Histórias da Publicidade 6  

 

Bonés há muitos ou "wild thing"

1. Contar "estórias" reais sem identificar os personagens
envolvidos é foleiro.
2. Identificá los de modo óbvio, é indelicado.
3. Deixar pistas será mais simpático, divertido e interessante.


Estava eu tentando decifrar a resposta do Manuel Peres no
"mano a mano", tropecei na sua referência a duplas criativas
de boné da Nike na cabeça o que me deu o mote para esta "estória".

Há um bom par de anos atrás, estive encarregado da produção
de uma apresentação comercial, encomendada por uma das
agências da nossa praça, que nesse mesmo ano viria a mudar
de nome anunciando:
"Mesmo sem o nome anterior temos uma boa imagem".

Entre outras peças, foi necessário produzir um pequeno video
de um guloso produto de régia e feroz denominação cuja
banda sonora, para clara ligação era o refrão da canção
"wild thing".
Quem por estas coisas anda, sabe bem o que é ouvir o mesmo
trecho musical horas a fio de tal modo que se entranha nos
ouvidos que toda a gente envolvida cantarola, assobia, trauteia a
porra da música involuntariamente até ao limite da resistência
humana.

Era este o meu estado e o do editor, na penumbra da sala de
edição da defunta Alturas Video em S. Bento, após um par de
sandes mistas e refrigerantes, comidas e bebidos, contra todas
as regras em cima da mesa de edição (desculpa lá António
Manuel, mas estas coisas são assim mesmo...) que o prazo
apertado não era compatível com lautas jantaradas como a que
a dupla criativa tinha acabado de apreciar, quando nos entrou
pela porta cerca das 23h.

Uma jovem redactora e um jovem "art director", vinham fazer um serãozinho de controlo ao operariado.

Ela a simpática Isabel, filha de um bom rapaz apreciador de pão
com manteiga com um nome de família nos remete para matas
de árvores espontâneas frequentes nos sítios incultos do Centro e Sul de Portugal, árvores também conhecidas por oleastros.
(Isabel Oleastro, porém soa mal).

Ele "O homem do Boné", um jovem de aspecto excessivamente
calmo e ausente, sem nome mas com uma alcunha, diminutivo
ou "petit nom" (nunca cheguei a perceber) uma onomatopéia
que faz lembrar refúgios de ratos ou coelhos. De boné na cabeça e saquinho na mão, entrou e arrastando se ao longo da
parede... (a sala era estreita) deixou se cair numa cadeira bem
por trás do povo.

Ao fim de algum tempo e estranhando a falta dos habituais
comentários tipo: "olhe, não podia ser..." ou o odioso mas recorrente "...mas é só...", olhei para trás e, ela com um olhar
tímido mostrou que só estava ali porque sim, ele nem isso...
com a pala do boné puxada sobre os olhos dormia como um anjinho.

2 horas da manhã, um longo e bocejado suspiro desvia o
nosso olhar dos monitores de video... em pé, ainda a meio de
um cruxificado espreguiçar, o nosso jovem exclama em voz
sonolenta e arrastada:
" Ããããããhhhhh... vou mudar de boné..."
Perante a nossa estranheza misturada de espanto, tirou o boné da cabeça, debruçou se sobre o saquinho, tirou outro boné,
colocou o na cabeça, sentou se de novo e... adormeceu!

Ah Leão... ?
A estes anos de distância e a estas horas da noite, não há toques na antena que sintonizem devidamente a minha memória!

Não recordo se algum dos dois bonés era da Nike...

MM
(Miguel Monteiro)


Mais tarde ou mais cedo o puto caga me as calças, ou entorna me a bica do pai até eu sentir um escaldão nas verilhas ou escorrega no cócó que o pastor alemão, da mãe, largou ganindo de fazer força . O puto não pára de gelado na mão, se escorrega na caca do cão espeta mo numa manga qualquer da camisa que trago lavadinha. Não me posso mexer e o puto, lá vem ele outra vez, o pai pregou lhe um berro, a mãe com uns peitos enormes, de nove meses, acaba de pedir um galão e uma torrada, o pai do rapazola afinfa com o jornal na dentuça do pastor alemão, estou safo a g.n.r. acaba de entrar , dois dos tres agentes pedem café ao balcão, o terceiro com trinta centímetros de olheiras pede uma mineral com gás, o puto espalha se ao comprido, o meu café arrefeceu mais que o gelado do puto, que se lixe, a mãe corre e dá um estaladão no filhote que se tinha espalhado de barriga para baixo que nem uma gibóia, o puto é gordíssimo assim de rabo para cima, o g.n.r. desvia se com as botas às cores pálidas, foi o gelado do puto, o pai pede à autoridade uma desculpa maior que o livro das multas do senhor guarda, a pastelaria é um caos, só visto, não consigo nem ler o jornal nem espaço para ir ao mictório, peço licença, a picada na bexiga aperta, ainda ontem estive no médico e a minha próstata está um brinco, ou mijo agora ou não mijo a horas certas,é delicioso mijar na hora, entra mais um casal e sai mais um galão, eu barrado, o puto leva um estalo da mãe, o empregado limpa a bota do g.n.r. e o pai de esfregão em punho, olhe não se incomode diz o pai que pula por cima da miuda do casal que na blusa já guarda tres nódoas de manteiga a cheirar a torrada, agora consegui, estou à porta, que bom, a dos homens está ocupada, aguento a picada dentro das calças, entro no carro que me levará à agência, ligo a telefonia, mais um anúncio do bes, é a voz do Luis e eu que esperava a do Fernando Alves que não diz anúncios porque não pode. Chego à agência, esqueci me da chave, mas lá entrei, a menina dos telefones traz me o jornal, vem de olheiras maiores que as da g.n.r.coloca um café em cima do meu bloco de lay out, o Eduardo pede me o jornal, porra pá ainda não li nem as gordas dessa coisa, dá me um safanão na chávena, a minha mesa é um café inteiro de dois metros e meio por dois, a Xana corre para mim de papel absorvente até à cintura, a chorar, que foi Xana, o cliente telefonou e quer ver o anúncio até ao mei dia, são dez horas, o João acaba de telefonar e disse que chegará mais tarde, o seu pastor alemão foi atropelado, está no veterinário e pede me que seja eu a ir ao cliente, telefono e descomprimo a preocupação do dir.mark., tudo bem, então esteja cá às onze e trinta, lixei me. O meu primeiro dia após férias começou . Tenho de mudar a água às azeitonas já. É bom estar de férias trabalhando.

