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IMAGINÁRiO35
16 MAI 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt
PRONTUÁRiO
AEON FLUX, O REGRESSO
Celebrando os dez anos de culminação, Charlize Theron protagoniza Aeon Flux (2005) em grande ecrã, sendo dirigida por Karyn Kusama. Foi na Liquid Television da MTV que Peter Chung criou esta heroína e assassina futurista em 1991, a qual se envolve em tórridas e terríveis proezas de espionagem por volta de 2400, a partir de um país chamado Monica. Magricela e sensual, usando cinto de castidade, Aeon Flux dá corpo a impetuosas, sangrentas peripécias, sob signos fetichistas e rituais de sado-masoquismo, com implicações mórbidas. Parca em palavras, e tendo motivações ou desígnios obscuros, tradicionalmente morria no fim de cada episódio, para sempre ressuscitar. Quando a saga de Aeon Flux se emancipou, irradiante até 1995, só ela e o namorado/antagonista, Trevor Goodchild, sobreviviam ao terminar as aventuras. Hong-Kong e os Estados Unidos aliaram-se na produção desta série de animação, com Denise Poirier cedendo voz à Aeon Flux - que agora, em imaginário realista, assumirá ousadias mais ainda radicais, graças aos prodígios sofisticados pela tecnologia cinegráfica. Theron promete merecer um salário de dez milhões de dólares, enquanto Kusama exalta uma guerreira «sombria, ambígua e, por vezes, mesmo irracional».
RELATÓRiO
HERÓIS EXTRAORDINÁRIOS
Em finais do século XIX, a propósito da controvérsia sobre a mitificação de certas personalidades contemporâneas, e da avaliação das suas proezas numa perspectiva humanista e civilizacional, interrogava um biógrafo de Buffalo Bill: “Mas, afinal, o que é um herói?”. Considerando os artifícios de fabricação de um ídolo - então envolvendo o sensacionalismo da literatura popular, como na memória lendária se forjaram os protagonistas da história - a questão é no mínimo perturbante. Mas foi sobre ela, pelas incidências em que se contrastam os desígnios entre o bem e o mal, que o espectral argumentista Alan Moore e o sofisticado ilustrador Kevin O’Neill conceberam A Liga dos Cavalheiros Extraordinários - já em 1, Volume II sob chancela Devir, e levada ao grande ecrã em realização de Stephen Norrington, sendo protagonista Sean Connery - um imaginário empolgante e prodigioso, decrépito e pervertido sobre a Europa por cerca de 1898. Heróis de papel em dilemas virtuais, como a invasão da Terra por tremendos marcianos, de tal realidade são comparsas - entre outros - o Capitão Nemo (Vinte Mil Léguas Submarinas, Jules Verne), Mina Murray (Drácula, Bram Stoker), Allan Quatermain (As Minas do Rei Salomão, H. Rider Haggard), Dr. Jekyll & Mister Hyde (O Médico e o Monstro, R.L. Stevenson) e Hawley Griffin (O Homem Invisível, H.G. Wells)... O desenho psicológico/carismático de tais personagens principais alterou-se - com as próprias circunstâncias sociais, as variações na realidade, as estratégias políticas. Moore & O’Neill misturam todas as implicações em causa, com as inquietações actuais - transparecendo um imaginário perigoso e conspirativo, estilizado pela perversão de valores ou sob ameaças volúveis. As vítimas potenciais estão também marcadas por uma atitude fatídica - através da qual vacila o estatuto de sacrificados e caçadores.
ANTIQUÁRiO
1905 - Em Paris, Mata Hari exibe-se como bailarina exótica a convite de Émile Guimet, famoso coleccionador de arte oriental, perante convidados ilustres - aristocratas, milionários, diplomatas, militares e políticos - convertendo-se em símbolo sexual, fascinante e misterioso, mas recusando-se a destapar os seios, supostamente porque fora mordida por um tigre no mamilo esquerdo, quando era favorita num templo brâmane.
1945 - Artista plástico nascido em Faro - um dos promotores do movimento estético Portugal Futurista - e há cerca de vinte anos radicado em Paris, Carlos Porfírio (1895-1951) dirige Sonho de Amor (1945) nos estúdios da Cinelândia; três anos depois, insistiu com Um Grito na Noite (1948), de novo protagonizado por Maria Eduarda Gonzalo.
CALENDÁRiO
2005 - José Abrantes comemora trinta anos de carreira artística, estando previstas a publicação de um portfolio de imagens para adultos, uma monografia, várias exposições e workshops; a seguir em www.abrantes.interdinamica.pt/abrantes/
20MAI-18JUN2005 - No Centro Cultural Olga Cadaval, Câmara Municipal de Sintra apresenta o I World Press Cartoon.
TRAJECTÓRiA
HENRY FONDA
- O AMERICANO TRANQUILO
Era insinuante, espontâneo - qualidades que levou da vida ao palco e, depois, ao grande ecrã - comentando, um dia, que representava «com sinceridade, menos por talento e mais por naturalidade». Assim, converteu-se num símbolo do típico herói americano - com uma versatilidade própria, para interpretar vários géneros. Chegado a Hollywood já com trinta anos e larga experiência dramática, adaptou-se facilmente às regras do celulóide, logrando uma ascensão fulgurante e unânime.
Henry Jaynes Fonda nasceu em Grand Island (Nebraska), em 1905. Descendia de pioneiros holandeses, entre os primeiros colonos que se fixaram na região de Nova Iorque, onde fundaram a cidade de Fonda. Aos seis anos, a família mudou-se para Omaha, onde o pai estabeleceu uma empresa tipográfica. Estudou jornalismo na University of Minnesota, tendo que desistir por problemas económicos. Subsistindo como escriturário numa agência de crédito, virou-se para o teatro, integrando a Comunity Playhouse, em Omaha (Nebraska); com vinte anos, fora aliciado à revelação artística pela mãe de Marlon Brando... que, então, tinha um ano!
Em 1928, Fonda transitou para os University Players - contracenando com James Stewart, de quem se tornou amigo; quatro anos depois, cintilava em cartaz como primeira-figura. Seguiram-se outras companhias, e estrelou na Broadway ainda em 1932. Até 1934, quando representou uma peça cuja transposição assinalaria o seu lançamento no cinema, contratado pela Fox: A Noiva do Camponês (The Farmer Takes a Wife - 1935 - Victor Fleming). Em tempo de II Guerra Mundial, distinguiu-se ao serviço da Marinha (1942-45), em missões aéreas no Pacífico, recebendo várias condecorações. Durante as três décadas seguintes, prosseguiu uma carreira celebrada no palco - como em Mr. Roberts (1948-51), que John Ford & Mervyn Le Roy adaptaram em 1955.
Henry Fonda foi designado ao Oscar por The Grapes of Wrath (1940 - John Ford), recebendo também uma citação ao British Film Academy Award por Doze Homens em Fúria (Twelve Angry Men - 1957 - Sidney Lumet). Os seus versáteis talentos incidiram ainda sobre a pintura, desde 1943, tendo efectuado várias exposições. A partir de 1950, interveio regularmente na televisão - sobressaindo The Petrified Forest (1955) com Humphrey Bogart & Lauren Bacall, John Steinbeck’s America and Americans (1967), ou Directed by John Ford (1971); além de O Deputado (The Deputy - 1959-61), série western da qual foi igualmente produtor. Entre os seus vários casamentos, destaca-se a união (1936-50) com Frances Seymour Brokaw, uma notoriedade social, da qual nasceram Jane (1937) e Peter (1940) Fonda. Em 1978, recebeu o Tributo de uma Vida, conferido pelo American Film Institute. A Academia de Hollywood outorgou-lhe um Oscar honorário em 1980, e outro como melhor actor em A Casa do Lago (On Golden Pound - 1981 - Mark Rydell).
MATA HARI
- UMA MULHER FATAL
Margaretha Geertruida Zelle - de nome artístico Mata Hari (ou Olho da Madrugada em malaio), como bailarina exótica - nasceu em Leeuwarden, a 7 de Agosto de 1876. Ainda adolescente, estudou várias línguas, mas teve que lutar pela sobrevivência - pois o pai, um desafogado chapeleiro, abandonou a família calvinista, e a mãe, de origem javanesa, faleceu pouco depois. Após tentativa como professora, em 1895 formalizou um casamento por correspondência com um capitão mais velho, que a maltratava, viveu vários anos na Índias Ocidentais, e teve dois filhos. Por volta de 1900, divorciada, radicou-se para Paris, onde posou como modelo de pintores e fotógrafos - outrora, seria princesa indonésia ou favorita num templo sagrado de Bali - e logrou notoriedade, a partir de 1905, exibindo-se em danças orientais. Com o tempo, tornou-se cortesã e favorita de influentes personalidades militares e políticas, circulando entre Milão e Berlim. Em 1915, residia na Haia, conhecendo privações em plena Guerra Mundial. De regresso a Paris, investiu nos talentos que a converteram em símbolo erótico, pela sensualidade e mística de um fascínio misterioso, como mulher fatal. Em 1917, foi envolvida numa acusação de espionagem enquanto agente duplo H-21, ao serviço da Alemanha e de França, responsável pela morte de milhares de soldados. Condenada à morte por traição, foi executada em Paris, a 15 de Outubro de 1917. Segundo a lenda, e pouco antes, soltou os lábios num beijo ao pelotão de fuzilamento, cujos membros estariam de olhos vendados, para não sucumbirem aos seus encantos. Em tribunal, ela havia proclamado a sua inocência. À época, Mata Hari terá sido a ingénua e ideal vítima pública - porque a parte vulnerável, ostensiva e manipulável - duma encenação oficial, destinada a atenuar os efeitos do Caso Dreyfus, ou a encobrir outros crimes e escândalos, por culpados impunes e sempre influentes. Em 1932, Greta Garbo imortalizou-a em grande ecrã. Já em 2001, a Holanda solicitou ao Governo gaulês uma reabilitação oficial.
MEMÓRiA
16MAI1905-1982 - Henry Fonda: «Estive perto de Bette Davis durante trinta e seis anos… E, para prová-lo, tenho as marcas de queimaduras dos cigarros que ela fumava».
1991-1995 - MTV emite Aeon Flux de Peter Chung.
EXTRAORDINÁRiO
O INFANTE PORTUGAL
- Folhetim aperiódico
Capítulo Um -
CONTRA AS FORÇAS DO DEMO - 1
Nessa manhã, bem cedo, já fazia um calor tórrido, e Lisboa custava a despertar. Não muito longe dali, no requintado Condomínio Alípio Ayres onde residia, a poucos quilómetros de Cascais, Rui Ruivo sentia o corpo amortalhado num lençol de suor, sem ânimo para se erguer do torpor de seu leito solitário e incaracterístico.
Porém, algum dever parecia tomar-lhe a vontade, cativá-lo, espevitado por um apelo ainda mais premente que o próprio desígnio humano, ou uma qualquer obrigação profissional. Rui Ruivo readquiriu, pois, a sua consciência primordial. Sobretudo, e numa tradição de valorosos Condestáveis, ele era - hoje em dia - o Infante Portugal!
