Tema
Ensino do português
Pergunta/Resposta
O Português leccionado no Brasil é ou não o mesmo leccionado em Portugal?
Em que aspectos eles diferem?
Obrigado pela atenção.
Pedro Soares
programador
Maia
Portugal
Existem várias diferenças entre o português falado no Brasil e o que se usa em Portugal. Estas são semânticas, sintácticas e de ortografia. Entre as diferenças semânticas, temos por exemplo a palavra fato em Portugal, para ter o mesmo significado da palavra brasileira é necessário colocar um c. Ou autoclismo, que nenhum brasileiro que não tenha estado em Portugal saberá o que significa, limitando se a puxar a descarga. As diferenças sintácticas incluem, por exemplo, a utilização do acento agudo como diferenciador no pretérito perfeito do indicativo em relação ao presente. No Brasil utiliza se nós amamos nos dois casos.
Em Portugal, há diferença entre o nós amamos e o nós amámos.
As diferenças ortográficas são as mais evidentes: ato e acto, prêmio e prémio, óptimo e ótimo, cocó e
cocô.
Amílcar C.
22/10/98
Bem Haja, José Saramago
Sexta, 9 Escreve tão bem como fala a Língua Portuguesa o Nobel da Literatura de 1998, José Saramago. Como se (ou)viu nas suas múltiplas e sempre tão estimulantes declarações às rádios e televisões portuguesas, no rescaldo da histórica consagração da Academia Sueca a um escritor lusófono. Até nesse pormenor da pronúncia da palavra Nobel. Eles, os locutores jornalistas, os entrevistadores, os comentadores e os mil e um notáveis chamados a dar voz a este nosso generalizado contentamento, insistindo sempre no erro comum do /Nó bel/. E ele, o laureado, a dizer sempre /No bél/... Nem sequer caindo na armadilha de alguns francesismos habituais como o recorrente "ter a ver". Por tudo, incluindo essa outra lição de humildade e de ternura, bem haja, José Saramago!
José Mário Costa
Texto inserido no Ciberdúvidas na rubrica "Pelourinho"
Há dias transcrevi uma resposta do Ciberdúvidas à questão da pronúncia do "r" (ver texto após este bloco) . A coisa não ficou por aí como se pode ver por esta outra transcrição:
Tema Pronúncia "correcta"
Pergunta/Resposta
Em resposta a uma pergunta sobre a pronúncia do "r", JNH responde que o r "forte" se deve pronunciar "como se pronuncia em Coimbra e nas Beiras" e que "não convém pronunciá lo à maneira de Lisboa", mas não explica porquê. Pergunto eu: será possível que acreditem que há pronúncias melhores ou superiores às outras? Se acham que sim, como é que explicam tal coisa? O que faz com que uma pronúncia seja melhor do que outra? Por favor não me digam que é uma questão de estética ou de eufonia, porque já se sabe que aquilo que é feio para uns pode ser bonito para outros e vice versa. E já viram o que acontecia se de repente toda a gente decidisse seguir os vossos conselhos? De um dia para o outro toda a gente passava a falar da mesma maneira e desaparecia toda a riqueza de pronúncias que há em Portugal (ou até no mundo inteiro, quem sabe se por exemplo os angolanos não decidiriam também seguir o conselho de falar à moda de Coimbra?). É isso que realmente pretendem? Ficariam contentes se desaparecesse o falar alentejano ou a pronúncia do Norte? Como já perceberam, isto são perguntas retóricas, "cum grano salis", mais em jeito de desabafo do que outra coisa. Eu sei que "linguística" é palavra proíbida no Ciberdúvidas, mas abster se de fazer juízos neste domínio parece me uma questão de bom senso.