Manuel Peres


As agências de publicidade encontram se a abarrotar de histórias sobre FLORES, que nunca foram contadas.
O gosto dos publicitários por flores supera em muito o gosto de um publicitário por outro publicitário e a prova disto está nas imensas ocasiões em que recebi, ofertei, troquei ou devolvi flores, de, para, com, ou a publicitários.
As flores tem diferentes significados que aprendi a interpretar nos tempos em que as oportunidades de receber flores, aconteciam em maior número que as de receber clientes.
Vivi uma época em que a ausência de estatuetas e outros prémios nas prateleiras, era ocupada por raminhos de flores, algumas delas, faziam da minha mesa um jardim. Entre criar um anúncio e o pequeno almoço lá vinha mais um raminho. Ganhava se tão mal que certo copy meu, almoçava as pétalas das minhas rosas e á tarde, construia poemas, que eram vendidos como edlaines.
Ainda hoje alguns edlaines mais parecidos com belas coroas de flores, não passam da obsessão por títulos de grandes obras que alguns copys não conseguem escrever. O director de arte que se desenmerde. As coisas continuam a acontecer floridas, mas menos. Até hoje ninguem ousou pisar os canteiros de tais histórias e seus significados, mas se esperam que vos conte soberbas histórias de amor e alegria, sobre arranjos florais publicitários, voltem mais tarde.
Em publicidade, um ramo de flores pode significar um insulto, o desprezo, uma comemoração extra, um aniversário com bolo de chocolate encomendado pelo director geral à secretária que o recolhe quase sempre na mesma esquina, ou ainda pensamentos escondidos e das melhores espécies.
Shakespeare defeniu, em Romeu e Julieta aquilo que se sente por uma flôr. "Ao que chamamos de flôr", disse ele, "com outro nome, seria igualmente doce".
Fossem Romeu e Julieta publicitários, o drama nem aconteceria. O mestre dramaturgo também não mudaria a sua opinião sobre as flores, mas daria certamente a Romeu e Julieta outros nomes.
Um publicitário pode estar para as flores como um cão está para um candeeiro. Lembro ainda aquele dia em que recebi umas FLORES BRANCAS que murcharam em minutos. O significado das flores que murcham é o de que as tentativas de aproximação, não surtiram efeito. Vim a descobrir que nesse dia, o meu copy mijou na jarra enquanto eu tomava café no bar da agência.
Independentemente de quem mije ou não publicitáriamente numa flor, tenha sempre em conta o seu significado.
Fique atento ao que tenho para contar, pois quase tudo sei sobre flores e melhor ainda , dos gestos de quem as oferece nas agências, ou fora delas. .
Quando uma ROSA é oferecida acompanhada de DOIS BOTÕES muiito fechados, funciona como um pedido de segredo. Disto ainda eu não sabia, quando um cliente meu me presenteou tão simpáticamente após aprovar me uma campanha. Em dez minutos todos ficaram a saber que eu tinha conquistado aquela conta. O "briefing" noticiou a conquista, a concorrência desbaratinou pedindo explicações ao director de marketing, a minha mulher exigiu um jantar fora que me custou uma pipa de massa e o cliente deixou de confiar para sempre no seu director criativo , eu.
Em 1991 recebi uma CAMÉLIA VERMELHA cujo significado é reconhecimento. Nesse ano não vi o meu salário aumentado. A oferta partiu do meu querido ex sócio, Manuel Maltês. Conhecem?, é um senhor que de cada vez que introduz quatrocentos escudos numa máquina para tirar tabaco, saem as duas coisas, os cigarros e as moedas, mas em dobro. Já não posso com LÍRIOS AMARELOS que sigificam casamento, vou na quarta oportunidade. Tenho saudades sim, de DÁLIAS VERMELHAS, que se oferecem a quem tem olhos abrasadores.
Quem oferece LIRIOS BRANCOS exprime inocência. Não esqueço os olhos de quem me ofereceu um lírio branco. Eu tinha perdido uma senhora conta para a "Young", quando o Edson a essa altura estagiava para presidente.
Em Maio de 1966, mês das flores, mês do meu aniversário, fazia então direcção de arte pela primeira vez, ou maquetização pela segunda, diferença? nenhuma. Recebi uma MARGARIDA de uma engraçadinha colega com trinta e sete anos e acount. Uma margarida, significa virgindade. Não cheguei a perceber se se referia à minha.
As TÚLIPAS AMARELAS são fascinantes, o seu significado não tanto, por traduzirem amor sem esperança. Escolhi túlipas amarelas e ofereci as ao meu director criativo em 1969 quando o troquei por outro a quem ofereci TÚLIPAS VERMELHAS, são vistosas, pretendia assim agradecer lhe o primeiro envelope. A mensagem implícita numa túlipa vermelha é, declaração de amor.
Quando a dupla mais brilhante da sua agência demorar mais que um mês para concluir uma campanha, ofereça lhes AMORES PERFEITOS, o significado adapta se não só ao estatuto como à imcompetência. Em amores perfeitos pode contar com, meditação.
Em 1987, um supervisor de contas, Nunca percebi o que faz um S.C., as agências nasceram sem eles e vão terminar do mesmo modo , dizia eu, que o S.C.,apareceu me de AZALEIAS BRANCAS. São fantásticas. Sorriso largo e "um olá é para ti", daqueles sorrisos que trazem água nos bicos todos. . O espertinho pretendia que eu deixasse para trás uma urgência, dando prioridade a um logotipo para uma amiga que ia abrir uma loja de trapos que ele vestia muito. Azaleias brancas, significam romance.
VIOLETAS, são aquelas flores de cores impossíveis, que nem mesmo uma "leica" consegue reproduzir com toda a verdade. As violetas existem mesmo. Espero ainda recebe las um dia, tipo molhinho com dez dúzias. Uma só violeta significa modéstia.
Para terminar mos aceite uma dica importante. Regue todos os dias as suas flores, adube as a cada vinte dias, não as prive de luz.
Outra dica, se daqui a dez anos me quizer para a sua agência, mande me primeiro cravos rosados, de preferência.

Manuel Peres


UM MUNDO PANÍACO ou
OS MANÍACOS DO PÂNICO.
(Texto da "Vogue". Tradução de António Pilar)

Você é um maníaco do pânico? Dito de outra forma, um "paníaco".
A palavra foi inventada pelo Actuel alemão, a revista Tempo.
O que é um paníaco? Mas é você! Sou eu. É ele. O paníaco deixa tudo para o último momento: trabalho, ruptura sentimental, impostos, decisões graves. Só age em pânico, no limite do "deadline", a um passo da catástrofe. Por exemplo, este artigo. É domingo. São 16 horas. Devo entregá lo esta noite às 22 horas.
É o último artigo deste número. A gráfica, a maquete, a fotocomposição estão à minha espera. Se não estiver pronto vai ser um drama.
A saída do jornal com atraso.
Agora já não posso recuar mais. Vou experimentar uma vez mais a angustiante sensação: vou cair ou atravessar? Não comi. Não me lavei. Tenho uma dor de cabeça. Estou de um humor massacrante. A minha namorada que me conhece bem, saiu de casa prudentemente. Ontem fui para a farra em vez de trabalhar. Não conseguia. Inventava me todos
os argumentos para recuar. Impossível dizer por onde vou começar. Ou de estabelecer um plano que me permita o arranque. Então saí.
Fui beber uns copos. Arrastei me em vez de meter mãos à obra.
Agora, estou nu, barba por fazer, recomecei a fumar, num estado alucinado, mais concentrado do que se estivesse cheio de anfetaminas hipervitaminadas.
Acabei de esquematizar o esqueleto do artigo em três folhas. Volto à pilha de notas que recolhi sobre a questão desde há dez dias. Arranco.
Verdade? O paníaco é uma variedade de procrastinador. Eu traduzo. Procrastinar, conceito latino, significa: remeter para o dia seguinte (de crastinus, de o dia seguinte). A procrastinação é uma das nevroses obsessionais clássicas do nosso tempo. Freud já a tinha referenciado num ensaio sobre o carácter. Um psicólogo americano, Albert Ellis, estabeleceu o diagnóstico. Procrastinar, é elevar o adiamento ao nível de princípio de vida.
É uma existência perpétua feita de últimos minutos: pagar os impostos quando o oficial de diligências já está à porta com o homem das mudanças, romper com a namorada agora a sua pior inimiga quando já há sangue, trabalhar unicamente em carroça desgovernada. Ellis fala de "desregulamento emocional" onde o menor encontro, a mais pequena lista de prazos se transforma numa ameaça angustiante. Tal como o procrastinador, o paníaco é o príncipe da condução de fuga, o rei do último momento.
Mas o paníaco nunca cai completamente na nevrose e na derrota a verdadeira procrastinação , consegue escapar lhes no último momento por uma louca crise de criatividade, variedade da catarsis psicanalítica onde o paciente exterioriza o seu drama numa espécie de explosão teatral.
Grande número de paníacos são criativos encostados à parede, desenhadores, guionistas, escritores, publicitários, designers, jornalistas,
torturados por um paradoxo ultra moderno: eles têm de fazer jorrar o seu talento, inventar o novo, coagular os seus pensamentos e os seus dons
nas malhas de um calendário draconiano. É duro! É difícil fazer disparar a imaginação numa data fixada. O paníaco tem necessidade de agir na urgência, de ser desafiado, encurralado junto ao precipício para extrair das suas sinapses stressadas uma qualquer mirífica ideia.
O paníaco é filho dos anos 80, que foram os anos do culto do sucesso, do trabalho enraivecido para ganhar, do fim do cool. Os nossos jovens lobos e outros ganhadores "workaholics" drogados do trabalho agarraram se
primeiro à coca, depois às anfetaminas para conseguirem atravessar noites brancas após xnoites brancas, passando demasiadas vezes da catarsis flamejante à depressão.
Os paníacos proclamam aos quatro ventos que resistem à loucura do labor furioso. Eles querem preservar o seu tempo fora das rédeas, proteger a liberdade da sua imaginação. Adiam sem cessar o limite fatal: meter ombros à tarefa.
Veja, por exemplo, o odioso e genial caricaturista da Tempo, Manfred Deix, o pintor sem piedade da sociedade bem pensante alemã. Manfred
Deix traz sempre os seus desenhos no último momento. Ignora totalmente o cronograma.
Enlouquece os chefes de redacção e os maquetistas. Aparece à hora do fecho, por vezes já na gráfica. Costuma exclamar, batendo no peito: "Sou o rendez vous mais temido da Alemanha! Sou odiado. Três horas antes do
deadline tenho a cabeça vazia. Mas depois começo a trabalhar como uma máquina." Ou então Liberatore, que fez as ilustrações que acompanham este artigo. É a mesma história. Ele tinha prometido ter tudo pronto hoje às 22
horas (tal como eu). Já lhe liguei quatro vezes.
Gravador. Depois a mulher, inquieta: "Nem sequer sei onde ele anda!" Ele passou em minha casa de fugida, há três dias, para me mostrar uns esboços. De barba por fazer, olheiras, hipernervoso, não suportando a menor crítica. Desde então, nenhuma notícia. Nem um
telefonema. Temo o pior.
Já percebeu? O pânico, é a droga do paníaco.
Mais forte do que as anfetaminas. E menos nociva. Em geral, o paníaco passa por uma xsérie de fases críticas que o levam passo a xpasso, inexoravelmente, ao pé do muro dassérie de fases críticas que o levam passo a passo, inexoravelmente, ao pé do muro das lamentações.