Continua
PRONTUÁRiO
A FORTUNA DOS DALTON
Argumentista prestigiado de populares séries como Modesto e Pompom ou Spirou e Fantasio, sob os auspícios de André Franquin (1924-97), Greg - aliás, Michel Regnier (1931-99) - prestou ainda o seu talento e humor à saga de Lucky Luke com ilustração de Morris - aliás, Maurice de Bévère (1923-2001) - subvertendo um Oeste caótico e caricato, tal como fora reimaginado por René Goscinny (1926-77). Uma dessas irresistíveis aventuras, já um clássico da banda desenhada europeia, A Balada dos Dalton e Outras Histórias (1986) ressoa sob chancela das Edições Asa, chegando aos ouvidos dos terríveis irmãos Joe, William, Jack e Averell, como sempre na prisão - onde recebem a visita do notário Augustus Betting, que os informa da imensa fortuna deixada pelo defunto Tio Henry. Para a gozarem, porém, e além da liberdade, terão que cumprir duas condições testamentárias - as quais envolvem uma vingança póstuma e a respectiva vigilância virtual... pelo poor lonesome cowboy! Entre azares e fortunas, vale a pena valorizar uma salvaguarda original: o herói que dispara mais rápido que a própria sombra cavalga, ainda, Jolly Jumper de cigarro ao canto da boca, antes da campanha antitabágica que o pôs a chupar um raminho de oliveira...
BREVIÁRiO
Sete Caminhos edita História do Circo - Famílias e Modalidades de Luciano Reis; um panorama em Portugal.
Lusomundo lança em DVD, Tudo Isto É Fado (2004) de Luís Galvão Teles; com Ana Cristina Oliveira.
Teorema edita Vidas Maravilhosas de Antigos Santos de Fernando-António Almeida.
Prisvídeo edita em DVD, Maria e as Outras de José de Sá Caetano; com Catarina Furtado e Isabel Abreu.
Assírio & Alvim edita A Construção de Jesus de José Tolentino Mendonça.
Editorial Presença lança Bons Augúrios de Neil Gaiman; tradução de Carlos Grifo Babo.
MEMÓRiA
08MAI1705-1739 - António José da Silva, o Judeu: «Herege, apóstata da nossa Santa Fé Católica, negativo, pertinaz, impenitente e relapso» (na sentença de condenação à pena capital, sendo o Cardeal-Inquisidor D. Nuno da Cunha).
13MAI1765-02MAI1805 - Francisco Vieira, o Vieira Portuense: «Um artista europeu de um novo tipo na sua vida e no modo de encarar a sua arte» (José Luís Porfírio).
RELATÓRiO
DIÁRIOS DE CHE GUEVARA
Em 1967, Ernesto Che Guevara era assassinado pelo exército boliviano. Desaparecia o homem controverso, o guerrilheiro idealista, cujo mito libertador persistiria, para além do desafio revolucionário a partir de Cuba. Baseado nos seus escritos confessionais aos vinte a três anos, em relatos de familiares e no próprio testemunho de Alberto Granado, actualmente com oitenta anos, Walter Salles recria uma descoberta aventureira, a experiência germinal, assumida por dois jovens compañeros que, em 1952, finalistas dos cursos de medicina e bioquímica, prestes a iniciarem uma profissão, percorrem territórios desconhecidos entre Buenos Aires, Argentina, e a Península de Guajira, Venezuela. A busca de emoções, divertimento e raparigas torna-se uma vivência primordial, contrastada, sobre a realidade social e política na América Latina. Em DVD sob chancela Lusomundo, Gael Garcia Bernal assume o elã virtual, antes de um destino irreconciliável.
CALENDÁRiO
1922-29MAR2005 - Eduardo Damas: «Normalmente estou deitado, vem-me uma ideia à cabeça e escrevo logo».
08ABR-29MAI2005 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe O Jardim de Rui Manuel Jordão.
13MAI2005 - UPN interrompe a série televisiva Star Trek: Enterprise, inspirada no imaginário de Gene Roddenberry, devido à quebra de audiência.
TRAJECTÓRiA
FRANCISCO VIEIRA
- O PORTUENSE
Francisco Vieira nasceu no Porto, em 13 de Maio de 1765. Para distinguir-se de outro afamado artista - dito Vieira Lusitano, Francisco Vieira de Matos (1699-1783) - foi chamado o Vieira Portuense. Com o progenitor, Domingos Francisco Vieira, recebeu, na cidade natal, lições do autor paisagista francês Jean Pillement. Em 1784, mudou-se para Lisboa, a fim de frequentar a aula pública de desenho. Em 1789, com uma bolsa da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, foi para Roma estudar com Domenico Corvi. Dois anos passados, tornou-se membro da Academia di S. Luca, e instalou o seu próprio atelier. Acolhia, então, o patrocínio do Embaixador de Portugal, João de Almeida e Mello e Castro. A influência de Mestre Corvi é patente em telas que fez chegar a Portugal, como São João Baptista (1791) ou Santo Agostinho (1792). Como motivo profano, destaca-se D. Filipa de Vilhena Arma os Filhos Cavaleiros (1802). Dedicou-se ao aperfeiçoamento do traço, copiando a Natureza, embora tendesse a aprimorar a recriação das figuras. Ainda em Itália, dominou a composição clássica, ao estilo de Guido Reni. A autonomia da sua pintura caracterizou-se, enfim, pela expressão da cor conforme Correggio. Em Parma, foi retratista da aristocracia. Viveu também em Inglaterra, e trabalhou na Áustria ou na Prússia. Em 1800, foi provido no lugar de lente de desenho na Academia do Porto; em 1802, nomeado primeiro pintor da Real Câmara em Lisboa. Gravemente enfermo, e tendo procurado melhores ares na Madeira, faleceu no Funchal, em 2 de Maio de 1805.
VISTORiA
SEMICUPIO Já que se vão, advirtam de caminho que, segundo as notícias que tenho, bem podem desistir da empresa; porque o velho é tão cioso das sobrinhas, como do dinheiro. A casa é um recolhimento; as portas, de bronze; as janelas, de encerado; as frestas são óculos de ver ao longe, que nem ao perto se vêem; as trapeiras são zimbórios tão altos, que nem as nuvens lhes passam por alto; as paredes do jardim são mestras e as chaves das portas discípulas, porque ainda não sabem abrir; mas só um bem há, e é que, tendo tudo tão forte, só o telhado é de vidro. Com que, Senhores meus, outro ofício: contentem-se em cheirar a sua manjerona e o seu alecrim, que amor que entra pelo nariz não é bem que chegue ao coração.
António José da Silva, o Judeu - Guerras do Alecrim e Manjerona (1737)
ANTIQUÁRiO
1995 - Jom Tob Azulay conclui a longa metragem O Judeu, co-produção luso-brasileira com rodagem em Lisboa, Mafra, Coimbra e Óbidos (1987-94). Geraldo Carneiro, Millor Fernandes e Gilvan Pereira escreveram o argumento, sobre implicações biográficas e históricas, com excertos das peças de António José da Silva. Sendo protagonista Felipe Pinheiro, Mário Viegas deu vida a El Rei D. João V. Eis Portugal, em 1715-39. Torturado aos vinte e um anos pela Inquisição, por crime de judaísmo, António José da Silva redescobre o sentido da vida, através do teatro de marionetas. Casa com Leonor Maria de Carvalho, cristã-nova como ele, e frequenta os salões aristocráticos dos Iluministas, que o apoiam. Uma denúncia de heresia contra sua prima Brites Eugénia, e o espírito irreverente das suas comédias, levam António José da Silva, uma vez mais, aos cárceres do Santo Ofício, junto com a mãe, Lourença Coutinho, e a mulher...
REPOSITÓRiO
Concebida por Gene Rodenberry - como uma «projecção da matriz básica do Western, para o Espaço», cujos heróis não podiam alterar o curso das civilizações alienígenas - a saga de Star Trek surgiu numa época de apogeu das séries televisivas, em 1966, mantendo-se regularmente durante três anos. Em 1973, a NBC iniciava a produção de novos episódios, cuja difusão se prolongou até finais de 1974. O êxito foi tal, que levou à constituição de clubes de fãs pela América, com milhares de associados - os Trekkers. Os protagonistas - sobretudo William Shatner como James T. Kirk, e Leonard Nimoy como Mr. Spock - foram sagrados à categoria de ícones nacionais. Então irradiaram ainda, sobre Star Trek, uma versão animada, quadradinhos, livros monográficos, teses universitárias, convenções, emissões radiofónicas, representações teatrais, discos, estampas, bonecos alusivos... Culminando uma tal etapa de euforia, a Paramount produziu, em 1979, O Caminho das Estrelas - sob a direcção de Robert Wise, à época o mais caro espectáculo na história do cinema: mais de quarenta milhões de dólares. Durante seis sequelas até 1991, a exploração em pequeno ecrã era retomada com A Geração Seguinte (1987), liderada por Jean-Luc Picard (Patrick Stewart). Quase cem anos distam, entre as respectivas incidências da Federação Unida dos Planetas, nos Séculos XXIII e XXIV. Em 1994, um paradoxo temporal reuniu Kirk e Picard em Star Trek - Gerações de David Carson, cabendo a Star Trek - O Primeiro Contacto (1996 - Jonathan Frakes) consumar uma emancipação épica. Entretanto, Roddenberry declarou: «Com A Geração Seguinte, voltei a sentir-me jovem!» Enterprise é, também, o nome da nave estelar dirigida pelo almirante Picard - mas do modelo NCC-1701-D, enquanto a mais antiga, às ordens do comandante Kirk, tem o nexo NCC-1701-A. Os prodígios e desafios primordiais continuaram a atrair Picard e os três mil membros (humanos e klingons) da sua tripulação - sobreposto o próprio limite imaginário, numa perpetuidade cósmica. E a mística de Star Trek virtualizar-se-ia sempre mais além, até atingir «no Espaço, a última fronteira» reivindicada por Roddenberry - outros vindouros contemplando, afinal, «o que nunca ninguém olhou».
PRONTUÁRiO
A PARADA DOS MONSTROS
Um circo de excentricidades. O anão Hans apaixona-se por Cleópatra, uma esbelta trapezista que, por sua vez, ama o forte Hércules. Este foi abandonado por Vénus, para viver com Phroso. Entretanto, nasce um filho à Mulher-das-Barbas, e as Irmãs Siamesas recebem um pedido de casamento. Ainda atracções são a Hermafrodita, o Meio-Rapaz, a Rapariga-Sem-Braços, o Esqueleto Humano e o Homem-Torso. Embora ironize com os seus sentimentos e o considere uma abominação, Cleópatra, sabendo que Hans herdará uma fortuna, decide casar com ele e, lentamente, envenená-lo, assim ficando livre para o seu cúmplice, Hércules. Mas a antiga companheira de Hans, Frieda, tal como outras vedetas da Companhia, capacitam-se de que houve traição. Hans finge beber e, quando a trupe inicia nova digressão, consuma-se uma terrível vingança colectiva. Hércules é assassinado, e mutilam Cleópatra - transformando-a em cúmulo grotesco dos horrores físicos...
