DANYEL SAK
Crónicas 6

 
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DE VELEIROS, TRANSATLÂNTICOS, CARGUEIROS E BARQUINHOS À REMO

Caros Amigos:

No ínicio, os seres humanos são como maravilhosos veleiros de competição: encantadoramente leves, ágeis e rápidos.
Mas, ao longo da vida o ser humano começa a juntar coisas e com o tempo algumas delas perdem o seu significado. Neste momento as pessoas começam a tornar se naqueles navios grandes; transatlânticos que sulcam as águas, mas manobram mais vagarosamente, com menos agilidade devido ao peso das coisas que carregam.
Passados mais alguns anos juntam ainda mais coisas, e uma grande parte delas, já não tem mais significado algum. Neste ponto estão condenados a tornarem se navios cargueiros com contêineres: pesados, navegando muito vagarosamente, arrastando este peso pela vida afora e necessitando sempre do auxílio de pequenos barcos que os guiem com cuidado para não encalharem.
Mas será que existe uma fórmula mágica para voltar a ser um daqueles charmosos veleiros que fomos um dia? Claro que existe. E o melhor de tudo é que é muito simples: basta fazer uma arrumação.
Certamente será um exercício difícil e dará muito trabalho, pois cada livro que você pegar vai inventar que “um dia vai voltar a reler”, cada roupa (em perfeito estado, claro) que já não aprecia, sempre vai arranjar uma boa desculpa para você mesmo que “um dia vou usar”. Mas não se preocupe; no início isso é um sintoma
normal para quem quer voltar a ser um barco ágil: com o passar dos anos e das arrumações anuais, você vai ver que as coisas vão ficar muito mais fáceis. E com o tempo, você vai comprovar que não precisava de muitas das coisas que imaginava que necessitava para viver.
Claro, eu não prometo que você vai virar um veleiro de competição. Não que isso não seja possível. O que ocorre, é que cada pessoa no fundo sabe exactamente que barco ideal poderia voltar a ser. Isso porque, como é óbvio, o que é importante para uma pessoa, não é importante para outra. Mas, todas elas tem algo em comum: muitas tralhas para jogar fora e muitas coisas boas para dar a muitas outras pessoas que ainda são barquinhos à remo.
Assim, não se preocupe se depois de passar por este processo, você não se tornar um veleiro de competição: quem sabe poderá ser um charmoso barco de recreio, estilo anos ’50, com aquele bonito casco de madeira envernizado, um espaçoso convés para movimentar se com tranquilidade sem esbarrar em nenhuma tralha, um porão com espaço suficiente para levar as coisas que você realmente aprecia e necessita e uma velocidade de cruzeiro pela vida que será fantasticamente melhor que a do navio cargueiro de contêineres que você era. A vida é uma só: bem vindo ao clube, viaje leve e enjoy the ride!

Um Abraço

Danyel Sak – Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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NAQUELE DIA, DAVID ESTAVA BONZINHO

Caros Amigos:

Uma história simples, mas na verdade não é uma história simples. Explicando: o filme The Straight Story (Uma História Simples) é tudo, menos uma história simples.
Escutei falar muito bem deste filme na Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo.
Para começar, David Lynch deixou a escatologia de lado e estava em um de seus dias bonzinhos, tanto que convidou o maravilhoso ator Richard Farnsworth com os seus silêncios e expressões para o papel principal. E para embrulhar tudo com um maravilhoso papel de presente sonoro, o sempre inspiradíssimo italiano Angelo Badalamenti.
Uma história que vai fazer com que os Não Generosos, os Chatos Cinza Esverdeados e os Vampiros dos Sonhos (ver em crónicas anteriores), fujam apavorados de si mesmos.
Que mais? Só conferindo no dia 23 de Novembro, Domingo no Canal Gallery às 22:50H.

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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CHÁ DE MINHOCA

Caros Amigos:
Como estava na minha chaise longue ao lado de minhas mulheres e meus cachorros, saboreando o meu Dry Martini (stirred, not shaked!) acabei por embalarme neste clima e deu se a moleza.
Mas lembrando me dos Ditados "Quer moleza? Empurra bêbado na descida", ou "Quer moleza? Toma Chá de Minhoca", verifiquei que não tinha nenhum ébrio por perto e que não trocaria o meu Dry Martini (stirred, not shaked!) pelo Chá de Minhoca.
Assim, acabei encontrando um artigo que havia escrito para a revista
Briefing em 97. E ao relê lo vejo que ele continua deliciosamente actual:

A Síndrome de Arcaiv

A Síndrome de Arcaiv (para os íntimos, Archive) está entre nós.
Cito o caso de um pequeno cliente (verídico) que foi vítima da Síndrome de Arcaiv. Apareceu em uma agência: necessitava fazer o lançamento do seu produto (desconhecido no mercado) e ia investir 90 mil contos do próprio bolso em publicidade.
A agência então pegou imediatamente a Arcaiv e seguiu à risca a fórmula da Síndrome: as fotos eram maravilhosamente artísticas (para não estragar a estética, não deveriam corresponder ao público alvo), o texto para explicar o novo produto aparecia (aparecia?) em apenas uma linha, corpo 8 (perfeito para aparecer na Arcaiv, mas ilegível à distância por ser um Muppie), o logo deveria ser imperceptível para a diagramação ficar perfeita, o produto não deveria aparecer pois no lançamento bastava a foto com sentido metafórico.
Resultado: Sucesso. Os consumidores responderam ao lançamento com dinheiro metafórico. Ou seja, não adquiriram o produto.
O cliente, já à beira da falência, com sua verba agora diminuta, não conseguia uma boa agência. Para salvar o seu negócio, rapidamente juntou os tostões que restavam e recorreu à indicação de freelancer.
Fez se então o básico no lançamento: explicar o produto ao consumidor.
Resultado: vendeu.
Resumo: alguns clientes estão lentamente migrando de agências critivas (mas já contaminadas pela Síndrome de Arcaiv) para (infelizmente) agências jurássicas por um único motivo: sabem que a publicidade foi feita para vender.
É claro que cada vez mais a publicidade é entertainment: deve ser bonita,
atrair, seduzir. Mas cuidado para não abusar e contrair a Síndrome. Ou, como dizia um grande craque de futebol do passado: ""treino é treino, jogo é jogo".
(1997)

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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TODOS QUEREM FICAR NO ALTINHO.