Fase 1 :
"Bem, mãos à obra."
No começo de um projecto, o paníaco aparenta geralmente algum optimismo. Desta vez, não vai deixar arrastar as coisas como habitualmente.
Senta se à mesa de trabalho. Que começa por arrumar meticulosamente. Depois começa a embrenhar se nas suas notas. Que já releu algumas dez vezes. Mas nunca fiando. Pode sempre haver um bom começo que lhe tenha escapado. Nada vem. Retoma então, os seus documentos. Recopia indefinidamente recortes xde jornal, que classifica: a maioria deles são inúteis, mas nunca se sabe. E depois, sem estar a escrever realmente, dá nos a impressão de trabalhar. Ouf, que canseira!
O nosso paníaco vai comer qualquer coisa.
Trabalha se melhor de estômago aconchegado, não é verdade? Depois prepara um café. Bem, vamos a isto. Azar, há um livro por ali, esquecido.
Fica um bocado a folheá lo. Depois escreve uma frase. Nula. Deita a folha fora. Um novo começo. Novamente nulo.
Que fazer? Um conhaquezito, talvez. O paníaco conserva, profundamente enraízada, uma esperança secreta: de um momento para outro vai começar a produzir, furiosamente. Mas não, nada vem. O que é que dá na TV? Uma curta meia hora de telenovela passa. Outro conhaque.
Já é tarde para fazer qualquer coisa de jeito.
Estou demasiado cansado. Amanhã, levanto me
às sete. Juro.

Fase 2:
"Procuro todos os pretextos para não
começar"
São dez horas. O paníaco fez calar com um punho vingador o despertador das seis horas.
Vale mais dormir bem do que acordar
apardalado pelo cansaço. Começa por um sólido pequeno almoço. O nosso paníaco entra então no jogo maldito: recuar para não saltar. A menor actividade torna se um excelente pretexto para não se colocar face à angustiante folha branca.
O telefone, por exemplo. Usa e abusa. Faz chamadas a torto e a direito, persuadindo se que são obrigatórias. E depois, de repente, milagre! um velho amigo que liga. Era bera despachá lo. Fala se da vida, o tempo passa.
É uma hora. O nosso paníaco tem fome. É melhor trabalhar de barriga cheia, não é verdade? Azar! Bebe um copo a mais. No entanto, devia saber: o vinho tinto ao almoço, em pleno trabalho, é criminoso. Tarde de mais.
É vê lo cabecear à mesa. Horrível. Bem, vou mas é fazer uma sesta de meia hora e ataco de novo, com ideias frescas. Mas a sesta dura.
São cinco horas. No seu apartamento, o paníaco anda de um lado para outro. Mas que desordem realmente. Não se pode trabalhar num bordel
destes! Arruma, á esquerda, à direita. E encontra uma velha pilha de jornais que se tinha prometido de classificar há séculos. Porque não agora?
Talvez surjam ideias ao rever todas aquelas fotos e artigos. Vamos a isso. Arruma. São seis horas. Deus do Céu, o dia passa em quarta a fundo. Nem sequer saí para tomar ar. Vai me fazer bem. Vestir se. Sair. Onde ir? Olha, vou levar os filmes ao clube vídeo antes que tenha de pagar uma fortuna.
No clube, o nosso paníaco demora se. E se escolhesse um filme novo para a sua querida?
A pobre já tem que me suportar a trabalhar como um forçado noite e dia. Mas qual escolher?
Um policial, um grande clássico? Sete e trinta.
As notícias na TV, tem de ser. Ah! os filhos da mãe! Dão um velho Fellini esta noite. Prometo, só vejo um bocadinho e fecho me.
Dez horas. Largar um filme destes que passa uma vez de dez em dez anos, é um crime! Mas agora tenho fome. Dring. É a minha bela que regressa. Jantamos juntos. Onze horas. Bem, desta vez vou atacar a sério. Eis o nosso
paníaco, de novo, em frente à sua mesa de trabalho Azar de novo, a namorada entra e sai, faz barulho. E agora passeia se toda nua.
Ela é tão gira. Rola se na cama como uma pantera. E se nós déssemos uma rapidinha?
Ia me fazer bem. Punha me como novo. Meia noite e meia. O paníaco jaz na cama, entorpecido. Já não tem coragem de recomeçar.
Jura a si próprio e aos deuses: "Amanhã, às seis, partida!"

Fase 3: "Odeio toda a gente!"
São oito da manhã. Há meia hora que o nosso paníaco discute ferozmente com a namorada.
Levantou se com uma disposição de bulldog ultrabilioso. A primeira observação da sua querida "Não me dás um beijo?" deu lhe uma fúria. Lançam se cara a cara os piores insultos. Ele, sobretudo. Como é que se pode trabalhar num ambiente assim? Odioso! Para marcar posição, o paníaco veste se a toda a pressa e sai batendo com a porta. Toma o pequeno almoço fora. Claro, compra os jornais.
A leitura leva um certo tempo. Dez da manhã.
A sua cara metade saiu. Enfim tranquilo! Durante uma boa meia hora, amaldiçoa a. Depois põe se a odiar toda a gente: os sacanas que o obrigam a trabalhar dia e noite, no limite da trombose! Este trabalho doente que esmaga toda a criatividade, que vos espreme os miolos como um limão. Uma esperança louca acarícia então o nosso paníaco: e se ele pudesse adiar
esta treta para o mês seguinte? Pouca sorte, o telefone toca nesse preciso momento. São justamente os seus clientes, e chefes, impacientes.
Responde lhes com uma frase tipicamente paníaca: "Estou em cima. A trabalhar ao máximo.
Tudo sob controle. Ah! Ah! Ah!"
Desta vez o paníaco apreende toda a extensão do desastre. E sabe o bem: vai lançar se numa louca corrida contra relógio. Tem que ter tudo pronto amanhã ao meio dia, último prazo.
É meio dia. Fecha se no atelier. A esperança reaparece de novo: é certo, vai arrancar como um buldozer. Hesita um momento: toma um speed agora ou logo à noite? Remete para mais tarde: o melhor é fazer já um plano de trabalho.
Aplica se. Demora um bocado. Retoma as notas: mas apercebe se, desgraça, que não sabe aonde pôs uma folha essencial. Justamente o começo que lhe faltava. Mas onde é que o meteu?! É atroz! Procura em tudo o que é sítio,
blasfemando os deuses. Este desaparecimento destabiliza o totalmente. Enlouqueceu ou quê?
É insuportável estar esclerosado a tal ponto.
Pela primeira vez, a dúvida: não vai conseguir.
Já não há tempo. O nosso paníaco começa aderrapar.
Entrou na quata fase.

Fase 4: "Sou um zero à esquerda!"
Duas da tarde. O paníaco encontrou finalmente, as suas notas desaparecidas, no dossier onde as tinha arrumado. Percorre as com um olhar desfocado e acha as de uma banalidade assustadora. Como é que pôde escrever tais imbecilidades. E por onde vai começar, agora?
Invade o um terrível sentimento de extralucidez: nenhum dos seus colegas arrasta tanto como ele. Nenhum dá voltas ao seu computador com tanta raiva. É uma nulidade, isso é a verdade nua e crua. Para retomar coragem, dá uma vista de olhos nalguns velhos artigos seus. Olha, este até nem estava mau! Há aqui algum talento apesar de tudo. Estas leituras retomadas, levam uma boa meia hora.
Deixa o atelier, apanhado por uma súbita ideia.
Já percebeu! É o seu cérebro esquerdo que está a bloquear tudo, o seu cérebro racional, perfeccionista. E o que é preciso, é libertar toda a força onírica, fantasista do seu cérebro direito.
Um charro? Não, seria dramático nesta fase. Ia ficar um zombie apalermado. Então, com ar decidido, vai à casa de banho. Estão lá umas
BD's picantes, à espera. Deixa se ir nessas delícias. Meia hora depois sai, desesperado.
Nunca, mas nunca, deveria ter batido aquela pívia rápida mesmo a meio do trabalho. Chupou-lhe metade da energia. É de chorar.
São quatro da tarde. E nem uma linha. Nada.
Faz meia dúzia de elevações na sala, exercícios respiratórios. Com um pouco de música isto ia melhor. Mas que disco? O último Neneh Cherry.
No taco. Volta ao atelier. Cinco minutos depois a música incomoda o. Se calhar era melhor pôr um New Age, algo assim subtil e doce. Mas o quê? A vistoria à sua discoteca leva lhe mais meia hora.
Toca o telefone. É a sua dulcineia. Chega às seis. O quê! É atroz. Agora que tinha começado a valer ela vai desconcentrá lo. Toca o telefone
de novo. É um amigo. Paleio. São quase seis horas.
Seis e um quarto. Namorada, nada. Mas o que é que ela anda a fazer? Ah! até que enfim!
Recebe-a como a um inimigo. Ambiente décimo terceiro round. Andam à volta um do outro sentindo subir a pressão.
Sete horas. O paníaco fecha se de novo. Agora é assaltado por visões: vê em acelerado a noite totalmente alucinante que o espera. Oito horas, revê o plano elaborado em detalhe. Escreve duas linhas. E percebe com horror que não consegue o tom. Nenhum gancho. Nada. O plano não vale nada. A depressão cai lhe em cima como uma bigorna, quando a namorada o chama para comerem.
Sai do atelier como um touro furioso e berra: "Não quero comer! Não quero nada! Só quero é que me deixem em paz!"
Pressão. Volta a fechar se. Passa meia hora.
Tem fome. Vai à cozinha em silêncio. Queima o bife e estraga as batatas coradas. Tudo isso leva tempo. Café forte. Vitamina C. Dez da noite.
Volta para o atelier. Telefona para o escritório, disfarçando a voz. Ainda tem esperança numa esperança numa remissão de pena de último minuto. Um recuo do término fatal. Mas é impensável. Apanha um colega fixe. Que
também está a patinhar. Isso deixa o mais descansado. Durante uma boa meia hora discute com ele uma possível abordagem. Depois a discussão dispersa se. Onze horas. Bem, o melhor é fazer as pazes com a namorada em vez de deixar envenenar as coisas.
Meia noite. O cansaço começa a rondar.
Anfetaminas? Não há nada pior quando o trabalho ainda nem começou. O espirito electrizado acelera em ponto morto. Depois, é o down fatal. Vale mais contar com as suas próprias forças. Talvez dormir uma hora? E se
eu não acordar? Já só tenho dez horas. Toca o telefone. É o boss: "Então, já acabaste?" O paníaco tem vontade de chorar. É impossível.
Não vou conseguir nunca.

