Affonso Romano de Sant'Anna nasceu em Belo Horizonte, em 1937, filho de um capitão da Polícia Militar mineira. Teve uma infância pobre, trabalhando desde muito cedo para pagar os estudos. Filho de pais protestantes, foi criado para ser pregador daquela religião. Aos 17 anos pregava o evangelho em várias cidades de Minas Gerais, visitava favelas, prisões e hospitais, convivendo com pessoas muito pobres. Essa experiência teve influência, anos mais tarde, no estilo dos seus textos e poesias, com forte conteúdo social. Custeou os seus estudos na Faculdade de Letras de Belo Horizonte, tendo se tornado bacharel. Em 1956, esteve envolvido em movimentos de vanguarda e, no ano seguinte, devido à sua sua voz de barítono, passou a fazer parte do "Madrigal Renascentista", à época regido pelo maestro Isaac Karabtchevsky. Fez parte dos movimentos que transformaram a poesia brasileira, sempre interagindo com grupos inovadores e construindo a sua própria linguagem e trajectória. Como poeta e cronista, foi considerado pela revista "Imprensa", em 1990, como um dos dez jornalistas formadores de opinião por desempenhar actividades no campo político e social que marcaram o país nos anos 60. Colocou no seu primeiro livro, lançado em 1962, "O Desemprego da Poesia", o seu inconformismo com a actuação dos poetas da época que não possuiam a força dos poetas do século XIX. Analisava o desencontro do poeta no seu tempo e a sua frustração pessoal. O poeta era tido como um ser boémio, romântico, fora de época. Em 1965, mudou se para Los Angeles onde, durante dois anos, deu cursos de Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia. Nesta altura lançou o seu primeiro livro de poesias "Canto e Palavra". Em 1968, retornou aos Estados Unidos para, durante dois anos, participar como bolsista do International Writing Program, na cidade de Iowa, dedicado a jovens escritores de todo o mundo. Apresentou na Universidade Federal de Minas Gerais, em 1969, a sua tese de doutoramento "Carlos Drummond de Andrade, o Poeta "Gauche", no Tempo e Espaço", publicada em 1972 e que lhe garantiu os quatro prémios mais importantes no universo literário brasileiro. Deu aulas na Pontifícia Universidade Católica (onde dirigiu o Departamento de Letras e Artes, entre 1973 e 1976) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para o curso de Pós Graduação em Letras, realizado em 1976 na Pontifícia Universidade Católica, promoveu a visita de conferencistas internacionais, entre os quais Michel Foucault, sociólogo francês, cuja visita ao Brasil, em plena ditadura, teve grande repercussão. Nesta altura lançou o seu segundo livro de poesias "Poesia sobre Poesia". Voltou aos Estados Unidos em 1976 para ensinar Literatura Brasileira na Universidade do Texas. Em 1978, tornou se professor de Literatura na Universidade de Colónia, na Alemanha. Lançou "A grande fala do índio guarani". Lançou em 1980, o livro de poesias "Que país é este?". Ensinou durante dois anos, na Universidade Aix en Provence, na França, como professor visitante. Em 1984, assumiu no "Jornal do Brasil" a coluna anteriormente escrita por Carlos Drummond de Andrade. O jornal publicou os seus poemas na página de política, e não no suplemento literário, iniciativa pioneira e insólita, o que fez com que Affonso Romano de Sant'Anna mudasse o seu conceito sobre o próprio emprego do poeta na sociedade. Apercebeu se de que a função do poeta estava vinculada, sobretudo, ao facto do mesmo precisar ter uma linguagem eficiente, domínio de todas as técnicas, e falar sobre assuntos que interessassem às pessoas em geral, sem narcisismo nem subjectivismo. Considerava o livro ainda muito elitista, sofisticado, de acesso impossível às camadas mais pobres da sociedade. Saber que os seus poemas, como: "A Implosão da