Caros Amigos:

Estava na minha chaise longue, ao lado das minhas mulheres e meus cachorros, e enquanto sorvia o meu Dry Martini (stirred, not shaked!) ocorreu me uma questão: já repararam como a altura, em relação ao solo, dos automóveis está ficando cada vez maior? Maior até que, como um amigo diz "o bundão caído da enjoada jênifelópez que eles querem nos impingir como o máximo e verdadeiramente tropical, mas que é totalmente molengão e fake".
Antigamente eram somente os camiões (caminhões) e autocarros (ônibus) que eram altos. E os motoristas dos automóveis ficavam muito incomodados quando um deles encostava, com toda a sua altura e prepotência, atrás ou ao lado do seu automóvel.
E se a vítima fôsse o proprietário de um automóvel de luxo, pior ainda: nestas ocasiões ele se sentia diminuidíssimo, por mais dinheiro e poder que tivesse, ao ver um proletário olhando o lá de cima.
Mas, um belo dia, Fiat Lux! Um Designer Industrial com Mestrado em Psiquiatria Repressora Esquizóide, teve uma ideia asquerosamente brilhante: notando que a sociedade possuia um desejo não confessado de auto reprimir os demais no trânsito, começou a aumentar a altura do solo das Vans De Luxo e das Pick Ups Urbanas Modernettes
Agora sim: quem fôsse da classe alta e possuísse a sua Van De Luxo ou Pick Up Urbana Modernete, finalmente ficaria no altinho. Poderia não só auto reprimir os camiões e autocarros proletários, como poderia ir à caça dos outros carros e reprimí los também. Que bom!
Para isso, bastaria apenas à Van De Luxo ou Pick Up Urbana Modernette, chegar perto do carro baixinho que se encontrasse mais próximo, emparelhar, olhar de cima (com uma expressão asquerosa repressora de nojo) para os ocupantes do carro baixinho e à seguir, acelerar feliz da vida. Finalmente, Enjoy It!
Mas, Enjoy It por pouco tempo. Porque um Designer Industrial com Pós Graduação em Inveja da Classe Média Pela Classe Alta, observou que, se a classe alta poderia pagar para reprimir os outros, porque a classe média não poderia gerar os mesmos lucros?
Assim, há pouco surgiu um modelo de automóvel para o segmento classe média, em que o argumento de venda (segundo o filme publicitário na TV) é algo como "maior altura, você vai ficar lá em cima". Traduzindo: a classe média também tem o direito de entrar no divertido esporte da auto repressão.
Certamente, o próximo passo será a extensão de linha do quero ficar no altinho para reprimir os outros, para a classe proletária.
Para isso, será convocado um Designer Industrial com Doutorado em Luta de Classes e Tácticas de Guerrilha Para Ascenção Social Motorizada do Proletariado.
Este designer aumentará a altura do solo para as Porricletas (foto ao lado), aquelas máquinas rodantes mezzo automóvel/mezzo aquário humano, conhecidas pela sua característica de emitir em subidas, o insuportável, ensurdecedor e infindável som de uma fusão nuclear com gases retidos.
E a partir do momento em que a primeira Porricleta sair da linha de montagem, cinco coisas importantíssimas ocorrerão:
1. O Homem ficará um pouquinho mais surdo.
2. Finalmente o "SAI DA FRENTE!!" será democratizado e a auto repressão neurótica estará finalmente ao alcance de todas as classes sociais: desde o mais rico, ao médio e ao proletário, todos terão o direito de ficar repressoramente altinhos no seu automóvel olhando para a janelinha baixinha do automóvel ao lado com cara de nojo
3. Os filmes do Mad Max voltarão; mas agora como parte do currículo escolar, mostrando como fazer todas aquelas perseguições e destruições em série de veículos.
4. Os fabricantes de guard rails, postes e placas de trânsito em bifurcações, vão emergir como a Nova Classe Riquíssima, devido a gigantesca demanda dos seus produtos, em substituição aos destroçados diariamente em todas as vias de circulação.
5. E a mais importante de todas: como algumas estradas da Alemanha designam se por AutoBahn, o nome das estradas locais vão passar a denominar se AutoBum!!

Mas a pergunta psiquê que virá logo à seguir será: e os que dirigem carros baixinhos, como os Porsches? Eles não tem esta necessidade de ficar repressoramente altinhos no seu automóvel olhando para a janelinha baixinha do automóvel ao lado com cara de nojo?
Bem, como todos sabem, eles, com aqueles potentes motores e com aqueles canos de escape bem grossos, tem um probleminha um pouquinho diferente dos demais, explicado tão bem pelo genial anúncio da agencia Fallon McEligott para a Porsche: Little penis?

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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TUDO O QUE VOCÊ QUERIA E MAIS UM POUCO.

Caros Amigos:

Se vocês ainda não escutaram o CD de "Las Niñas" é porque certamente foi um lapso.
Essas Andaluzas são simplesmente chics. Ou seja: simples e chics.
Músicas que mesclam tudo o que você queria ouvir e mais um pouco. Mas sempre com arranjos primorosissímos, ligadas no que de mais actual existe (mas sem ser moderninho chatinho) e ao mesmo tempo, ao mais clássico (bossa nova).
Isso sem perder as tradicionais raízes Andaluzas.
Mas como isso é possível? Comece conferindo em:
www.listaspalatake.com

E depois compre o CD e vá directo para a faixa "Samba Hop El mundo a mis pies.
Só este pequeno e simbólico gesto já ajuda em muito a dissolver como soda cáustica todos aqueles sons tralha que o préfabricadoechatodoeminem depositou nos ouvidos mundo afora.

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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EU QUERO UM CHEVROLET!

Caros Amigos:
Desta vez vocês não vão ler a Crónica: vão ouvir. São jingles clássicos, escolhidos entre mais de 1000. Alguns antigos com som um pouquinho precário, outros contemporâneos, e uns simplesmente maravilhosos.
Uma grande parte dos jingles faz parte de campanhas com filmes de TV que reforçavam ainda mais o lado lúdico do jingle. Vocês vão ouvir coisas como:

A Taça do Mundo é Nossa
Banco Bamerindus Natal
Banco Nacional
Café Seleto
Caixa Econômica Federal
Casas Pernambucanas
Casas Pernambucanas II
Chevrolet
Cobertores Parahyba
Corneto
Danoninho
Fim de ano da Rede Globo
Óleo Maria
Pepsi II
Pipoca com Guaraná
Pizza com Guaraná
Talco Johnson
Varig Natal
Varig Seu Cabral
Vasp, etc.