Fase 5. O sonâmbulo.
Duas da manhã. Há uma boa meia hora para cá, o paníaco escreve como um obcecado.
Liquida folhas ao quilómetro. É incrível. Parece que o teclado funciona sozinho. Tudo começa a tomar forma parágrafo após parágrafo. E parece que o tom está apanhado. As histórias encaixam, é miraculoso. O plano vai se delineando progressivamente. Três finais anunciam se já. Todos eles consistentes. O paníaco entrou na sua fase eufórica. Nada o faz parar. Já não tem fome nem sede. Avança, diverte se mesmo, espantado com a própria facilidade. Lembra se de que já pariu coisas bem mais difíceis. Esta, de repente, até lhe parece infantil. Retomou confiança. Quase se acha sobredotado por despachar tanta folha a este ritmo. Vomita texto como nunca. Entra assim na fase do sonâmbulo. Na crista da onda que o leva faz o surf com à vontade. As horas passam sem que ele levante a cabeça da secretária. O dia nasce. Ele continua.
Hipnotizado. A namorada vai trabalhar. Nem se apercebe. Ela traz lhe um café que ali fica, a arrefecer. Dez da manhã. Toca o telefone. Não responde. Avança. Meio dia. Desliga o telefone.
Já não pode parar. Tocam à porta. É um amigo.
Despacha o num minuto. Retoma a corrida.
Duas horas. Três horas. O monte de folhas não pára de crescer, em cima da mesa. Há doze horas que não perde a tusa.
Quatro horas. A primeira versão está terminada.
Deita se. Põe o despertador. Dorme três horas.
Lê tudo de novo. A namorada está de volta.
Nem a vê. Corta, rescreve, ajeita, modifica o final. As horas passam. Onze horas. Meia noite.
O telefone toca sem parar. Volta a desligá lo.
Está a acabar. Três da matina. Está feito. Deixa se invadir por uma felicidade doida e é apanhado por uma última erecção escondida. Tenta a sorte junto da sua heróica mulher, é escorraçado e sai para entregar o artigo. Fim da crise.

(Texto publicado na "Vogue" e traduzido por António Pilar


Um acto de amor, uma cestinha com caracoletas e a Hélicicultura.

Na maioria dos dias úteis entro na agência por volta das nove. Nos outros dias, os inúteis, nunca me lembro da hora a que chego.Os dias inúteis numa agência servem acima de tudo para se sair e nunca para se estar. Nesses, os inúteis, evito estar, o pior mesmo é entrar e enfrentar momentos esquecíveis onde as horas são o único prazer a contar. Mas nesta vida existem factos que fazem dos dias publicitários os momentos daquilo que mais conta para uma vida. Queres ver?

Num destes dias em que entrei na agência por volta das nove, acordei mais cedo. Pelas cinco e trinta dei por mim a fazer amor com a minha companheira. É verdade sim, que dei por mim. Amigo, isto tem uma explicação. Aqui há uns tempos, a minha companheira dava por mim muito antes de eu dar conta do que quer que fosse. Os tempos também eram outros. Um bom bocado depois das cinco e trinta, a minha companheira, deu me um olá e uns bons dias mas em voz alta como que para me acordar do facto, Fiquei puto. Só agora é que deste por mim, mulher? Óh, homem, vê lá se acordas...está tudo bem contigo? . Estou na santa paz . Vê se querido. Mas calma lá Cristininha, estás bem?. Do melhor. Então ainda achas que faria uma coisa bonita assim mas a dormir? Eu cá acho... Amor !, (trato a assim sempre que posso) isso é o que tu pensas, estava para aqui a reflectir num click que me bateu para um trabalhinho que resolverei hoje. Deu resultado, não deu?. Meu querido, vais é pastar caracóis. Percebi que tinha sido apanhado e respondi lhe, Vai tu.
Antes de sair a caminho da agência a Cristina, meu amor para mim, minha companheira de verdade, para alguns a minha sobrinha, basta sairmos em locais mais afastados da porta, veio e chegou se a mim, deu me um beijo e ofereceu me uma cestinha igual às que vendem nos mercados em promoções e que na páscoa são distribuídas com cinco ou seis amêndoas a saberem a ranso. Já no carro e depois de dar à chave, destapei a cestinha enquanto acenava um adeus à Cristina. Dentro da cestinha de verga, no lugar das amêndoas, uma boa dúzia de caracóis mas dos grandes a quem os lisboetas chamam caracoletas, os brasileiros caramujos, os franceses escargots e os alentejanos não se ficam, chamando lhes o marisco da malta do Porto. A Cristina despachou se bem. Enquanto me preparava para sair, foi à horta e compôs a prenda. Nada a fazer, pelo sorrisinho que me atirou da janela com uma daquelas expressões indecisas do não se saber se ri ou se se ri da minha cara, mas nem por isso me mostrei lixado, não era necessário, ela soube que fiquei pior do que me tivessem passado um esmoril no rabo. Olhei mais uma vez para as caracoletas e entre elas, quatro exemplares copulavam se. Acalmei me e já de costas dentro do pópó, tapei a cestinha não fossem os animaizinhos passearem se uns em cima dos outros pelos estofos. Entrei na agência de cesta na mão ao que um engraçadinho me olhou primeiro com ar de gozo e depois com uma boca tipo, "Hoje fazes directa?" porquê? "trazes cestinha com farnel?. Fiquei puto pela segunda vez.
Antes de ir almoçar, destapei a cestinha e lá continuavam no mesmo preparo as quatro caracoletas. Quando voltei do croquete, rissol, sandes de ovo frito e café, fui ao meu armário à cestinha. O raio dos caracóis rodavam uns em cima dos outros, mas eram os mesmos.
Saí no final da tarde, voltei à cestinha, destapei a do papel vegetal, lá estavam, pareciam agarrados com aquela cola género anti pingo.
Cheguei a casa por volta das oito e trinta e as caracoletas sexo com sexo, vão lá mais de doze horas em que a festa é dos grandes caracóis. Desci até junto de um arbusto no meio da horta, a Cristina viu me passar e nem olá. Pois sentadinho, conclui que a minha horta é um lugar muito parecido com aquela agência, ora vejamos. A horta só dá coisas úteis se fizer sol, se eu lhe der água e se a plantar, mas como não uso germicidas aquilo está empestado de caracoletas. Quanto ao que faz aqui a agência, pensa o que quizeres. Depois de voltar à cestinha mais uma vez com as caracoletas ao rubro, o presentinho da minha mulher começava por me dar que pensar. " Vai pastar caracóis" tinha o dito ainda de madrugada. Restava me tirar partido disto. Comecei por juntar algumas peças.
As caracoletas, escargots ou caramujos , são moluscos pertencentes à espécie Hélix. Seus criadores são designados por Helicicultores. Porquê Hélix?
Porque os bichinhos rodam cento e oitenta graus sobre si mesmos. Existem mais de quatro mil espècies, pudera!.
Nos da minha cestinha identifiquei os que se estavam uns nos outros como sendo da espécie Hélix Gross Gris de casca ás risquinhas. Bem me pareciam estarem naquela cena ainda de pijaminha. Até aqui tudo ótimo, de pijama e a rodar cento e oitenta graus, não é nada para mim de impossível. A oferta da minha companheira começava por me parecer fazer algum sentido.
Os escargots são essencialmente vegetarianos, comem frutos carnudos como abóbora, melancia ou maçãs. Bem, nada que eu não goste.
Sacanas dos caracóis devoram me a horta e ainda por cima tenho de bater palmas. Passarei a uma alimentação com mais incidência nisso mesmo, frutos carnudos.
As caracoletas ou escargots tem hábitos nocturnos e saem ao entardecer. Bem que a Cristina insiste em sair à noite.Eu sabia, mas lixe se, adoro ficar em casa.
São vinte e uma e trinta, eu na horta e os caracóis não descolam.Sabe se tambem que os escargots se encontram para copularem quatro vezes por ano. Boa piada! santa paciência, Cristina!
Sabe se ainda que antes da cópula os caracóis tem um periodo de namoro que não excede os vinte minutos, este pragmatismo agrada me.
Após o periodo da conquista elaboram um coito que dura, vejam só, nunca menos de quinze horas seguidinhas. Pode se acreditar nisto?.
Inacreditável é a resistência destes animaizinhos que pesam sómente algumas gramas. Emagrecer mais ainda?. Eu?. Não dá.
Os escargots são hermafroditas incompletos, cada um possui dois sexos não conseguindo auto fecundarem se e necessitam sempre de um parceiro para realizar a cópula. Daí que qualquer humano, queca. Cópula mesmo é com os caracóis.
Subi a horta até casa de cestinha na mão. A Cristina aguardava me junto a uma novela e um televisor. Sentei me bem na sua frente sem aquela raiva num olhar esperado e no lugar, um sorriso meu, de gajo que leva durante quase treze horas com uma cópula animalesca sem nada poder fazer.
Foi assim que eu lhe disse o melhor que me ocorreu.
Cristina.... espero que de uma vez por todas acredites nesta minha promessa (disse o com a mesma convicção da primeira vez).
Emagrecer mais ainda? farei por isso.
Rodar cento e oitenta graus? caramba Cristina a vida já deu tantas voltas...
Quanto ao regime vegetariano, cuidarei mais da horta.
Agora, quinze horas seguidas e de pijama? só com cirurgia de transplante porque sexo como sabes , só temos um.
Nem penses querido! Vai pastar caracóis!, disse me ela.