Manuel Leal
tradutor
Bruxelas
Agradeço todas as observações que Manuel Leal apresenta, porque elas fizeram me pensar. E pensando aprendo. E quanto mais eu aprender, mais e melhor ajudo os outros. É também para isto que ando no mundo. Bem haja, pois. Passo a responder: 1. Eu não disse por que razão não convém pronunciar o r "forte" à maneira de Lisboa, porque o nosso consulente não pediu que explicasse o porquê das minhas afirmações. E Manuel Leal também não o pede. 2. Sim, "é possível que acreditem que há pronúncias melhores ou superiores às outras", mas eu não acredito, e o Ciberdúvidas também não acredita, mas lá o ser possível, é. No futuro, é possível haver alguém que acredite. Mas note se que não me referi à pronúncia melhor ou superior. Referi me a pronúncia que não "convém". Uma coisa é não convir; outra é ser melhor ou pior ou ser superior ou inferior. 3. "O que faz com que uma pronúncia seja melhor do que outra", é o seguinte, parece me:
a) possuir mais clareza;
b) ser correcta; c) ser aceitável; d) haver concordância com o uso geral. 4. Não me referi a nenhuma "questão de estética" nem "de eufonia". Note se que não condenei a pronúncia de Lisboa do tal r "forte". Apenas afirmei que não convém. 5. No que toca a questões de linguagem, os portugueses são suficientemente inteligentes e livres para não seguirem os conselhos do Ciberdúvidas. E farão muito bem, quando tiverem razão para tal. Os colaboradores do "Ciber" são normais. Portanto, erram. 6. O Ciberdúvidas apenas aconselha. Nada pretende e nada impõe, porque cada ser humano é um indivíduo [do latim "individuu(m)"] indivisível. É uma unidade distinta, independente e autónoma, com os seus interesses e direitos. 7. O Ciberdúvidas não aconselhou "falar à moda de Coimbra". Nem sequer se referiu a determinada palavra, mas apenas à pronúncia dum fonema. 8. Não é verdade que "linguística" seja "palavra proíbida no Ciberdúvidas", antes pelo contrário, porque dela nos servimos para estudar, aprender e responder. E, para terminar, liguemos o princípio e o fim desta resposta, dizendo: "Bem haja, prezado consulente, pelas suas "perguntas retóricas, 'cum grano salis'!".
José Neves Henriques
Sou dos que pronuncia bem os "r". Ponta da língua colocada na parte posterior dos dentes de cima (insisivos) e aí vai um "r" suave, sem arrogâncias, enroladinho. Porém, muitos dos meus clientes são de Lisboa ou, pior, de Setúbal. Lembram se da expressão "sarrrdinha com merrrda"? Vai daí, quando pronuncio os "r" como deve de ser alguns clientes pedem me que o faça de forma errada (pronunciados na garganta). Às vezes as coisas resolvem se a bem. Quase sempre!...
Para quem me está a ler e para ilustar o "meu ponto" , como dizem os ingleses, aqui vai outro "picanso" do Ciberdúvidas : Ai, se não fosse o Ciberdúvidas, o que seria de mim!...
Tema
Pronúncia do R
Pergunta/Resposta Como se deve pronunciar o "erre" em português, como na palavra "terra": enrolado na ponta da língua como os espanhóis; arranhado no fundo da língua como os franceses Ou é indiferente?
Obrigado.
LS
Portugal
O r "forte" deve se pronunciar com a ponta da língua a
vibrar nas proximidades dos dentes incisivos superiores, como se pronuncia em Coimbra e nas Beiras. Não convém pronunciá lo à maneira de Lisboa. E o mesmo acontece com
outros casos.
J.N.H.
Há dias, como se pode ver mais abaixo, transcrevemos do Ciberdúvidas
uma consulta sobre a palavra "berma". A resposta deu polémica, como podem ver pela transcrição que se segue:
Berma, de novo
A resposta do Ciberdúvidas ao consulente que pergunta se se deve pronunciar "bêrma" ou "bérma" parece me revelar uma falta de sensibilidade linguística indigna do Ciberdúvidas.
Quando vocês dizem que a pronúncia "normal, correcta" é "bêrma", até posso adivinhar o que é que queriam dizer, mas por favor atentem na maneira como o dizem. Digam "na minha rua dizemos assim", ou então "na terra donde eu venho diz se assim", ou ainda, mais discutível, "na norma culta de Portugal Continental é assim". Sem esta ressalva, estão a cair na presunção de que a pronúncia de uma ínfima minoria de falantes do Português é a (única?) "normal" e "correcta" em todo o Mundo. Espero que os vossos leitores de Moçambique ou do Brasil, por exemplo, tenham sentido de humor...
