As minhas primas
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Primas XXXVII




O comentário sobre a prima Leocádia está a tornar-se difícil. Já na semana passada eu tinha assinalado o facto da rapariga me ter enviado a fotografia e, ao contrário do que havia prometido, a nota biográfica não apareceu. Dela pouco sabia para além do facto de ser uma artista de performances de rua que se movimentava pela Europa com assinalável êxito. Recebi, agora notícias da rapariga, não diretamente, mas por via de uma guarda prisional da uma cadeia suíça Fiquei de boca aberta depois de ler estas palavras num Português periclitante.

“Senhor primo da Leocádia.
Senhor, a sua prima Leocádia é rapariga de muito engraçada. Neste momento sou já amiga dela mesmo quando sou sua guarda na prisão da Suíça onde trabalho sendo eu de origem polaca. A sua prime é muito engraçada, já disse. Faz representação nas ruas e a última em Basileia, deitou-a na prisão a esperar o que vai dizer o juiz. A polícia apanhou-a quando ela mesmo com este frio todo estava a atirar bolas de neve às pessoas que passavam por ela na rua vestida de pele de macaco do buraco do umbigo para cima e para baixo não tinha nada menos que umas botas de pele de boi. A polícia aqui tem muito rigor com estas coisas e nos Bancos não liga. Todas as pessoas daqui da Suíça que não são de origem antiga suíça estão a ser indignadas com o que os bancos daqui fazem à muitos anos. Quero dizer-lhe a si que a Leocádia me pediu para escrever esta porque eles não a querem a falar com o exterior. Falam em qualquer coisa de uma bomba, que ela andava a desviar as atenções à porta da embaixada da USA. Ela disse-me para lhe dizer que logo que for possa entra em carta consigo faz. Gosto muito da sua prima Leocádia e ela gosta muito de mim. Se não tiver muitos problemas quando sair livre vai estar comigo na minha casa que é pequena mas que dá a as duas estarmos. Eu escrevo algum Português por ir sempre de férias para a casa do Joao de quem gosto muito durante três semanas.
Geny”

E é a assim que, mais uma vez, não vou oferecer à curiosidade dos meus amigos do Facebook ou dos truquistas, uma prima “decente”, boa senhora, casada e mãe de filhos. Isto já é sina, santo Deus! O que me havia de cair na rifa. Leocádia, performer de rua acusada de participação em atentado bombista...na Suíça!


Prima XXXVI




A galeria de primas está longe de esgotada. É rara a semana em que não aparece mais uma, anunciando o nosso laço familiar. Coisa que me agrada porque quem tem as primas que eu tenho, é rico. 
De algumas, não é fácil fazer um relato porque as suas vidas percorrem caminhos tão estranhos que chega a parecer que não passam de fantasias do “primo Luizinho”, como algumas, carinhosamente, me tratam.
 
Está neste caso a prima que vos trago hoje, a Fortunata.  Não contactou comigo pessoalmente. Foi uma sua irmã que me contou pedaços da sua história da qual, com toda a propriedade se poderia dizer, “dá um filme”.
 
A Fortunata vivia com uma irmã na casa da avó, nunca conheceu pai nem mãe, quando aos 15 anos fugiu para os braços de um trapezista, artista de um circo pelintra. Só se voltou a saber dela, anos depois, quando, de Paris, enviou à avó um cheque de tal montante que a senhora com o susto lhe deu o badagaio. Ficou rica, a irmã. O cheque vinha acompanhado de uma pequena nota onde se lia: “Avó, não te preocupes, foi roubado ao meu marido”. Voltou-se a ter notícias da Fortunata quando, por via dos opositores ao regime romeno de Nicolae Ceausercu se soube que fora uma das suas amantes, por um triz salva da prisão quando o ditador foi encarcerado, julgado e executado.
 
Aparece, depois, em Cuba, ligada ao movimento gay. A sua militância foi tal que não fora a interferência do Governo de Espanha, bem não teria, desta vez, escapado à cadeia. Foi extraditada para Espanha onde permaneceu vários anos sem dar cavaco a ninguém. 
 
Recentemente escreveu à irmã, agora de volta à Roménia, dizendo que, quando morrer quer ser incinerada no cemitério de Oeiras e as suas cinzas deitadas ao Tejo na respetiva praia. Também desta vez vinha uma curta nota que dizia simplesmente: “Foi nessa praias que perdi os três”. A irmã, confessou-me que não percebeu imediatamente o significado da frase porque...ainda é virgem. A pobre da irmã, cujo nome não quer divulgado, está desesperada porque não sabe se existe tal equipamento no cemitério de Oeiras. Haverá?
A fotografia que anexo, acompanhava a sua última carta.


Prima XXXV

Meus caros, os laços de família esticam! Tenho enfrentado com coragem e denodo as mulheres que, afirmando-se minhas primas, se têm dirigido a mim para lhes promover a imagem e em alguns casos, outras coisas. Tenho-o feito sem complexos nem preconceitos. Entre mais de trinta, tem aparecido de tudo, desde a freira, Esposa do Senhor até à Carnencita da Andaluzia com uma profissão inconclusiva, à Idalina, vedeta de filmes pornográficos, à Vitória, demonstradora de artefactos eróticos, à Gaby, acompanhante de senhores, em Cannes ou à Felismina, quebra-ossos de maridos violentos. Isto, só para referir as que têm “vidas” fora da moral judaico-cristã, salvo, claro a Esposa do Senhor e, consequentemente, imagens difíceis de promover.

Agora, que me apareçam, pseudo-primas, trabalhadoras do sexo, a usarem a popularidade da Truca e da minha página do Facebook, para lhes promover o negócio, aí, alto e para o baile!
Quando me preparava para vos dar a conhecer a Marinela, dona de casa e mãe de filhos, igual a tantas e tantas Marinelas que neste país exercem a difícil profissão de “domésticas” por força do desemprego feminino, aparece-me esta Frufru cuja função na vida é mais do que evidente. Derriço com o homem do talho ou com o carteiro, ainda vá, agora profissional do sexo, não!
Para todas as Frufrus deste país, falantes de português, primas de gema ou, apenas, de clara, aqui vai uma mensagem muito séria. Não tenho nada contra as vossas vidinhas, agora, não me metam em sarilhos! A lei portuguesa é muito clara e violenta ao condenar a penas pesadas aqueles que divulgam, quiçá, vivem do negocio das noites escaldantes e tardes ou manhãs de rapidinhas. Custa-me pronunciar o nome, tão nojento ele é, mas aproxima-se de “maneta” e eu quero manter as duas mãos, a espinha na vertical e a cabeça no sítio.
Ofereço-vos a pedido e excecionalmente, “as fotos muito queridas” da prima Frufru. Uma vez sem exemplo. Há que manter a dignidade e o bom nome da família a todo o custo. Por “fotos muito queridas” refiro-me às suas fotografias de...promoção. Material para maiores de 18 anos, atenção. E quanto ao número de telefone, nem pensem! Finalmente e para encerrar este momento menos “transparente” da saga das primas, de agora em diante, será necessário que as candidatas a primas me enviem a árvore genealógica que prove o nosso parentesco. Para facilitar, aqui vão as alcunhas dos dois ramos da minha família: “Manguinhas” por parte do pai e “Pitadas” pelo lado da mãe Rosa.


Primas XXXIV



Querido Primo Luis Gaspar,

Vi o teu despudor em colocar no Facebook, com comentários chistosos e de mau gosto, a minha vida privada com o Sr.Prior, meu defunto marido.
Que era velhaco e depravado eu sabia-o já há muito. Não, não era por paixão pura e devastadora que ele filou a galdéria, mas por lascívia de padralheco viciado, atirado para "aquilo" numa pensãozita imunda, a cheirar a desinfectante, de uma viela lisboeta. Não há como o seminário para fazer completos "workshops" de luxúria tão profetizada bíblicamente, saindo deles a filar meninos e meninas .
Escusavas de ter falado no pó de vidro, com que o pus de olho vidrado revirado para o céu e a perna a escoicear, para meu gáudio e vingança. Tantas vezes me coçou com ela, pé branco em peúga barata, já sem o sapato, sob a a camilha da mesa da braseira das nossas Titis, Carmina e Elisa, numa dengosice pelo pêlo das minhas pernas virgens e tremelicantes! E como aquilo, nessa altura, me parecia penas de anjos num cântico de doçura todo divinal! As peúgas, essas, eram compradas religiosamente uma vez por mês à Tia Micas Cigana, na tenda armada na feira mensal da aldeia.
Ó meça, Primo, que idéia é essa de querer saber como namorámos? Credo! Como todos o fazem! Nós, na sacristia, numa penumbra com cheiro a estearina, ambos de saias alçadas, providencial esconderijo aquando da entrada das beatas sonsas, que nos fitavam a olhar de esguelha, entre o invejoso e o desejoso. E o meu Vigário vigarista ia assim roubando às mãos cheias em plena sacristia tudo o que nos tornava pecadores sem remissão. Renegou a Fé?!!! Qual quê! Persignava-se sempre e com devoção antes e após o "mortalíssimo". Isso, sim, enternecia-me e muito! Não tinha um coração totalmente empedernido!
Bem se vê que o mister do Primo o obriga a mentir! Porque é que disse que eu fugi para a Austrália e estava viúva?! Faça o favor de emendar que vivo no Entroncamento e me aconcheguei, ou melhor, me amancebei, com um carniceiro de grande porte e andar imperial de um homem da matança. Este meu segundo está habituado a mexer e remexer em carne e de tanto a ver não a aprecia muito, enquanto o meu primeiro, menino débil e pálido saído da clausura seminarista, gostava de chicha boa e atirava-se a ela como um tigre esfomeado.

O meu segundo afia as facas e esquarteja os animais com uma tal perícia e brilho no olhar, que, muitas vezes penso se não irei pagar o pó de vidro com uma facada no pescoço, como se galinha fora! É que Deus vigia tudo e essa do vidrinho moído traz-me amedrontada!
Soube das suas andanças lá para essas bandas do Facebook pelo filho do meu Quitério Carne Fresca (alcunha da família tornada apelido) e não gostei nada!
Peço-lhe que tenha modos, Primo! Não faz parte da nossa Família andar a espalhar  inconfidências, nem em alterar-lhes a verdade. O meu primeiro, o Vigário vigarista já se finou. O outro, o meu segundo, de nome Quitério, ainda está vivo, maneja facas, não é para brincadeiras e para actuar nem o avental sujo de sangue retira. Avança e atalha. Cuidado!!!
Sem outro assunto, me despeço Primo.
Prima Flausina


Primas XXXIII

Este mundo das primas é um universo fascinante. Ainda na semana passada tive o enorme prazer de saber da existência de uma prima, a Flausina. Um verdadeiro achado, sobretudo por ter sido casada com um ex-cónego embora não adiantasse pormenores sobre qual era o lugar do senhor na hierarquia da Santa Madre Igreja, na altura do namoro. Será que ainda servia o Senhor e já pecava?
São muitos os casos de padres que abandonam, senão a fé, o hábito, para se casarem. Mas essas, não são as histórias picantes. Interessante é mesmo conhecer os pormenores do namoro, antes do abandono da fé, tal como se havia jurado, deitado no chão junto ao altar, com a família a assistir.
 