Manuel Peres


CHARLOTTE VAMOS JANTAR FORA

Quando era pequeno (já cheguei aos 1,80) certos Domingos íamos jantar fora. Mas eram outros tempos: jantar fora era mais do que jantar fora.
Naquele tempo, jantar fora significava para mim o que hoje em dia seria a mesma sensação de ir viajar: aquela ansiedade, a vontade de sair e chegar lá.
Mas para um restaurante...? É, como disse acima (se você perguntou é porque não leu com calma o início) eram outros tempos. Coisas como os almoços de Domingo com a família reunida: sair, ir até a padaria com meu pai comprar frango com a respectiva farofa (e eu pensava quando via a farofa "mas como é que eles fazem isso...? E essas bolotinhas misteriosas que estão envoltas na farofa....será que é carne...? será que são pedacinhos
de frango..? será que são outras coisas...?
De volta a casa, abria a porta e lá estavam elas em cima da mesa de jantar, sobre a toalha branca: as duas garrafas de refrigerante sobre a mesa. Uma de 750 ml de Coca Cola e outra 750ml de Fanta.
Olhar aquilo era um prazer, porque este tipo de coisa só aparecia em alguns poucos Almoços de Domingo.
E este para mim era o Almoço de Domingo. Porque para mim, o almoço de Domingo se resumia a isso, já que nunca fui um gourmet: o passeio para comprar o Frango, a hora de beber um
copo de refrigerante e depois de muita discussão conseguir deixar a mesa com o prato pela metade.
Pois bem, mas a outra emoção era jantar fora. A notícia vinha lá pelo final da tarde com meus pais entrando em acordo em irmos.
Ia chegando a noite e nós nos arrumávamos todos: colocar a roupa de Domingo, eu, meus pais e meus irmãos.
E lá íamos nós pegar um táxi até o restaurante (muito tempo depois veio o primeiro carro, um Volkswagem 1300, e uau, refrigerado a ar) que em geral era no próprio bairro. Mas a minha emoção era tanta que nem a minha viagem ao exterior depois de grande, conseguiu superar a emoção de jantar fora (mesmo sempre deixando o prato pela metade).
Então, lá íamos nós no táxi (se fôsse um DKW seria melhor, pois cabia todo mundo). Mas toda vez que entrava no DKW sempre achava estranho e me perguntava porque a porta da frente daquele carro abria diferente de todas as outras dos outros carros e porque aquele motor, ao contrário dos outros sempre ficava soluçando?
De qualquer jeito eu gostava do barulho daquele carro e dos soluções do motor: era como se estivesse andando em algo muito possante, como um carro de corrida. Daqueles de plástico que eu brincava (aquele plástico mole e ôco, que depois de ser pisado sem querer, não tinha jeito de tirar o amassado que ficava para dentro. Aliás tinha: só mesmo fazendo um
furo com a agulha de tricô da minha mãe e ir ajeitando até desamassar mais ou menos).
No meio do caminho acontecia aquela coisa que nunca mudou até hoje em época de Internet e de Genomas: a conversa com o motorista do táxi; tempo, futebol, os aumentos do governo, "ô carrinho que não dá mão de obra e quase chegando ao restaurante terminava no "dá uma
encostadinha que é aqui mesmo, espera um pouquinho até eles saírem (o banco de trás do DKW era afundado e era sempre uma dificuldade para todos saírem), muito obrigado e Boa Noite.
Chegávamos lá, eramos recebidos pelo dono, aquele ambiente de restaurante de imigrante:acolhedor, simples, como se estivessemos entrando na nossa outra casa.
Olhavamos ao longe para o salão e eles apontavam a mesa que seria escolhida "não, esta está muito perto da porta, "esta está longe do garçon e ele acaba não nos vendo, "e aquela mesa? não, o casal do lado está discutindo, "e aquela? não dá porque só tem uma e nós precisamos juntar duas mesas e aquela? fica muito perto do banheiro e é aquele entra
e sai. "Olha, tem aquela em que o pessoal está saindo. Isso, vamos nos aproximando com calma sem ser mal educado, mas quando eles começarem a sair nós sentamos rápido.
Aguardávamos um pouquinho e quando o pessoal da mesa ia saindo nós ao mesmo tempo íamos nos aproximando.
Para mim aquilo era o mesmo clima de dar a bandeirada de partida da Fórmula 1. Só que ao contrário: primeiro era a bandeirada para ir até a mesa e depois a emoção de escolher uma cadeira e sentar; exatamente a mesma sensação de escolher um carrinho no parque de diversões e depois sentar.
Já sentados, vinha a parte que menos interessava para mim: a escolha da comida. E logo a seguir a parte que mais interessava: pedir um refrigerante, já que refrigerante só em alguns Almoços de Domingo ou indo jantar fora.
É, refrigerante, além de extravagancia era algo visto como não alimentício, então em casa, no dia a dia era suco de frutas (e hoje vejo que eles estavam certos: eles eram a Geração
Saúde muito antes de aparecer a Geração Saúde).
Os refrigerantes chegavam junto com os pães e o couvert, e claro este era o meu jantar: o pãozinho, a manteiga e depois era escolher uma desculpa para deixar o prato pela metade.
Meus pais raramente bebiam refrigerante, em geral uma Cerveja comum e outra preta. E claro, uma grande garrafa de água.
Então uma vez, quando olhei a grande garrafa de água, pensei "e se eu colocar um pouco de água junto com o refrigerante que está no copo? Será que dá para aumentar a quantidade?
E lá fui eu pedir a água e colocar no copo. E ao colocar vi que a Coca Cola ficava com a mesma cor, e fui colocando mais e mais, e mais e mais.
E no fim o copo, que era grande para mim, estava cheio até a borda e eu muito feliz: havia conseguido o milagre da multiplicação dos refrigerantes.
Só faltava agora beber tudo e o meu jantar estaria completo. Coloquei na boca e....o gosto era de água: água total.
Tentei disfarçar a minha decepção e provei mais algumas vezes: quem sabe se depois de um tempo o gosto de Coca Cola voltava, devia ser questão de tempo para ele aparecer de novo.
Aguardei mais um pouco e quando veio a comida provei: água pura. A cor era de Coca Cola, mas o gosto era de água.
A minha invenção não tinha dado certo (se tivesse dado certo, a Coca Cola teria falido).
Bom, só restava arranjar algumas desculpas para deixar o prato pela metade enquanto os outros se deliciavam com as cebolinhas em conserva, o presunto crú, a massa ou o frango.
Eu por mim, estava satisfeitíssimo com aquelas batatas caseiras, grandes, assimétricas e com purê dentro, que hoje quase nem existem e as pré fritas num revival estão vendendo com o mesmo old shape nos supermercados.
Bom, o copo de refrigerante continuava lá, o prato pela metade foi parar em outro prato e eu lá olhando o ambiente em volta e me divertindo brincando com os palitos de dentes portugueses (aqueles achatados de uma ponta só) e pensando porque estes palitos divertidos só existiam neste restautante e nem tinha na padaria e outros lugares?
Então chegou a segunda melhor hora depois do refrigerante: a hora da sobremesa.
E foi aí que eu como sempre ia escolhendo uma torta e de repente escutei alguém na mesa mencionar a palavra Charlotte. Logo perguntei o que era Charlotte.
Daí procuraram me explicar que era um tipo de sorvete mas que não era tão gelado.
Bom, foi meio difícil de entender. Mas eu pensei que deveria ser uma coisa legal, porque sempre que comia sorvete muito gelado pensava "porque é que ainda não inventaram o sorvete quente? E a minha mãe respondia que senão ele derretia.
E naquele instante pensei: "que bom, acho que acabaram de inventar o tal sorvete que eu tanto queria.
Fiquei muito feliz e resolvi experimentar aquela invenção pela qual eu tinha esperado tanto tempo. E enquanto esperava o tal Charlotte, ficava pensando quando iam inventar um prego que não amassa.
Porque todas as vezes que eu ganhava de presente aqueles jogos de montar que tinham ferramentinhas, martelos e pregos, eu sempre na hora de pregar amassava o prego. E nem pensando que o culpado do prego ficar torto era a minha pontaria pensava sempre "quando é
que vão inventar os pregos que não amassam?.
No meio de todo este pensamento o garçom apareceu novamente com os pratinhos lá no alto começando a pousar sobre a mesa e eu louco para ver o tal Charlotte.
E quando pousou foi uma decepção; não tinha aquele jeito de sorvete com aquelas bonitas formas: era um simples retângulo em cima do prato. Apenas um tijolinho.
Mas, olhando melhor vi que a cor dele era diferente: ele tinha umas cores muito bonitas, era rajado e os tons tinham vermelho, rosado, amarelo, creme, e mais algumas.
Bom, eu nunca tinha visto um sorvete que fôsse rajado e com tantas cores minuciosas. Tinha até umas manchinhas brilhantes cor de cereja que dava vontade de passar a colher e comer.
E foi o que eu fiz: tentar decifrar aquele mistério do sorvete que não era tão frio.
Peguei a colherzinha e tirei um pedacinho. E com muito cuidado comecei a provar (porque com um sorvete assim tão diferente, todo cuidado é pouco, vai saber se não tem muito o gosto de sorvete ou tem gosto de outra coisa?).
Provei. Provei e gostei. Provei, gostei e nunca mais esqueci.
E ainda no final, depois de derretido ainda tinha umas coisinhas que ficavam no prato e eram muito gostosas de comer envoltas no sorvete já derretido.
Perguntei para a minha mãe o que era e ela disse simplesmente: bolo.
Bolo...? Bom, voltamos para casa como sempre à pé, como eles diziam "para fazer a digestão. E eu todo feliz, como o bolso cheio de palitos portugueses para brincar em casa, ia pensando: puxa, já inventaram o sorvete que não é tão frio, agora só falta inventar os pregos que não entortam.