Filme por Tod Browning, Aberrações/A Parada dos Monstros (1932) sagra a mais atroz e fascinante das obras-primas, máxima transgressão do imaginário ao paroxismo - em termos éticos ou estéticos, culturais ou romanescos, melodramáticos ou passionais. Freaks foi a resposta - transgressiva, em rotura de culto - da Metro-Goldwin-Mayer aos sucessos da Universal, como Drácula (1931) de Browning, ou Frankenstein (1931) de James Whale. Porém, indo demasiado longe quanto ao «mais monstruoso dos monstros», e nem a introdução escrita do realizador - que convidava à «meditação sobre as condições da normalidade», e respectiva subversão - impediu a banição pelos censores americanos, ao longo de décadas. Um dos factores chocantes, sacrílegos, consiste na total ausência de artifícios - uma exibição ritual, em fábula moderna, quanto à beleza e à vitimação: os protagonistas são, realmente, artistas de feira, actuando sem trucagens ou caracterização.
RELATÓRiO
MISTERIOSA OBSESSÃO
Algures no abismo mais profundo, no recôndito mais obscuro da alma humana, vacilam os valores, avassalam os desígnios, num confronto virtual entre a verdade e a mentira. Aquela que se tornar predominante - sob esta perspectiva original, em cada homem ou mulher - assim, também, determinará as vivências ou as vítimas... Tendo perdido o filho de oito anos em acidente de avião, Telly acha-se rodeada de memórias traumáticas - quando, inesperadamente, o seu psiquiatra lhe comunica que tudo é falso, inventado por ela, e a própria criança nunca existiu. Lutando contra o suposto delírio, em DVD sob chancela Lusomundo, afinal estará Telly perante uma transcendente conspiração? Cotejando a realidade fantástica pela ocorrência aparente, o argumento de Gerald DiPego é estilizado, com Julianne Moore sob direcção de Joseph Ruben, em homenagem a M. Night Shyamalan - quando o imaginário se debate, para ressurreição de demónios e divindades.
MEMÓRiA
01MAI1500 - De Porto Seguro, na Ilha de Vera Cruz, Pêro Vaz de Caminha escreve a Carta a El Rei D. Manuel.
06MAI1915-10OUT1985 - Orson Welles: «No futuro, ninguém se lembrará de mim».
1935 - Organismo do Estado Novo, o Secretariado da Propaganda Nacional/SPN passa a dispor de uma Secção de Cinema para realizar as suas produções - as quais são lançadas como Actualidades do SPN.
BREVIÁRiO
Warner edita, em DVD, Aberrações/A Parada dos Monstros (Freaks - 1932) de Tod Browning.
Prime Books edita Nos Bastidores de Hollywood - Histórias e Segredos das Estrelas do Cinema de Mário Augusto; inclui DVD com imagens inéditas.
Assírio & Alvim edita O Fenómeno - Cartoons de António & Cid; prefácio de Mário Soares, selecção por Manuel Agostinho.
Columbia-TriStar lança em DVD, Annie - Uma Aventura em Londres (1995) de Ian Toynton; Ashley Johnson protagoniza a heroína dos quadradinhos, criada (1924) por Harold Gray.
Dinossauro edita Contos de Guy de Maupassant (1850-93); tradução de Ana Barradas.
Fundação Oriente edita Ásia Extrema (1642-44), relato do jesuíta Antonio Gouvea a El Rei D. João IV.
TRAJECTÓRiA
ORSON WELLES
- SINAIS DE GÉNIO
Excessivo, genial, egocêntrico, vaidoso, arrogante, obsessivo - eis qualidades esparsas, expressas pelos cavalheiros e pelas donzelas que com ele se relacionaram e que, consideradas globalmente, poderiam porventura caracterizar a personalidade complexa, controversa de Orson Welles (1915-85). Costumava referir que aprendeu a ler graças aos textos de William Shakespeare, ou que gostava de exibir as suas condecorações para irritar o amigo Lawrence Olivier. Em 1938, pôs a América profunda à beira dum ataque de nervos, com uma recriação radiofónica sobre A Guerra dos Mundos de H.G. Wells. Como cineasta, estreou-se com O Mundo a Seus Pés (1941) - o seu melhor filme, e um dos mais importantes de sempre. Em 1965, esteve em Portugal, entre Coimbra, o Guincho e Elvas - apreciando o bom vinho e detestando as conferências de imprensa. Ao que parece, ficou fascinado com a voz de Amália Rodrigues. Avaliando a sua carreira, estimava como actor que «ninguém no Mundo representou em tantos maus filmes como eu». Fanático de touradas, as suas cinzas foram sepultas em terras da Andaluzia, por 1987.
VISTORiA
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais altas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas de terra, lançámos âncoras, em dezanove braças - ancoragem limpa. Ali ficámo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante - por dezassete, dezasseis, quinze, catorze, doze, nove braças - até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.
E dali avistámos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançámos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direcção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por azo do mar.
Pêro Vaz de Caminha - Carta a El Rei D. Manuel (1500)
O Cais da Ribeira Grande estava sobrecarregado, com as manobras dum grande carregamento que se fazia para as naus da Armada de Espanha ancorada ao largo. Era de manhã cedo e estava um dia solarengo.
O cheiro dos víveres, envoltos em sal e pimenta, que enchem os inúmeros barris sentia-se à distância. Estes fardos e outros com água, frutas verdes e vários alimentos são retirados por negros das várias carroças e colocados junto a outros, para serem levados para as embarcações encostadas ao cais e transportados para as naus ao largo. Além destes produtos, são levados para as embarcações negros, quase nus. Vão em fila e ao pisarem o cais um soldado branco retira-lhes a corda que os prende uns aos outros pelo pescoço. Um dos barris, de cor mais escura e oleosa, segurado por três homens, ao ser descarregado, escorrega, cai ao chão e a tampa desprende-se. O conteúdo, peças de carne salgadas envolvidas em bastante pimenta preta e sal, faz espirrar um dos negros.
Sérgio Ferreira - A Donatária - Um Romance nos Finais do Século XVII
ANTIQUÁRiO
1935 - Na Conferência Marítima Internacional, em Londres, é rejeitado ao Japão - pelos Estados Unidos e pela Grã Bretanha - o estatuto de potência naval modelo. Tal seria uma das referências históricas para o ataque aéreo de surpresa a Pearl Harbor - planeado em Janeiro de 1941, e estimulado pelo embargo petrolífero americano em Agosto - sob o nome-código de Plano Zeta, a 7 de Dezembro de 1941, liderado pelo Almirante Chuichi Nagumo.
CALENDÁRiO
22MAR2005 - Universidade do Porto atribui o grau de doutor honoris causa a Agustina Bessa-Luís e a Eugénio de Andrade.
31MAR-29MAI2005 - Palácio Nacional de Queluz expõe Queluz de Julião Sarmento, com treze trabalhos produzidos em 1986-2005; sendo comissário João Pinharanda, combinam-se desenho, pintura, escultura e instalação vídeo.
MAI2005 - Casa de Serralves (Porto) expõe Far Cry de Paulo Nozolino.
PRONTUÁRiO
OS HERÓIS VIQUINGUES
No último quarto do século passado, o belga Jean Van Hamme (argumentista nascido em Bruxelas, 1939) e o polaco Grzegorz Rosinski (ilustrador nascido em Stalowa-Wola, 1941) consagraram um empolgante universo em quadradinhos, com as aventuras extraordinárias do viquingue Thorgal - de regresso até nós, pelas Edições Asa, sob o signo de Alinoë - uma jornada limiar, embrionária quanto a implicações ancestrais e cósmicas. Na transição para este terceiro milénio, Thorgal foi considerado, em França, o mais popular herói - envolvendo uma massiva campanha promocional na televisão e na cadeia de restaurantes Mc Donald’s. Finalmente, o clã Ægirson reuniu-se - com Thorgal, Aaricia, Jolan e Louve. Mas, para o bravo guerreiro, que preza sobretudo o amor dos seus, a busca da felicidade não cessou. É certo, Thorgal venceu a pérfida deusa que aterrorizava Arachnopolis, cujos habitantes desejariam tê-lo como rei. Porém, Thorgal recusa governar aquele paraíso terrestre, onde os familiares anseiam permanecer. Então, Thorgal parte só para o Continente, e Jolan é fascinado por Alinoë... Eis um prenúncio para Os Arqueiros - expandindo o sortilégio de uma época visionária, entre as luzes e as trevas.
RELATÓRiO
BATMAN
NO ASILO ARKHAM
No inferno de um imaginário que há na América, Gotham City em contrastes góticos de soberba e perversão, o coração da loucura extrema, do delírio grotesco, é um hospício onde se concentram, ou estão encarcerados, os mais nefandos assassinos, os psicopatas mais atrozes, os arqui-inimigos do Cavaleiro das Trevas: eis Asilo Arkham (1989) de Grant Morrison (argumento) & Dave McKean (ilustração) - uma das obras-primas primordiais dos quadradinhos que, finalmente, tem edição portuguesa sob chancela Devir. Testemunho de culto sobre um crepúsculo da civilização actual, ou uma fábula moderna sobre o pesadelo em que desvirtuou o sonho ianque, esta perturbadora conversão artística por dois talentosos autores europeus - respectivamente, um genial escocês e um esteta inglês - constitui, ainda, um olhar simbólico, sublimador, trágico e lírico, pelo Velho Continente sobre o Novo Mundo. Tudo principia quando os insanos residentes, liderados por Joker, se amotinam e tomam conta do Asilo Arkham, ameaçando eliminar todos os reféns, caso Batman não se junte a eles! E assim, entre tormentos e assombrações flagrantes ou intemporais, como a história do fundador da tremenda instituição, o Dr. Amadeus Arkham, as asas do Homem-Morcego roçam a dor, a aversão, o sangue, a paranóia, pelos labirintos abissais de uma alucinação expiatória, de uma arquitectura do horror - que, afinal, representa a vertigem demencial de um justiceiro, ele-próprio vítima e carrasco de uma épica abominação, em que se funde ou confunde a complexa/metafórica identidade humana.
MEMÓRiA
21MAR1685-1750 Johann Sebastian Bach: «O desígnio e a razão final de toda a música não é mais que a glória de Deus».
22ABR1835-1889 - Eduardo Coelho: «Viajar é civilizar-se. Cada hora de viagem equivale a muitas páginas de instrutiva leitura».
21ABR1915-2001 - Anthony Quinn: «Afinal, Zorba sou eu».
1920-12MAR1955 - Charlie Parker: «Música é a nossa experiência pessoal, o que pensamos, a nossa sabedoria própria».