O meu espírito tabloide levou-me a pedir à prima Flausina, durante o cafezinho que fui beber com ela, uma destas noites, informação sobre os seus tempos de namoro com o senhor cónego. “Nem uma palavra”, sentenciou. 
E continuou, “Já te posso dizer, porém, que o senhor deu em canalha e andou metido com uma lambisgoia cuja foto te vou enviar. Imagina que lhe deu uma macacoa quando estava com ela, na cama, numa reles pensão de Lisboa. Ainda pensei em demandar a miúda na Justiça, mas desisti. Afinal o malandro era ele e ela até podia ter caído naquilo por paixão. Dizem que as miúdas andam, cada vez mais, com homens muito mais velhos…
Já agora, a que atribuis isso?” - atalhei. 
Procuram a experiência, julgo eu!” - respondeu de imediato e acrescentou “Dizem que os putos andam muito por baixo. Até já usam vigara”. 
O engano no nome da pílula milagrosa leva-me a pensar que a Flausina não tem razão. Já quanto ao resto da história…não sei. Ela é viúva.
“Depois de sair do hospital deixei-o voltar para casa, mas o pó de vidro faz milagres.”
Juro à fé de quem sou que nem sob tortura revelarei às autoridades a identidade da minha prima Flausina.
A miúda, depois do escândalo foi viver para a Austrália. Sempre a Austrália. Porque será?  


Primas XXXII

Haverá quem pense que esta carta foi escrita por mim. Asseguro-vos que não foi! Veio mesmo da Flausina.

Querido Primo Luís Gaspar,
qqqqqEu sabia! Eu sabia, que éramos primos!!! Por intuição, desde o primeiro momento o soube – o seu cabelo negro, o seu bigode farfalhudo, a sua raposa simbólica – havia nesses pormenores algo que me indicava uma similitude qualquer, um genes comum, alterado um pouco – é certo – mas familiar!...
E eis que ao ler sofregamente a carta da prima Filomena, no meu cérebro a aurora boreal fez-se com uma acutilância sem precedentes e eu dei um salto da cadeira e lancei o meu grito de Ipiranga esganiçada de entusiasmo: é ela!!! é ela!!! A prima Méninha, aquela grande e torneada superfície do costado, a cabeleira de carvão presa com o mesmo gancho de sempre (quer para casamentos, baptizados, funerais ou bailaricos) e a mesma blusa arranjada pela Eufrosina costureira, com o véu da missa da Avó do Facebook, para precisamente ir à celebração do meu casamento com o ex-Vigário da terreola, todo dado a encostos e apertões, entre palavras em latim que me excitavam.
A Méninha é uma menina sem grandes arroubos, lenta em tudo o que faz, toma pouco banho e come sempre dois pratos de sopa. O marido, repete tudo – mesmo tudo! – até o arrotar, e atazana-a antes de dormir e depois com as roncadelas de porco na matança.
Quando ela falou na prima Flausina, minha alcunha, por ser irrequieta e desvairada, sempre para a frentex, e nunca de costas (recalcamentos da professora primária que a castigava sempre assim), fiquei estupefacta! Não precisei de pesquisar a árvore genealógica – inopinadamente o parentesco caiu-me de uma carta e de uma foto de uma menina de costas. A Vida tem destas coisas curiosas, quase parecem bruxedo!!!
Ainda me não recompus da alegria de nos sabermos todos primos! O Luís, a Filomena e a Flausina, que sou eu.
Peço-lhe, portanto, a sua interferência a favor da nossa prima em apuros, que puxa mais ao seu lado, do que ao meu, clarinha como o meu vigário me costumava chamar em momentos íntimos.
Sabia que a Filomena assim foi chamada porque teve por Madrinha Stª Filomena, muito venerada então e cuja Avó facebookiana sentia indícios de cheirinhos celestiais? Só que, um Papa mal humorado e preferindo os bons perfumes de Versace, achou que ela não era santa e vai daí saneou-a da grande lista de intermediários de Deus, tirando-a dos altares e passando-a ao seu destino laico! Uma injustiça? ou cortes nos números de funcionários intermediários divinos, por questões financeiras? Essa é que é essa!...
Primo! Por favor, faça por esta morcona algo que a ajude! Caramba, mesmo de costas, sempre há-de fazer algo de válido, nem que seja a pintar paredes!...Isto foi jeito que ganhou – com o tempo corrige!
De antemão lhe agradeço a boa vontade e me subscrevo sua prima de recente data,
Flausina
P.S. Não envio fotografias. Porque não.


Primas XXXI

Transcrita, tal como a recebi, mais vírgula, menos vírgula:

"Primo.

Não sei se é mesmo meu primo, mas a minha avó que passa o dia agarrada ao Facebook diz-me que sim, porque ela era prima do seu pai, antes dele sair de Ancião para vir fazer a tropa, em Lisboa. Ela disse-me para lhe escrever e contar um bocado da minha vida. Não sei se a minha história lhe vai chegar porque não percebo muito desta coisa de computadores.
Sou nascida no Porto e miúda vim para Lisboa para casa da minha avó. Pesava demais na família e a minha avó tinha um bom emprego, era empregada nos correios que havia ali para o Rato, era solteira e sem filhos. Era numa esquina e eu ia lá ter com a minha avó, muitas vezes, aos correios.
Devia ser no Rato porque, às vezes, da manhã ela pedia-me para ir às compras na Praça do Rato. A minha avó contou-me que havia lá, dantes, um aleijadinho numa cadeira de rodas e que a minha avó dizia que era muito rico, que emprestava dinheiro às pessoas. Sou casada não há muito tempo e já tenho uma menina que se chama Alexandrina. Vai ser muito mais gira que eu. A minha avó disse-me que lhe falasse das relações íntimas com o meu marido mas eu acho que não vou falar. Ainda por cima não tem nada para contar. Tive uma filha e não sei muito bem como a fizemos, eh, eh, eh. Costumo dizer, quando se fala nessas coisas, que gostei mais de tê-la do que fazê-la, eh, eh, eh. Acho que a poesia que já vi na televisão, dita pela Odete Santos, aquela da Luísa sobe sobe, tem muito a ver comigo. Adoro ouvi-la. Então, aquela parte do marido, é mesmo assim, comigo.
Trabalho para o tio Belmiro numa das suas minas de ouro. Sou uma das raparigas que põe os produtos em falta, nas prateleiras. É um trabalho chato e mal pago e se o primo souber de uma coisinha melhor, espero que me ajude. Não sei onde está a graça da minha vida, mas se a quiser dar a ler, esteja à vontade. A minha avó disse-me para lhe mandar um retrato. Mando um de costas para não ser gozada pelas minhas colegas do Continente e pelas minhas vizinhas aqui do bairro. Foi tirado sem eu dar por isso, no casamento da minha prima Flausina, é alcunha, que, quem sabe, também é capaz de ser sua prima, eh, eh, eh. Vou falar com ela.

Beijinhos da Filomena.


Primas XXX




Daqui e agora, um pedido a todas as minhas queridas primas: “Por favor, não me enviem mais fotografias e biografias das primas de antanho. Não que as não queira publicar, mas porque já são muitas e as vivas estão à espera da sua oportunidade de aparecerem aqui, no Facebook e na Truca. Primas enterradas, flores nas suas campas e cuidemos das vivas. Assim, encerro, por agora e nos próximos tempos, a referência a primas já desaparecidas, apresentando a minha prima Alzira e o seu marido Ezequiel.

Um dos episódios referenciados da atividade da Carbonária, organização secreta de decisiva importância na implantação da República, foi uma explosão verificada no quarto do escritor Aquilino Ribeiro que provocou a morte a dois conspiradores que, na altura, fabricavam bombas. Foram encontrados dois corpos, mas nunca se soube quantos elementos estavam envolvidos na ação.

Acabo de saber que um elemento que saiu ileso era, nada mais nada menos, que o marido da minha prima Alzira, o Ezequiel. Na altura, em resultado desses acidente, Aquilino teve de emigrar para Paris, Ezequiel e Alzira partiram para Londres.
Pouco se sabe sobre a vida do casal, em Inglaterra. Ezequiel, exímio em engenhocas montou uma pequena fábrica de bicicletas cuja vida não foi longa. A existência da fabriqueta foi conhecida pela família, em Portugal, graças a esta fotografia.
Do casal nada mais se soube, embora existam algumas suspeitas de que na origem do alheamento da Realeza Britânica, com o que aconteceu em Lisboa a 5 de Outubro de 1910, está o trabalho deste casal, bem colocado, não se sabe como, no meio aristocrático da altura.

Linhas com que se coze a História e que não deixam rasto. Uma pena. Tenho muito orgulho de ter na minha árvore genealógica uma mulher que lutou pela Implantação da República embora, para salvaguardar as memórias familiares termine por dizer “qualquer semelhança entre estas personagens e a realidade é pura coincidência”.

Obrigado, Josefa, por me teres dado a conhecer a Alzira e o Ezequiel!


Primas XXIX




Como em muitas outras coisas na vida, o mal é começar. O mal ou o bem! Isto, a propósito da prima de que falei na semana anterior. O facto de ter apresentado uma prima do início do século passado despoletou o entusiasmo das primas mais novas, para a busca de primas de antanho. Já me chegaram às mãos as histórias de duas delas, curiosamente, mulheres que deixaram o país, num tempo em que a mulher mal podia pôr o nariz de fora. Uma, a bonita Prazeres, ainda jovem, a caminho da Austrália e Fortunata, essa a fazer, também, uma vida aventurosa, mas em Londres.
Falemos, hoje, da Prazeres.

