicha e, disse num desespero:
Não presta!!!
Alexandre, o criativo, agitava as mãos, como se quizesse apagar aquele esgar. Alexandre, o pai, correu para o filho, levantou o no ar e levou o dali, rindo às gargalhadas.

Luís Couto Juromenha, Outubro de 1997.

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O TOMATE E O SANGUE

Esta coisa da publicidade, era mesmo um vício. Até ao dia em que resolvi vir reencontrar me com a minha paisagem, falar de coisas sem importância, integrar me gostoso, no fluir do tempo. Voltei a descobrir, admiradíssimo, o que era viver. De facto, tomate e sangue, não são a mesma coisa, apesar das aparências, por vezes, enganarem.
Produzira eu uns filmes de glutões para a JWT inglesa, feitos para passarem em Portugal.
Eram sobre uns gordos seres de animação que raivosa e amorosamente, comiam as nódoas todas que lhes apareciam pela frente.
Mentalizado para trabalhar "à inglesa", as filmagens decorriam ao ritmo de esmero lento, que os orçamentos deles permitiam e os nossos, então, não.
O que é certo, é que a desconfiança que de parte a parte começou por haver, foi se diluindo, até acabarmos por cair nos braços uns dos outros, amigos para a vida. Quando se soube que o director de fotografia, fora pai, houve até tempo para interromper tudo e, fazer chegar ao estúdio, uma garrafita de espumante. Para saudar o nascimento, molhando a boca. Ao pai, vieram lhe as lágrimas aos olhos, jurando que isto só mesmo de portugueses. Em Inglaterra, jurava, dariam rápidamente os parabens, olhando para o relógio, para evidênciar o tempo que se estava a perder.
Mas eis que a grande questão, acabou por aparecer:
Seriam aquelas nódoas, do que se afirmava no filme que eram?
Inocentemente, disse que sim, menos a de sangue.
Este sangue, não é sangue ?
Não, mas...
Não pode ser! Nós queremos sangue.
Mas o molho de tomate, preparado desta maneira, parece...
Mas não é! Eu quero sangue.
E para evidenciar a sua resolução, sentaram se com ar de quem vai esperar, tendo o cuidado, um deles, de olhar para o relógio (com britânico e severo gesto ), de forma que eu notasse.
Ainda tentei gracejar, dizendo que a muito inglesa Hammer, apesar de estar ao lado de um talho, não utilizava sangue nos seus filmes de terror.
Mas foi tudo inútil. Tinha que se resolver o assunto.
Aparecí diante deles, passado muito pouco tempo, com uma galinha viva, empréstimo ( se tudo corresse bem ) de uma das vizinhas do bairro. Alguém me passou uma faca.
Onde querem o sangue?
Deram um salto.
Não vai matar o bicho!
Claro que vou. Que eu saiba, é a única forma de fazer sangue!
Por amor de Deus, não!
Nós agora até já conhecemos a galinha!
E comecei a ver fascinado, como examinavam, com mais atenção os panos manchados que eu lhes tinha apresentado antes.
Bem, de facto, parece mesmo. O que achas David ?
Para te dizer a verdade, não vejo diferença nenhuma.
Desta forma a galinha da vizinha, continuou a cacarejar por mais uns bons tempos, salva pelas aparências enganosas. Mas lá que tomate não é sangue, não é!

Luís Couto Juromenha, 7 de Outubro de 1997.

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E não saíamos dali. Por mais que repetisse a frase a senhora dizia sempre que não estava bem, que não gostava.
Tentaram se várias interpretações...mas nada!
Ia dizendo:
"Há qualquer coisa na maneira como você lê que não soa bem!"
Por fim pediu para "passarem" a gravação várias vezes. Finalmente, entusiasmada, disse:
"Já sei o que é! Você diz "quase" quando devia dizer "quaise"!
Santa paciência!