CALENDÁRiO
MAR2005 - Marta Torrão é distinguida com o Prémio Nacional de Ilustração 2004 por Come a Sopa, Marta!, que também escreveu, e editado por Bichinho de Conto; nona edição de um galardão atribuído pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.
02MAI2005 - Termina o prazo para apresentação de candidaturas ao Prémio Stuart de Desenho de Imprensa, organizado por El Corte Inglés/Casa da Imprensa; regulamento patente em www.premiostuart.com
TRAJECTÓRiA
EDUARDO COELHO
E O DIÁRIO DE NOTÍCIAS
José Eduardo Coelho nasceu em Coimbra, em 1835. Tendo ficado órfão de pai aos treze anos, a mãe mandou-o para trabalhar numa loja de ferragens em Lisboa. Autodidacta, publicou os seus primeiros textos no Jardim Literário, e aprendeu o ofício de tipógrafo. Em 1857, ingressou na Imprensa Nacional. Em 1858, passou a subsistir da escrita. Por 1860, optou pelo jornalismo, como correspondente e crítico do Theatro Nacional, além de crónicas em A Revolução de Setembro. Amigo de Eça de Queiroz, Raphael Bordallo Pinheiro e Pinheiro Chagas, conviveu com José Estevão e foi secretário de António Feliciano de Castilho. Em 1864, fundou o Diário de Notícias - com Thomaz Quintino Antunes, proprietário da Tipographia Universal - do qual foi director até à sua morte em 1889, em Coimbra. Fez parte da Comissão do Centenário de Camões (1880), foi co-fundador da Associação de Jornalistas e Escritores Portugueses, e Presidente da Associação Tipográfica. A Comenda da Ordem de Sant’Iago foi-lhe imposta por António Augusto de Aguiar. No Jardim de São Pedro de Alcântara, existe um monumento em sua honra (busto e estátua de Costa Mota, pedestal de Álvaro Machado). Entre as suas obras, citam-se O Livrinho dos Caixeiros (1852), Primeiros Versos (1861), Opressão e Liberdade (1871), Portugal Cativo (1884).
BREVIÁRiO
Fundação Oriente edita Wenceslau de Moraes - Permanências e Errâncias no Japão (1899 - 1929); textos e selecção de imagens por Daniel Pires.
Lusomundo lança em DVD, sob chancela Walt Disney, Bambi de David Hand; Edição Especial, totalmente restaurada e remasterizada.
Assírio & Alvim edita Van Gogh - O Suicidado da Sociedade de Antonin Artaud; tradução de Aníbal Fernandes.
Costa do Castelo edita em DVD, Nostalgia (1983) de Andrei Tarkovsky.
Antígona edita O Combate Com o Demónio - Hölderlin, Kleist, Nietzche de Stefan Zweig; tradução de José Miranda Justo.
Edições Asa lança Noronha da Costa Revisitado - 1965-1983; o Catálogo da Exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Fleshbot lança em DVD, Necromania (1971) de Ed Wood Jr; último filme, no género pornográfico, do «pior cineasta do mundo».
NOTICIÁRiO
Pornografia - O Cabo Morgado, numa visita que ontem fez a Feira de Alcântara, procedeu logo a um serviço digno de louvor. Mandou fechar uma barraca onde se exibiam fotografias que ofendiam a moral, e prendeu o barraqueiro, conduzindo-o para o Governo Civil, indo dali para a Boa Hora.
04JUN1895 - Diário de Notícias
Busto de Eduardo Coelho - Devem por estes dias ficar ultimados os trabalhos para a inauguração no dia 29 do corrente, do monumento erigido ao fundador desta folha, na Alameda de S. Pedro de Alcântara. Tanto o busto, como a figura do «rapaz dos jornais» e os emblemas do jornalista e escritor, que foram fundidos nas oficinas da Fundição de Canhões, já estão colocados nos respectivos lugares, achando-se cobertos, como é uso, até que sejam solenemente descerrados na ocasião própria.
22DEZ1904 - Diário de Notícias
Inauguração de Busto - Realizou-se ontem a inauguração solene do monumento eregido na Alameda de S. Pedro de Alcântara à memória de Eduardo Coelho, o inolvidável e sempre chorado fundador do Diário de Notícias. Perante uma enorme multidão de pessoas, representantes de todas as classes, foi descerrado o busto do que outrora foi nosso director ou antes nosso companheiro e amigo, daquele que nos impulsionou com toda a sua energia comunicativa, que nos orientou com o seu conselho ponderado.
30DEZ1904 - Diário de Notícias
ANTIQUÁRiO
1685 - Luís XIV revoga o Édito de Nantes, o que produz grande agitação social na comunidade protestante francesa. O Édito foi útil para criar um clima de liberdade religiosa e cultural que atraiu artesãos de todos os misteres dessa altura: relojoeiros, moleiros, tecedores, correeiros e muitos outros. Com a revogação do Édito, os hugonotes de França fugiram para Inglaterra e Genebra.
OBSERVATÓRiO
REI ARTUR - Algures na noite dos tempos, quando bastava um coração puro para enfrentar todas as adversidades, uma memória que remonta à lendária Idade Média: a história de Artur, nobre guerreiro bretão que, liderando um bando de cavaleiros sármatas romanizado, estende a defesa da Muralha de Adriano ao resgate dum afilhado do Papa. Neste imaginário realista, sobre Camelot e a Távola Redonda em recorrente Século V, entre bravura e devastação, há ainda a sensual Guinevere perita em arco e flechas, Lancelot impecável e sobretudo fiel à gesta heróica, ou um poluto Merlin mais interessado em artes marciais que mágicas... Sendo protagonista Clive Owen, o produtor Jerry Bruckheimer e o realizador Antoine Fuqua convergem na insurreição da saga tradicional - um dos mais fascinantes mitos primordiais da cultura inglesa - reinstaurada pelas alternativas de Hollywood, exacerbando a audácia e o idealismo em DVD sob chancela Lusomundo.
COLATERAL - Sondando um género com as maiores tradições no cinema americano - a aventura criminal, cuja memória se mitificou em mais de meio século - Michael Mann explora, sobre argumento de Stuart Beattie, um ritual executório, intenso mas avassalado pela insólita subversão de códigos e valores. Ao ritual exterminador, corresponde o contraste físico, psicológico e anímico dos protagonistas: Tom Cruise, assumindo o desafio de um inexorável assassino a soldo, hábil em disfarces e dissimulações; e Jamie Fox, um pacato e sonhador motorista de táxi, forçado a transportá-lo através da noite pela selva urbana. Entre as trevas de Los Angeles, em DVD sob chancela Lusomundo, Vincent tem por missão eliminar cinco pessoas, no rol duma testemunha principal, quando um cartel da droga está prestes a enfrentar o grande júri. Porém, o cativo Max persistirá como um dilema primordial da consciência humana - articulando acção e emoção, drama e artifício.
PRONTUÁRiO
A MATÉRIA ONÍRICA
Com uma intervenção decisiva em Portugal, desde 1999, para o acesso à banda desenhada americana, sob o signo dos super-heróis, a Devir culminaria, a partir das primeiras-figuras da Marvel, uma convivência ampla e diversificada com a DC ou a Dark Horse, através dos maiores criadores e protagonistas. Por outro lado, tal estratégia editorial - tendo como director José de Freitas - estender-se-ia ao imaginário universal em quadradinhos, com destaque para o humor oriundo do Brasil. Pela nossa parte, sobressai José Carlos Fernandes, argumentista e ilustrador, celebrando a bd como arte madura, virtual, para leitores de todas as idades, graças a um fecundo e variado testemunho visionário. Em tal estratégia editorial, Um Catálogo de Sonhos (1995) realicia uma aventura prodigiosa e onírica, assumida por um gorducho alter-ego de Tintin, entre tortuosas, labirínticas referências ao paradoxo de Franz Kafka, à eloquência de Sigmund Freud, ao virtuosismo de Winsor McCay... Estranho que pareça, por essa altura confessou José Carlos Fernandes: «Às vezes, sou um bocado preguiçoso. Quando desenho uma história vou ao essencial e deixo as partes de que não gosto para o fim. É claro que o trabalho se torna ainda mais penoso, porque tenho de passar uns dias a desenhar cómodas e mesinhas de cabeceira».
RELATÓRiO
KEN PARKER
- REGRESSO AO OESTE
A história do Oeste, como território mítico de proezas heróicas, quanto à saga colonial e ao choque de civilizações, não se ritualizou apenas - em grande ecrã - num genuíno Novo Mundo, através das paisagens da América. Pelo sucesso ou reflexo da produção primordial, sob o signo de Hollywood, ficou célebre o western-spaghetti - estilizado pelo olhar dos cineastas europeus, e assumido por artistas de além-Atlântico ou do Velho Continente. Tal fenómeno repercutir-se-ia em quadradinhos, sempre a partir de Itália - graças a autores como Giancarlo Berardi, que em 1974 deu vida a Ken Parker, com ilustração de Ivo Milazzo, transfigurando a herança heróica de Gian Luigi Bonelli, mitificada pelo mestre dos fumetti em Tex Willer: dignidade da vida, conceito de justiça, defesa dos fracos e oprimidos, tenacidade, celebração da amizade e do companheirismo. Revelado com Lily e o Caçador, sob chancela das Edições Asa, Ken Parker regressa ao Lar Doce Lar - após oito anos de ausência, questionando os dilemas da diferença e da separação... Reinvestido pelas virtualidades tradicionais do imaginário, o sortilégio tradicional das peripécias transfigura-se, pois, envolvendo a família, suas expectativas e adversidades.
BREVIÁRiO
Éditions Glénat lança Ragnar de Eduardo Teixeira Coelho/Martin Sièvre (ilustração) & Jean Ollivier (argumento).
Publicações Dom Quixote edita As Noivas de São Bento de Artur Portela.
Assírio & Alvim lança em DVD, com ContraCosta, Onde Jaz o Teu Sorriso? e Bagatelas de Pedro Costa.
Edimpresa lança Carl Barks 1954-56 - Obras-Primas da Bd Disney de Carl Barks.
Livros do Oriente edita Portugal, Macau e a Internacionalização da Questão do Ópio (1909-1925) de Alfredo Gomes Dias.
Costa do Castelo edita em DVD, com FNAC, Ciclo Antoine Doinel de François Truffaut, incluindo Os 400 Golpes (1959), Beijos Roubados (1968), Domicílio Conjugal (1970) e O Amor Em Fuga (1979) - sendo protagonista Jean-Pierre Léaud - além das curtas Os Putos (1958) e Antoine e Colette (1962).
EMI edita Callas - Life & Art; em livro, duplo CD e DVD, a vida e a obra de Maria Callas.
Warner edita Última Colecção Matrix; dez discos com/sobre a trilogia dos Irmãos Larry & Andy Wachowski.
Cavalo de Ferro edita As Aventuras de Pinóquio - História de Um Boneco de Carlo Collodi (1826-90); ilustrações de Paula Rego, tradução de Margarida Periquito.