Mas o mais importante de tudo isso, é que alguém teve a idéia e a paciência de juntá los para formar um arquivo sonoro de um país.
Confiram pelo menos o da Vasp, Pipoca com Guaraná, Talco Johnson (feito pelo inesquecível Tom Jobim) e principalmente o maravilhoso e inspiradíssimo Chevrolet (Opel).
Aumentem o som e cliquem em:

http://radioclick.globo.com/cbn/colunas/jinglesinesqueciveis.asp

Um Abraço
Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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A SUBASTA DO CHAPAPOTE

Caros amigos:

Alguém viu toda aquela gosma que o navio Prestige derramou nas costas da Galícia, e resolveu colocar o Método de Millôr em prática: "Livre pensar é só pensar". E com isso, percebeu que toda aquela gosma do Prestige poderia gerar dinheiro.
Claro que se você fôsse um dos milhares de seguidores da Seita do Não, este tipo de coisa não iria em frente.
Isto porque os seguidores da Seita do Não tem 2 estatutos poderosíssimos para manter o Status Quo por muitos e muitos anos:
O "Não precisamos disso" e a seguir (se por acaso a coisa for em frente com sucesso) lançam mão do "Isso não vai dar certo".
Mas ocorre que, quando um grupo decidido e esclarecido resolve colocar
em prática o "Livre pensar é só pensar", acontece algo mágico: os adeptos da Seita do Não fogem apavorados e recolhem se aos seus TDIs.
Com o caminho livre, surge a primeira pergunta: como ganhar dinheiro com a gosma do Prestige?
Simples 1: Fazendo uma Subasta com o Chapapote.
Calma, Subasta não tem nenhuma conotação com sovaco e Chapapote é apenas o nome da gosma que o Prestige derramou. Explicando: fazer um leilão da gosma que o Prestige derramou para gerar dinheiro para as vítimas.
Então surge a segunda pergunta: mas quem é que vai a um leilão para comprar toda aquela porquêra?
Simples 2: Todos os que querem ter uma obra de arte pintada por pessoas conhecidas na sociedade.
Estas pessoas, que vão desde Felipe Gonzalez até Carlinhos Brown, foram convidadas a pintar quadros (e até uma estátua) usando toda aquela porquêra derramada como se fôsse tinta.
Simples não: a porquêra vira arte, que vira leilão, que vira dinheiro para as vítimas. Livre pensar é só pensar.
Confira rápido (antes que a Madonna e o nadegão caído pseudo tropical da Jênifer López apareçam por lá) em: http://www.m80radio.com (clique a seguir em: subasta M80 chapapote).

Um Abraço
Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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A FELICIDADE É PARA POUCOS

Caros Amigos:

Às vezes a Felicidade está onde menos se espera, em um lugar onde raramente a procuramos: no seu dia a dia.

"É claro que você vai chorar e rir nesta vida. Algumas vezes você não vai poder ter o que deseja. Outras, vai conseguir o que deseja. Mas na verdade, isso é a Felicidade?
Porque a Felicidade pura, integral, ainda não está ao alcance de todos, por mais rico ou poderoso que seja.
Sim, claro que existem os conhecidos momentos de Felicidade: o carro novo, o nascimento do filho, a promoção no trabalho, etc. Todas estas coisas que nos dão aquela sensação inebriante de que tudo está perfeito e que naquele instante até podemos tocar a tão ansiada Felicidade com as mãos. Todas estas coisas também fazem parte da Felicidade, mas apenas são um fragmento dela.
Mas se pararmos para olhar e voltarmos no tempo, veremos que antes desta Felicidade acontecer, passaram se dias e mais dias em que para nós, aparentemente "não aconteceu nada".
Na verdade passaram se dezenas e mais dezenas de momentos que poderiam ter sido felizes, mas que nem prestamos atenção neles para que germinassem e florescessem.
Na realidade, aquilo a que chamamos Felicidade é simplesmente a soma de todos aqueles momentos que pudemos tornar felizes no decorrer da vida, por mais simples que sejam. Óbvio não? Mas não deixa de ser uma verdade.
Mas no dia a dia o que fazemos é ficar esperando o "Momento feliz". Porque ao invés disso não nos acostumamos a fazer o nosso momento feliz? Melhor: fazer momentos felizes, vários deles, todo os dias.
No nosso processo mental, o que comumente acontece é que sempre estamos esperando pela cereja do bolo: engolimos o bolo rapidamente já pensando na cereja. Ou seja: na verdade não comemos o bolo, não desfrutamos o sabor do bolo, estamos mesmo concentrados na cereja. E quando chega a vez de prová la, ela acaba tão rapidamente quanto apareceu.
E este tipo de comportamento surge no decorrer de toda uma vida: não estudamos no colégio e sim queremos ir para a Universidade. Quando chegamos na Universidade, queremos sair o mais rápido possível e trabalhar. Quando chegamos ao trabalho, queremos a promoção imediata (consultar capítulo As Marchas). Nada de anormal nisso: todos queremos ser felizes. Mas no caminho ficaram dias e mais dias que não foram aproveitados para sermos felizes.
Nesta caminhada, não podemos nos dar ao luxo de nos esquecer de todos os minutos, horas e dias que simplesmente "jogamos fora". Momentos que não voltarão e que nos lembraremos deles quando formos velhos. E aí sim, pagaremos todo o ouro do mundo para termos este precioso tempo de volta.
Mas não se sinta culpado: isso é apenas questão de preparação, de educar se para detectar estes momentos do quotidiano (consultar capítulo Colher de Chá). Ou seja: o importante não é marcar 10 pontos em um jogo e a seguir perder os demais. Na realidade, quem ganha o campeonato é a equipa que consegue marcar um ponto aqui, outro ali, e na soma final ter a média vencedora.
Presenteie se com todos os dias de sua vida. Ou pelo menos, tente que a maioria deles sejam vividos plenamente."


(Trecho do livro "A Felicidade é Para Poucos" de Danyel Sak)

Um Abraço
Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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VOCÊ VAI PARA O PIQUENIQUE?