Em circunstâncias impossíveis de investigar, a Prazeres viu-se empurrada para fora do país. Amores infelizes? Dificuldades financeiras? Aborto descoberto? Ligações à Carbonária? E eis que a Prazeres, aproveitando a passagem por Lisboa de um barco carregado de degredados ingleses, a caminho da Austrália, sobe a bordo, como passageira, seguida de um galego carregando a sua mala de porão. Nesse navio viajava, a caminho do degredo, uma alta figura da nobreza inglesa que, pelo seu estatuto, tomava as refeições à mesa do capitão. Prazeres, como única mulher a bordo era senhora do mesmo privilegio. À mesa se conheceram, escondidos num qualquer recanto do navio, se amaram. O Lorde, tratava-se de um Lorde, dizia-se, fora repelido pela fogosa Rainha, depois de alguns meses de encontros secretos. Numa noite de muitos cálices de Porto à mistura com muito uísque escocês, no seu clube, dera com a língua nos dentes e, por isso, caíra em desgraça.
Estas informações constam de uma carta que Prazeres escreveu a sua mãe, curiosamente, com a data de 5 de Outubro de 1910. Contava pormenores do seu casamento com o Lorde, personagem que conseguira transferir para a Austrália grande parte da sua fortuna, incluindo, pedra por pedra, a casa senhorial.
Na carta, vinha a fotografia que apresento com esta pequena crónica testemunhando a ousadia de Prazeres. Uma vida de aventuras que não havia de terminar senão depois de mais dois casamentos. O segundo marido foi enforcado e o terceiro perdeu-se no mar em circunstâncias não esclarecidas. Prazeres morreu durante a terceira viuvez, com um ataque de apoplexia, nos braços de um gentleman, íntimo, durante um recital operático do célebre Beniamino Gigli, em Sidney.


Primas XXVIII




Acabou-se o pesadelo. Se há coisa com que embirro é com o odor bafiento dos tribunais e a desinfetante dos hospitais. Estive à beira de ir cheirar o dos primeiros devido à pouco digna ação interposta por uma das minhas primas. Duas delas já haviam desistido.
O destino esteve a meu favor quando me levou a Coimbra, ao escritório da advogada que haviam contratado para discutirmos as questões relacionadas com as indemnizações. Daí para um almoço no Trovador com vista para a Sé Velha e noutra altura para o Pedro dos Leitões na vizinha Mealhada, foi o salto de uma pomba branca. A Pomba da Paz. Finalmente, o jantarinho e a noite passada na sua casa da aldeia onde decidimos não continuar com as sessões de boa comida dado os compromissos familiares de um e do outro. Adiante. Assunto arrumado e de boa memória. A prima vai ter de arranjar outra advogada.
Correu célere, entre as minhas raparigas, a notícia de que já não ia haver tribunal e das mensagens recebidas destaco esta: 
 
“Querido Zé Luís,
Fico muito feliz que a parva da Carmencita se tenha esquecido do teu charme e não soubesse das “fragilidades” sentimentais da sua advogada. Boa malha! Aproveito para te falar de duas primas, gémeas, da minha bisavó, nossas, portanto. Se quiseres fazer um artigo sobre elas, mandar-te-ei mais elementos. Por agora, ficas a saber que foram duas jovens que deixaram o país para irem estudar, não sei o quê, para Paris. Na altura Paris era o centro do Mundo. Uma casou com um membro da família Peugeot, sim, a dos automóveis e acabou mal, a outra enamorou-se de um carpinteiro e viveu feliz até aos 101 rodeada de netos e bisnetos. Porém, o que delas ficou na família como mais memorável foi o facto de terem ganho, em Biarritz, um concurso de beleza em fatos de banho, acontecimento que as tornou famosas em toda França. Mando-te uma fotografia delas que correu mundo. Beijos, muitos.
A tua Prudência.”
 
Já pedi à Prudência que me enviasse tudo o que tivesses sobre as velhas primas de França. Um dia voltarei às gémeas vencedoras de um concurso de fatos de banho em Biarritz. Fica prometido.


Ainda o interregno

Recebi, esta semana, duas mensagens que passo a transcrever com a devida autorização das autoras.

"Caro primo José luís,
Como sabes, retirada do mundo, ficou muito reduzido o meu interesse pelos eventos que por lá se passam e aumentou pelas coisas da alma, do infinito, enfim, de Deus. Daí ter estranhado, na altura, a visita da nossa prima Carmencita, até porque, como sabes. ela vive em Espanha. Teve uma longa conversa comigo sobre as suas intrigantes viagens a todos os cantos do mundo para executar trabalhos que nunca percebi com clareza. Cheguei a pensar que era uma espécie de secretária de direcção temporária ou, imagina, uma massagista famosa. Não percebi, nem tive curiosidade. Já no fim da sua visita e quando eu estava já meia tonta de tanta viagem e tanta gente, veio-o com uma conversa pouco abonatória para ti, acabando por me pedir autorização para juntar o meu nome ao de outras familiares nossas numa acção qualquer. Já cansada de a ouvir, disse que sim, sem medir exatamente para que ele iria servir. Foi, dias depois, ao receber uma carta da advogada (...) que me apercebi do disparate em que me tinha envolvido. Isto para te dizer que o meu nome deixou de constar entre aqueles que te querem prejudicar.
Respeito-te muito, incluindo o seres agnóstico. A Ele terás de prestar contas, não a juízes da Terra.
A tua prima que se assina
Celeste Noiva do Senhor"

Segunda mensagem:


"Luízito,
Estou mesmo envergonhada! E tu sabes que não me envergonho com facilidade. Só quando li a carta da advogada, que publicaste na semana passada, me apercebi da tremenda injustiça que te está a ser feita. Tu, que tanto te tens preocupado em divulgar as qualidades e alguns defeitos, das tuas primas, agora a teres que responder pelo bem que lhes tens feito. Então, eu, no meu caso que até te enviei algumas fotografias "ousadas" para ofereceres a quem tas pedisse....ir agora protestar em tribunal com aquelas acusações bacocas. Se a advogada referir o meu nome como tua "acusadora" manda-a dar uma curva ao bilhar grande.
Sempre tua,
Gaby"

Fui convocado pela Sra. Advogada (...) para uma reunião, em Coimbra, na semana passada para uma tentativa de reconciliação. Pensei ir de manhã e voltar à noite. Projetos furados: estive em Coimbra, dois dias e três noites. Foi complicado encontrar uma desculpa, aqui em casa, para tão longa ausência. Ia jurar que as (restantes) primas vão ter de contratar outra advogada.


Outro interregno nas "Minhas primas"





Como se diz em bom vernáculo, "estou f….." com todas as letras!
E porque o estou atrevo-me a usar esta linguagem desbragada e pela qual peço já desculpa. Mas, é que estou mesmo e desde já apelo à ajuda das minhas amigas advogadas. Prefiro profissionais do sexo feminino e já vão perceber porquê, depois de lerem a carta que acabo de receber de uma senhora advogada cujo nome não quero, ainda, divulgar.

Coimbra, 16 de Setembro de 2010

Exmo. Senhor
José Luís da Costa Gaspar
R. da Raposa - Casa Barra Azul
Aiana de Cima
SESIMBRA.
Exmo. Senhor,

(…) de 45 anos de idade, solteira, BI (…). com escritório em Coimbra, na Rua (…), advogada doutorada pela Universidade desta cidade e inscrita na Ordem dos Advogados com o nº (…), venho pela presente e para os devidos efeitos, informá-lo que acabo de ser nomeada assistente de cinco senhoras, por si denominadas "suas primas" e cujas identidades seguem em anexo, para a preparação de uma ação judicial que lhe será intentada. Tal ação judicial, imposta por motivos de difamação pública das ofendidas, baseia-se, essencialmente, nos seguintes pontos sem prejuízo de outros a apresentar oportunamente:

1º Divulgação da vida privada das ofendidas em lugares públicos com larga audiência.
2º Ofensa grave às convicções morais, sociais e até religiosas, das ofendidas.
3º Sugestão de manter relações íntimas com as ofendidas que não correspondem minimamente à realidade e que, em alguns casos, puseram em perigo os seus matrimónios.
4º Invocação de laços familiares falsos e abusivos.
5º Atribuição de profissões às ofendidas que não só não correspondem à realidade como se tratam de atividades ilícitas e, nalguns casos vergonhosas e atentatórias à honra das ofendidas.
6º Reprodução pública de conversas telefónicas que, ou não existiram ou foram transcritas erroneamente e sempre sem autorização das ofendidas.
7º Publicação de fotografias das ofendidas sem autorização das mesmas e em alguns casos com indícios de nudez, inaceitáveis e ofensivos.
8º Corresponsabilidade com alguns comentários ofensivos que as suas revelações provocaram de participantes dos lugares onde as ofensas foram cometidas.

Não seria necessário, nesta fase do processo, referir os media públicos onde as informações falsas e difamantes foram divulgadas, mas para que não restem, desde já, quaisquer dúvidas, serão assinalados o pasquim eletrónico denominado Truca e a rede social de duvidosa honorabilidade conhecida por Facebook. Os comentários, sobretudo neste último suporte, proferidos pelos leitores das suas diatribes serão também sujeitos a análise e presumível ação criminal.

Desde já, também, é informado das indemnizações em dinheiro ou em espécie, exigidos pelas minhas cinco clientes cujos valores ou tipo de espécie segue em anexo.

Sem outro assunto de momento,
(…)

E agora, meus caros amigos? Querem ver que a minha pobre reforma vai ser penhorada? Já para não referir que, no caso desta ação ser dirigida por uma juíza feminista da velha guarda, me arriscar a alguns anos de prisão.


Interregno nas "Minhas primas"




“Fiquei sem palavras” - muleta muito usada quando não se sabe o que dizer. Foi o que me aconteceu com a mensagem que recebi de uma psicóloga cujo nome não estou autorizada a revelar.

Caro Luís Gaspar,
Antes de enveredar pela Psicologia, passei pelo IADE, onde a sua Truca era muito popular. Ficou-me o vício de a seguir semanalmente e não vejo razão para evitar a dependência.

Tenho acompanhado com curiosidade e interesse profissional (preciso de saber o que os homens pensam das mulheres) a saga das “suas primas” e, sobretudo, os comentários que suscitam no Facebook. Porque entre os meus doentes predominam as mulheres com mais de 50 anos, reparei que a sua última “prima”, a Ofélia, não despertou, no Facebook, o entusiasmo da Felina, a prima que pregou uma grande sova no marido violento.

As mulheres, exageradamente inebriadas com as suas vitórias pela igualdade, agem em bloco quando algo as favorece nessa luta, remetem-se a um silêncio amuado quando se lhes recorda o passado de acomodação e menoridade. Esqueceram-se de que ainda há poucos anos eram assustadores os números de mulheres que não sabiam o que era um orgasmo, que nunca tinham tocado com as mãos e muito menos com a boca no pénis dos “seus” homens e que desconheciam que elas também têm o seu pénis. Convém, aqui, referir que nem eles tocavam nas vaginas das “suas mulheres, menos ainda com a língua.