Suma Filmes/Teatro Maizum edita em CR-Rom, Camões: Tanta Guerra, Tanto Engano de Paulo Rocha/Silvina Pereira.
TRAJECTÓRiA
ALBERT EINSTEIN
- O GÉNIO E A RELATIVIDADE
Albert Einstein nasceu em Ulm, Alemanha, em 14 de Março de 1879. Por 1886, iniciou os seus estudos em Munique - para onde os pais, judeus não praticantes, se haviam mudado quando tinha seis semanas. Entre os treze e os dezasseis anos, recebeu lições de violino. No Liceu de Luitpold, desde 1891, aprendeu Matemática, sobretudo Cálculo. Em 1895, reprovou no exame de admissão ao curso de Engenharia Eléctrica em Zurique. Em 1896, renunciou à nacionalidade germânica (que retomou em 1914-1933), adquirindo a cidadania helvética em 1901. Entretanto, frequentou a Escola Secundária de Aarau (Suíça). A partir de 1901, tornou-se professor de Matemática em Winterhur, e em Berna em 1902-1909 - começando a colaborar em publicações teóricas sobre Física. Em 1905, doutorou-se na Universidade de Zurique, pronunciando pouco depois a Teoria da Relatividade Restrita - em que reinterpretou as leis da Física e assumiu a constância da velocidade da luz, demonstrando ainda a equivalência entre massa e energia. Reconhecida a importância do seu pensamento científico a partir de 1909, tornou-se professor da Universidades de Praga (1911) e de Berlim (1914). Em 1916, divulgou a Teoria da Relatividade Geral. Em 1921, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel - que não recebeu pessoalmente, por se encontrar de visita ao Japão. As suas últimas descobertas científicas relevantes datam de 1924, enquanto prosseguiam as viagens internacionais - a Paris (1922), à Palestina (1923) ou à América do Sul (1925). Nos Estados Unidos em 1932, passou a leccionar Física Teórica na Universidade de Princeton, e envolveu-se no Projecto Manhattan para o desenvolvimento da bomba atómica. Reformado em 1945, cinco anos antes adquirira a cidadania americana, não tendo regressado à Alemanha. Faleceu em Nova Jersey, a 18 de Abril de 1955.
MEMÓRiA
1818-1875 - José do Telhado: «Se aqui alguém tentasse contra a sua vida, três dias e três noites não chegariam para enterrar os mortos» (a Camilo Castelo Branco in Memórias do Cárcere - 1862).
1879-18ABR1955 - Albert Einstein: «Se quer que os seus filhos sejam inteligentes, leia-lhes contos de fadas».
1908-14ABR1995 - António Lopes Ribeiro: «O cinema é a arte da luz - da luz completa, com o seu maravilhoso espectro das sete cores».
NOTICIÁRiO
Nas Nuvens e no Centro da Terra - Enquanto se trabalha activamente na construção da extraordinária Torre Eiffel, com os seus trezentos metros de altura e que deve figurar na Exposição Universal de Paris, de 1889, um outro engenheiro, o Senhor Arras, teve a ideia inversa: em lugar de fazer subir os curiosos ao mundo aéreo, faz descê-los no interior da terra. Esta ideia já foi adoptada, e há três dias que começaram a trabalhar. Vai ser cavado um poço e neste colocado um elevador que, uma vez chegado a certa profundidade, os espectadores instalados ali, verão todas as camadas de estratificação terrestre.
10ABR1888 - Diário de Notícias
Exposição de Paris - O Senhor Eiffel ofereceu ontem, no primeiro pavimento da grande Torre da Exposição Universal de Paris, a oitenta metros de altura, um almoço aos jornalistas daquela cidade.
05JUL1888 - Diário de Notícias
Albert Einstein - Uma equipa de cientistas britânicos criou uma réplica virtual do cérebro de Albert Einstein, baseando-se nas 240 peças em que foi separado e as mesmas envolvidas em celoidina, uma substância transparente e impermeável que permite submeter a exame microscópico o material que contém.
13JAN2005 - Lusa (síntese)
TRAJECTÓRiA
JOSÉ DO TELHADO
- O BOM LADRÃO
José Teixeira da Silva nasceu no lugar do Telhado, freguesia de Castelães de Recesinhos (Penafiel), a 22 de Julho de 1818. Foi capador e comerciante de cavalos. Impedido de casar com uma prima, por 1836 alistou-se em Lisboa nos Lanceiros da Rainha, logo com o posto de sargento e alcançou fama na Revolta dos Marechais. Obtido o casamento com Anna Lentina, em 1845, logrou baixa do exército, e tiveram quatro filhos. Em 1846, interveio como liberal na Revolução da Maria da Fonte, sendo-lhe imposta a Ordem da Torre e Espada, por salvar o Visconde de Sá da Bandeira. Um ano depois, regressou a casa, após a Convenção de Gramido. Conheceu dificuldades com credores de dívidas e inimigos políticos, pelo que escapou para o Rio de Janeiro, e esteve no Rio Grande do Sul. Mas não de deu bem e, de volta, ingressou numa quadrilha do irmão, tendo chefiado vários assaltos com violência, ajudando porém a gente pobre. Em 1859, tentou nova fuga para o Brasil. Capturado já no barco e julgado no Porto, em 1861, conviveu na Cadeia da Relação com Camilo Castelo Branco. A cumprir degredo perpétuo em Angola, participou numa operação militar contra indígenas, pelo que lhe foi comutada a pena em 1865. Estabelecido como negociante de marfim em Sanza, juntou-se com uma indígena do Malange, vindo a falecer em 1875, e ali foi sepultado e venerado. Revelado por Camilo em Memórias do Cárcere, o Zé do Telhado inspirou a literatura de cordel, romances biográficos (Eduardo de Noronha, 1923), uma opereta e três filmes (Rino Lupo, 1929; Armando de Miranda, 1945-49).
CALENDÁRiO
24MAR2005 - O Som e a Fúria estreia A Cara Que Mereces de Miguel Gomes; com José Airosa e Gracinda Nave.
IMAGINÁRiO30
01 ABR 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt
PRONTUÁRiO
ALIX, UM HERÓI COM HISTÓRIA
Entre os autores estruturais da escola franco-belga, a partir da inspiração fundamental de Hergé com Tintin, Jacques Martin destaca-se com talento e autoridade, ao sagrar Alix como herói juvenil em aventuras erráticas, determinantes, através da Antiguidade Clássica. Não é apenas o fulgor épico, a síntese pedagógica, a fundirem a recriação histórica ao elã da diversão. Desde a sua criação, em 1948, Alix conquistou sucessivas gerações, logrando um culto sólido, marcado pela própria evolução cultural e civilizacional em mutação. A partir da Gália, como eixo virtual, a deriva de Alix - da Grécia ao Egipto, de África à Ásia Menor - simboliza uma partilha de emoções, uma busca de identidade que, intemporalmente, sublimam a própria jornada da existência e da liberdade. Divulgado oportunamente em Portugal pelas Edições 70, Alix foi naturalmente suspenso, em meados da década de ’90, quando problemas com a visão de Martin - que, aos 82 anos, esteve em Portugal - o forçaram a interromper a série. Entretanto retomada, com o discípulo Raphael Morales, as Edições Asa ressuscitaram-na com O Príncipe do Nilo e Ó Alexandria, seguindo-se O Filho de Espártaco e O Rio de Jade. Eis o triunfo de Alix, em destino e sucesso...
RELATÓRiO
DARK ANGEL
- O TRIUNFO DA MANGÀ
Pela última década do Século XX, o País do Sol Nascente impôs, aos receptivos mecanismos do Universo Gráfico Ocidental, as virtualidades de um imaginário prodigioso e trepidante, em que se fundem os ancestrais desígnios heróicos com a sofisticada tecnologia de vanguarda. Assim, sobressai um vibrante potencial - dinamizado pelos sucedâneos da animação, conjugado aos jogos de computador, ou estilizado em quadradinhos pela mangà. É sobre este fenómeno que, entre nós, a Devir investe agora em Dark Angel de Kia Asamiya - nascido em Tóquio em 1963, e prestigiado com Silent Moebius - desvendando O Caminho Para o Destino pela vertente Mangà. Em causa, um jovem espadachim que, tendo eliminado ritualmente o seu mestre, principia uma jornada mística de perigos e desafios, através da qual se assumirá, enfim, além da contingência humana sob um desígnio sagrado... Entre tais parâmetros de perdição ou redenção, eis uma saga emocionante, em plenas páginas de acção, de magia - por uma inspiração justiceira, sem ficar de olhos em bico! Como esclareceriam, a propósito, Takashige & Minagawa: «É difícil definir a mangà. Cada artista tem o seu estilo, cada argumentista os seus temas. Essencialmente, tratamos de divertir os leitores...»
MEMÓRiA
1842-08ABR1895 - Manuel Pinheiro Chagas: «A lua iluminava com os seus pálidos raios as estátuas pagãs, os tanques de mármore e as ruas de buxo do vasto jardim».
07FEV1905-1940 - Paul Nizan: «Eu tinha vinte anos, e não deixarei que ninguém diga que essa é a mais bela idade da nossa vida».
CALENDÁRiO
GABR2005 - Casa de Serralves (Porto) expõe Álvaro Siza, sobre a evolução do Conceito Espacial de Museu na obra do arquitecto, e a apresentação do seu Museu Imaginário.
07-24ABR2005 - Teatro Nacional de São João (Porto), apresenta Ubus de Alfred Jarry; encenação de Ricardo Pais.
CONTRADITÓRiO
17MAR2005 - Lusomundo estreia Tiro no Escuro de Leonel Vieira; com Joaquim de Almeida e Margarida Marinho #CALENDÁRiO/IMAGINÁRiO19.
REPOSITÓRiO
WINNIE THE POOH
- PAPÉIS & FILMES
Visando o público de todas as idades, as Produções Walt Disney desenvolveram, ao longo dos anos pela animação, uma gama de produtos que, revestindo os mais diversos formatos e conteúdos, lograram sucesso numa síntese técnica/artística do cinema e da televisão. Para os mais pequeninos, a ensinar e divertir, Winnie the Pooh - ou Ursinho Puff - é uma referência amiga e heróica, com Christopher Robin e os companheiros na Floresta dos Cem Acres, segundo a inspiração literária de Alan Alexander Milne (1882-1956). Agora, é a vez de Heffalump (2005).
Winnie the Pooh nasceu em 1925, nas páginas do London Evening News. Prestigiado jornalista e dramaturgo britânico, A.A. Milne logrou inspiração no urso Edward - que, quatro anos antes, tinha oferecido ao filho Christopher Robin. Ao ver um verdadeiro, pela primeira vez no Jardim Zoológico, este chamou-lhe Winnie, diminutivo da casa que a família tinha em Winnipeg. Depois, vieram Tigger, Piglet, Rabbit, Gopher... Em vários livros, cujos direitos Walt Disney comprou em 1961. O primeiro filme estreou em 1966, tendo Disney falecido pela mesma altura.