Caros Amigos:

Estava na minha chaise longue, saboreando o meu Dry Martini (stirred, not shaked!) ao lado dos meus cachorros e das minhas mulheres quando pensamos na modinha que está na moda: o NO STRESS.
Assim, se você é uma pessoa competente e profissional, fique sabendo que o tal de NO STRESS é mais pernicioso para a sociedade que as propagandas da TV Cabo.
Claro que o caminho para tentar evitar o stress é mais percorrido que o Caminho de Santiago.
Mas o que realmente está ocorrendo é: quem se apoderou do NO STRESS não são as pessoas que realmente trabalham e tem stress. Aquelas que correm de um lado para o outro para corrigir as cretinices dos demais, que resolvem os problemas causados pelos incompetentes e que ainda depois de tudo isso conseguem manter um sorriso nos lábios. Quem usa a desculpa abjecta do NO STRESS são mesmo os incompetentes.
Vejamos: pegue um destes sujeitos que enrola o dia inteiro no trabalho, faz tudo errado e, para poder ler em paz o jornal A Bola/revista Caras nas 8 horas laborais, joga todo o trabalho para o colega competente que está ao lado.
Então, como é que este sujeito vai fazer para justificar o emprego e toda a sua incompetência para encobrir o trabalho que deveria estar pronto há 8 meses atrás? Simples, pronunciando as palavras mágicas: NO STRESS.
Ou seja, o NO STRESS que deveria ser uma coisa mais bonita que Miss Venezuela, acabou sendo sequestrado pelos incompetentes que nunca saberão o verdadeiro significado da palavra Stress.
Resumindo, o NO STRESS é a melhor desculpa que:

O gestor(a) que lê o jornal A Bola/revista Caras o dia inteiro, usa para atrasar o prazo do trabalho em 8 meses (no mínimo),
O electricista folgado usa para não aparecer, conforme o combinado há semanas, para consertar o curto circuito,
O mecânico que está no bar o dia inteiro usa para entregar o carro (mas só depois do feriado, claro),
Os entregadores lentíssimos usam para entregar os armários no mês em que você está de férias em Burkina Faso,
O financeiro atrapalhado usa para entregar o cheque com a quantia errada e com 3 meses de atraso,
A modista que lê Caras o dia inteiro usa para justificar o atraso da entrega do vestido de noiva para depois da data do casamento,
O director que sempre pede a campanha para amanhã usa para engavetar as campanhas indefinidamente (enquanto pratica o seu desporto favorito bater repetidamente o seu TDI no trânsito),
O criativo usa para fazer campanhas que não vendem, sem o produto do cliente e o logo microscópico posicionado na barrinha horizontal do lado direito. (continuem completando com os seus exemplos, mas por favor depois da 50ª página parem e vão tomar um banho morno com sais de Pomponilha Rosada).

Mas animem se, aqui vão as boas notícias: para cobrir o déficit que estes seres provocam ao seu bolso, a linha de produtos NO STRESS seria ampliada. Teríamos gravatas NO STRESS, camisas sociais com estampas NO STRESS (para os incompetentes mais discretos teríamos um bordado minúsculo de NO STRESS no lugar das iniciais do nome), sapatos de couro com fivelas em dourado com as letrinhas NO STRESS, fatos macaco (macacões) NO STRESS para algumas oficinas, etc.
Assim, ao nos aproximarmos destes seres e ao vermos que eles usam NO STRESS, ganharíamos tempo e paz de espírito, porque estaríamos preparados para trabalhar o quádruplo ou esperar 10 vezes mais tempo pelo serviço que solicitamos.
Poderíamos também instituir o Dia Nacional do NO STRESS. Funcionaria assim:
Todos estes seres iriam para um piquenique fazer exactamente o mesmo que fazem durante o dia a dia: ler o jornal A Bola/revista Caras e mandar Forwards de mails durante todo o dia.
As pessoas que ficariam trabalhando seria a turma do YES STRESS. Não que a turma do YES STRESS se estressasse no trabalho, pelo contrário: ficariam muito mais calmas em não ter que aturar todos aqueles seres que foram para o piquenique. E claro, o efeito colateral do Dia Nacional do NO STRESS seria a abrupta e espectacular subida da produtividade.
Ou seja, a segunda boa notícia é que o YES STRESS é o melhor anti soporífero que existe, produtor de bens de consumo de alta qualidade, gerador de empregos, eliminador da frase "Volte Amanhã" e exterminador de uma vez por todas dos nefastos cartazes de "Avariado".

Além disso, o YES STRESS tem uma sonoridade muito melhor. Vamos lá, pronuncie: YES STRESS. Viu? Rima perfeita e um delicioso somsibilante.
A partir de hoje todos terão que escolher se são da turma do NO STRESS ou do reduzidíssimo grupo do YES STRESS: ou usam NO STRESS e participam do tal piquenique ou então fazem uma t shirt YES STRESS (rememorando a época da minha empresa de t shirts, no final desta crónica) e aderem ao capitalismo competente (please, enviem uma para que possa intercambiar com as minhas mulheres).
YES STRESS: a ferramenta mais eficaz para dar uma cacetada na cabeça dos capitalistas letárgicos.

Um Abraço
Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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O NOVO FENÓMENO DA POP ART

Caros Amigos:

A melhor criação hoje em dia, definitivamente, não está nas agências de publicidade, design ou ateliers de pintura. Está nos restaurantes, bares e cafetarias espalhados por todo o país: o fenômeno pop art de "Há caracóis".
Ocorre que ele passa totalmente desapercebido do público em geral e (infelizmente) das pessoas ligadas à Comunicação. Mas mesmo assim, é a mais espontânea e constante pop art que temos visto há muito anos em uma área de aridez sahariana. O "Há Caracóis" é um tipo de diminutíssimo Keith Haring local www.keithharing.com ou Mariscal www.mariscal.com
Claro que é um fenómeno sazonal que só ocorre no Verão, mas ao longo dos anos este conceito teve uma evolução impressionante.
O ponto mais positivo deste fenómeno é que, quem produz a peça (donos de cafetarias, bares, empregados de balcão) não tem nenhuma formação em artes plásticas, design ou pintura e seu perfil é ultra conservador. Aliás, penso que este deve ser o principal factor de evolução do "Há Caracóis", pois se estivessem ligados a algumas empresas, este fenômeno não teria ocorrido, já que alguns gestores estariam paralisados desde a mais tenra infância pelo medo da aprovação. E para enterrar de vez a ideia do "Há Caracóis", tirariam o jornal A Bola da gaveta para ler durante o resto da vida laboral, como é práctica comum.
Exactamente por não estarem sujeitos à temores e amarras profissionais, o pop design de "Há Caracóis" e as suas nuances foram sub repticiamente tomando conta da paisagem das ruas como uma forma de arte livre, descompromissada e com o único objetivo de passar a mensagem de forma directa e compreensível.
Por isso temos o prazer de ver os cartazes "Há Caracóis" nos mais variados formatos e técnicas: all type, só desenhos, hibridos entre desenhos e tipos, desenhos manuscritos, pinturas, cartoon, clássicos, etc.
Deveríamos promover um concurso de cartazes "Há Caracóis" produzidos por alguma instituição de arte contemporânea. Não, melhor não, esqueçam, porque com o tempo os críticos de arte se ocuparão de criticar, distorcer e aniquilar o fenómeno.
Mesmo não sendo a Catalunha ou a América, quem sabe daqui há muitos anos o "Há Caracóis" poderá (se alguma nova legislação não os regulamentarem e os coibirem de vez) transformar se em um fenómeno como o do Touro Osborne www.osborne.es ou o Don da Sandeman www.sandeman.com
Então, o melhor a fazer é: deixem o "Há Caracóis" em Paz!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E o mais importante de tudo, é que esta coluna esta isenta de paixões culinárias e obscuros interesses culinários: infelizmente eu não aprecio caracóis.