É convicção minha que teriam, também, ficado “chocadas” com os “calores” que, agora, chegam à Ofélia em resultado dos contactos, no Facebook, com homens diferentes daqueles com quem viveram toda uma vida de ignorância, renúncia ou das duas coisas. Não se surpreenda com a falta de comentários à apresentação da Ofélia. Para melhorar a auto-estima das minhas clientes, procuro sempre detectar a existência desses “calores” e descoberto o “carburante”, incentivo-as a passarem a factos logo que possível mesmo que não passem dos preliminares. A qualidade de vida depois dos 50 não é conseguida, apenas, com pastilhas para a menopausa, dietas e anti-depressivos. O desfrutar do próprio corpo, assim como o gozo em usar o dos outros, mesmo que prazer tardio, é o melhor tratamento para a pele e para as depressões.

Bem haja! Um abraço desta sua velha admiradora.
P.S. Peço-lhe que não publique esta minha carta.


Inconformado com este post scriptum, consegui demover a minha correspondente. Autorizou-me a publicação.


As minhas primas XXVII

Não é a primeira vez que sou acusado de que todas as minhas primas estão relacionadas com sexo. Como se as primas não fossem, enfim, não fossem...mulheres!
Para mostrar que isso não é verdade, que melhor prova do que uma crónica sobre a prima Ofélia?
 
Ora bem, a Ofélia é uma prima acabada de chegar aos 50 e que, mesmo à vista desarmada, tem muito menos idade. “Poupei-me”, diz ela com um largo sorriso quando lhe assinalo a virtude. Pequenota, loira, corpo enganosamente franzino, peito farto, garante que o sexo entre ela e o “querido maridinho”, o Nilas, que raio de nome, nunca foi prioridade. “Ele não é muito dado a essa “coisa” (ela pronuncia “coisa” de uma forma assaz curiosa, daí as aspas) e quando aconteceu foi mais por iniciativa minha porque me deu na cabeça termos um filho”.
Quando perguntei à Ofélia se sabia o que era o clímax do amor, respondeu que, se era o que ela ouvira falar, nunca! Até sentia algum incómodo físico, mas tinha uma virtude; depois da “coisa”, o marido voltava-se para o lado e caía a dormir que nem um anjo. E ressonava. Ela adormecia no embalo do ressono, a pensar se seria dessa que lá tinha ficado um menino ou uma menina.
Nunca por lá ficou menino ou menina e ao fazer 35 anos, casara aos 25 “como manda a regra”, deixou-se de mais tentativas por achar que a “coisa” não tinha graça nenhuma e o Nilas estava sempre com dor de cabeça, exceto quando tinha um copito a mais.
Preservativos?
Para quê se ela queria um bebé! Sim, comprara uma caixa há uns anos, mas ainda lá estava, por abrir.
Já deve estar fora de prazo. Também não sei como é que aquilo se usa e duvido que o Ni, soubesse”.
 
Mandei este texto à Ofélia. Devolveu-mo um mês depois com esta nota: “Acho bem. Já agora aproveito para te dizer que, tal como me aconselhaste, entrei logo no Facebook. Não foi difícil. Gostava que me explicasses porque é que sinto um calor por mim acima quando leio as palermices de um amigo que por lá arranjei. Se tem a ver com o tal “climax do amor” não há perigo porque ele já não é nada novo!”
 
Cá com os meus botões: haja esperança! Cinquenta, é uma bela idade na vida de uma mulher, para começar! Ela não sabe que o “nada novo” é meio caminho andado para lá chegar! O “Ni” não pensa em mais nada senão no sofá, amendoins e futebol e adora o frango de cabidela da Ofélia, receita que lhe dei, era ela garota.


As minhas primas XXVI



Não sei se sou ateu, se crente. Durante os meus primeiros anos de vida e sabemos como eles são decisivos, nunca me disseram que se não comesse a sopa ia parar ao Inferno, ou que se repartisse o papo-seco com o pobrezinho, ganharia o Céu.
Daí em diante e até hoje, nem nos bons, nem nos maus momentos, recorri a Deus, a Seu Filho ou à Pomba, quer para agradecer, quer para pedir ajuda. Não nos conhecemos, simplesmente.
Daí, o meu enorme cuidado ao falar de Religião, seja ela qual for. Por isso, também, o uso de pinças e luvas brancas para perorar sobre a minha prima Celeste Maria, um dos poucos nomes decentes na família, e da sua atual vida dedicada a bem pertencer a Cristo.
A Celeste Maria, desde criança, foi notado por todos, era uma menina...diferente. Ou não seria estranho que, em vez de brincar com as outras garotas, passasse horas, ajoelhada, cotovelos apoiados na camita, a rezar Padres Nossos e Aves Marias que aprendeu, não se sabe como, aos três anos de idade?
Cedo começou a acompanhar as brigadas que, pela noite, distribuem ajuda aos sem-abrigo. Depois, a pouco e pouco foi passando a noite com eles. Mais tarde, saltou de namorado em namorado, sempre rapazes portadores de sida.
Certa manhã, quando, ajoelhada diante da Cruz, agradecia a Cristo o nunca ter sido infetada pelo vírus, ouviu uma voz dentro de si que, garantiu-me mais tarde, lhe dizia: “Poupei-te à doença para que fosses minha. Chegou o momento de abandonares o mundo e vires a meus braços!”
A Celeste, com o nome de Celeste Noiva do Senhor, entrou aos 32 anos para uma congregação religiosa que, por motivos óbvios, me escuso a identificar. Um dia, recebi uma carta sua em que me pedia para recitar um poema do livro “Novas Cartas Portuguesas” escrito pela “Três Marias”, Maria Isabel Barreno, Maria Teres Horta e Maria Velho da Costa.
O senhor e a senhora que me estão a ler, se se acharem espíritos fortes, ouçam o poema AQUI.
Eu avisei!


As minhas primas XXV



Gaby, em Cannes, Virgiliana por cá, se isto é nome que se ponha a uma menina que, desde a nascença, é de uma grande beleza.
Hesitei se havia de contar a história da Gaby. Não por ela, que me deu “plenos poderes”, mas pelos meus leitores.
Quando comecei a escrever estas notas sobre as minhas primas tudo se podia badalar porque, para além da menina da receção do meu dentista, ninguém mais sabia da existência destas primas. Agora, a coisa mudou. Críticas e aplausos voam do Facebook para a Truca e volta, numa violenta corrente de ar.
Peguemos o boi pelos cornos: a Gaby exerce a, erradamente considerada, profissão mais antiga do mundo: prostituição.
Pronto, está dito! Quem quiser continuar a ler, faça favor, quem não gosta, o postigo está aberto. É só meter a mão e levantar o trinco
A Virgiliana, depois de terminar o secundário com aproveitamento assim-assim, falhou a entrada no curso que queria seguir: gerontologia.
Influenciada pela paixão do pai pela França, partiu para Paris. Depois de “servir” na casa de um político conhecido pelas ligações ao negócio das armas com Angola, não sei o motivo foi posta rua. Com o dinheiroto amealhado, também não sei porquê, nem ela sabe, foi parar Cannes. Sem trabalho, sem dinheiro, dias depois não tinha onde cair morta. Lembrou-se, então, das últimas palavras do pai quando deixou Lisboa, no Sud: “Quando precisares de dinheiro não procures os pobres”.
Entrou numa loja de roupa cara, roubou um vestido e foi para o Casino. Quando um senhor que perdia e ganhava fortunas lhe perguntou o nome, respondeu: “Tenho fome”.
Nessa noite dormiu no iate de um armador grego onde viveu cinco meses de sonho e aprendeu marketing de prostituição de luxo.
Tenho um amigo num departamento de gestão de fortunas de um banco suíço que, um dia, sabendo da minha relação familiar com a Gaby, me disse: “Menino, não imaginas a fortuna da tua priminha!”
Quando enviei, por email, este texto à Gaby ela mandou-me um ramo de orquídeas onde vinha um cartão que dizia: “Nunca tanto foi dito em tão poucas palavras. Segue, por correio, um pacote de fotografias minhas para enviares a quem te pedir.”


As minhas primas XXIV



Felismina, na família, é a Felina. A alcunha caiu-lhe em cima quando a sua energia para a ginástica espantou todos. Mas tarde, como se verá pelos acontecimentos que se seguem, o nome tornou-se ainda mais merecido.
A Felina conheceu o Gregório nas lides do desporto. Ele, grande, mais enorme que grande, andava pelos pesos e alteres e ela, uma passarinha voadora, nos seus desempenhos com bola e arco. Nunca percebi como se entendiam na intimidade dada a desproporção física. Porém cada um sabe as linhas com que se cose e ninguém tem nada com a altura do fogão ou o tamanho da panela. A partir daqui, dou a palavra à Felina.

“O primeiro ano de casamento decorreu benzinho embora já com alguns sinais. Começou por me empurrar com violência que foi crescendo, depois a esbofetear-me e finalmente a socar-me. Não fora a minha agilidade e, muitas vezes, poderia ter-me ferido com gravidade. Estranhamente, a nossa vida sexual decorria em boa onda o que me levou a alguma desculpabilização. Coisas de mulheres. Até que a certa altura tomei a decisão de acabar com a tortura. Delineei a estratégia, estabeleci os prazos e iniciei o trabalho. Marquei a cena final para o dia do segundo aniversário de casados. E assim foi.
“Ao menos podias dizer-me uma palavra simpática, fazemos hoje dois anos de casados”, disse-lhe eu para o provocar. A resposta foi a esperada: “Sua merdas, levas é nessas trombas”. A mão veio na minha direção. Apanhei-a, torci o braço e ouvi o osso a quebrar-se. Deu um urro assustador, mas como era forte, alçou a perna para me pontapear. Aparei o golpe, torção forte lateral e de novo se ouviram ossos a estalarem. Caiu de focinho no chão espirrando sangue. Fui buscar o revolver, voltei-lhe a cara, enfiei-lhe o cano na boca até o engasgar e disse com a voz mais suave deste mundo: “Se te aproximares de mim a menos de cinco metros, encho-te o bandulho de chumbo.”
Chamei o 112, disse que ele tinha caído pelas escadas. Acreditaram apesar de não haver escadas à vista. O que não disse, claro, foi que tinha andado a fazer artes marciais durante o último ano.”


As minhas primas XXIII




E a questão era: escrevo sobre a prima Maria, serva de Deus, a prima Paulette, famosa prostituta no Porto ou sobre a Miquelina?
Coloquei a questão no Facebook, mas as sugestões das "amigas" e dos "amigos" não foram esclarecedores. Quando assim é, manda o bom senso ficar pelo meio termo, ficar pela água-pé.