OBSERVATÓRiO
ELLA ENCANTADA - Aventura e fantasia, sentimento e sortilégio, sagram o destino de Ella - uma jovem de outros tempos que, por capricho da fada madrinha, tem o dom de obedecer a qualquer ordem que lhe dêem, por mais absurda ou perigosa. Após a morte da mãe, quando o pai volta a casar, Ella farta-se da madrinha e de suas duas meias-irmãs, decidindo partir em busca da responsável - para que se quebre o feitiço e volte a ser senhora de si. Acompanhada por um mágico livro falante, Elle percorre reinos e florestas, sonhos e imaginários, enfrenta adversários pérfidos, faz cumplicidades com ogres e gigantes, encontrando a felicidade enfim, nos braços de um príncipe encantado... Em DVD sob chancela Lusomundo, Anne Hathaway é a amável heroina desta saga exuberante, estilizada coreografia que envolve lendas, mitos, na actualidade de um olhar irónico, sofisticado pelo realizador Tommy O’Haver, ao envolver espectáculo e entretenimento.
A VILA - Tudo converge na relevância de M. Night Shyamalan como autor integral - tendo escrito o entrecho (após ler O Monte dos Vendavais de Emily Brontë) mas, de um modo muito expressivo, pela plena assunção do projecto e respectiva concretização (além da realização, é ainda produtor), estando implícitas as suas referências de origem cultural ou espiritual (nasceu em Filadélfia, de raízes indianas). Joaquin Phoenix e Sigourney Weaver protagonizam uma acção fundada no coração da América, por 1897 - uma aldeia desolada, isolada por um bosque que a rodeia, e cujos habitantes vivem assombrados com as criaturas malignas que lá se ocultam, não se atrevendo a atravessá-lo. Até que um jovem curioso e marginal, Lucius não resiste e decide desafiar o perigo - colocando a comunidade sob uma ameaça, e porventura para sempre… Em DVD sob chancela Lusomundo, os símbolos da civilização ianque expõem-se com uma mestria insólita mas genuína.
ANTIQUÁRiO
1675 - Sob a supervisão do Dr. Robert Hooke, Thomas Tompion constrói um dos primeiros relógios de bolso ingleses, com volante e espiral, o qual foi oferecido ao Rei Carlos II. Inventor, matemático e filósofo, Hooke (1635 - 1703) descobriu a Lei de Hooke, segundo a qual a deformação de um material é sempre proporcional à força que se aplica; também lhe devemos a teoria dos quadrados inversos.
VISTORiA
Há na história do nosso país uma particularidade, que dá logo na vista a quem segue com olhar atento as diferentes fases da nossa existência política. É a perfeita indiferença com que sempre olhamos para os grandes acontecimentos da Europa, o cuidado com que desviamos constantemente os olhos desse grande foco do movimento humanitário, e a surpresa que também sempre nos acometeu quando sentimos o efeito terrível das tempestades de que nos não soubemos resguardar.
Temos protestado tacitamente contra o acaso geográfico que nos fez povo da Europa, sem nós termos por fim de contas tendências europeias.
Senão veja-se.
Nos tempos da nossa grandeza, quando o leão do Ocidente, estendendo as garras por cima do Atlântico, segurava numa delas, fremente e subjugado, o opulento Industão, e com a outra domava as convulsões desesperadas da hiena marroquina, tínhamos por acaso na Europa a influência que nos deviam dar os imensos recursos que as nossas conquistas nos subministravam? O oiro da África e da Ásia prestou a D. Manuel os serviços que o oiro americano prestou a Carlos V? O imenso comércio das Índias deu-nos por acaso na Europa a influência marítima, que tinha dado outrora à república veneziana?
Não, a opulência portuguesa só se revelou por essa inútil fanfarronada da embaixada de Tristão da Cunha!
Enquanto nós olhávamos distraídos para Goa e para Ormuz, Carlos V e Filipe II, mais europeus, consideravam como meio o que para nós era fim, e aproveitavam os feitos de armas de Cortez e de Pizarro para estenderem a sua influência e o seu poderio.
E ficámos espantados quando esse colosso, que tínhamos deixado pacientemente crescer ao nosso lado, nos absorveu de um trago.
Manuel Pinheiro Chagas - As Duas Flores de Sangue
IMAGINÁRiO29
ESPECIAL PRIMAVERA
21 MAR 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt
PRONTUÁRiO
CHARLIE BROWN
& CHARLES SCHULZ
Parece incrível, mas é uma verdade intemporal: Charlie Brown e os seus compinchas, mais conhecidos por Peanuts, celebraram meio século em pleno ano 2000. Tudo começou a 2 de Outubro de 1950, em tira diária publicada no Saturday Evening Post. Tinha assinatura de Charles Monroe Schulz, um artista simpático mas reservado, nascido em Minneapolis, a 26 de Novembro de 1922. Aquela que se converteria na mais popular e estilizada expressão pós-moderna dos quadradinhos americanos, pelo humor sofisticado ao nível infantil, familiar e social, Peanuts simboliza, afinal, uma saga histórica e cultural da própria América. Tudo culminaria a 13 de Fevereiro de 2000, quando se consumou a morte há meses anunciada dos Peanuts. Horas antes, Schulz falecera, de cancro no cólon. Assim, do nascimento à despedida, expande-se a glória dos Peanuts. Com publicação em mais de dois mil e seiscentos jornais em todo o mundo, sendo na terra natal a favorita para noventa milhões de leitores. Mas Charlie Brown, Snoopy, Linus, Lucy ou Woodstock foram reproduzidos em milhares de artigos - bonecos, vestuário, cartazes - que rendem anualmente uns cinquenta milhões de dólares. E há, também, as múltiplas manifestações alternativas. No Verão de 1984, Snoopy foi modelo e inspirou o design da moda internacional. Em 1992, John Hughes esteve prestes a concretizar um sonho antigo, filmar os Peanuts com actores de carne e osso. Em 1999, Charlie Brown estreava-se num alusivo musical da Broadway. Em 2000, os CTT lançavam em Portugal uma colecção de selos com Snoopy. Schulz começou por tirar um curso de desenho por correspondência. No final da década de ’40, lançou Li’l Folks - um antepassado dos Peanuts - no jornal Pionier Press de Saint Paul. A sua expectativa foi, sempre, «tocar» os adultos através das crianças. Entretanto, a memória de Charles M. Schulz e o universo de Charlie Brown desvendam-se em www.peanuts.com/comics/peanuts/index.html A variante principal às proezas dos Peanuts em banda desenhada é a animação, em filmes e séries cuja produção, a partir sobretudo de 1967 (You Are a Good Man, Charlie Brown), esteve a cargo de dois velhos parceiros de Schulz, Lee Mendelson e Bill Melendez, sendo este também o realizador efectivo. Intriga, mistério, emoção, sorrisos, tornam esta experiência inesquecível, entre as mil que celebraram os Peanuts!
OBSERVATÓRiO
A UTOPIA DO PADRE HIMALAYA - Em 1904, na Exposição de St Louis, EUA, o Padre Himalaya ganhou o Grand Prize com o seu invento Pyrheliophero, um aparelho revolucionário de utilização da energia solar, que nem sequer constava da representação oficial portuguesa. Assinalando o centenário, Jorge António dirigiu o documentário A Utopia do Padre Himalaya, com produção de Lx Filmes e da Radiotelevisão Portuguesa/RTP. Em causa, um tributo à vida e à obra do cientista Manuel António Gomes (1868-1933), visionário genial, entretanto esquecido, tomando por base o livro A Conspiração Solar do Padre Himalaya de Jacinto Rodrigues - que apresenta e assina o argumento, com o realizador e Luís Correia. As ilustrações alusivas (Canhão da Chuva, Ponte Sobre o Tejo) são de Filipe Abranches.
AUTOGRAFIA - Distinguido como Melhor Documentário Português em DocLisboa 2004, Autografia é um retrato em três actos de Mário Cesariny de Vasconcellos - «não o escritor ou o pintor, mas sim o homem e as suas convicções» - dirigido por Miguel Mendes, com produção de JumpCut. Segundo o realizador, a partir de Autografia «existem vários planos: o da análise do poema; o das respostas; o do seu trabalho (exposto na nossa intimidade) e o da nossa própria interpretação, uma espécie de respigar/reciclar de citações e de conteúdos que acabam por nos permitir uma apropriação de Mário Cesariny». Entretanto, Assírio & Alvim editou o livro Verso de Autografia em complemento ao filme, incluindo as entrevistas integrais e ilustrado com as fotografias de rodagem, por Susana Paiva.
BREVIÁRiO
Fantagraphics edita The Complete Peanuts de Charles Monroe Schulz (1922-2000).
Warner lança em DVD, E Tudo o Vento Levou (1939) de Victor Fleming; edição especial com quatro discos.
A revista Lire, Hors-Série número 1 é integralmente dedicada a Astérix o Gaulês, incluindo uma aventura inédita, o comentário Ma Verité de Arbert Uderzo e um artigo sobre René Goscinny Intime. A 14 de Outubro de 2005, Éditions Albert-René lança em todo o Mundo, incluindo Portugal sob chancela das Edições Asa, o 37º álbum da saga com uma tiragem global de oito milhões de exemplares.
TRAJECTÓRiA
JOSÉ CELESTINO MUTIS
E O NOVO MUNDO
Um dos mais insignes sábios do Século XVIII, José Celestino Mutis (1732-1808) nasceu em Cádiz, Espanha, tendo estudado Filosofia e Medicina em Sevilha (1755) e Botânica em Madrid, onde se instalou e ensinou Matemática, dedicando-se a aprofundar os conhecimentos de Física, Teologia, Astronomia, Climatologia e Mineralogia. Em 1757, foi nomeado médico da Casa Real de Fernando VI, cargo que prosseguiu em 1760, ao desembarcar em Cartagena com o Marquês de la Vega, Vice-rei de Nova Granada. Aí permaneceu quase cinquenta anos, tendo estabelecido uma cátedra de Matemática (1762). Pelo seu enorme entusiasmo e uma actividade intensa, converter-se-ia em animador maior de empreendimentos científicos na América do Sul, dedicando excepcional atenção à História Natural. A partir da pequena cidade andina de Pamplona (1766), planeou a exploração botânica de todo o país, tendo em vista escrever um tratado medicinal sobre a flora indígena, em especial de montanha. Identificou espécies e géneros, como a Mutisia, correspondendo-se com sumidades europeias, entre as quais Linné e Canavilles. Em 1772, foi ordenado sacerdote e designado Canónico da Igreja Metropolitana, mas a Inquisição perseguiu-o, por explicar o Sistema Copernicano. Em 1783, Carlos III nomeou-o Director da Real Expedição Botânica em Nova Granada, tornando realidade o seu sonho de criar um Jardim Botânico, que localizou na cidade de Mariquita. Apoiado pelo Arcebispo Caballero Góngora, formou uma equipa de coleccionadores, pintores, gravadores, além de botânicos autóctones - como Caldas, Landete, Zea, Vargas, Cambra, Gracia, Restrepo, ou o sobrinho e sucessor Sinforoso Mutis. Guiados pelos seus conhecimentos, os especialistas recolheram mais de 24.000 amostras botânicas, que foram desenhadas e classificadas para fazerem parte de uma obra intitulada Flora de Santa Fe de Bogotá o de Nueva Granada. Porém, os custos de publicação eram tão elevados, que nem a Coroa espanhola ousou assumir um tal encargo, tendo apenas vindo a lume em 1955. Notoriamente, investigou os poderes curativos de plantas como a Quinaquina - que se revelaria muito útil contra a malária - esclarecendo (Santa Fé, 1793) variedades e repartições geográficas em toda a Colômbia. Nos últimos dez anos em Bogotá, onde fundou um Observatório Astronómico (1803), Mutis recebeu personalidades como os exploradores Bonpland e Humbolt, que escreveu a sua biografia.
