INDICATIVO
A história que vamos ouvir intitula-se “Dom Caio” e vem contada numa bela edição da Verbo intitulada “Tesouros da Literatura Popular Portuguesa” publicada em 1985, organizada por António Manuel Couto Viana e com ilustrações de Júlio Gil.
MÚSICA
Era um alfaiate muito medroso, que estava trabalhando à porta da rua; como ele tinha medo de tudo, o seu gosto era fingir de valente. Vai de uma vez viu muitas moscas juntas e de uma pancada matou sete. Daqui em diante não fazia senão gabar-se:
- Eu cá mato sete de uma vez!
Ora o rei andava muito aparvalhado, porque lhe tinha morrido na guerra o seu general Dom Caio, que era o maior valente que havia, e as tropas do inimigo já vinham contra ele, porque sabiam que não tinha quem mandasse a combatê-las. Os que ouviram o alfaiate andar a dizer por toda a parte: «Eu cá mato sete de uma vez!», foram logo metê-lo no bico ao rei, que se lembrou de que quem era assim tão valente seria capaz de ocupar o posto de Dom Caio. Veio o alfaiate à presença do rei, que lhe perguntou:
- E verdade que matas sete de uma vez?
- Saberá Vossa Majestade que sim.
- Então nesse caso vais comandar as minhas tropas e atacar os inimigos que já me estão cercando.
Mandou vir o fardamento de Dom Caio e fê-lo vestir ao alfaiate, que era muito baixinho, e que ficou com o chapéu de bicos enterrado até as orelhas; depois disse que trouxessem o cavalo branco de Dom Caio para o alfaiate montar. Ajudaram-no a subir para o cavalo, e ele já estava a
tremer como varas verdes; assim que o cavalo sentiu as esporas botou à
desfilada, e o alfaiate a gritar:
- Eu caio, eu caio!
Todos os que o ouviam por onde ele passava diziam: - Ele agora diz que é o Dom Caio; já temos homem.
O cavalo que andava costumado às escaramuças correu para o sítio em que andava a guerreia, e o alfaiate com medo de cair ia agarrado às crinas, a gritar como desesperado:
- Eu caio, eu caio!
O inimigo assim que viu vir o cavalo branco do general valente, e ouviu o grito: «Eu caio, eu caio!», conheceu o perigo em que estava e disseram os soldados uns para os outros:
- Estamos perdidos, que lá vem o Dom Caio; lá vem o Dom Caio!
E botaram a fugir à debandada; os soldados do rei foram-lhe no encalço e malharam neles, e o alfaiate ganhou assim a batalha só em agarrar-se ao pescoço do cavalo e em gritar: «Eu caio.» O rei ficou
muito contente com ele e, em paga da vitória, deu-lhe a princesa em casamento e ninguém fazia senão louvar o sucessor de Dom Caio pela sua coragem.
MÚSICA
Acabámos de ouvir uma história intitulada “Dom Caio” retirada do livro da Verbo, intitulado “Tesouros da Literatura Popular Portuguesa”
Na próxima semana temos outra história.
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