A Miquelina é, digamos, transparente. No meio de um grupo só se dá por ela se espirra ou boceja ruidosamente, coisa, aliás, que nunca faria de livre vontade.
A Miquelina, quando se lhe pergunta se quer café, ir para os copos, ao cinema ou a pedimos em namoro, responde sempre, “talvez”.
A Miquelina não teve namorado que se visse nem nunca entrou numa igreja, excepto no dia em que foi baptizada e quando fez a Primeira Comunhão. Já não foi capaz de fazer a Segunda.
A Miquelina sua muito das mãos e, por isso, estende a bochecha ao cumprimentar as pessoas. Gesto que lhe tem causado alguns dissabores como quando foi apresentada ao Bispo do Porto.
A Miquelina quando está em fase de maior transparência gagueja um bocado e, com receio de que as pessoas a não entendam, canta.
A Miquelina lava os dentes várias vezes ao dia apesar de ter uns dentes lindos. Ou por isso. Quando se lhe assinala a beleza dos dentes, cora.
A Miquelina é a minha única prima que não me trata por “primo”. Um dia perguntei-lhe porquê. Respondeu-me dizendo que eu lhe faço lembrar o professor de grego que teve na Faculdade e que adorava. Concluí que ali mandou paixão e que esta, foi a maneira “transparente” de dizer que gosta de mim.
A Miquelina começa todas as frases por “eu…” o que poderia fazer pensar que não olha senão para o seu umbigo. Não é verdade. De olhos baixos olha, ou parece olhar, quando fala com um homem, parece, repito, que olha para onde uma menina bem comportada não deve olhar, mesmo que lhe apeteça.
É o lado desconcertante da Miquelina.
O "concertante", talvez, um dia venha a ser revelado...se ela autorizar!


As minhas primas XXII




O número de primas que me alegram a vida só é um mistério para quem não acredita na minha palavra. Pertenço a uma enorme família que tinha na procriação o principal projeto de vida. Façam o favor de não rir, sim?
Outro mistério que só o é por teimosia dos meus leitores refere-se à idade das minhas primas. "Ah, são todas novinhas, não pode ser!"

Não é verdade e a prova é a prima que agora vos apresento: a Felismina, com a linda idade de 89 anos e a quem sempre tratámos por Fefé.
A história da Fefé não pode ser contada em poucas linhas. Atrevo-me a selecionar, da sua vida, meia-dúzia de aspetos que a definem como uma mulher sempre muito à frente do seu tempo.

Deixou de depender economicamente da família quando, depois de aprender datilografia, se empregou como secretária de um administrador da Casa da Moeda, ainda ao tempo da Rua de S. Paulo. Aliás, é dessa altura a fotografia da Fefé, que vos ofereço.

Casou com o administrador porque, dizia, ele era muito liberal.
Vê-se pela fotografia.

Foi uma das primeiras mulheres a rapar os pelos da pernas e os púbicos no tempo em que ainda não havia lâminas. Navalha de barba, imagine-se o perigo!
Vê-se pela fotografia.

Foi uma mulher que nunca teve problemas em mostrar o corpo em tempo dos decotes subidos, saias compridas e moral beata.
Vê-se pela fotografia.

Foi uma das primeiras mulheres a cortar o cabelo "à garçonne" e a dançar o "charleston".
Vê-se pela fotografia.

Foi uma mulher linda, sobretudo ao gosto da época, rechonchudinha. Mais tarde, não sei como, adelgaçou as pernocas.
Vê-se pela fotografia.

Longos anos de vida, Felismina e vê lá se fazes feliz o teu atual namorado, um jovem com 75 anos. Ele pareceu-me bom rapaz quando mo apresentaste no Festival de Rock.
(Este texto foi escrito segundo as normas do Novo Acordo Ortográfico)


As minhas primas XXI

Ao telefone:

Belmira (Bel) - Zélito! Tu a telefonares? Que surpresa!
Eu - É verdade! Há muito que não te ligava. A vida…
Bel - A vida e as primas! Tenho seguido a saga.
Eu - Ainda bem. Facilitas-me o pedido.
Bel - Não digas que vais falar de mim.
Eu - Menina esperta!
Bel - E o pedido?
Eu - Para saber se estavas de acordo. Tenho tido algumas chatices.
Bel . Oh, querido, desde que não digas a verdade toda!…
Eu - Por exemplo?
Bel - Que eu fui casada com um Ministro.
Eu - A propósito, voltaste a casar?
Bel - Sim, com um Secretário de Estado.
Eu - Quem?
Bel - Ora, um tonto! Já acabou.
Eu - Davam-se mal onde se deviam dar bem?
Bel - Não, caiu o governo!
Eu - Ah!…
Bel - Mas acho que isto não é conversa para telefone.
Eu - Então?
Bel - Queres vir cá jantar, amanhã? Sei que adoras ostras.
Eu - Bem…
Bel - Estou sozinha!…
(Parei a gravação)


As minhas primas XX




A cena passou-se mais palavra, menos palavra, assim:

Dionísia (Di) - Não te perdoo! Não tens desculpa!
Eu - Mas, oh, priminha, eu quando escrevo uma nota sobre as primas, e tu não és exceção, não tenho um texto pensado ao pormenor, pronto a saltar para o computador.
Di - Ora, não me digas que fazes escrita automática!
Eu - Quase, quase. Limito-me a deixar que saiam as memórias que tenho de cada uma.
Di - Não me digas que não tens memórias de mim!
Eu - Vá, não sejas embirrenta...
Di - Mas tens ou não memórias de mim?
Eu - Oh, mulher, como poderia esquecer-te?
Di - Ora, vocês, homens, são todos iguais.
Eu - Vá, não sejas vulgar. Vales mais do que esses chavões.
Di - Tens razão. Há diferenças enormes.
Eu - Vês?
Di - Tamanhos, cheiros, peles, ternuras...
Eu -Vá, vá...adiante!
Di - Adiante, uma ova! Tenho muito orgulho nas minhas preferências. Sei escolher.
Eu - Pois...o teu professor de ginástica, o monegasco.
Di - Exatamente Fui fazer ginástica para Mónaco para estar com ele.
Eu - Eras uma miúda, Di!...
Di - Mas já sabia muito, meu querido. Ia bem preparada para ser aluna daquele professor...era cá um pão!
Eu - Eu sei que ias preparada. Aliás, na semana passada disse que tu sabias mais a dormir...
Di - Eu li, eu li. Bem podias ter sido mais específico!
Eu - Específico, como?
Di - Ora, começar por dizer que eu e o meu namorado praticamos e adoramos "swing"...

(Cai o pano)


As minhas primas XIX




Estou com um grave problema com as minhas primas. É a segunda vez que o digo, sim, meus senhores. Problema que nasce no meio delas, (estaria bem dizer "no seu seio?) e por isso, estou fora da carroça. Não é a primeira vez e não será a última que confesso a minha total incapacidade para me mover no mundo feminino. Tenho, inclusive, colocado o problema a várias damas, fora do grupo e dentro do grupo das primas e delas, nada vem de muito concreto. "Tu não as queres compreender", "tu tens é medo delas", "as mulheres são a coisa mais simples deste mundo", "para que queres tu compreendê-las", "bem lá no fundo, tens alma feminina" e etc., etc. São destas profundas ideias que surgem as explicações. Fico na mesma!

Ah, o problema! Fazem-me bicha à porta! Todas querem a sua oportunidade de aparecerem na Truca e, especialmente, serem divulgadas no Facebook. "E porque é que saiu aquela e a outra e eu fiquei de fora, porquê, deu-te alguma abébia? Não sei o que viste nessa lambisgóia para a promoveres. Ainda por cima com aldrabices."
E depois, discutem entre elas, acaloradamente, com um outro gritinho à mistura. Uma chegou a gritar-me aos ouvidos, o que eu detesto, "oh, filho, lê a Simone de Beauvoir a começar pelo "Segundo Sexo"!
Um dia destes estava a ver que desatavam à pancada. Lá se ia a compostura. Tentei acalmá-las dizendo que chegará a vez de cada uma e de todas; que ninguém gosta mais delas do que eu; que se não fosse casado, casava com todas; que embora já tenha idade para ter juízo, ainda sonho com elas todas as noites, duas de cada vez...

P.S. Esta é a Dionísia. Sabe mais de olhos fechados que eu com os anos todos e mais 4 casamentos e foi campeã de ginástica artística no Mónaco!

As minhas primas XVIII (Triste epílogo)




Vá lá um homem, nado e criado por vontade de Deus e beneplácito do Espírito Santo, perceber as mulheres!
Venho aqui, publicamente, denunciar a minha primeira desavença com uma prima. Tive outras (desavenças), mas coisa de somenos, sem dignidade para registo. Mas esta? Valha-me Deus!
Claro que estou a usar o Seu Nome em vão uma vez que Deus não me vai ajudar, coisa nenhuma! E não vai, não por eu ser uma ateu empedernido, ele é conhecido por perdoar aos seus inimigos, mas porque, também ele, tem dificuldades com as mulheres. A prova-lo está o facto de, compreendesse-as Ele e elas já teriam subido ao Trono do Vaticano sem ter de esconder as suas "vergonhas" como aconteceu com a Joana. Compreendesse-as Ele e não teria privado a Virgem Maria de ter saboreado as delícias do prazer carnal, pelo menos ao conceber O seu Filho. Com elas, só usou palavras duras a começar, ainda nos Jardins do Paraíso, com aquele "parirás com dor". Para já não referir a outra desconsideração que foi a de a ter feito a partir de um osso do homem.
E teve de ser o Homem, sabe-se lá se com a ajuda do figadal inimigo de Deus, o Satanás, a descobrir o erotismo, a interrupção voluntária da gravidez, a cesariana e o epidural.

Eh, pessoal! Mas nada de confusões! Adoro-as. Sonho, ainda, amiudadamente, com elas, durmo com uma na cama. (A exceção foi quando parti duas costelas e tive de dormir no sofá reclinável).
Um homem não é de pau...pelo menos toda a vida e há momentos em que nem a margarina ajuda. A Zulmira ultrapassou tudo o que uma mente masculina, também perversa, olarilas, possa imaginar. A tal ponto que não tenho coragem nem palavras para contar o que se passou com a Zulmira.
"Prontos" - como ela dizia ao tempo em que nos dávamos como anjos no Paraíso! O uso e o abuso do "prontos" dela era uma coisa que já me irritava um bocado, quem sabe se prenúncio do que nos veio a acontecer! Talvez escreva umas notas sobre este triste episódio, na minha biografia póstuma. A ver vamos.


As minhas primas XVIII




Estava eu a começar o texto sobre a minha prima Zulmira quando tocou o telefone. Um repórter de um conhecido jornal queria entrevistar-me sobre as minhas primas. Fiquei gago. "Ok...ok... a...vance" - disse-lhe.