Passados muitos anos eu até hoje nunca comi um Charlotte como aquele. Mas o nome ficou na cabeça. E o gosto e as cores também. Tenho a certeza de que era receita caseira da mulher do imigrante dono do restaurante.
E estes dias enquanto abria a geladeira para pegar o sorvete de Chocolate, me lembrei desta história e contei para a Cinthia.
E ela, depois de escutar falou: olha, tem um bolo que eu fiz. Você não quer misturar no sorvete...?

Eu olhei para ela, peguei o sorvete e coloquei num pratinho. Depois, com todo o cuidado peguei o bolo.
E aí, cortei e amassei em pedacinhos o bolo e o sorvete, e misturei. Provei.
E o Charlotte apareceu depois de tantos anos. Claro que não era como aquele e nem tinha aquele gosto: mas era Charlotte. E o principal: era o tal do sorvete quente.

CHARLOTTE VAMOS JANTAR FORA

Ingredientes:

Prato de Sobremesa
Colher
Sorvete do Supermercado
Bolo tipo Mata Fome, ou tipo Pullmann ou algo assim

Modo de Fazer:

Coloque o sorvete no prato.
Corte aleatoriamente sem demorar muito o sorvete em pequenos pedaços. Esmague com a colher
algumas partes do sorvete para ele derreter.
Corte umas fatias de bolo e coloque em cima do sorvete. Esmague um pouco as fatias com a
colher.
Agora pegue a colher e comece a misturar o sorvete com o bolo para que ele fique envolvido
pela parte derretida.
O segredo na hora de misturar o bolo com o sorvete é deixar umas pouquinhas partes de bolo
e sorvete em pedacinhos para poder morder eles um pouquinho, e o resto fica envolto.

(Texto de Danyel Sak publicitário


Na Guiné

Estava eu em plena Guiné Bissau, quando de repente se lançaram diversos jogos internacionais de futebol de salão, entre os quais um Portugal Brasil.
À boa maneira portuguesa, lá "desarrascámos" uma equipa, com "toscos" e tecnicistas, o mesmo acontecendo com os brasileiros.
Deixando de lado a normal modéstia, as coisas estavam muito equilibradas: começámos por perder 13 2!
Só que os brasileiros usaram umas regras esquisitas. Mesmo muito esquisitas! E tinham códigos de jogadas que só eles entendiam.
Protestámos o jogo e fizemos uma final de repetição.
Jogámos, finalmente, com as regras do futebol de salão.
Não me lembro do ritmo no marcador, mas sei que o placard anunciava um 2 2 justíssimo. Eis senão quando, momento dramático se anuncia. Um dos "toscos" do Brasil (defesa) põe o pé à frente da bola e trava a, no preciso momento em que o nosso melhor rematador ia chutar para a baliza.
O Paulo caiu, redondo (como se costuma dizer), no chão.
Aproximei me e perguntei lhe como estava. A resposta não podia ser mais elucidativa: "Jaquim, traz me água, se não desmaio!"
Saltei de campo, enchi um copo de água e trouxe lho.
Após saciar a dor, o Paulo disse me:"Acho que parti o pé!"
Saiu de campo ao colo. O rumo foi o hospital de Bissau.
Curiosamente, o Paulo era finalista de medicina, na respectiva Faculdade de Lisboa.
Moral da história: em "derbies" parte se sempre qualquer coisa. Às vezes, o coração.
Mas voltámos a defrontarmos.
Em vez de perdermos por 13 2, o resultado foi 3 2.
Força, Tangerina! Desafiem essa Shots. Aos "chutos", pois!
E viço versa, com muita conversa, que anda a fazer muita falta cá no sem graça do Reino.

NB: Chamem me que ainda sou capaz de fazer parte da...
...claque de apoio. Para os dois lados. Claro!

(Joaquim Alves <allegro@clix.pt>)


tenho uma absoluta certeza

1 Que mereces ter hoje um excelente dia.

2 Que nada, é o que hoje me apetece fazer.

3 Que ter ideias contrárias é a forma mais fácil de descobrir as ideias a nosso favor.

4 Que quem está permanentemente descontente com as ideias dos outros, convive sempre feliz com as suas.

5 Que o espaço entre uma ideia sublime e uma ideia grosseiramente ridícula é tão escasso que por vezes uma das ideias anula a outra, nunca se sabe é qual delas sobrevive.

Por tudo isto estou convicto que:

6 O conceito de concorrência, foi criado logo após "aquele" inimigo ter sobrevivido, saindo de uma agência de publicidade para abrir outra.

7 Que incompetência, é tudo aquilo que para alguns criativos não passa de um ligeiro equívoco, sem reflexos no seu intocável talento.

8 Que um fracassado é sempre alguem útil por ter uma enorme memória do sucesso.

9 Que num publicitário, a intelectualidade se mede por tudo aquilo que ele não contesta. Desde as vontades dos seus clientes, aos aumentos de salários que nunca lhe são atribuídos. E está sempre radiante consigo mesmo, excepto no dia em que a sua mulher o troca por outro.
Nesse dia, chega à agência e berra: "Aquela gaja pôs me os cornos".

10 Que a imaginação é aquilo que deveria governar as agências de publicidade e que por ser tão barato acaba por ser governado por elas. Mas mal .

11 Que uma campanha que não pode ser veiculada nos dias treze, nem ter cores azuis ou vermelhas, é para um produto de uma companhia cujo dono é Judeu.

12 Que eloquência, é determinado discurso de um director de media que no final de quatro horas de apresentação do seu plano, consegue vender um spot de rádio de cinco segundos com locução do Luis Gaspar, a veicular na rádio de Marinhais no primeiro dia do mês de Agosto.

13 Que uma central de meios é aquilo que conseguiu unir as agências de publicidade e que ninguém consegue separar.

14 Que o "pague um e leve dois" é a prova de que os publicitários também sabem tirar dos ricos para darem aos pobres.

15 Que "timing" é um espaço de tempo igual aos sete dias em que Deus realizou o Universo e que para certos clientes quer dizer "de hoje para amanhã".

16 Que "OT" (abreviatura de ordem de trabalho), é a abreviatura de relógio de ponto.

17 Que "ALVO" é aquilo que a agência se arrepende de acertar, quando a campanha que concebe não tem uma excelente ideia.

18 Que é verdade que da próxima vez que te encontrar , voltarei a tomar contigo um café no "Adolfo". Nada melhor que aquelas manhãs.

19 Que até lá te mando um forte abraço.

Manuel Peres

Excelente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

JÁ GANHEI O DIA

sem me apetecer nada fazer, recebi um elogio do mestre Luis.

Por isso estou absolutamente convicto que:

20 O êxito só se deve alcançar no próprio dia. Antes e depois, estamos na merda.

21 Um Dir. Criativo Vice Presidente é um Dir. Criativo que recebe uma promoção por a agência onde se encontra não ter plafon para mais aumentos salariais

22 Um Vice Presidente Dir. Criativo é um Dir. Criativo que trocou um aumento de salário por uma promoção.

23 Um spot para TV com oito segundos com locução do Luis Gaspar é a grande oportunidade que um reealizador tem para contar tudo o que é necessário a uma longa metragem.