MEMÓRiA
1465-1536 - Gil Vicente: «Toda a glória de viver / das gentes é ter dinheiro / e quem muito quiser ter / cumpre-lhe de ser primeiro / o mais ruim que puder».
1955 - É editada Flora de Santa Fe de Bogotá o de Nueva Granada, obra monumental de José Celestino Mutis que permanecia inédita desde a sua morte, há 147 anos.
ANTIQUÁRiO
1665 - Forçado a abandonar os estudos em Cambridge, e a retirar-se para o campo com a família, de modo a escapar duma epidemia de peste bubónica, Isaac Newton (1642 - 1727) formula em apenas um ano, por completo ou nos seus fundamentos, a teoria da gravitação universal, o binómio que possui o seu nome, as leis do movimento e a lei do quadrado inverso, além de atribuir manifesto à natureza física das cores.
1825 - Nathaniel Hawthorne colabora em jornais e revistas, publicando diversos contos em Democratic Review, do seu amigo John L. O'Sullivan. Quando os editores recusam Seven Tales of My Native Land, o escritor americano decide queimar o original da primeira história curta. Igual destino terão os exemplares não vendidos de Fanshawe, seu romance de estreia, lançado anonimamente pelo autor em 1828.
1925 - O produtor Michael Balcon proporciona a Alfred Hitchcock a oportunidade de dirigir The Pleasure Garden - sua primeira longa metragem, em Munique. Nessa cidade rodavam-se, então, mais filmes que em Londres e Balcon tinha, ali, negociado um contrato de co-produção (a melhor maneira de garantir uma distribuição europeia para os seus filmes).
1965 - Jo-El Azara (aliás Joseph F. Louekx) & Vicq (aliás, Antoine Raymond) apresentam, no Tintin de França e Bélgica, as aventuras de Taka Takata - «um honorável recruta de segunda classe da aviação nipónica, mais pitosga do que um bando de toupeiras e incapaz de distinguir a diferença entre um porta-aviões e um quiosque de jornais!»
VISTORiA
FRADE
Deo gratias! Demos caçada!
Pera sempre contra sus!
Um fendente! Ora sus!
Esta é a primeira levada.
Alto! Levantai a espada!
Talho largo, e um revés!
E logo colher os pés,
que todo o al no é nada!
Quando o recolher se tarda
o ferir nom é prudente.
Ora, sus! Mui largamente,
cortai na segunda guarda!
- Guarde-me Deus d'espingarda
mais de homem denodado.
Aqui estou tão bem guardado
como a palhá n'albarda.
Saio com meia espada...
Hou lá! Guardai as queixadas!
DIABO
Oh que valentes levadas!
Gil Vicente - Auto da Barca do Inferno
EU, WOLVERINE
- ORIGENS DILACERADAS
Um dos mais fascinantes enigmas originais, sobre a mitologia dos super-heróis, transfigura-se no talento primordial de Chris Claremont & Frank Miller em Eu, Wolverine! (1982) - cuja intemporalidade clássica reincide, em impecável lançamento sob chancela Devir, pela inspiração oriental da amada Mariko Yashida, estranhamente desaparecida... Com uma génese misteriosa, e aparecido em The Incredible Hulk, em 1974, o temível Wolvie é dotado de um prodigioso factor de cura, quanto ao corpo e lacerantes garras de adamantium, o metal mais resistente. Vindo do Canadá, e encontrado agonizante na floresta por McDonald Hudson, aliás Guardian, Wolverine - ou Logan, para os amigos - fez parte dos Weapon X, mas trocaria esta corporação natal pelos americanos X-Men, orientados pelo professor Charles Xavier. Muitas coisas se passaram desde então, nas inexoráveis batalhas contra o crime organizado ou a abominação sobrenatural. Os próprios X-Men evoluíram, entre sucessos e inclemências. Por exemplo, supostamente exterminados, recrutaram novos elementos, radicando-se na Austrália - para missões secretas, sob o comando de Wolverine. Aliás, este privilegia as aventuras solitárias, pela neutra personalidade de Logan. Num ímpeto animal de heroísmo, exercitado entre estilhaços de expiação humana, é em tal bizarra identidade que cumplicia um culto - servindo-se do apurado faro, raramente exibindo as presas, embora com pleno recurso à força extraordinária, à miraculosa regeneração.
RELATÓRiO
ARKADI
- O OLHAR DO FUTURO
Um futuro crepuscular. Ano de 10.020. Em plena Era da Massa. A Terra fixa, sempre com a mesma face virada para o Sol. A Lua desintegrou-se. Entre a Região Quente e o Limite da Noite, fica a Grande Barreira - antecipando as proezas e os prodígios de Arkas, um guerreiro ferido na contingência humana pela condição sintética... Sob chancela das Edições Asa, eis O Mundo de Arkadi - um clássico da banda desenhada europeia, conjugando o signo fantástico à revelação em Les Humanoïdes Associés, a partir de 1988. Concebido e ilustrado por Caza - aliás Philippe Cazaumayou, nascido em 1941, e inspirando-se nos imaginários de Moebius ou de Philippe Druillet - tudo principia com Os Olhos de Or-Fé, um poeta ciborgue, visionário na latência das suas memórias perdidas... Num tempo que é um horizonte em trevas, a aventura irradia a última esperança. Sagrando um desígnio virtual, subjugado ao instinto primitivo!
MEMÓRiA
1828-24MAR1905 - Jules Verne: «Como poderá apreciar a felicidade aquele que nem um só instante foi tocado pelo sopro da desgraça?».
1925 - Através da Amazónia, o português Silvino Santos realiza No Rastro do El Dorado, mítico documentário sobre a Expedição de A. Hamilton Rice ao Rio Branco.
1888-30MAR1935 - Fernando Pessoa: «Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!».
1985 - Na órbita de Spider-Man/Homem-Aranha, Marvel Comics lança The Punisher/Justiceiro, sob concepção de Stan Lee.
BREVIÁRiO
Ésquilo edita Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos de José Manuel Anes.
Castello Lopes edita em DVD, Colecção Ingmar Bergman, incluindo Mónica e o Desejo (1953), Uma Lição de Amor (1954), Sorrisos de Uma Noite de Verão (1955), Morangos Silvestres (1957), A Fonte da Virgem (1960) e Lágrimas e Suspiros (1972).
Editorial Vega lança Prémio da Justiça e da Humanidade (1777) de Voltaire.
Lusomundo edita em DVD, Colecção Jerry Lewis, incluindo O Delinquente Delicado (1956) de Don McGuire, Cinderello dos Pés Grandes (1959), Jerry no Grande Hotel (1960), O Homem das Mulheres (1961), O Mandarete (1961), As Noites Loucas do Dr. Jerryll (1962), Jerry 8 ¾ (1964).
TRAJECTÓRiA
JULES VERNE
- A AVENTURA IMAGINÁRIA
Um dos mais visionários contadores de histórias, Jules Gabriel Verne nasceu em Nantes, a 8 de Fevereiro de 1828, de uma família ligada à mareação, o que terá influenciado a sua carreira literária. Passou a infância numa ilha isolada, próxima do Rio Loire. No Liceu de Nantes, aprendeu Latim. Aos doze anos, trabalhou como camaroteiro num navio mercantil, mas foi descoberto e entregue aos progenitores - que, em 1847, o enviaram para Paris a estudar Direito. Travando amizade com Alexandre Dumas Pai, ou Victor Hugo, em breve se revelaria a paixão pelo teatro - e, em 1850, vinha a lume a sua primeira peça dramática. Escreveu libretos para ópera, com Michel Carre. Agastados, Sophie e Pierre Verne, advogado próspero, deixaram de financiá-lo, pelo que Jules teve de vender as suas histórias para sobreviver. Casando com Honorine Morel Deviane, empregou-se como corrector. Em 1861, nasceu o filho Michel Jean Pierre. Apaixonado por História e Geografia, Verne ampliou, como autodidacta, os conhecimentos de Geologia, Engenharia e Astronomia. Entretanto, conhecera Pierre-Jules Hetzel, um dos mais importantes editores de França, no Século XIX. Em 1863, era publicado Cinco Semanas em Balão - a que se seguiram tantos fantásticos sucessos como Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870), A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1972), A Ilha Misteriosa (1874) ou Miguel Strogoff (1876). Em 1876, famoso e enriquecido, comprou um grande iate, com o qual percorreu a costa da Europa. Em 1905, era lançado o seu último romance, A Invasão dos Mares. Faleceu em Amines, a 24 de Março de 1905. Nas suas obras - traduzidas em mais de 148 línguas, segundo a UNESCO - Jules Verne previu alguns marcantes acontecimentos científicos do Século XX - como os voos de balão à volta do mundo, os submersíveis que viajam sob os gelos polares, a expedição a vulcões em actividade ou as viagens à Lua.
NOTICIÁRiO
Miguel Strogoff - Esta interessantíssima peça de grande espectáculo, extraída pelo notável dramaturgo D’Ennery do grande romance de Jules Verne com o mesmo título, e acomodada à cena portuguesa por Carlos de Moura Cabral, sobe à tábua com extraordinário luxo e aparato, na próxima 5ª Feira no Theatro da Avenida, com Joaquim de Almeida.
25JUN1888 - Diário de Notícias
OBSERVATÓRiO
Um ex-agente do FBI actuando na clandestinidade, e afectado pela tragédia familiar, Frank Castle está de volta, exorcizando a inexorável vingança expiatória de Punisher - com argumento de Garth Ennis, ilustração de Steve Dillon e arte-final por Jimmy Palmiotti. Sob chancela Devir, eis O Regresso do Justiceiro 2 - tendo como alvo a famigerada Família Gnucci, entre personagens turvas, fantomáticas. Entretanto, Columbia-TriStar edita em DVD The Punisher - O Vingador, a adaptação ao cinema com realização de Jonathan Hensleigh, sendo protagonistas Tom Jane e John Travolta, em irreversível descida aos infernos.