Reporter ( R ) - As suas primas são muito conhecidas no Facebook. A que se deve essa popularidade?
Luís Gaspar (Lg) - Popularidade? Não dei por isso. Limito-me a referir alguns, poucos, pingos das suas vidas.
R - Como é que tem tantas primas?
Lg - Uma pergunta que terá de fazer às respectivas mães.
R - E porque são só mulheres?
Lg - Deficiências em vitamina E dos respectivos pais.
R - Namorou com alguma?
Lg - Namorei com todas. Mas elas não sabem.
R - São todas jovens. Não tem primas mais velhas?
Lg - As fotografias não são Bilhetes de Identidade.
R - Fica-se com a sensação de que todas as suas primas são solteiras.
Lg - Uma pista errada. Sou ciumento.
R - Porque é que nenhuma das suas primas está no Facebook?
Lg - São mais Second Life. Só há uma no Facebook, mas não vou revelar o nome.
R - É capaz de eleger uma, como a Prima Mais que Tudo.
Lg - Capaz, sou, mas não sou estúpido. Tenho alguns conhecimentos sobre psicologia feminina.
R - Isso existe?
Lg - Quer que lhe roube o gravador, ou quê?
(O homem deve ter-se agarrado ao gravador e desligou. A história da Zulmira segue no próximo comboio.)


As minhas primas XVII




A prima Susana, a Susaninha é uma linda menina. O lábiozinho arreganhado dá-lhe uma cor inegualável de marotice. Vive a pregar partidas à família e aos amigos.
Uma das mais famosas e que deu grande escândalo, foi quando enviou, pelo correio, uma caixinha à tia Francisca, senhora de Deus, que durante muitos anos, até as pernas e os bicos de papagaio permitirem, servira na Igreja da vila, por devoção. Que havia a marota de colocar dentro da caixinha? Nada mais, nada menos do que um vibrador, ainda por cima colorido. E que cor havia ela de escolher? O roxo do manto do Senhor dos Passos, o santo, grande paixão mística da Francisca. A tia, quando soube, pela sua jovem mulher-a-dias ucraniana, a utilidade de tal objecto teve um badagaio tal que a levou à beira de ir desta para melhor.
Só, mesmo, da Susaninha.

Para castigo, a minha prima, sua mãe, colocou-a, durante três meses, a prestar "serviço cívico", num lar de idosos. Outro escândalo.
Um velhote, utente da casa, apaixonou-se pela cachopa e diante da recusa desta em aceitar o pedido de casamento, tentou por fim aos seus dias, pendurando-se numa corda atada à cabeceira da cama, da qual se atirou, para o chão. Descobriu-se que utilizara como "corda" para a função, umas cuequinhas de fio dental que a marota lhe havia oferecido. Partiu uma clavícula e conseguiu que a minha prima retirasse a filhota do "serviço cívico" em lar de idosos.

Não é possível contar, aqui, o episódio do seu professor do 12º que se armou em engatatão de miúdas. Cheguei a ter pena dele.


As minhas primas XVI




Confesso.
Será uma questão genética ou cultural, a polémica persiste, mas entre as minhas primas, são vários os casos de homossexualidade. Mais feminina que masculina, vá lá saber-se porquê. A prima Efigénia é uma lésbica assumida, sem complexos, há muito tempo o que, ainda não há muitos anos, lhe criou problemas sociais e até familiares.

Curiosamente, comigo, "sempre se sentiu à vontade" como costumava dizer. "Tens um jeito especial para ouvires as mulheres" - acrescentava. Talvez essa "qualidade" me venha, desculpem a vulgaridade do sentimento de, tal como as lésbicas, gostar muito de mulheres. Desculpado? Então, adiante...Falámos, muitas vezes da sua condição sexual e até lhe confessei, numa das vezes, que tinha um gosto especial em penetrar nos sentimentos de uma lésbica.
Sempre, desde que se lembra, olhava com prazer para as mulheres, embora, nos primeiros tempos, ainda uma jovem, só tenha encontrado mulheres que embora respondessem ao seu interesse físico por elas, acabavam sempre por lhe pedir a utilização de dildos. Essa sexualidade indefinida desagradava-lhe e as relações duravam pouco tempo. Fez-me rir quando confessou que as suas primeiras "aventuras" a caminho da descoberta da sexualidade foram com o seu ursinho de peluche, curiosamente, com um laço cor-de-rosa.

Vai casar com a Carlona.
Que, ainda no dia anterior, lhe tinha perguntado quais eram as suas fantasias sexuais. Não lhe confessou que, muitas vezes, sonha ter relações sexuais com homens o que a deixa muito excitada, ao acordar.
Tenho, pois, em vista, assistir pela primeira vez a um casamento de pessoas do mesmo sexo. O que para quem entra com o cheque, não faz qualquer diferença dos "outros" casamentos. Espero que, em vez do cheque, não me peça um brinquedo sexual.


O meu primo Luís Gaspar




Mais do que certo surpreendidos pela reviravolta nas “Minhas primas” do Luís Gaspar. Desta vez quem “fala” é a sua prima Purificação Jesus. Há que explicar o motivo, não é?

Pois bem, eu conto (quase) tudo.

Dezanove de Maio, anos do primo Luís. Desde que me lembro e já vou nos 51, entrei, sempre, em contacto com o Luís, neste dia. Com uma única excepção; foi quando fiz o...bem, não interessa.
Este ano, voltei a ligar para o meu querido primo e ele surpreendeu-me com um convite. “Queres almoçar comigo?”. Não pensei duas vezes sabendo que a G. não tem minhocas na cabeça por saber o seu Zélito a almoçar ou jantar com as suas...primas.

Encontrámo-nos no recentemente descoberto restaurante do leitão, em Fernão Ferro. A afectividade habitual do meu primo com aquelas mãos a pousarem nos sítios certos, os beijos na testa e por aí fora, sempre com a mais descarada naturalidade, sem ponta de assédio indesejado. Bom, adiante...que estas "minudências" podem levar onde não devem.
Relatar a nossa conversa, as memórias, os desejos cumpridos e os que ficaram por cumprir, as saudades, as fofocas, é coisa que não cabe aqui.

O importante é falar do motivo que nos levou ao encontro. O meu primo, porque ia ter um dia agitado, pedia-me que controlasse, aqui, no Facebook, quem lhe dava os parabéns e com que palavras.
Diligente, atirei-me ao trabalho, mas quando a lista já ia nos 355 comentários, desisti de...tomar notas!
A criatividade das palavras de amizade para com o meu primo não tiveram limite. Amizade, apreço, amor, simpatia, caíram no seu mural como tordos. Já para não falar das referências ao aniversário em blogues e em emailes directamente enviados. Não faltou a poesia enviada ou colocada em páginas pessoais de quatro das suas admiradoras, e um amigo. Diz-me o meu instinto de mulher que devo omitir as suas identidades. Adiante...

Quando lhe dei contas do meu trabalho, ao fim do dia, o Zélito pediu-me que agradecesse em seu nome a quem lhe deu os parabéns. É o que estou a fazer. Obrigado a todas e a todos pelo carinho com que trataram o meu primo no dia em que completou 74 anos.
Da minha colecção de fotografias do Luís, ofereço-vos uma, tirada no dia 19 de Maio de 1937. Um aninho e já era um pãozinho, o Zélito. Prometia. E, falando por mim...cumpriu!

P.S. - Nesta nota, indicarei, apenas, os nomes das primeiras 30 pessoas a darem os parabéns ao meu primo. Três nomes que cabem nesta lista não podem aparecer porque não fazem parte da lista de amigos. Peço desculpa às centenas de outros que não são referidos. Obrigado.


As minhas primas XV




Bolachudinha, a minha primita Deodora, é a coisa mais divertida que Deus ao mundo deitou. Senão sempre rasgado, o sorriso nunca a abandona, mesmo no dia, era ela miúda e eu distraído, lhe pisei uma das suas bonecas. "Não faz mal! Ela não sentiu nada" - comentou, sorrindo, diante da minha aflição.

Mais tarde pisei-lhe um...boneco. Encontrei-a com ele na Avenida de Roma e aquele boneco, mesmo para o minha proverbial complacência com a juventude, ele não me agradou. Não era tanto pelos jeans rasgados a caírem pelas nádegas abaixo e por 2 piercings 2 na língua e ainda, pelas tatuagens a quererem saltar pelo pescoço acima, mas pela porcaria que o cobria e pior, que tresandava. Sou, também, um alma aberta para os, chamados, desvios sexuais, cada um come do que gosta, mas, palavra que não via a minha priminha Deodora nos braços mal cheirosos daquele seu...boneco.

Dias depois telefona-me ela: "Não julgues que não reparei na tua cara de enjoado quando me encontraste com o Tolas! Estou a ligar-te para te dizer que, desta vez fui eu que pisei o boneco. E ele, parece, que não sentiu nada. Nunca sentiu nada e eu não gosto de pessoa insensíveis. Acabou-se o cheirete. Brinquei com ele enquanto estava convencida que o havia de meter na barrela, mas quando reconheci isso ser impossível, pisei-o!"
Foi ao telefone, mas vi o lindo sorriso da minha primita Deodora quando me descrevia o pisar do seu boneco.


As minhsa primas XIV




Não meus caros, não há engano na repetição da fotografia da minha prima do ramo brasileiro da família, aquela a que me referi há dias. A prima que depois de seis meses em Fátima, partiu abruptamente para o Brasil desistindo do sonho de entrar para um convento. A Epifânia leu a minha nota e escreveu-me uma belíssima carta, autorizando-me a publica-la. Aqui vai, sem mais palavras:

"Querido primo Zélito.

Fiquei muito feliz que tenhas falado de mim sem desvendares o motivo porque deixei Fátima assim como desistir de me tornar freira. Dizes que não sabias a razão do meu regresso ao Brasil, mas li nos teus olhos, quando nos despedimos no aeroporto...que tu sabias! Talvez seja esse respeito que, agora, me faz contar-te o que realmente se passou. Podes divulga-lo aos teus amigos, se assim o entenderes.
Aqueles seis meses que passei perto do Santuário dariam um romance ou um filme. Passo, no entanto, a resumi-lo em poucas palavras.
Fui viver para um quarto alugado na casa de uma simpática viúva cujo nome não revelo. A senhora tinha outro quarto alugado a um padre que, apesar de jovem, tinha um lugar importante, em Fátima.
Encontrávamo-nos de manhã, ao pequeno almoço e à noite, ao jantar.
Poucas semanas depois da minha chegada, quis o destino, melhor, o amor, me pregasse uma grande partida. Me apaixonei pelo padre J. e tenho a certeza, ele também me amava. Passou a dormir comigo quase todas as noites e ia jurar que a nossa senhoria sabia do caso. Esta paixão abalou profundamente as minhas convicções religiosas, mas não me foi difícil acreditar nas palavras do padre J. Que Jesus também tinha amado Maria Magdala e não foi, por isso, que deixou de ser o Filho de Deus.
Desde o início da nossa relação íntima, havia uma coisa que me assustava. Ele não queria usar camisinhas porque, dizia, o Papa não autorizava. E o inevitável aconteceu: fiquei grávida. Minha vida desfez-se no dia em que lhe participei o meu estado. Imagina, querido primo Zélito, que sem hesitar a reacção dele foi: "tens de abortar".
Atirei-o para fora do quarto e seis dias depois estava no aeroporto, contigo, à espera de embarcar para aqui.
O que se passou comigo, depois de aqui chegar, não vale a pena contar-te. Sofri muito, incluindo um aborto natural que me tirou a prova do meu amor proibido. Hoje sou uma mulher livre que ama muito sem quaisquer fronteiras. A minha religiosidade deu lugar a sentimentos e desejos que tenho com os homens que amo. Eles são os meus deuses e digo-o sem qualquer constrangimento. O fogo religioso que me queimou durante os primeiros anos de vida, como vocês dizem aí, "foi chão que deu uvas".
És um querido, Zélito, e eu gosto muito de ti. Pena seres casado, eh, eh, eh e eu gostar muito da G.
P.S. Para acautelar futuros problemas deixa-me acrescentar que "qualquer semelhança dos fatos que narro, com a realidade, é pura coincidência." Isto para tua defesa.
E."