Pois meu Querido Amigo, desta vez ainda não consegui chegar a 24.

Pós escrito II

Sabes, continuo convicto que:

24 Só podemos ser justos se formos parciais.
A imparcialidade só se consegue aos bocadinhos.
Reunidos esses pedacinhos, atinge se um sentimento de justiça. Difícil, muito difícil, é saber a quantidade dos parciais a reunir.

Comecei o dia sem nada me apetecer fazer, um velho hábito que inicio antes de trabalhar e que resulta. Só consigo emendar um erro se cometer uma irresponsabilidade.

25 O conceito adquire se fácilmente. Acostumemo nos a pensar. Todo o resto surgirá depois.


E quanto a mim, vejamos como acontece quando trabalho muito:

26 CRIATIVO JÚNIOR
cresce e aparece

27 CRIATIVO SENIOR
Já que apareceste, agora cresce.

28 ESTAGIÁRIO ( com 8 dias )
Não tenha pressa. Essa sensação estranha que sente por já saber alguma coisa poderá ter feito de si em oito dias um mestre
de si mesmo. Esse seu lado ignorante, é próprio da primeira fase do saber. Modere se. No final do mês receberá um salário
em troca de nada. Que rica vida.

29 ESTAGIÁRIO ( com 3 meses )
Continue, mas sem pressa. Mesmo sabendo ainda pouco, será convidado para almoçar comigo. Escutarei atento os seus
problemas. Serei solidário consigo, vou convidá lo para júnior . Mas olhe que por maior que seja essa pequena promoção,
não deixará de ser uma promoção a júnior.

30 TRÁFEGO
Uma figura que instituo para libertar e ordenar. Nunca entendo é porque quanto mais esta figura liberta mais faz tudo
o que lhe ordeno.

31 PRODUTOR
Função intermediária mas incansável ao gerir todas as minhas angústias, esquecendo se assim de gerir as suas.

32 REUNIÃO DE CRIAÇÃO
As minhas queridas duplas, no lugar de criarem, decidiram divagar com hora marcada.

33 DIRECTOR CRIATIVO
Pessoa de qualidade, ganhando o pão de cada dia.

34 DUPLA CRIATIVA
Tudo o que com grande esforço consegui unir. Só o dinheiro de outra agência conseguiu separar.

35 ARTE FINAL
Final ? Nunca. É a peça que mais gozo me dá a alterar.

36 OFF THE RECORD
Algo que devemos guardar bem. Ainda à pouco estavam seis publicitários naquela reunião.

37 CRIAÇÃO PUBLICITÁRIA
Uma opção de um amigo sábio, astrólogo e cartomante que ao empregar se num grupo criativo o fez por não se sentir
até então livre. Achava o meu amigo que a parte essencial de um criador de comunicação seria a liberdade e que ser se
criativo seria a sua imediata forma de libertação.
Ao final dos primeiros quinze dias de trabalho concluiria: " Criação é mesmo o limite desta coisa ".
Despediu se e fez se um vidente. Mais tarde ao acordar, bateu lhe à porta um cliente exigindo uma consulta.
Por entre os dentes saiu lhe um desabafo. "Porra, nem mesmo um vidente é livre".

38 DESIGNERS
Quero aos meus designers como a um filho. Nunca esqueço a cada mês a semanada a que tem direito.

39 JUVENTUDE
Um criativo jovem revela se com um dia de verão que se inicia pela manhã com céu limpo e temperatura alta.
Se quizer saber como um dia quente termina, venha conhecer me. Mas saiba que como criativo prefiro o temperado
Sol de inverno.

40 IDADE
Alguem já disse: a idade num criativo aproxima se rápida e silenciosamente. Burrice!
O autor desta máxima desconhece há quanto tempo a minha namorada grita por uma queca minha.


Pois Mestre Luis , dos 40 já passei.
Conto tas depois, Tábem?


Grande Abraço do Manel

Pós Escrito III

Esta semana estive num júri para colaborar na escolha dos melhores trabalhos.
Levantei me de madrugada, não queria falhar a hora de me encontrar com companheiros que admiro, nem perder a oportunidade
de sentir uma vaidade acagaçada,

O meu presidente de júri, Edson athaíde, sabes quem é, não sabes? sugeriu me , "trabalha, mas trabalha bem".
Acredita mestre, que a sugestão do Edson , conheces, não conheces? , deu me que pensar.

Mas olha Luis senti me um definidor, não um conselheiro em ordem religiosa nem mesário de confraria tão pouco, mas sim
um daqueles que profissionalmente define, isso sim, a ponto de me sentir um erógeno mas com definição. Erógeno porque a mim se adequa melhor que tesão, definição por ter o dever de decidir sobre matérias claras ou duvidosas.

Se um júri é um conjunto de indivíduos que avaliam o merecimento de uma pessoa, então, como parte de um júri defino que :


41 PREMIOS EM FESTIVAIS
para os vencedores, os prémios que lhes atribuiem, são coisas que muito merecem.

42 GALARDOADOS
Foram desesperados esses tempos em que o êxito lhe faltou.
Agora que alcançou o êxito, vá lá dar um abraço aos que tanto contribuiram para a sua vitória
A quem? Aos que falharam o êxito.

43 FELICIDADE
Para si, Dir. de Marketing.
Entre uma agência feliz e premiada e uma agência trabalhadora, escolha a primeira.
Ou o senhor quererá estafar se com trabalhos até ao final da sua vida?

44 PRESS AND POSTER (premiados)
Página simples:
São anúncios que contem as mesmas qualidades dos de páginas duplas, porem menores.

45 PICANÇO
Dentro ou fora dos festivais.

O picanço é uma ave vorazmente predadora.
Voa a altitudes médias e tem um especial apetite pelas suas presas ao atacar os ninhos de outras espécies.
O picanço é perspicaz no assalto aos ovos dos vizinhos dado que os choca com enorme rapidez por
ter sempre o corpo em estado febril.
É frequente expulsar os donos de ninhos alheios, obrigando estes a construirem apressadamente outros ninhos.
Nos manuais de ornitologia da comunicação, é tambem conhecido pelo "chupadinha", "chupetinha", ou ainda "bóbó".
O picanço copula qualquer espécie, independentemente do sexo de cada uma. Não usa vaselina o que muito contribui para o
disfar se da sua violência , nem preservativo, não correndo assim o risco de espécie a extinguir se.


Com um abraço (exausto) do
Manuel

Manuel Peres


ELE JÁ CHEGOU AQUI.