Não há processos infalíveis para o sucesso, que seria agradar a todos. Mas, quando os projectos cumprem vários requisitos, o produto pode expor-se à confiança. Visando bedéfilos e melómanos, assim resulta em Superfuzz - aliás, uma loja de discos virtual, em que convergem Histórias de Sexo, Borga... e Rock’n’Roll. O proprietário é um nostálgico irreverente, que prefere o vinil e não resiste a uns festivais alternativos - daí que Vai Sonhando, Paiva... Vai Sonhando! Sob chancela Devir, eis uma selecção irresistível, de quanto Esgar Acelerado & Rui Ricardo apresentaram no jornal Blitz, desde 2001. Quadradinhos em português, às rotações do humor.
VISTORiA
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.
Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!
Fernando Pessoa - Mensagem - Terceira Parte/O Encoberto - O Desejado (1934)
CALENDÁRiO
Gilda Teixeira Coelho, esposa de Eduardo Teixeira Coelho (actualmente com 86 anos) durante meio século, faleceu em fins de Janeiro de 2005, em Florença (Leonardo De Sá).
1929-21FEV2005 - Cabrera Infante: «Pensei que a revolução cubana precisava de literatura, quando a única coisa que queria era propaganda».
1910-22FEV2005 - Simone Simon: «William Dieterle fez de mim a mensageira do diabo».
24FEV-30ABR2005 - Museu Nacional de Arte Antiga expõe Passagens. Cem Peças Para o Museu de Medicina; entre os testemunhos exibidos, a cabeça de Diogo Alves - o último condenado à morte em Portugal - decepada e estudada por cientistas após o enforcamento, em 1841.
FEV-03JUN2005 - Museu Nacional de Soares dos Reis (Porto) expõe Pintura Portuguesa do Século XVI na Colecção do Museu Nacional de Soares dos Reis.
07-30MAR2005 - Casa da Animação (Porto) expõe Originais do CITEN/Centro de Imagem e Técnicas Narrativas da Fundação Calouste Gulbenkian; cenários e personagens dos filmes concluídos nos cursos de animação, desenhos originais e pranchas dos cursos de bd e ilustração.
PRONTUÁRiO
HOWARD HUGHES
- O AVIADOR
Martin Scorsese sobressai numa geração de realizadores americanos cujo talento, modelado pela formação universitária e um entranhado apelo dos clássicos, transformaria as motivações tradicionais, sobre a realidade e o imaginário. Trata-se dum autor cuja autenticidade motiva, além da nostalgia ou do fascínio, singulares expectativas para a reformulação duma arte, em constante recorrência entre a indústria e o espectáculo. Sobretudo, encarando os filmes pela fruição - sensível, inteligente, contra as tendências convencionais de alienação; mas contrapondo, ao artifício crítico, uma ritualização por vezes violenta, vibrátil. A sua original pulsão e paixão pelo animatógrafo virtualiza-se em O Aviador (2004), com base em argumento de John Logan - recriando sob um prisma intenso, mediático, as vivências e as aventuras de Howard Hughes - uma das personalidades mais polémicas/mitificadas da história social ianque, entre as décadas de ’20 e ’40 do século passado. Milionário excêntrico, produtor em Hollywood, fanático da aviação. Enigmático, sedutor, obcecado, caprichoso, vingativo. Vulnerável e volúvel. Homem de excessos, apaixonado por mulheres como Katharine Hepburn ou Ava Gardner, afecto a crises de solidão, vítima das suas próprias fobias... Leonardo DiCaprio logra uma composição latente, estilizada, correspondendo ao testemunho visionário por Scorsese - intenso, subtil, magistral, perturbador, avassalando às mais profundas, trágicas e expiatórias engrenagens em que se gera o culto. O abismo e a vertigem. Acção feérica, até à náusea dos conflitos íntimos. Num exorcismo sofisticado, logo transfigurador, sobre a noite americana.
RELATÓRiO
POWERS
- A TRAGÉDIA DOS HERÓIS
Os detectives Christian Walker e Deena Pilgrim trabalham num departamento secreto para a investigação de homicídios, relacionados com circunstâncias que envolvem poderes especiais. Por vezes, arriscam a própria vida. E sempre, sempre, têm que pôr à prova os seus notáveis talentos de dedução. Até que se deparam com o mais perturbante caso das suas carreiras. A heroina favorita dos americanos, esbelta e corajosa, Retro Girl foi assassinada... Sob chancela Devir, eis um desafio decisivo para Powers - uma série única, realista, no domínio para adultos sobre crimes violentos. A concepção é de Brian Michael Bendis - o autor de Sam & Twitch, galardoado com o Prémio Eisner, e cuja trama áspera, contundente, é contrastada pela ilustração de Mike Avon Oeming, ao estilo deco que o celebrou em Superman ou Young Justice. O eterno confronto do bem contra o mal, estigmatizado entre as luzes e as trevas, ressalta Quem Matou Retro Girl? - nas cores fortes, oleosas, de Pat Garrahy, tal como explorara em Justice League America. Conjugando a nostalgia romanesca, pela vanguarda em quadradinhos...
MEMÓRiA
1568-1625 - Jan Brueghel, de Velours: filho de Pieter Brueghel l'Ancien, irmão de Pieter Brueghel le Jeune (Brueghel d'Enfer), pai de Jan Brueghel le Jeune.
16MAR1825-1890 - Camilo Castelo Branco: «Voltamos à Terra muitas vezes, permanecendo em suas sociedades, com pequenos intervalos desde os primórdios».
1845-1910 - Sousa Viterbo: «Podeis pecar, podeis; agora eu / já não tenho ninguém que me proteja».
1925 - António Lopes Ribeiro inicia actividade como jornalista e crítico de cinema, assinando Retardador.
18MAR1925-1982 - Baptista Rosa: «O cinema português só nos escuros tempos do volfrâmio conheceu algum desafogo que, mesmo esse, foi sol de pouca dura».
12MAR1925-1990 - Georges Delerue: «A necessidade é a mãe de todas as invenções».
1935 - Charles Flanders substitui Alex Raymond, o criador, na ilustração da saga Secret Agent X-9, cabendo o entrecho a Leslie Charteris.
17MAR1945-1982 - Elis Regina: «Saudade do que está vivo, solto, e nunca deixou de existir».
INVENTÁRiO
Percorrendo o território da aventura e a idade da memória, a banda desenhada constituiu o seu próprio imaginário essencial - em que se forjam mitos e se sagram cultos. Tradicionalmente, são os homens que almejam os ideais ou se corrompem na perversão. Às mulheres estaria destinado o papel de noivas eternas ou de precárias comparsas. Mas nem sempre foi assim, e há cada vez mais excepções - pelo elã complexo e volúvel de um desempenho sensual ou visionário. O assassinato do pai, um diplomata grego, sagrou o destino Elektra (1981 - Frank Miller), em golpes de coração com Matt Murdock, através do alter-ego Daredevil (1964 - Stan Lee). Em 1985, Miller e Bill Sienkiewicz exacerbaram o instinto fatal de Elektra Assassin, nada voltando a ser igual no universo em quadradinhos para adultos.
Em 2003, a projecção cinéfila de Ben Affleck como Demolidor, por Mark Steven Johnson, favoreceu uma afeição adversa com a bela e misteriosa ninja, aparentemente vitimada quanto ao signo da imortalidade. E, após reassumir o elã gráfico em Ultimate Elektra (2004) por Mike Carey & Salvador Larocca, ei-la de volta ao grande ecrã - sob a direcção Rob Bowman - em nome próprio e irresistível, transfigurando Jennifer Garner em corpo e alma. Com uma ressurreição crispada ao compromisso de guerreira inexorável, perita em artes marciais, Elektra Natchios é, pois, incumbida pelo Tentáculo de eliminar o viúvo Mark Miller e sua jovem filha, Abby, mas uma crise de consciência fá-la reinverter os desafios virtuais de tão funesta missão... A par com uma revelação essencial sobre as origens, Elektra (2005) debate-se entre as luzes e as trevas, numa ambígua sagração quanto à mística assombrada dos anti-heróis.
BREVIÁRiO
Presença edita O Rio Com Regresso - Ensaios Camilianos de Maria Alzira Seixo.
Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema edita Cinema e Pintura, sendo comissários Jean Louis Schefer e João Bénard da Costa.
Cavalo de Ferro lança Assombrações de Vernon Lee (aliás, Violet Paget - 1856-1935).
Difusão Verbo lança a colecção As Aventuras de Tintim por Hergé, constituída por 25 volumes, em encomenda postal.
Guimarães edita Contos Arrepiantes de Bram Stoker (1847-1912).
Lusomundo edita em DVD, Portugal S.A. (2003) de Ruy Guerra.
Mareantes edita As Leis do Céu - Astronomia e Civilizações Antigas de Juan Antonio Belmonte.
VISTORiA
Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em frutos, e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito anos! O amor daquela idade! A passagem do seio da família, dos braços de mãe, dos beijos das irmãs para as carícias mais doces da virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos aromas, e à mesma hora da vida! Dezoito anos!... E degredado da pátria, do amor e da família! Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste!
O leitor decerto se compungiria; e a leitora, se lhe dissessem em menos de uma linha a história daqueles dezoito anos, choraria!
Amou, perdeu-se, e morreu amando.
É a história. E história assim poderá ouvi-la a olhos enxutos a mulher, a criatura mais bem formada das branduras da piedade, a que por vezes traz consigo do céu um reflexo da divina misericórdia?! Essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe dissessem que o pobre moço perdera honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!
Camilo Castelo Branco - Amor de Perdição
NOTICIÁRiO
Romance de Um Rapaz Pobre - Já está em distribuição o primeiro fascículo deste célebre romance de Octave Feuillet, primorosamente transladado para a nossa língua pelo Senhor Camilo Castelo Branco, e publicado em riquíssima edição pela Livraria Editora António Maria Pereira.
05JUL1888 - Diário de Notícias
CALENDÁRiO
JAN2005 - No Festival de Banda Desenhada de Angoulême, o Ministro francês da Cultura impõe a Art Spiegelman as insígnias de Cavaleiro das Artes e das Letras. Georges Wolinski é galardoado com o Prémio Cidade de Angoulême.
23JAN-03ABR2005 - Em Coimbra, o Centro de Artes Visuais/CAV apresenta Uma Extensão do Olhar - Entre a Fotografia e a Imagem Fotográfica, obras da Colecção da Fundação PLMJ.
1930-01FEV2005 - Henrique Canto e Castro: «Nunca me arrependi de ter escolhido ser actor».
1906-02FEV2005 - Max Schmeling: pugilista alemão, antigo campeão de boxe na categoria de pesos pesados; em 1930, protagonizou Amor no Ringue/Liebe im Ring de Reinhold Schunzel, com Arthur Duarte e José Santa/Camarão, primeiro filme com cenas faladas em Português.
1915-10FEV2005 - Arthur Miller: «A missão do teatro é despertar a consciência das pessoas».
04-27MAR2005 - Teatro Nacional de São João (Porto), apresenta Woyzeck de Georg Büchner; encenação de Nuno Cardoso.
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