As minhas primas XIII











Faz parte do ramo brasileiro da minha família. De sua graça, Epifania, que raio de nome. Estes brasileiros e os nomes que arranjam. Que Epifania, afinal, é português de gema.
Já esteve em Portugal durante alguns meses, ficando a viver em Fátima. Aliás, a sua vinda teve por base motivos religiosas.
Antes de voltar ao Brasil, depois de seis meses de Fátima, confessou-me, quando nos despedimos no aeroporto da Portela, que tinha vindo com o secreto desejo de entrar para um convento. Vinha "preparar-se" dizia.
Voltou ao Brasil desiludida com qualquer coisa que lhe aconteceu em Fátima. Nunca me disse o que se tinha passado de tão grave que a tinha levado a desistir de projecto tão pessoal. Curvas da vida demasiado fechadas.
Talvez, um dia me venha a contar o seu segredo de...Fátima!


As minhas primas XII

Quando lhe apresentei o pequeno texto com alguns pormenores da sua vida, a Goreti, não me autorizou a sua publicação aqui e na Truca.
"Apenas nome e foto, meu querido. E já vais bem aviado".
Tentei convence-la com bons modos, selectos argumentos, gritos, lágrimas, suspiros, grunhidos, mas a tudo resistiu.
"A minha vida só está disponível para quem me ama!" - argumentou, imbatível.
Pedi-lhe a lista dos seus amores, mas nada. Eu sei lá quem é que a ama!
Se alguém que leia estas notas está no grupo dos seus amantes, diga, que lhe mando o texto. "For free".


As minhas primas XI




Tenho vindo, até aqui, a apresentar as minhas primas, quase todas do segundo grau e uma ou outra, as mais novas, de grau tão afastado que não lhes conheço o...grau.
Chegou o momento de me aproximar do núcleo central da família e falar da Indira, prima direita, embora por afinidade.

Tem uma história curiosa, muito envolta em mistério e que não se importa que eu fale dela porque, diz, “o que sabes de mim, menino, cabe num chinelo e fica folgado!”.

É verdade, sei pouco. Sei que a Indira chegou a Portugal pela mão do meu primo Asdrúbal (à chegada, ao Cais de Alcântara, vi-os, vinham de mão dada) após este ter sido libertado pelos indianos a quando da ocupação de Goa em 1961.
Não esqueci as palavras do Asdrúbal: “Ainda não é a minha patroa, mas vai ser”.
Acabou por nunca ter casado, com papéis assinados, mas que viveram uma vida juntos, disso não tenho dúvidas.
Quem sabe se não haveria, por ali, alguma divergência religiosa. Ele ia, todos os anos a Fátima, sózinho.

Abriram um salão de cabeleireiro para cavalheiros na Avenida de Roma e exercerem um negócio envolto em mistério, mas muito bem frequentado, dizia-se na família, especialmente por pessoal do Governo de Salazar e Caetano.
Um dia, encontrei-os no Vavá e sugeri uma ida ao estaminé com preço especial. “Que não, aquilo não era para a família”, disseram.

Só mais tarde, depois da Revolução de Abril vim a saber, por um amigo de alta patente da tropa vencida, que a Indira era considerada a melhor massagista de Lisboa. O malandro do Asdrúbal é que a levava direita!
Nunca o vi a guiar outro carro que não fosse um bruto Mercedes e sempre achei que abusava, saloiamente, de grandes cachuchos, nos dedos. Já para não falar no ridículo e faiscante dente de ouro.

O Asdrúbal já cá não está e a Indira tem este ar de senhora idosa cheia de história...por contar. “Não digas, nem ao teu melhor amigo, aquilo que não queres que o mundo saiba. O melhor amigo do teu amigo pode não seres tu!” - disse-me ela.


As minhas primas X




Vitória a sua graça, Viki, o nome por que é conhecida na família. Com ar de miúda de 16 anos crescidotes (nem tanto) passeia os seus 25, há muito, pelo país fora, de Norte a Sul e de Sul a Norte já para não falar na horizontal que, no caso, passa por Espanha. Uma jovem da modernidade. Sem poiso certo, sem homem certo, julgo eu, vive “on the bag”.
Durante muito tempo a sua actividade profissional andava envolta em mistério, pelo menos para mim. Que fará a Viki, que passa a vida a saltar de terra em terra?
Como nestas coisas não gosto de passar por ignorante, aproveitei uma sua recente passagem por Lisboa, exactamente na semana passada, para um almocinho que acaba, normalmente, tarde. Isso, porém, são outras contas que não vêm ao caso.

- Viki, desta vez não te largo enquanto não me disseres o que fazes na vida, sempre de um lado para o outro
- Juras que não vais pespegar tudo no Facebook?
- Basta que digas que não queres.
- Não quero!
- Prometido!
- Sabes o que são as reuniões de Tupperware?
- Espera, aquelas reuniões de senhoras em que as vedetas são as caixinhas de plástico que servem para tudo.
- Exacto. Reuniões divertidas, entre amigas, com muitos sabores.
- Sabores?
- Sim, demonstrações onde todas participam, ou quase todas, onde todas aprendem e, normalmente, onde todas compram.
- Um bom negócio…
- Tem corrido muito bem.
- Apesar da crise?
- Até, talvez, por causa da crise. As pessoas precisam de se descontrair...
- Com caixinhas de plástico?
- Não, tonto!
- Então?
- Sou demonstradora. Marco as reuniões que, em princípio, são apenas para demonstrar os produtos. Depois, logo se vê o andamento da carruagem...
- Cozinhas?
- Ah, ah, ah! Nem sabes como estás tão perto…a língua portuguesa é muito traiçoeira!
- Pronto, vais demonstrar os produtos…
- Exacto. Vou demonstrar os produtos e com todos os pormenores. A demonstração é tão real que algumas das mulheres presentes não resistem e acabam por participar nas...demonstrações.
- Espera lá. Estás a dar-me a volta...começo a não perceber…
- Não percebes...porque eu não demonstro...caixinhas de plástico, tonto!
- Então?!
- Meu querido, Zé Luís, demonstro...objectos eróticos!

O resto da noite foi uma risota pegada com as descrições pormenorizadas das suas reuniões de...demonstração de objectos eróticos.
É evidente que não posso deixar aqui pormenores, mas alguns são de morrer a rir!
Foram, porém, as suas últimas palavras, quando nos despedimos, que me deram a grande satisfação da noite. Já de saída, voltou-se e disse:
“Afinal, se quiseres, podes falar de mim e da minha profissão, no Facebook. Até me pode trazer clientes!”


As minhas primas IX (ainda)




Bem me custa, mas os compromissos de ordem ética assumidos com os truquistas e mais recentemente com os feicebuquistas, obriga-me a fazer das tripas coração e deixar escorrer a verdade.
Refiro-me à minha prima Josefa, a Jo, a quem o meu amigo Luís Pinto, que a conhece, chamou "essa maluca".

Confesso, desde já, que a minha dificuldade em falar da Jo tem a ver com o extremo cuidado com que trato questões que estejam relacionadas com religião, sobretudo a católica ou com futebol. Com massa desta uso pinças. Se chegarem ao fim desta pequena crónica familiar, não espero outra coisa, perceberão o que quero dizer.

A Jo vai, nesta altura, nos seus 26 anos. Aos 23, estava ela "posta em sossego" como a outra que se chamava Inês, quando lhe bateram à porta as redes sociais, a começar pelo Second Life (SL), que não sei bem se é ou não uma rede social. E caiu na ratoeira que nem rato ao cheiro do queijo. Passou a ficar acordada até altas horas da noite. Envolveu-se, emocionalmente, com vários "amigos". No SL casou com um judeu dinamarquês. Alugaram uma ilha, construíram casa onde não faltou cama de desvarios. Insistiu que queria um filho do judeu e tiveram-no. Horas a alimentar e cuidar do pequeno avatar. Entretanto fizeram uma casa nas nuvens para estarem (mais) à vontade para experimentarem todas as “capacidades” das várias camas que iam comprando. Até um jakuzi serviu de arena de experiências. "Estou uma perita" - chegou ela a dizer-me. Ao mesmo tempo catrapiscava um espanhol de Sevilha, um negro da Burkina Fasso, um argentino das pampas, um brasileiro de Monte Redondo e um trolha de Gaia.
Ao sevilhano não resistiu e foi passar um fim de semana escaldante com muitas castanholadas. O Facebook, o Twiter, o hi5, enfim, tudo o que vinha à rede era para usar e abusar.

Entretanto os vários "amigos" começaram a dar conta uns dos outros quando ela passou a trocar-lhes os nomes e...não gostaram. Transformaram a vida da Josefa, num inferno.
Em resultado, andou meses em terapia de grupo a equilibrar o coração, a cabeça e o útero, por esta ordem. De nada serviu.

Até que, certa noite, ao que ela conta, Santa Teresa de Ávila entrou-lhe pelo quarto dentro e aconselhada ou não pela Santa, a Jo nunca o confirmou, a decisão foi tomada: deu entrada na Ordem das Carmelitas Descalças e a sua vida, desde então, tem sido de oração, penitência, trabalho duro e de silêncio.
Pronto, disse.


As minhas primas IX




Se não sabem, eu digo: estas despretensiosas crónicas sobre as minhas primas nasceram na Truca (www.truca.pt). É de lá que elas têm "partido" para o Facebook, com assinalável êxito, convenhamos. Sei que há quem não ache nenhuma gracinha a esta minha numerosa família mas a vida é assim mesmo: um duche escocês.
Mas vamos à prima, antes que arrefeça.