Eu sabia que um dia ele ia chegar aqui. No fundo fingia que quem sabe ele fôsse parado na alfândega e ele não pudesse entrar no país. Mas acabou entrando mesmo, fazer o que: o ÃO chegou por aqui.
Logo que escutei ele, reconheci de imediato: doeu no ouvido.
Mas não é um ão qualquer, nada contra o ão como: cão, dão, mão, e principalmente pão. Pão, o pãozinho francês de São Paulo que você não encontra nem na França: crocante, aquela cor dourada, perfeito. E às vezes acaba se nem almoçando de tanto pão com manteiga.
Aliás o casamento perfeito seria: o pãozinho francês de São Paulo com a manteiga dos Açores: isso sim é que é integração Luso Brasileira de fato; isso é que é a tal qualidade de vida e o colesterol que se exploda.
Mas porquê manteiga dos Açores? Bom, porque o clima lá (segundo a meteorologia diária) está sempre muy fresquito como dizem os espanhóis, e com a graminha sempre sendo molhada de tempos em tempos por uma chuvinha ocasional.
Já viu a cara das vaquinhas que residem lá? Felizes da vida, stress zero. Tenho a certeza que se você visse a tal cara das vaquinhas, na próxima vida gostaria de ser uma vaquinha dos Açores.
Aliás, para elas aquilo não é grama: é um gigantesco prato de salada. Aliás, uma saladinha atrás da outra...prados e mais prados com endless salada. Isso só poderia gerar uma manteiga assim
Mas voltando ao assunto, eu não estava me referindo a estes ãos, mas sim ao outro que infelizmente acabou de chegar por aqui com seus efeitos nefastos.
Antes do ão no Brasil, todos nós tínhamos Domingos: felizes, de praia, de almoços em família, de peladas com os amigos, de cinema com as amigas.
Mas aí, chegou o Domingão e o Domingo mudou. O Domingão começou a invadir com programas de auditório exibindo desdentados sorrindo e baixaria para todos, jogos de futebol com direito a oxo e pancadaria, feijoada com direito a azia.
Antes do ÃO nós tínhamos os Feriados: azuis, lindos, estradas retas, lisas e grátis como road movies americanos, check in realmente in, praias paradisíacas com a quantidade de pessoas certas, qualquer hora para sair de casa e pegar a estrada ou o aeroporto, qualquer hora para voltar para casa, água limpa, compras feitas na cidadezinha conhecendo o dono da venda que até fazia fiado.
Depois chegou o Feriadão: acho que vai chover os 3 dias, aumentos do pedágio e dos combustíveis na véspera; greve de ônibus interestadual; a gente torce para ter mais buracos na estrada pois assim ela fica homogênea e não precisamos mais desviar deles; check in com filas INPeésicas (Segurança Socialésicas); praias sendo invadidas por hordas e encontrando todos os vizinhos lá: desde aquele que insiste em soltar gases estrondosos que explodem em plena madrugada (sim, já falamos dele em uma ocasião passada) e até a vizinha feia e gorda que insiste em troca o Conjuntinho Inverno Training Canelado Sapato Alto Verniz Camiseta Bordada de Dourado Sobretudo, pelo biquini. E desfilando com aquele ar de "vocês não sabem, mas eu poderia ter sido mulher de jogadorde futebol" fazendo questão de mostrar para todos aquele corpinho moldado por Feijoada e Lasagna sempre conjugados no mesmo prato; congestionamentos monstro com horas e mais horas paradas nas estradas. Isso sem mencionar os esquemas de saída e de chegada do Feriado "olha, vai por mim, se a gente sair lá pelas 4:30 da manhã e gente chega logo...é que o pessoal que já foi, já foi, e quem não foi está ainda na boate se divertindo e esperando pessoas como nós ja terem ido". Ou o esquema de volta: "olha, vamos em dois carros. a tua sogra, os meninos e o pessoal em um e eu no outro; porquê só eu no outro...? Bom...ehr...porque vocês juntos vão conversando e o tempo passa mais rápido e eu fico com a missão mais espinhosa de ir solitário com a bagagem toda...
E é claro a tradicional falta dágua na cidade com o desfile alegórico de Carros Pipa e a multidão atrás seguindo para a Prática da Apoteose: "o máximo que eu pago por este balde d'agua é isto e não tem mais conversa".
Enquanto isso a água mineral do supermercado foi em grande parte consumida pelo estômago da baleia da vizinha que foi citada acima. Para beber e para dar somente um banho de gato naquele corpinho.
Antes do ÃO nós tínhamos os Maridos: aquelas pessoas que conhecemos, namoramos, casamos e
vivemos juntos. Simples.
Depois surgiu o Maridão: aquele traste que tem uniforme próprio: cueca larga com o elástico estourado e chinelo Raider; andando de lá para cá fazendo Circuit Training Sala Geladeira
E junto do maridão veio claro, o barrigão (de cerveja, assistindo jogo do Fluminense de 4ª Divisão em pleno Sábado), ou vendo Eurocopa com a Taça sendo antecipadamente comprada por aqueles países que você conhece.
Antes existia o Carro: prático, leva a traz, amassou um pouco "é só trocar aquela parte, patrão".
Depois chegou o carrão: gasolina adulterada corroendo o motor, gasolina com chumbo, sem chumbo, a gás, a lixo reciclado e a laquê de mulher. E uma amassadinha de nada e lá se vai o para choque inteiro sendo trocado.
E agora o ÃO aportou por aqui; já temos dois: o Descontão e o Feirão. Ficamos aguardando os demais trastes.
Mas no finalzinho deste cronicão confesso: o único ão que eu ainda admito que funciona perfeitamente bem, sem ninguém ter conseguido estragar até hoje é um só: o Mulherão; o Brasil ainda produz muito e bem.

Um abraço

D.

PS: É claro que existem mais ÃOS, tenho a certeza que vocês vão lembrar de muitos.
(Texto de Danyel Sak)


FAZIA MUITO TEMPO.
26/03/00

Estava lendo uma revista e, de repente; surpresa.Fazia tempo; muito tempo mesmo que eu não lia um título/texto
publicitário bom. Um texto envolvente, mas simples. Um texto que nos fizesse pensar ao vender o produto anunciado e que elogiasse a inteligência das pessoas que estão lendo.
Acho que está difícil ler textos assim porque alguém inventou um boato que diz que as pessoas não lêem mais textos. E os Redatores, Diretores de Arte, Diretores de Criação e agências acreditaram neste boato. Só
quem não acreditou foram as pessoas em geral: elas continuam comprando jornais e revistas, e livros e internet, e bulas, e revistas de sacanagem e muito mais (ok, não coloquem os Manuais de Instrução na lista porque os brasileiros/portugueses nunca tiveram afinidade com estes livrinhos que acompanham os aparelhos eletroeletrônicos).
Ou seja, as pessoas continuam as mesmas: só lêem o que for realmente interessante para elas.
Hoje, depois de ler este texto, eu fiquei totalmente alimentado de palavras. Por isso fiz questão de compartilhar elas com vocês.
Abaixo o texto,

Um abraço

D.


título: " Quando um homem morre é como se uma biblioteca inteira se
incendiasse."

(antigo próvérbio africano)

texto:

Se você leu até aqui, continue.
Por Educação.
Porque Educação é a única maneira de nós todos continuarmos.
Educação é tudo na vida.
Quando você diz bom dia,
é Educação.
Quando você aprende a ler
ou a voar, é educação.
Quando você planta uma árvore
ou deixa de jogar poluentes
nos rios e mares, é Educação.
Quando você passa
por um museu, um teatro
uma igreja ou um lugar histórico
e entende o que isto significa,
é Educação.
Educação é o maior patrimônio
de um ser humano.
Porque Educação não é só
aprender a ler e escrever
Educação é você aprendendo
o seu prórpio país e o mundo.
E, neste processo, aprendendo
sobre você mesmo.
Muito mais: Educação são todos
aprendendo sobre todos.
Educação são 165 milhões
perguntando quem somos
e para onde vamos. E descobrindo
a magia e o poder das respostas.
Quem tem educação,
tem muito mais do que um país.
Tem uma Nação.
E quando cada ser humano nasce,
é como se uma biblioteca inteira
começasse a ser construída.
Um processo que
não termina nunca.
E que se chama futuro.

Educação é tudo.

Fundação Roberto Marinho

PS: Pequeno comentário: Independente do anunciante, o anúncio é
brilhante, principalmente uma frase inesquecível (apenas a minha
opinião) :

"E quando cada ser humano nasce, é como se uma biblioteca inteira
começasse a ser construída."

(bom, a frase acima não é uma frase; é uma imagem)
(Danyel Sak)


O boi do capiau

Um capiau do interior de Minas, muito pobre, tinha apenas um único bem: um touro. Mas esse não era um touro qualquer, era o melhor touro da região.
Como os fazendeiros dessa região constataram que os filhotes das vacas com este touro davam melhores bois e vacas que aqueles provenientes do cruzamento com outros, eles arrendavam esse touro do dono, que tinha nesse aluguel seu único sustento.
E esse touro era realmente insaciável. Quantas fossem as vacas postas para cruzar, ele dava conta de todas. Era realmente um campeão de reprodução. Mas como o dono andava cobrando caro o aluguel do touro, os fazendeiro resolveram se juntar e se oferecerem para comprá lo.
Um representante foi então a casa do capiau e perguntou lhe quanto queria pelo touro, no que lhe foi respondido um valor bem elevado, visto que essa era a ánica propriedade do sujeito. O tal representante ficou revoltado com o preço pretendido, mas o capiau respondeu que só vendia por esse preço. O fazendeiro voltou para encontrar os outros e apresentou a proposta, que foi unanimemente reprovada pelos demais. Eles resolveram, então, pedir ajuda ao Prefeito, que na mesma hora se prontificou a comprar o touro pelo preço pedido. Foi ao capiau com o dinheiro e municipalizou o touro contando com a publicidade que isso lhe traria. Mas, como bom politico, planejou uma grande festa na praça para comemorar a mais nova aquisição da Prefeitura e, como promoção, resolveu liberar o touro para .cruzar gratuitamente com as vaquinhas nessa noite de festa. Preparou toda a praça com bandeirinhas, banda de música, show do Chitãozinho e Xóroro e tudo mais, enquanto os felizes proprietários das vaquinhas enfileiravam nas na praça à espera da hora do encontro com o grande reprodutor.
Eis que entrou a primeira vaca. O touro bufou, bufou, e partiu para cima da vaca. Quando chegou pertinho olhou, olhou, cheirou, virou de costas e voltou para o canto do cercadinho. O pessoal não entendeu nada, afinal o touro nunca havia feito isso... Mas o prefeito achou que a vaca era muito magrinha e que talvez não tivesse chamado a atenção do touro. E mandou entrar a Malhadinha, que era uma vaca holandesa, campeã leiteira, muito bonita mesmo. O touro, ai se mostrou mais entusiasmado e quando a vaquinha entrou no cercado, ele foi
com toda a vontade... Mas quando chegou perto olhou, olhou, cheirou... virou se e voltou para o cantinho dele. O prefeito ficou revoltado e foi falar com o capiau que assistia a tudo, incrédulo. Ele respondeu que não sabia o que estava acontecendo pois o touro nunca havia feito aquilo, mas se ofereceu para falar com o touro.
Então, ele chegou perto do ouvido do touro e perguntou:
O que está fazendo comigo? O que está acontecendo contigo? Você nunca negou fogo e agora me faz passar essa vergonha?
E o touro respondeu:
Pó, não enche o saco. Agora eu sou publicitário!
(Por um "copy" desconhecido)


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