Luís Gaspar

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Imagina se a cena. O Chefe do Grupo Criativo a voltar se para o jovem "copy" júnior e a dizer:
"Este "spot" é para o Gaspar ler. A gravação está marcada para a Índigo."
E lá foi o nosso júnior para a sua primeira gravação. No estúdio acharam estranho que fosse ele a ler o texto...mas nunca se sabe!
Depois de muitas tentativas foi o próprio júnior a concluir que não era capaz de ler o texto em condições!
De súbito, perguntou:
"Há algum locutor chamado Gaspar?"
Que, sim senhor, o Luís Gaspar.
"Agora percebo a confusão...é que eu também me chamo Gaspar!!!"

Luís Gaspar

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A PRIMEIRA VEZ

Foi em 1968 que eu voltei a Lisboa, vindo de Madrid, onde me iniciara no cinema profissional e aprendera a desconfiar dos franceses e a identificar me com os italianos, que as Aljubarrotas dos espanhois são outras.
Tertúlias de café e a ajuda amiga do Bernardo Santareno, acabaram por me fazer chegar à Telecine e começar na publicidade . Iam ser muitos e muitos anos, com as alegrias e as chatisses de todas as coisas na vida. Mas a verdade é que esteve a ponto de não ter passado da primeira vez.
Todas as semanas se fazia um filme da lotaria. Eram filmes baratos, mas ao serem 52 por ano, justificavam um especial cuidado por parte de Telecine. Tanto mais que a secura de trato e o rejeitar filmes, transformavam o representante da Misericórdia, num cliente sempre temido. Quando o senhor chegou, com ar carrancudo a justificar a fama, apenas me disse, apontando o rancho folklórico : Se algum deles não estiver a rir no filme, eu rejeito.
E sem mais dizer, deu meia volta e foi se embora. Era evidente que se estava a assegurar diante de um tipo novo. Filmou se. Montei à música. Chamou se o senhor. Na sala de montagem, quando ele chegou, até estava o Galveias, que já tinha visto e aprovado, satisfeito, o que eu fizera. Com o seu ar impenetrável, o cliente viu uma, duas, três, eu sei lá quantas vezes. O ar começava a estar pesado. Finalmente, começou a ver o filme, fotograma a fotograma. De repente o grito de triunfo:
Alí !
E apontava um ponto no ecrán. De facto, muito em segundo plano, passava um bailarino chinês que talvez não fosse a rir as gargalhadas, como os outros.
O chinês ?
Sim, o Chinês !
Foi nesta altura que, sem sequer pensar, argumentei :
Mas não é natural que o chinês tenha um riso amarelo?
Neste exacto momento eu pensei que a minha carreira tinha terminada no dia em que começara.
O cliente, com o seu ar impenetrável, ficou uma eternidade sem dizer nada. Nem o Galveias sabia o que fazer. Eu preparado para tudo, olhei o cliente que aproximou o indicador direito ao bigode e acabou por dizer, sempre muito sério:
Essa teve graça...
Olhámos uns para os outros, tentando perceber o que aquilo quereria de facto dizer. O cliente caminhou para a porta e, sem se deter, sussurou:
O filme está aprovado.
E foi assim que eu fiquei, uns tempos, na Telecine.

Luis Couto . Juromenha, 6 de Setembro de 1997

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Um belo dia estava eu dentro do estúdio, na Magisom a preparar me para gravar um simples Spot de Rádio da Ford. No Packshot lia se o seguinte: "Este fim de semana a Ford está de Portas Abertas". Eu comecei a olhar para o texto e reparei que podia gozar um pouco na parte final. E assim foi, o Spot tinha cerca de 30 Segundos. Lá ia eu embalado e chegando ao Packshot eu vez de "portas abertas" eu li "Este fim de semana a Ford está de pernas abertas". Resultado, gargalhada geral, tendo o Tv/Producer dito para deixarmos ficar esta versão "engatada" devidamente gravada, porque também ele queria pregar uma rasteira a alguém. Então não é que o Account foi direitinho mostrar o Spot para aprovação ao quartel general da Ford! Só que em vez da versão correcta, claro, mostrou precisamente a versão proibida. Contou ele que depois da primeira audição do Spot, os senhores da Ford olharam um para o outro, um tanto ou quanto perturbados, como que dizendo: há aqui qualquer coisa que não está a bater bem. Disse o Account que eles ficaram sem saber o que dizer, até que lhe perguntaram: Ó Luis acha que o texto está correcto, eu tenho a impressão que algo está mal. A resposta foi uma enorme gargalhada da parte do Account, que logo explicou que tudo não passava de uma simples brincadeira. Imaginem que isto das "Pernas abertas ia para o Ar?", Claro está, os homens da Ford pediram imediatamente essa maldita versão e fizeram eles o mesmo, andaram a pregar partidas a toda a gente da Ford, provocando de certeza alguns sustos.

