Estúdio Raposa

História 124
"A Cacheira"

 

INDICATIVO

Vamos ouvir um história recolhida por Ataíde de Oliveira, intitulada, “ A Cacheira”. Para quem não sabe, cacheira é um pau, vara ou moca.

MÚSICA

Uma velhinha muito religiosa e muito pobre semeou um dia uma fava no seu quintal. Cresceu, cresceu e chegou até ao céu. Um dia de manhã muito cedo subiu pelo pé da fava e foi bater à porta do céu. - O que queres? - perguntou S. Pedro.
- Sou muito pobrezinha e venho pedir uma esmola.
O santo deu-lhe uma pequena mesa e recomendou-lhe que em tendo fome, dissesse: põe-te, mesa.
Desceu a pobrezinha muito contente e no momento em que punha o pé no chão, ouviu tocar à missa. Pôs a mesinha às costas, dirigiu-se à capela e pediu à ermitoa que guardasse aquela mesa, até que ela voltasse da missa; e acrescentou: não diga põe-te mesa.
A ermitoa recebeu a mesa e a velhinha entrou na capela. Mal aquela deu costas, disse a ermitoa: põe-te, mesa; e imediatamente a mesa se cobriu de boas iguarias. Viu a ermitoa que tinha ali um grande achado, e trocou a mesa por outra que ela tinha do mesmo tamanho e da mesma cor. Quando a velhinha saiu da missa recebeu a mesinha trocada.
Foi para casa e apesar de repetir: põe-te, mesa, esta não correspondia aos seus desejos nem à sua grande fome.
No dia seguinte subiu novamente e queixou-se ao santo de que a mesa se não explicava como o santo lhe tinha dito, e S. Pedro deu-lhe um cordeirinho, dizendo: quando precises de dinheiro, basta que lhe digas: mija dinheiro.
Desceu a velhinha e ouviu tocar à missa. Correu à capela com o seu cordeirinho no braço e entregou-o à ermitoa até que voltasse da missa, e porque era de uma pasmosa ingenuidade disse: não diga ao meu cordeirinho, mija dinheiro.
Repetiu-se a mesma cena e a ermitoa trocou o cordeirinho por um seu muito parecido.
Foi a velhinha para casa e por mais que dissesse, mija dinheiro, o cordeirinho não mijava dinheiro.
No dia seguinte lá foi a velhinha ao céu repetir as suas orações.
Percebeu o santo que a pobre velha era roubada por algum finório e, por isso, deu-lhe uma cacheira.
- Para que me serve tamanha cacheira? perguntou.
- Quando quiseres dinheiro em abundância diz: desanda cacheira.
Sucedeu como das mais vezes: tocou à missa e a velhinha pediu à ermitoa que lhe guardasse a cacheira, mas não dissesse: desanda cacheira. Mal a velhinha deu costas, pôs-se a ermitoa muito contente a dizer: desanda cacheira.
Apenas proferiu estas palavras salta-lhe a cacheira em cima das costas, e só a deixou quando ela restituiu à velhinha pasmada a sua mesinha e o seu carneirinho.

INDICATIVO

Acabámos de ouvir uma história recolhida por Ataíde de Oliveira.

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