A Língua Portuguesa pronuncia se das formas mais diversas por esse Mundo fora. Mesmo dentro de Portugal Continental, a variedade de pronúncias é felizmente grande: eu sou do Norte e toda a minha vida pronunciei "bérma" e assim vou continuar a fazer. Se me vierem dizer que não é "correcto" nem "normal", só posso ter pena de quem tão fraco entendimento tem daquilo que faz a riqueza da Língua Portuguesa.
Permitem me que responda eu ao vosso consulente de forma muito pragmática? Aqui vai: a palavra "berma" deve ser pronunciada como você a aprendeu dos seus pais e avós, ou como se pronuncia na sua região, o importante é que as pessoas o entendam. Mas infelizmente todos temos preconceitos, inconscientes ou não, contra as pronúncias que fogem à norma. Se este é o caso da sua pronúncia, então esforce se por usar a norma em casos em que pretenda impressionar positivamente os outros, seja num comício para obter votos ou numa entrevista para conseguir emprego. Fora disso, deixe se de complexos e fale como as pessoas à sua volta. Usar a norma fora de contexto também pode parecer pedante.
Manuel Leal
tradutor
Bruxelas
Ciberntota "Agradecido" pelo "elogio" e muito obrigado pela lição! É claro que na minha resposta está implícito o mesmo, só que de maneira mais sucinta. Já se sabe que cada um pode pronunciar como aprendeu, só que há uma norma, aquela que se ensina, por exemplo, aos estrangeiros, como já aqui se tem dito.
F.V.P. da F.
Outra do Ciberdúvidas:
Tema
O grama
Pergunta/Resposta
Deve dizer se " duzentos gramas de fiambre " ou " duzentas
gramas de fiambre"?
Carlos Coutinho
engenheiro Grijó
Deve se dizer &laqno;duzentos gramas de fiambre», porque grama, significand peso,é do género masculino: o grama. Do género feminino, a grama, é o nomedaquela relva que vemos nos jardins. Cf. A/o grama e as/os gramas.
José Neves Henriques
Mais uma "pescada" no Ciberdúvidas .
Tema Berma = /bêrma/
Pergunta/Resposta
Gostava de saber se a palavra "berma" deve ser pronunciada"bêrma", tal como com a palavra "beco", ou "bérma"
L.M. Guerra sociólogo
Coimbra
A pronúncia normal, correcta, de berma e beco é com e fechado (ê).
F.V. Peixoto da Fonseca
Na quarta feira, dia 12 a noticiarista da RDP1, de manhã, dizia a propósito dos problemas de puluição na Europa: "...os estados alemães...alemãos..." Enganou se, a rapariga, pensei eu. Disse bem e depois a palavra fugiu para o disparate. Que diabo, só não se engana quem é mudo! Porém, no noticiário seguinte, já não fugiu, foi direitinha ao disparate: "...os estados alemãos..."
Ainda se fosse "alemanos"...
Não é previsível que um "copy" tenha de escrever a palavra "evacuar" no sentido em que, erradamente, tem sido aplicada na comunicação social. No entanto, por causa das dúvidas aqui vai um texto que "saiu" no Ciberdúvidas . Muito engraçado.
Evacuar indivíduos?
Quinta, 25 É raro um jornalista empregar bem esta palavra, que já em latim significava "esvaziar". Quando se diz: "Foram evacuados mil portugueses da Guiné Bissau", o que se afirma, na nossa língua, é que mil portugueses foram esvaziados. Ou seja: cada um desses portugueses ficou sem entranhas.
Temos outros verbos, como transferir e transportar, que permitem banir tamanha impropriedade. Evacuar é bem empregue se dissermos: "A cidade de Bissau foi evacuada." Evacua se (esvazia se) a cidade quando se transferem os habitantes para outro local. Do mesmo modo que se evacua (esvazia) o intestino quando dele saem as fezes. Os jornalistas, pois, quando pensarem num verbo que empregam tão mal, devem ter cuidado: não vão evacuar onde não devem.