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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EXTINÇÃO

Caros Amigos:

Há uns tempos, notei uma coisa estranha: os europeus estão desaparecendo. O que ocorre, é que aquele europeu médio que conhecíamos está em vias de extinção.
Assim, o turista de outro Continente vem à Europa esperando encontrar o europeu médio com as suas características habituais: roupas padrão como vestidos, tailleurs, camisas, calças e sapatos engraxados, pele clara ou mediterrânea, cabelos relativamente lisos e escutando músicas em que não predomina a percussão. E com uma inclinação natural para os museus, vocês sabem a tal história: o berço da cultura
ocidental, música clássica, etc.
E quando começa a passear em busca do europeu médio, o que vai encontrando pelo caminho são europeus com corpos heavy bronzeados padrão esquimó, cabelos com dreadlocks, panos amarrados na cabeça estilo maria lavadeira, corpos cobertos por tatuagens tribais com desenhos que não se sabe o que significam e argolas tribais enfiadas nos mais recônditos cantos do corpo.
Andando um pouco mais, percebe que as roupas foram substituídas por cangas e panos com cores contrastantes, e os sapatos por sandálias de fibras naturais.
Constata também que os maiôs desapareceram e foram substituídos por tangas (que também desaparecem pela derriére feminina), os braços, pescoços, pernas e cabelos estão amarrados e envoltos com fitas dos mais variados tipos e totalmente cobertos e atulhados por miçangas e pulseiras.
E todos tem algo em comum: suam e saracoteiam uníssonamente em danças vindas dos Trópicos.
Quem sabe o europeu médio tenha sido abduzido, porque depois de tanto andar e procurar, os únicos europeus que o nosso turista achou foram adultos Tiroleses usando aqueles shortinhos com suspensórios (bem, no caso de adultos usando este tipo de shortinho com suspensórios todos concordamos que uma abdução é plenamente justificada).
Penso que nesta altura, a única coisa a fazer, já que a extinção do europeu médio já é uma realidade, seria procurar rapidamente um casal padrão de europeu médio, congelá los e exibí los nas próximas Expos para que as gerações futuras soubessem como eles eram.
Imagino então, como se sentiriam os antigos e extintos europeus médios se chegassem a outro Continente e este tipo de situação se repetisse:
(avião europeu médio chegando em outro Continente, calor estonteantemente tropical):

Bom dia, sou um europeu médio e acabo de chegar nos Trópicos. O Sr. é o guia?
Sim, sou eu, Sir. Mas por favor não me chame de Guia: sou um Professional Escort.
Professional Escort??
Perdão Sir, mas vejo que o seu accent em inglês não está tão apurado.
Certo, certo, é que o meu inglês é daqueles cursos de banca de jornais de
europeu médio. Mas voltando ao assunto, pensei que o sr. como o meu Guia ".her"perdão
Professional Escort, iria estar usando uma Tanga ou um Conjunto Safári e não trajando Fato (paletó) e Gravata!!
Meu senhor, por favor, mas que ridículo,.Tanga ou um Conjunto Safári? Bem, no máximo para lhe satisfazer, posso trocar este sapato por um mocassim clássico italiano e mudar esta gravata de seda de Cuomo por uma gravata regimental de puro algodão egípcio em tons terra. Mas por favor: nada de camisa de mangas curtas.
Mas estão 45 graus à sombra!!
Sim Sir, of course, Noblesse Oblige.
Muito bem, esqueça, vamos para a Savana. Onde está o elefante?
Elefante? Que Elefante Sir? Vamos nesta bela limousine.
Limousine?? Na Savana?? Mas o senhor não tem outra opção mais animal?
Claro que tenho outra opção animal: um Mustang.
Hummm, que belo cavalo!! Que fúria de animal!!
Não Sir, me refiro ao Ford Mustang GT, modelo Challenger Special de 225, HP V 8 de 4 carburadores e Heavy Duty Suspension. Mas como ele vem da América, pode demorar um pouco.
Por favor, por favor!! O senhor não tem nenhum meio de transporte mais selvagem, para percorrermos a Savana??
Ah, Sir, agora compreendo, algo mais selvagem, bem, o mais selvagem que posso conseguir por aqui é um Aston Martin com um rapper ao volante cantando músicas da Eurovisão.
Esqueça, vamos assim mesmo e pare de me chamar de Sir: me chame de Bwana!! Isso!!!! Me chame de Bwana! E para eu entrar no clima e me sentir tropicalizado comece a usar expressões locais: mzengo, caliente, mambíssimo, oluaiê, ababoôiê.
Bwana, Sir? Ora por favor meu senhor, contenha se, não sejamos hilários. O máximo de intimidade que me permito é referir me ao senhor pela sua profissão: Doutor, Engenheiro, Professor.
Muito bem, esqueça!! Vamos de uma vez por todas para a Savana.
Muito bem, Sir, mas prefere ir pela auto estrada ou pela Via Fast Suburbs?
Auto estrada?? Via Fast Suburbs?? Mas pensei que íamos percorrendo matas luxuriantes e rios caudalosos!! Bem, então o que recomenda?
Sir, recomendo pela Via Fast Suburbs, claro. Assim, poderemos ver os nativos no seu habitat, as suas festas e provar das comidas nativas.
Ótimo, e que festas e comidas nativas podemos encontrar pelo caminho?
Nesta época do ano, Sir, temos ao longo do caminho a Festa da Fissão, em que os cientistas nativos comemoram a fissão do átomo de Hidrogênio executada em nossos laboratórios, temos os desfiles Primavera Verão da nossa Haute Couture versando sobre Pinturas Tribais feitas à Laser e que foram exibidas em Milão com um enorme sucesso. E para saborear ao longo do caminho, podemos comer Trufas à lá Braudeville, superb!
Trufas à lá Braudeville?? Mas não tem algo mais popular para comer, algo mais nativo??
Ah, claro Sir, não o tinha compreendido bem: o Sr. pode provar ao longo do caminho o Mzengoburger no Drive Thru.
Mzengoburger? Mas o que é Mzengoburger??
É o McFish, mas como tem uma finíssima camada de Mayonnaise D.O.C. de
Baudelaire Droite Sena, que nós chamamos Mzengo torna se o Mzengoburger.
Maionese?
Perdão corrigí lo, Sir, mas a sua pronúncia de May o nnai se está ligeiramente
afastada do francófono parisiense: permita me recomendar um curso de imersão em Francês Sur Gaélico logo que o Sr. voltar.
Mzengoburger com Mayonnaise, essa é boa!!
Boa não: excelente! Porque o sr. veio em boa hora!
Ótimo! Imagino que seja pela época da subida dos peixes nas corredeiras cristalinas dos rios de águas geladas.
Não, Sir, na realidade o Mzengoburger é mesmo feito de "Delícias do Mar", aquelas coisas prensadas que nem se sabe direito o que são, vindas da Coréia do Norte. Mas a ocasião é excelente porque é a época da Super Oferta Mzengoburger Pague 1, leve 2.
Esqueça, vamos à caminho da Savana!!
Muito bem, Sir, em 30 minutos.
Trinta minutos? Então, até lá posso dar um bom cochilo.
Melhor não, Sir. Na verdade já chegamos: são 1 minuto de viagem e os outros 29 minutos para achar uma vaga no estacionamento.
Estacionamento na Savana?? E isto é a Savana??
Sir, seja bem vindo à Savana In Outdoor Mall. Espero que a minha pronúncia de Oxford o tenha satisfeito.
Mas onde estão os animais?? Onde estão os nativos??
Bem, Sir, os nativos estão nas lojas aproveitando a época de Saldos de tailleurs, gravatas e sapatos de cromo alemão. Já os animais, o Sr. pode vê los em um dos nossos quinze Cinemas 180º Dolby System Stereo.
Esqueça os animais e vamos encontrar logo os nativos com um caldeirão de água quente!
E quando acharmos um, me bota logo dentro, ah!! E pede para que cantem e dancem canções tribais enquanto misturam o caldeirão. Ah, já imagino o maravilhoso coro gutural e apoteótico enquanto sou cozinhado: Krig Ha Bandolo!! Krig Ha Bandolo!! Tum Tum Tum, Krig Ha Bandolo!! Krig Ha Bandolo!! Tum Tum Tum.
Caldeirão? Que caldeirão Sir? No máximo posso levá lo ao Convention Center em anexo, onde agora mesmo há um simpósio no qual decorre a conferência "Antropofagia: a perda do verdadeiro elo de comunicação deglutível Europa Trópicos".
Chega!! Chega!! Por favor, me leve de uma vez por todas para onde estão os nativos, as suas danças rebolantes e suadas, as suas tatuagens enigmáticas, os seus cabelos com tranças e os seus braços coberto de miçangas!!
É para já, Sir.
Óptimo!! Excelente!!, Vamos sair já para não perder tempo!!
Muito bem, Sir, ao aeroporto: o próximo vôo para a Europa sai em 20 minutos! Bon Voyage, Sir.