Mentira", "Que país é este?" (traduzido para o espanhol, inglês, francês e alemão) e "Sobre a atual vergonha de ser Brasileiro", eram lidos nas casas, nas praias, nos clubes, transformados em poster e colocados nas paredes de escritórios e sindicatos, em muito o gratificava e o ensinava que os poetas devem reencontrar o seu lugar existencial e estético dentro da sociedade. Publicou o seu primeiro livro de crónicas, "A Mulher Madura", em 1986. Em Março de 1987 participou no Congresso "Les Belles Etrangères", onde estiveram reunidos dezanove escritores brasileiros em Paris e no mesmo ano publicou com a sua esposa (também escritora e jornalista) a antologia "O Imaginário a Dois". Em 1989 participou do "IV Encontro de Poetas do Mundo Latino", realizado no México. Em 1990 foi nomeado Presidente da Fundação Biblioteca Nacional (a oitava maior biblioteca do mundo, com mais de oito milhões de volumes), informatizando a e criando o Sistema Nacional de Bibliotecas, reunindo 3000 instituições e o PROLER (Programa de Promoção da Leitura), que contou com mais de 30000 voluntários em 300 municípios brasileiros. Lançou a revista "Poesia Sempre", de circulação internacional, e apresentou edições especiais sobre a América Latina, Itália, Portugal, Alemanha, França e Espanha. Presidiu o Conselho do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (CERLALC), entre 1993 e 1995, tendo sido também o Secretário Geral da Associação das Bibliotecas Nacionais Ibero Americanas entre 1995 e 1996, que reúne 22 instituições. Proferiu conferências em diversos países, entre outros: México, Dinamarca, Chile, Canadá, Argentina, Portugal, Estados Unidos e Espanha. Foi agraciado com o Prémio Especial de Marketing concedido pela Associação Brasileira de Marketing, pelo trabalho realizado na Biblioteca Nacional. Além deste, recebeu, entre outros, os seguintes prémios:
"Prémio Mário de Andrade", "Prémio Fundação Cultural do Distrito Federal" e "Prémio União Brasileira de Escritores" com o livro "Drummond, o gauche no tempo."; "Prémio Pen Clube" com o livro "O canibalismo amoroso"; "Prémio União Brasileira de Escritores" com o livro "Mistérios Gozosos"; "Prémio APCA Associação Paulista de Críticos de Arte", pelo conjunto da sua obra.
Actualmente, escreve artigos no jornal "O Globo", no caderno "Prosa e Verso"e noutros jornais brasileiros. Tem poemas seus editados em variadíssimas antologias no Brasil, mas também em Portugal, Estados Unidos, França, Alemanha, Polónia, Venezuela, China, Canadá, Chile, Costa Rica e Itália.
Poesia:
"Canto e Palavra" 1965
"Poesia sobre Poesia" 1975
"A Grande Fala do Índio Guarani" 1978
"Que País é Este?" 1980
"A Catedral de Colônia e Outros Poemas" 1987
"A Poesia Possível" (poesia reunida) 1987
"O Lado Esquerdo do Meu Peito" 1991
"Epitáfio para o século XX" (antologia) 1997
"Melhores poemas de Affonso Romano de Sant'Anna
"A grande fala e Catedral de Colônia" (ed. comemorativa) 1998
"O intervalo amoroso" (antologia). 1999
"Textamentos" 1999
Crónica:
"A Mulher Madura" 1986
"O Homem que Conheceu o Amor" 1988
"A Raiz Quadrada do Absurdo" 1989
"De Que Ri a Mona Lisa?" 1991
"Mistérios Gozosos" 1994
"A vida por viver" 1997
"Porta de Colégio" (antologia) 1995
Ensaio:
"O Desemprego da Poesia" 1962
"Drummond, o "gauche" no tempo" 1990
"Política e Paixão" 1984
"Análise Estrutural de Romances Brasileiros" 1989
"Por um novo Conceito de Literatura Brasileira" 1977
"Música Popular e Moderna Poesia Brasileira" 1997
"Emeric Marcier " 1993
"O Canibalismo Amoroso" 1990
"Paródia Paráfrase & Cia." 1985
"Como se Faz Literatura " 1985
"Agosto 1991: Estávamos em Moscou" 1991 (com Marina Colasanti)
"O que aprendemos até agora?" 1984
"Barroco, alma do Brasil." 1997
?A sedução da palavra? (ensaio e crónicas) 2000
?Barroco, do quadrado à elipse? 2000