Teresa Álvares
Não se trata, propriamente, de uma gralha. Um dia destes, durante uma gravação perguntava se qual seria a maior palavra em português. Aqui vai a resposta "tirada" do Ciberdúvidas
Tema
Inconstitucionalissimamente
Pergunta/Resposta
Qual o maior vocábulo da língua portuguesa?
Luísa Moreira Bessa
Brasil
Há anos, o vocábulo que se apresentava como sendo o maior era este: inconstitucionalissimamente. Não sei se já foi
descoberto outro maior.
J.N.H.
Um dia destes fui gravar um "spot" de rádio a anunciar o aparecimento de um novo Suplemento do Diário de Notícias. O Expo 98. A certa altura dizia se que o novo suplemento saía no dia 9 de Maio. Tudo bem...excepto que a gravação estava a ser feita no dia 12 de Maio. E só se deu pelo erro três dias depois! Faz lembra aquela das instruções para invisuais onde se dizia "carregue no botão verde"! Gralhas, também na publicidade!
A propósito da gralha sobre a palavra "veículo"recebi um veemente "e mail" que deveria, em princípio, ser colocado na rubrica "Critique ...o Luís Gaspar" . Mas como se refere à gralha nº 10 veio aqui parar. Eis o texto do meu visitante:
"A mania de querer que toda a gente fale da mesma maneira já "atingiu" o Luís Gaspar! Porque é que ele se "mete" com os outros locutores que não falam como ele? Qual é o mal que vem ao Mundo por dizer "vei ículo" ou lá como é?"
Pronto, caro visitante! Meto a "viola no saco" e pronto! Não me apetece nada ser acusado de querer que o pessoal fale como eu falo. Quem sou eu para ter tal pretenção? Vou passar o ónus do mau da fita para o Ciberdúvidas transcrevendo uma pergunta que eu (cheio de dúvidas) lhes fiz e respectiva resposta...
Tema
Veículo
Pergunta/Resposta
Ouve se muita gente, na rádio, pronunciar "veículo" da seguinte forma: "vei í culo". Será motivo para puxão de orelhas? Ou estarão perdoados?
Luís Gaspar
Um profissional da rádio não pode negligenciar nem o conteúdo nem a forma daquilo que diz, no exercício das suas funções. Sendo ouvido por milhares de pessoas e identificado por elas, de algum modo, como figura de autoridade, tem uma enorme responsabilidade na divulgação e na consolidação de formas de expressão que o público, confiadamente, passa a copiar. Veículo é ve ículo, e não vei ículo, naturalmente. É claro que todas as coisas têm a sua razão de ser, mesmo os erros. Tal como a natureza "tem horror" ao vácuo, o português tem horror ao hiato (duas vogais contíguas que não formam ditongo). Para o evitar, uma das formas é intercalar um i entre as vogais em hiato, como fazem os nossos compatriotas nortenhos em "a (i) água". Ninguém leva a mal, até se acha graça, e nem sequer se considera errado.
Mas num profissional...
T. A.
Estou perdoado, caro visitante? Deixa que eu procure falar o melhor que posso? Os meus "clientes" vão agradecer!...
Não há maneira!... Os locutores que dão as informações sobre o trânsito (há, felizmente, excepções) continuam a pronunciar a palavra "veículo", "vei i culo". "Veículo" lê se "VE Ì CULO"!
O Sr. Ministro da Cultura, numa recente entrevista ao programa "Culto" da Bárbara Guimarâes na Antena 1, alinhou pelo lado negro da polémica que envolve a pronúncia da palavra "Expo" pronuncionando "ecspó" ! Com que então "ecspósição", Sr. Ministro?
Ao menos podia ouvir a publicidade...
Desta vez fui eu que recorri ao Ciberdúvidas :
Tema
"David e Madrid"
Pergunta/Resposta
David, Madrid, etc., pronunciam se "Madri", "Davi" ou
"Madride", "Davide"?
Em David e Madrid, o d final pronuncia se. Mas no Brasil, como se escreve "Madri", esta palavra não tem quaisquer problemas de pronúncia.
F.V.P.F.
Mais uma do Ciberdúvidas:
Tema
Ainda visita e Filipe
Pergunta/Resposta
Estive a ler a vossa resposta em relação à questão dos "ii". O meu problema é a falta de uma referência. Onde posso encontrar referências em relação à regra exposta (que ii em sílabas seguidas, o primeiro lê se e mudo)?