Augusto Seabra 4/10/97

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E acabou por ser uma gravação complicada. O filme era "grande" (um minuto) e a assistência numerosa...mas sem exageros. Presentes todos os intervenientes: Cliente, Agência e Produtor. À partida o trabalho não parecia difícil. Tratava se de um texto informativo, de um produto que não exigia "atmosferas especiais". Porém, ( e como é que se pode contar a história sem ofender ninguém?) as pessoas não se conheciam muito bem, era a primeira vez que trabalhavam juntas...
Talvez por isso, cada um tentava impressionar os outros pelo rigor, pela exigência posta na pronúncia, no ritmo, no tom de cada palavra e depois de cada frase. Uma hora depois tínhamos a locução feita! Adeus, obrigadinho, boas tardes e até à próxima...e o locutor despediu se.
Já na rua, surgiu lhe o Realizador, esbaforido:
"Tens de voltar...não te demos a página do meio!"
Ai, rigor, rigor...!

Luís Gaspar

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Presentes à gravação, naquele dia, o Director de Marketing acompanhado de dois assistentes, o Account Executive com um assistente, o Director Criativo , uma Redactora e um Gráfico, o Produtor da Agência e o Realizador do filme, Dez! Não falando, claro, do técnico de som e do...locutor.
"Então o que é que vou fazer?" pergunta o locutor. Não há que estranhar a pergunta porque ele é sempre o último a saber.
"Vais ler este texto com voz de dinossauro!" disse já não sei quem. O Diretcor Criativo, provavelmente. Mas podia ter sido qualquer um dos presentes.
Por graça, o locutor perguntou se alguém sabia como é que falava um dinossauro!
Iniciou se, em resposta, uma cena digna de ser filmada ou, pelo menos, gravada: quase todos começaram a imitar um dinossauro ou a descrever o que, pensavam, seria a voz dum dinossauro!
Seguiu se uma penosa caminhada na busca da voz do dinossauro que nunca satisfazia a assistência...porque cada um tinha a sua.
Esgotado e antes de cair para o lado de cansaço, o locutor resolveu fazer uma exigência: iria fazer o dinossauro do Director de Marketing ( o saudoso Patrik ). E pronto! Lá foi aprovada a voz do dinossauro do filme Matutano. Manda quem pode!...

P.S. O locutor já fez voz de germen, aspirador, etc.,e actualmente está, na televisão, com voz de máquina de lavar loiça!

Luís Gaspar

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Começava se a gravação. "Arrancava" o filme e a locutora, (Maria Helena Wolmar) sobre as imagens da demonstração do produto, devia ler:
" Agora, com a Braun Minipimer pode picar alho, salsa..."
Não terminou a frase. Do outro lado do vidro o pessoal "partia se" em estrondosas gargalhadas!
Não percebeu porquê? Então experimente ler a frase em voz alta!

Luís Gaspar

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O Director da Agência de Publicidade sabia que o futuro Cliente era um amante e especialista de antiguidades. Por isso, durante o almoço em que procurava "vender lhe" a sua agência, achou oportuno, a certo momento, referir se à paixão do Cliente:
"Para mim, Sr. Engenheiro, um dos encantos de coleccionar antiguidades, está na descoberta!"
"Sim, realmente..."
" Entrar num pequeno antiquário e ir descobrir, coberta de pó, ao fundo da loja, uma peça rara!"
"E isso já lhe aconteceu?" perguntou o Sr. Engenheiro, desconfiado.
"Ainda na semana passada! Ainda na semana passada! Numa lojeca de ferro velho, imagine, descobri uma Nossa Senhora de Fátima do Sec. XVI!"
O Senhor Director da Agência nunca percebeu porque não tinha "ganho" o Cliente. O almoço até tinha corrido tão bem!

Luís Gaspar