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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O AUTOMÓVEL DO VERÃO

Caros Amigos:

Chega o Verão, e com ele surge um dos seus problemas sociais: a baixa auto estima dos surfistas. Ou seja, o problema é mesmo a falta de automóvel do surfista.
Antes, os surfistas eram aqueles rapazes descompromissados: tinham uma prancha, uma camisa estampada e uma bicicleta para ir até a praia.
A prancha era remendada com silver tape até ficar completamente prateada de tantos remendos. A bicicleta era usada até o pneu ficar rosa de tanto remendá lo com pastilha elástica (chiclete). E a camisa florida era sempre a mesma (quando ele estava sem camisa, é porque ela estava tão suja e revoltada que ia andando sozinha até a máquina de lavar).
Mas hoje em dia as coisas mudaram. Assim como o executivo tem que ter o seu TDI (mesmo que para consegui lo, tenha que comer pão com chourição durante 48 meses) o surfista de hoje tem que ter a sua Kombi.
Para quem ainda não está familiarizado, Kombi é aquele veículo pré histórico ancestral das Vans de hoje.
O problema é que a Kombi (também chamada de Perua no Brasil, que por sua vez foi substituída pelas peruas humanas) não são mais fabricadas e por aqui, ao que parece, não foram importadas, já que nem sinal delas.
Então o pobre surfista quando chega o Verão, vê passar por ele uma enxurrada de Kombis vindas do Norte da Europa e que se dirigem para a Praia do Guincho (local onde o Homem Despenteatus descobriu o vento e posteriormente inventou a laca laquê).
Ao pobre do surfista, só resta passar pela montra (vitrine) da loja O'Neill, para ver aquela miniatura de Kombi na montra. Só que só a visão da miniatura da Kombi o faz ter convulsões em que ele delira pensando que nasceu no Tirol, usa aqueles shortinhos verdes com suspensórios e enquanto baba começa a cantar a plenos pulmões "tiroleeeeeeeiteeee". Não que ele se incomode de babar, e até surfar na espuma dababa. Quem sabe até uma das Kombis que chegam do Norte da Europa o adote ao ver a cena.
A questão é que hoje, surfista que se preze não quer nenhum 4x4, pick up ou landerôver: ele quer a tal da Kombi.
Penso que o governo, em uma medida social prioritária e solidária deveria trazer estas Kombis usadas do Brasil e da Alemanha e dar em troca os Nissan Micra e os Hyundai Atos (aquelas duas tralhas que parecem automóveis mas que na realidade foram feitos para ficar atrapalhando o caminho de todos os outros automóveis fabricados no planeta).
Mas atenção quando a importação delas for feita: existem especificações técnicas para as Kombis de surfistas, porque não pode ser uma Kombi qualquer:
. Ela tem que ser bicolor: a parte de baixo azul celeste e a parte de cima branca. A pintura não pode parecer nova: as pessoas devem notar que algumas camadas de tinta são mais densas do que outras, formando pequenas ondulações na chapa. Como se tivesse sido mesmo pintada com pincel, em uma garagem dos anos 60.
. No vidro de trás (bem pseudo discretamente) deve estar um autocolante (adesivo) de alguma marca ligada ao mundo do surf. Mas este autocolante deve estar obrigatoriamente colocado ligeiramente torto no máximo uns 5 graus no sentido anti horário, para dar a impressão de ligeira displiscência do dono, de que "não liga muito para isso" e que "ele por coincidência já estava lá colado quando troquei a Kombi".
Sim, "troquei", e não "comprei" porque isso cria o efeito pretendido de suspensezinho escambo para quem escuta e o faz imaginar que o surfista não está "nesta asquerosa sociedade de consumo em que todos somos obrigados de uma hora para outra a nos entupir de cerveja preta".
O autocolante também deve estar um pouquinho queimado de Sol (aquelas manchinhas castanhas circulares) e com uma das pontas displiscentemente solta.
. Em seu interior, a Kombi deve ter no porta luvas um mapa muito usado, dobrado e rabiscado de algum paraíso tropical para fazer surf
. Os bancos devem estar semi desbotados (caso não esteja tão desbotado assim, a fábrica deve fornecer o Kit Envelhecimento: uma Flanela Especial fabricada em Kaiserslautern Flanelspecializenbankombidishbund e Lixívia (água sanitária) especial fabricada na Baixa Saxônia Specializensanietarienkombiwasserbund.
. Isso sem esquecer a Tintura Alaranjada Pálida Para Bancos
(Palidenoranzientinturezpecializenbankbund). Esta tintura sintética de última geração (que escutei falar que a Madonna e a Jênifêlópez também usam para ficar na moda) tem como função fazer pequenas manchas nos bancos que simulam manchas de regurgitamento interno clareado (no popular: vômito lavado). Estas manchas servem para dar a impressão psicológica (para os não surfistas como você) que as ondas estavam tão fortes ao ponto do surfista heroicamente, enjoar ao enfrentá las. Ou então, que o enjôo é mesmo por ser um surfista calhorda que vive enchendo a cara de bebida e a Kombi de mulhé.