Pedro Duque
Portugal
O primeiro i destas duas palavras pronuncia se e mudo, porque é da nossa própria natureza. É a pronúncia natural. A este fenómeno fonético chama se dissimilação vocálica. O primeiro i dissimila se do segundo, isto é, torna se dissimilhante, diferente.
Pedindo desculpa dum deslizezito, rectifico a minha resposta anterior: Do conjunto de palavras em que se pronunciam os ii como ii e não como e i retiro as seguintes, porque a pronúncia varia: /felicíssimo /, /filhinho /, /estilista /. Podem se consultar os seguintes livros sobre o assunto: "Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa», 2ª. edição, de José Joaquim Nunes, págs. 158 161; "Lições de Filologia Portuguesa", 2ª. edição, de José Leite de Vasconcelos, págs. 213 222; "Elementos para um Tratado de Fonética Portuguesa», de Rodrigo de Sá Nogueira, págs. 134 e seguintes. Termino, transcrevendo as seguintes palavras de Augusto Moreno no seu livro "Como Falar, Como Escrever", volume I, sobre a pronúncia de militar emilímetro: "A naturalidade e os fonetistas recomendam /melitar / e /melímetro /, empregando se correntemente a dissimilação, contanto que o e não se coma, dizendo /m'litar / e /m'límetro /. A pronúncia com os ii espremidinhos é afectada e às vezes intolerável. Mas há quem goste de, com os ii nas pontinhas, fazer uma visita ao sr. Filipe no Governo Civil ou no Comando Militar." (pág. 150).
J.N.H.
02/2/98
Outra transcrição, com a devida vénia, do Ciberdúvidas
Tema
Palavras com dois ii
Pergunta/Resposta
Palavras como "visita", "Filipe", e outras com dois "ii"
separados por uma consoante, como devem ser lidas? Lendo o primeiro "i" com o som "e" ou literalmente como são escritas. Ambas as leituras são correctas?
Daniel Oliveira animador de rádio
Porto
Quando, numa palavra como estas, se seguem dois ii em sílabas seguidas (é assim que se deve grafar, e não "com dois
i's" como se costuma ver nalguns jornais), o primeiro pronuncia se, geralmente, e mudo. Tal como o e de
feliz. Portanto, devemos pronunciar /vesita/, Felipe/. Considera se pronúncia afectada dizer se vi si ta e Fi li pe. O mesmo acontece com ministro, ministrar, visitar, Ministério, dissipar, diminuto, privilégio,
tilintar, felicidade, e muitas mais. Há, porém, palavras em que pronunciamos os ii, como em Mimi, chichizinho, Lili, felicíssimo, mínimo, tília, filhinho, estilista, piripiri, pirite, pírico, tísica, etc.
J.N.H.
Com a devida vénia mais uma transcrção da rubrica "Pelourinho" do Ciberdúvidas :
Terça, 23
As férias de Ciberdúvidas só significam uma coisa: complacência com as asneiras praticadas na nossa língua. Está certo, vocês querem uma folga. Mas custava arrumar alguém que ficasse de banco (plantão, no Brasil), para responder às dúvidas natalícias ou às calinadas de fim de ano? Vou ter de aguentar expressões como "pais natal" (no lugar de pais natais os papais noéis de Portugal), "curriculuns" em vez de currículos ou curricula (em latim), como se ouviu na SIC, "espertigar" em vez de empertigar (no relato de um jogo de futebol, na TVI), ouvir o treinador do Futebol Clube do Porto falar "em resultado &laqno;incógnito» até ao final", em vez de resultado imprevisível (a seguir aos 3 4 com o Boavista). Ou ver traduzir "people like my character" por "as pessoas gostam do meu carácter", em vez de minha maneira de ser (num filme de James Bond, na TVI). Não temos remédio. O reino da preguiça mais uma vez domina o território da Língua Portuguesa e contra isso não há nada a fazer.
Sofram os meus ouvidos.
Amilcar Caffé
Pergunta:
Recorro à V. disponibilidade e interesse pela nossa língua
para me indicarem qual a forma correcta: "Vão haver mudanças..."
ou "Vai haver mudanças..." Coloco esta questão, devido a um "spot" publicitário que
corre presentemente nos canais televisivos portugueses, em que é aplicada a primeira daquelas expressões, a meu ver
erradamente.
António Ferreira Pinto
Portugal
Resposta:
O correcto é, naturalmente, "vai haver mudanças". A calinada grave por vir de onde vem e veiculada como o está a ser já foi objecto de um Pelourinho, aqui, em Ciberdúvidas, com data do passado dia 11.
Aqui está uma carta, muito divertida, dirigida ao Director do jornal "O Público". O Sr. Augusto Martins (o autor da carta) não tem razão em tudo o que escreve, nomeadamente na questão do "obrigado/obrigada", (a não ser que seja gralha!) mas lá que tem piada, tem! A carapuça não é destinada aos publicitários, mas "nunca se sabe"!...
Do jornal "O Público", "Cartas ao Director" de 15 10 97
O quinhentista dr. António Ferreira, autor dos "Poemas Lusitanos" e da tragédia clássica "Castro", escreveu: "Floresça, fale, cante, ouça se e viva / a portuguesa língua e lá onde for / vá senhora de si, soberba e altiva." Conhecedor profundo do idioma pátrio, defendeu o vigorosamente contra o castelhanismo, ao tempo dominante. Humanista insigne, contemporâneo de Camões, em defesa da língua increpa e culpa "todos os que a mal exercitaram, com esquecimento e desamor". Que cousas escreveria hoje, se ouvisse pessoas de alta estirpe política e económica dizerem "intérpete", em vez de "intérprete"; " preverso", em vez de "perverso", "opóbrio", em vez de "opróbrio", "pograma", em vez de "programa"; "perpretar", em vez de "perpetrar". Locutoras e locutores da rádio e televisão a confundirem os advérbios "bem" e "mal" com os adjectivos "bom" e "mau". Afoitamente dizem "mal grado" e "mau estar" em vez de "mau grado" e "mal estar". Muita gente pronuncia o nome do poeta e dramaturgo Almeida Garrett ('Garré'), quando o nome não é francês, mas inglês e significa "mansarda", devendo por isso dizer se "Garrete". Flagelo de hoje, o emprego desbragado de eufemismos ou metáforas. Deixou de se chamar as coisas pelo seu nome. É que as palavras têm direito à sua identidade ao referirem realidades concretas. De contrário, cairemos na inextricável confusão do seu sigrifcado. Assim, em vez de amante, ou amásio, diz se namorado, andar com F. é bater na mesma tecla, roubar rebaptiza se com desviar; furto substitui se por irregularidade; comer traduz se por fornicar; cópula passa por queca. Cornear o marido é enfeitá lo ou condecorá lo. Mas o requinte vai ao ponto de se afirmar que os pobres, os pedintes, "são pessoas de menor capacidade financeira"! Em matéria de má pronúncia, nem é bom falar. Em português superabunda o som da letra "x". Bastará dizer que em todas as palavras com "s" final se ouve bem nítido. Se a um estrangeiro dissermos os frutos que mais apreciamos, uvas, pêras, figos, maçãs, etc., a criatura dirá: "Que tremenda chiadeira aí vai." Habituados como estamos a esse zunido, nem por ele damos. Pois agora aparece mais outra chiadeira. Nas palavras em que o "s" precede o "c", como nascer, descer, fascismo, não se lê o que lá está, e quase toda a gente pronuncia "naxer", "dexer", "crexer", "faxismo". O mesmo acontece nas palavras com "s" final e "s" inicial, como, por exemplo, os seios, os sinos, os sindicatos, que pronunciam "uxeios", "uxinos", "uxindicatos". Ai da prosódia... Convenhamos que não é agradável ouvir, até na televisão, pessoas com alto gabarito intelectual silabar "pexina" em vez de piscina, "àxincohoras" (às