Um Abraço e um Estupendo Verão

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

PS: Se você usa peruca, não vá à Praia do Guincho.

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A MÁQUINA

Caros Amigos:

Um dia estava conversando com uma account (contato) quando, ao comentar sobre um cliente que fabricava sabão em pó, me perguntou "se eu sabia qual era a sensação que o odor de limpeza causava em nós ao abrirmos a máquina de lavar roupa". E imediatamente concluiu "não, você não deve saber".
No fundo, a account tinha razão no seu raciocínio. Mas na verdade, eu disse à ela que sabia qual era a sensação.
É que, na realidade, uma parte dos publicitários realmente não sabe muito das sensações do quotidiano. Estamos mais na era arcáive do Sr. Lurzer:
a. colocar uma imagem ocupando quase todo o espaço do anúncio (de preferência com conteúdo humorístico)
b. abaixo uma barrinha horizontal de mais ou menos 2 cm
c. na barrinha colocar no máximo uma linha de texto corpo 7
d.do lado direito da barrinha posicionar o logotipo (o mais microscópico possível, please)
Slogan? Não, a formulinha só contempla esta asquerosidade se alguns dos itens acima for retirado.
Na realidade, espalhou se o boato que o mundo a partir de hoje é totalmente visual. E como algo repetido várias vezes transforma se em verdade, até alguns clientes acreditaram nisso, coitados. Quer dizer, coitados só de alguns. Porque os que colocam no seu filme publicitário o tal cientista ou a mãe e a filha se auto imolando em discussões sobre a tortura das manchas, merecem o monstro que criaram.
Mas, voltando ao assunto "da sensação", na verdade, o publicitário deveria ser como um ator: colocar se no papel dos outros. Assim, se tem que vender t shirts, tem que se colocar no lugar do jovem, se tem que vender absorventes íntimos, tem que se colocar com sensibilidade no lugar das mulheres, se tem que vender fraldas, tem que se colocar no lugar das mães, se tem que vender aparelhos de barbear, colocar se no lugar dos homens. E se tem que vender sabão em pó, tem que colocar se no papel da dona de casa: ser a dona de casa, carregar as compras da dona de casa, ficar tão irritada como a dona de casa quando acabou de sair do cabeleireiro e lascou o verniz (esmalte) das unhas ao lavar o prato.
Mas, como se sente "a sensação que o odor de limpeza causa em nós ao abrirmos a máquina de lavar roupa"? Bem, não vai ser em nenhuma arcáive que vamos aprender isso. É preciso treinar no dia a dia o sentido de observação e a sensibilidade. Então, vá até o hipermercado mais próximo e observe bem as mulheres quando estão comprando sabão em pó. Olhe os intrincados cálculos de quantas doses proporciona cada embalagem, o que cada sabão em pó faz pela roupa, a temperatura em que cada marca actua, a especialidade para tirar manchas que cada marca oferece, a oferta contida em uma ou outra embalagem. E depois, o raciocínio final para decidir qual levar para casa.
Depois de ver tudo isso, estude cada um dos produtos e compre o que for mais adequado para você.
Volte para casa e junte as suas roupas sujas que estão espalhadas pela casa (uma cesta de roupa suja é um investimento baratíssimo, e acredite: funciona).
A seguir, siga as instruções da máquina de lavar roupa. Como não sabe? Mas onde está o expert em máquinas com todas aquelas arruelas do motor do carro e os bytes do computador? Bem, mas enquanto ela lava, fique sentadinho(a) lendo a arcáive do Sr. Lurzer.
Quando finalmente o ciclo de limpeza se completar, deixe a arcáive do Sr. Lurzer de lado, levante da cadeira e flexione as pernas para ficar na altura da janelinha escotilha da máquina de lavar roupa.
Coloque a mão na abertura da janelinha e feche suavemente os olhos. Agora, abra a portinhola e aspire de uma só vez. E ao sentir o odor que sai lá de dentro, você vai começar a ver imagens: você bem pequeno olhando a sua mãe retirando as roupas da máquina de lavar roupa e pedindo a ela uma das bolhas de sabão que ficou colada na roupa; vai ver ela pegando aqueles lençóis enormes e pendurando os sem a ajuda de ninguém, e com o know how de não deixar encostar nenhuma ponta no chão; vai se ver vestindo um pijaminha estampado de bichinhos, receber um beijo de boa noite, deitar no lençol impecável e ainda vincado do ferro de passar roupa e encostar o seu rostinho na fronha muito branquinha. E finalmente, ao fechar os olhinhos, no minúsculo espaço de tempo que nos separa do início dos sonhos, ser invadido por aquele odor perfumado de tranquilidade do sabão em pó.
E de repente, você abre os olhos e vê que está de volta à sua máquina de lavar roupa, olhando pela portinhola. E finalmente, acaba percebendo que a sua máquina de lavar roupa não era uma máquina de lavar roupa: era uma Máquina do Tempo.

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

PS: Agora, com licença que preciso verificar se o anúncio que inscrevi já saiu nesta edição da arcáive.

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ESTA MUJER NOS DEJA LOCOS!