cinco horas) "àxete" (às sete), etc. Mas curioso é que não articulam "conxência", e correctamente dizem consciência. (...) Outra praga que está a alastrar é o emprego do "de que". Claro que esta locução faz parte da linguagem do nosso quotidiano só devendo ser usada em certas e determinadas circunstancias. Custa ouvir pessoas de alto nível cultural empregá la de forma indiscriminada e, como tal, inadequadamente. Que dizer de alguns jornalistas e repórteres que ainda confundem "mandado" (ordem judicial ou administrativa) com "mandato" (procuração)? Em plena moda está agora o emprego de "visual", adjectivo que apenas se refere à vista, à visão, mas tantas vezes aplicado para significar aspecto, aparência, exterioridade. A reforçar o que vem dito, está a palavra invisual, ou seja, o que não vê, o cego. Muita gente diz "destrocar" como se fosse trocar. Ora destrocar apenas significa "desfazer a troca", e não trocar. Curiosamente enganador é o uso do vocábulo "obrigado". Não se aplica ou dirige a quem recebe o favor, ou serviço, mas a quem o presta. Senhora que ficou reconhecida a um homem não diz "obrigada", mas "obrigado". E vice versa. Se senhora ou homem receberam favor de várias pessoas, não dizem "obrigada" ou "obrigado", mas outrossim "obrigados" ou "obrigadas". Há, porém, quem diga sempre "obrigado", seja em que circunstancia for. Interessante a confusão que alguns fazem com o verbo intervir. Por vezes, ouve se dizer "intervi", "interviu", "teria intervido se"... O que se queria dizer era: "intervim", "interveio", "teria intervindo se...". A palavra "meio" não é empregada quando o deveria ser. Diz se porta "meia aberta", "meia fechada", "ovos meios cozidos", "lenços meios lavados". Ora "meio" seria o termo certo para estes exemplos. Bastantes pessoas confundem ainda "corrector" com "corretor", não só na pronúncia, mas também no seu significado. (...) Nas conversas do nosso quotidiano tantas vezes se ouve dizer: "Está a entender?"; "Está a perceber?" Eis uma maneira de achar estúpido o interlocutor. Muito mais elegante e sensato dizer: "Faço me entender?"; "Faço me perceber?", chamando a si a responsabilidade da possível não compreensão. (...) No centenário da morte do Padre António Vieira (a quem Fernando Pessoa chama "Imperador da Língua Portuguesa"), é mais que justo lembrar que essa língua é a maior riqueza de que nos podemos orgulhar. E evidente que o nosso reparo não visa os analfabetos e semianalfabetos que temos, a quem se não pode exigir que falem e escrevam correctamente, mas alguns, e não poucos, dos que se julgam ilustres, cultos e sapientes.
A. Augusto V. Martins Porto
Sobre a questão "Obrigado/Obrigada" consulte http://www.ciberduvidas.com
Foi um acordar ainda mais agitado, com a notícia assim disparada pelas rádios portuguesas sobre o aumento das chamadas telefónicas, em Portugal. Cerca de 15 escudos por cada período de 1 minuto, convenhamos, assusta qualquer comum cidadão, ainda por cima se na dupla condição de cibernauta. A Telecom, empresa pública concessionária do negócio (e que negócio!) no país, claramente, quer nos "comer" a todos. Bem feito: ficará para sempre como a "Telecome" e não a /Telecõ/, como mandariam as regras da fonética. Óptima partida, de facto, dos noticiaristas radiofónicos: no seu consabido descuido da sua própria língua, disseram direito por linhas tortas! P.S. Nem faz mal que, logo a seguir, se voltasse a ouvir esse outro disparate recorrente na rádio portuguesa do dezenas de "milhar" (como se escutou toda a semana na RDP, a propósito de uma reportagem sobre as eleições na Figueira da Foz). Come, come, come, "Telecome"!
José Mário Costa In Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Estamos diante de um dos muitos exemplos de como a publicidade influencia (neste caso, na pronúncia das palavras) as pessoas. Regra geral, os intervenientes numa campanha publicitária (Empresas produtoras de bens ou serviços e Agências de Publicidade) preocupam se com a forma como vão ser pronunciados os nomes dos seus produtos ou serviços em filmes (TV e Cinema) e rádio.Foram preocupações destas que fizeram com que um célebre sabonete que por todo o mundo se chamava REXONA passasse a REXINA, entre nós. Ou que o VIM se pronunciasse "vim" e não "vi me" como queriam os publicitários francesas que participaram no respectivo lançamento em Portugal. (Há quantos anos, meu Deus!) Não é, convenhamos, uma questão fácil de resolver. Tudo depende dos objectivos do Marketing, todo poderoso, cujas razões nem mesmo ele, muitas vezes, sabe. Quere se que o consumidor conheça o produto pela sua pronúncia estrangeira para lhe introduzir um "toque" de sofisticação, partindo do princípio de que "o que é estrangeiro é bom"? Então diga se "mile" para MIELE, " e não "miéle"; "sane" para SUN e não o portuguesíssimo "sune"; "ble´qu'and décar" para BLACK & DECCAR; o estranhíssimo (para português) "toizáraze" para TOY'S "R" US; "jilete" para GILLETTE e não "gilete" e tantas outras marcas onde se usou, conscientemente, a pronúncia estrangeirada. Noutros casos, por respeito à nossa língua ou por outro qualquer motivo desconhecido, optou se pela pronúncia portuguesa. São inúmeros os exemplos: ROYCO e não "ruácô", BLOSKBUSTER e não "bloquebáster", OMO e não "omô" ou "aumô", etc., etc. Ridículo é, porém, quando a palavra tem uma óbvia pronúncia em português e se opta por uma desastrada pronúncia estrangeirada. Está neste caso a célebre TELECOM "télécóme"! Há quem diga que "télécóme" nasceu durante a execução da campanha de privatização da Empresa quando, durante a gravação dos primeiros anúncios de rádio, alguém defendia que se devia pronunciar a palavra de modo a "soar bem" a ouvidos estrangeiros uma vez que a privatização da TELECOM iria "internacionalizar" a empresa. Por sugestão do locutor que ia ler os anúncios (que fala bem inglês) devia dizer se "télécóme", como os ingleses. Se o tal locutor também falasse bem alemão, francês, sueco, holandês ou outra qualquer língua dos futuros compradores de acções... teria sido outra a pronúncia? Mas ficou "télécóme" como que se os anúncios, então gravados, fossem "para inglês ouvir" e não para "informar" o consumidor português!!! Semanas depois, em nova sessão de gravação de anúncios, diante das queixas públicas de muita gente, o escrevinhador destas linhas, presente na gravação, levantou o problema chamando a atenção para o facto de que, em português, as palavras terminadas em "om" se pronunciam "on" e não "óme" E deu como exemplo o nome do então Director Geral (ou Presidente?) da Telecom ser Engº Todo Bom e não "todo bóme"? Talvez pela "violência" do exemplo ( o que diria o Senhor Presidente se lhe chegasse aos ouvidos a "nova" pronuncia do seu nome?!...), dessa vez, ficou dito "telecom". E de outra. E de outra. Até que, há dias, em nova sessão de gravação, veio a "ordem", apesar dos nossos protestos, de se voltar ao "télécóme". Novos protestos que incluíram lembrar a frase pouco prestigiante para a Telecom que tal pronúncia implicava: "Telecome, come, come, come"! De nada serviram os protestos. E é assim que, presentemente, os portugueses ouvem, de novo, "télécóme" em vez de "télécom". Não me parece, porém, que os portugueses, porque ouvem... pronunciem. Excepto, infelizmente, algumas pessoas com responsabilidades (locutores) como se constata pelo texto do CIBERDÚVIDAS, acima transcrito. Se a moda pega ainda ouviremos alguns locutores pronunciarem "tieipi" para TAP ou "marcauni" para MARCONI! Valha nos "sainte Antoni"!
Luís Gaspar ( in A TELEFONIA VIRTUAL )
Umas coisitas...habitualmente mal pronunciadas. À atenção da TAP: diz se "Voo para MADRIDE" e não "Voo para MADRI" À atenção das marcas de automóveis: diz se VE Í CULO e não VEI Í CULO.
Diz se "DE AGOSTO" ou "D'AGOSTO" e nunca "DI AGOSTO" E há mais, muito mais! Fica para a próxima. Manda a prudência não gastar tudo, de uma só vez. Para terminar, um provério chinês ( o maior mercado do Mundo ): "A ignorância é estúpida e teimosa
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