Caros Amigos:

Estava levantando da minha chaise longue, deixando de lado o meu Dry Martini
(stirred, not shaked!) e me despedindo momentaneamente das minhas mulheres e meus cachorros para chamar o vizinho, quando a campainha tocou. Sim, era ele que já estava acostumado ao seu auto convite para ajudar a empurrar os móveis da sala e depois bailar.
Mas desta vez ele trazia duas coisas: a primeira era a sua refrescante cunhada. E a segunda era um presente. Não, não eram maracas ou muito menos uma garrafa de Pale Cream fria. Era algo muito melhor: um Kit Fast Baile.
Consistiam em um conjunto de rodinhas aerodinâmicas auto reguláveis plug & play auto easy foam.
Explicando melhor: ele projectou estas rodinhas quando trabalhava em uma grande multinacional fabricadora de carros na Alemanha. E estas rodinhas foram desenhadas para contrabalançar a rebimboca elicoidal da linha de automóveis turbo sport que eles iam lançar. Mas acabaram tendo um desempenho tão acima do esperado nos testes de Testes de Balanço Bund Inercial (T.B.B.I.), que não entraram para a linha de montagem. E por isso, o vizinho, depois de muito anos, ao retornar (não sem antes dar uma passadinha em Los Roques para pegar uma cor e dar uma palavrinha ao super bon vivant Hector, que dá lições de como a vida deve ser vivida) guardou estas rodinhas no baú de sua casa.
E de tanto ele ajudar a empurrar os móveis para depois bailar, deu se o insight: estas rodinhas estavam estes anos todos, esperando a sincronicidade de servirem exactamente para o seu fim; servir como o Kit Fast Baile.
Basta apenas colocá las facilmente sob qualquer tipo de móvel e ele desliza fácil e rapidamente para termos espaço suficiente para bailar. Na verdade, isso deveria merecer o Prémio Nobel de Engenharia de Requebro.
Assim, a partir de hoje, graças à engenhosidade do vizinho e do empenho teutônico em não parar de inventar tralhas automobilísticas, never more empurrar os móveis.
Mas porque surgiu tudo isso? Por causa desta mujer que nos deja locos! Rosario. Sim, vocês sabem, aquela que apareceu como atriz no filme do Almodóvar, a filha de Lola Flores.
O seu CD Rosario de ley é baile concentrado e instantâneo a qualquer hora do dia. E claro, funciona como repelente para os chatos (principalmente os cinza esverdeados).
Não é um CD novo, mas é uma nova descoberta. Os arranjos, as letras, as músicas e os requebros são perfeitos.
Sim, sabemos que no fundo, todos gostaríamos de ser a Whitney Houston para poder soltar aquele vozeirão arrasa quarteirão da música do The Body Guard. Mas, enquanto você ainda não consegue isso, o CD Rosario de ley é perfeito para driblar a frustração acima e excelente para esquecer o pesadelo recorrente annual que é o Festival da Eurovisão.
Enquanto o Estio começa a chegar com aqueles calores que nos deixam a todos despelotados, a única coisa que nos passa pela cabeça enquanto requebramos é: Ay Rosario, esta mujer nos deja locos!

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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O CÉU DOS CACHORROS.

Caros Amigos:

Se fôsse imaginar um lugar divertido, este seria o Céu dos Cachorros.
Logo na entrada encontraríamos um Labrador ou Golden Retriver para tomar conta do portão de entrada. Mas tinha que ser um dos mais ferozes que pudessem encontrar, ou seja: estaria permanentemente com aquele sorriso de satisfação e abanando o rabo para quem quer que seja.
Continuaríamos andando e, ao olharmos ao longe, se prestássemos bastante atenção, começaríamos a escutar um som. Um som parecido com rajadinhas de vento. Rajadinhas constantes swoshhhh ,swoshhhh.,swoshhhh.
Um som ritmado, leve e pendular, que ia e vinha...ia e vinha, ia e vinha, sempre constante swoshhhh swoshhhh.swoshhhh.
Prestando mais atenção, e olhando atentamente para o horizonte do Céu dos Cachorros, veríamos que este ruído era o som dos milhões de cachorros abanando permanentemente o rabo, sempre felizes woshhhh .. .swoshhhh ..swoshhhh.
Seguiríamos andando por lá e, claro, não veríamos nenhum ser humano daqueles que maltratam ou que abandonam os seus cachorros. Na verdade, se aparecesse algum desses seres humanos, ele saberia em pouco tempo, que no Céu dos Cachorros, os cachorros neste estrito caso, tinham o direito de recobrar a lembrança ancestral de quem são os seus antepassados: os lobos. Assim, este tipo de ser humano poderia comprovar na práctica o que significa a expressão "soltar os cachorros".
Andando um pouco mais, encontraríamos um grande monte. Muito grande mesmo. E ao nos aproximarmos, veríamos que este monte seria formado por milhões de coleiras (trelas).
Elas estavam lá para relembrar uma coisa a todos os cachorros: o ser humano pensa que ele é quem manda e quem orienta os cachorros. Mas como os cachorros não falam, deixam que o ser humano fique com esta impressão. Afinal, cachorro que se preza, só dá alegria ao dono. Até mesmo sem ele nunca saber disso, bobinho.

Um Abraço

Danyel Sak Publicitário
danyelcronicas@hotmail.com

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Estou preocupado com o Danyel Sak

É bem capaz de não ser nada de grave. Não quero alarmar os amigos portugueses, brasileiros, espanhóis & outros deste publicitário e amável colaborador da Truca! Estou só preocupado. E explico porquê: o Danyel não falha uma só semana com as suas crónicas. E neste último Domingo, dia em que me envia o seu texto por email, em vez do texto recebo um estranho telefonema. Com muito ruído e com a voz do Danyel (seria?) a soar muito distante percebiam se palavras de ansiedade e temor. Sabemos como o Danyel gosta de viajar, sobretudo por lugares pouco frequentados pelos turistas. Será que, desta vez, abusou? Será que não levou em conta o conturbado mundo pós guerra do Iraque?
Sejamos positivos e esperemos por notícias do Danyel até porque nas suas palavras estranhas distingui um "...envio...(ruído)...terça feira...."
Soube que na Guerreiro DDB, onde o Danyel está neste momento a colaborar, também há alguma incomodidade com este assunto. Volte aqui amanhã.
Tenhamos fé!...

Terça feira, a meio da noite...
...foi um pressentimento. A meio da noite, sem poder dormir fui ver o correio e...lá estava! O Danyel Sak dava sinais de vida. E que vida!
O mistério estava explicado e vocâ vai poder saber o que se passou se clicar na caixinhaa meio da manhã de terça feira!


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