Há duas semanas, escrevi na Truca, a propósito da minha priminha Jo:

"Pessoa de família trata, habitualmente, a Josefa por "Sua maluca"!
Por detrás desta classificação está um comportamento social da Jo que não é fácil de colocar debaixo dos olhos dos truquistas. Assim sendo, preciso de algum tempo para meditar na forma mais adequada de a apresentar sem ferir susceptibilidades."

Oito dias depois:

Então, pensei, pensei, e continuo a não saber como é que posso/devo apresentar a Josefa aos truquistas. Nem aos truquistas nem aos facebooquistas. Sim, porque as minhas primas estão a fazer grande sucesso no Facebook apesar dos muitos protestos por, na família, só ter primas. As damas do Facebook insistem comigo para que arranje primos, não importa onde, mas que os arranje.

Hoje:

E aqui estou, meus caros, qual penitente disposto a pagar bula, incapaz de encontrar as palavras certas, melhor, decentes, para classificar a rica vida da prima Jo.
Uma pequena pista: a Jo era uma rapariga, digamos, normal, ajuizada até se meter nas redes sociais, nomeadamente no Facebook. A partir daí as coisas começaram a correr para o torto e tarde ou nunca se endireitaram.
A certa altura, quando as notícias sobre o seu comportamento, começaram a chegar ao meu conhecimento, ainda tentei por alguma água na fervura, mas se há mulheres de pelo na venta, são as da minha família.
São famosas as minhas cinco tias que acompanhavam os cinco irmãos aos bailes das aldeias próximas onde se armavam grandes zaragatas e era tudo corrido à paulada. Os paus que mais cabeças partiam eram manejados pelas manas Manguinhas. A Jo é bem digna de tais tias. Livra!


As minhas primas VIII






Ora aqui temos a minha priminha Floriana, conhecida na família pela Flo e que, com este ar de anjo (ai, como as "iludências aparudem") e apesar dos seus 19 aninhos, já é campeã dos escândalos, na família. E que o seu avô ainda classifica, compreensivelmente, como “atitudes desviantes”.

O que vou contar não é segredo para ninguém, muito menos para os habitantes da pequena cidade australiana onde nasceu, pelo que estou à vontade para falar das suas "marotices".
Pois este querubim, aqui há uns meses, fugiu, acompanhada de um colega de escola!"Ai, Jesus, por onde andará a Julieta, do que vive, como vive?" - perguntava família, inquieta.
Para um “cota” como eu é, de facto, difícil imaginar o que pode fazer um casal de miúdos neste mundo despesista. A velha patranha do "amor e uma cabana" não chega, não me chega, para imaginar a aventura. O amor, como se sabe, pode encher uma barriga, mas não de batatas, certamente.

Talvez porque assim é, duas semanas depois, a Flo regressava a casa com ar de arrependida, qual Maria Madalena, a pedir desculpas a torto e a direito.
Não foi pródiga em detalhes de como tinham decorrido aquelas duas semana de "desaparecimento por amor". A família sabe que, se não quer ouvir respostas inconvenientes, não devem fazer as perguntas.
As medidas tomadas não passaram de um teste de gravidez e como o resultado foi negativo, ficou envolta em conveniente segredo, a aventura da Flo.

E quando tudo parecia ter sido esquecido a Flo volta a...desaparecer!
Desta vez com uma pequena grande diferença: agora, havia não um, mas uma companheira de aventura.
É verdade, a Flo tinha-se pirado na companhia de uma coleguinha da mesma idade, com sangue aborígene, pormenor sem qualquer relevância para a história, mas que sempre vai servindo para provar quão socialmente tolerante é a Flo.
O curioso da história é que já lá vão vários meses e a espertalhona ainda não voltou!...

Falo-vos, hoje, da Flo porque acabo de receber uma mensagem sua, perguntando-me quando é que, em Portugal, são legais os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Ainda vai sobrar para mim!...Durante algum tempo, um dos quartos da Raposa, vai ficar ocupado.


As minhas primas VII






Nunca percebi esta mania da família em dar nomes parolos às mulheres. E os homens não escapam! Bonifácios, Clementinos, Jesualdos e coisas destas, são mato. Também não percebo como é que eu escapei com um suave José Luís. Nome suave mas baptismo acidentado. Eu conto: Porque o bebé Zélito estava constipadito, o meu pai, agnóstico violento (como se verá), pediu ao padre que fosse parco na quantidade de água benta a despejar na moleirinha do menino. O coiro do padre, sabedor das vísceras azedas do meu progenitor para com a Santa Madre Igreja, despejou dois cochos de água sobre o puto. Aí salta o meu pai e dá dois murros bem puxados, no padre. Aos gritos das beatas e dos convidados apartadores da fúria paterna, chegou a autoridade. Foi tudo parar à esquadra do Rato e não fora o meu pai ter sido ordenança de oficial de prestígio junto do "Botas" de São Bento, a coisa poderia ter corrido muito mal para a minha pobre mãe: ficar uns largos tempos sem marido, na cama.

Ah, é verdade, vamos é voltar à prima, no caso a Maria da Crucificação Krauss. A Maria, nos primeiros anos da década de setenta era uma moçoila de corpo tentador e sangue ardente que ateava incêndios, sem lume mas com muita brasa pela praia de Oeiras. Na altura, na Fundição de Oeiras, produziam-se bombas para abastecer a guerra colonial. Da Alemanha, para gerir a produção, veio um jovem engenheiro que se apaixonou pela "bomba" Maria da Crucificação. Casaram e terminada a comissão, partiram para a Alemanha. Não passou um ano e a Maria estava de volta gritando para quem a quisesse ouvir que alemão pode fazer belíssimas bombas, mas o que não sabe é apagar fogos, na cama. Vários bombeiros acorreram em auxílio da Maria da Crucificação, de tal modo que a pobre, para fugir à fúria de algumas esposas assanhadas teve de partir para a Suíça. Por lá andou, por lá pariu e uma das crias é a da fotografia, com 21 aninhos, por agora. A Maria já está com umas boas décadas em cima e a filha, minha prima em segundo grau, para não fugir à regra, chama-se Maria da Purificação. Aqueles olhos não mentem: sai à mãe e ao pai, diz-se, que holandês.
(Da Truca, on line, lá mais para o fim do dia.)


As minhas primas VI







Estava eu num dos meus "intervalos matrimoniais", fui contratado para fazer, em Paris, um trabalho para a Citroën. Que os "estúdios portugueses não tinham qualidade" e mais para aqui e mais para ali, e lá fui eu, bem pago, passar três dias a Paris. Porém, por razões que já vão conhecer, os três dias transformaram-se num mês e não aconteceu uma desgraça (ficar em Paris, porque...sei lá porquê!) porque os deuses assim quiseram, melhor, não quiseram. Ao segundo dia, aparece na sala de gravação um funcionário do estúdio a dizer que tinha, à entrada, uma visita. Para lá fui e então percebi o ar matreiro do empregado. Deparei com uma espampanante loura que se abraçou a mim dizendo ao mesmo tempo: "Já não conheces a tua prima Dionísia?". Ai que perfume, Santo Deus! E eu que andei com "aquilo" ao colo! Não quero acrescentar mais à história. Os três dias passaram a um mês graças aos perfumes da Dionísia.

Está bem, eu abro uma nesga do postigo. A Dionísia tinha o terrível hábito de se passear por Paris, comigo ao lado, usando saias transparentes. E depois? E depois?!?!! Depois, ela não usava nada por debaixo da saia transparente! E isto num tempo em que certa depilação ainda não estava na moda. Mesmo em Paris não me livrava dos olhares e comentários dos "franciús" à transparência da Dionísia. Parvo, tuga, marialva, não aguentei. Nunca mais tive notícias da Dionísia. E já lá vão uns anitos. Continuará transparente?


As minhas primas V




É que não há que enganar! Esta minha prima faz jus à alcunha pela qual uma parte da família a conhece: a "Despenteada". A outra parte chama-lhe a "Política". O seu nome de baptismo: Maria de Jesus nome que lhe foi dado uma semana depois de ter nascido, como se o tivesse sido nesse dia. Nunca se percebeu o motivo de tal desfasamento.
"Despenteada", sem dúvida, "Política" desde novita, muito novita, quando acompanhou o Freitas do Amaral na sua campanha presidencial. Como se lembram, o candidato era seguido, pelo país fora, por um largo número de autocarros carregadinhos de "apoiantes", cujos ditos, colocados à frente, nos comícios diários, "enchiam" os enquadramentos das câmaras de televisão. Na altura era, de facto uma garotita de 12 anos com corpo suficiente para ser tomada como uma militante da Juventude Centrista.
Depois, já se sabe, da Juventude passam a júniores e sem darem por isso estão a caminho de uma candidatura a deputados, ou no caso dos mais fraquitos, às Câmaras Municipais. Foi o destino da "Despenteada". A verdade, porém, é que ou fosse pelo despenteado ou por uma certa tendência para usar pouca roupa nos momentos menos próprios para a pele à mostra, a "Politico-despenteada" foi sendo amavelmente afastada de um futuro promissor na política centrista. Por despeito, milita, agora, no BE, onde o seu despenteado (continua) faz um estrondoso sucesso. Quando lhe perguntei porque não tinha ido mais para a esquerda respondeu-me que achava os comunistas muito penteadinhos. O Jerónimo não havia de gostar disto. (Da Truca)


As minhas primas IV






Na semana passada recebi, na Truca, um email que me deixou...passado. Um truquista, perfeitamente identificado (é de Gaia), acusou-me de andar a mentir aos truquistas. E porquê? Porque não tenho, assim, tantas primas. "Você anda a inventar primas e isso não é bonito, sobretudo para a as suas verdadeiras primas."
Meu caro, sinto-me ofendido. Num tempo em que a família está de rastos, quando alguém (eu) lhe quer aumentar a cotação, o senhor vem-me com uma acusação destas?
Sou defensor acérrimo da máxima de que os meios justificam os fins e não estou a fazer outra coisa senão a valorizar a sacrossanta família, por via da divulgação das primas.
Mas deixemos as críticas infundadas e falemos da minha priminha Tareja. Exato, Tareja.
O pai era maníaco da História de Portugal e a mãe do D. Afonso era-lhe, nunca percebi porquê, particularmente querida. Coisa para psicanálise. Pois, à Tareja, como aliás à maior parte das minhas primas, fiz o convite de vir passar uns diazitos comigo, isto quando eu era solteiro, entenda-se, e a marota respondeu-me a perguntar se podia trazer o namorado. Já não me lembro qual foi a minha resposta. Sério, não me lembro!
Só sei que na volta recebi esta anedota que diz muito do espírito brincalhão da Tareja:
Cientista chinês descobre novo “Viagra” feminino. O produto é conhecido na China pelo nome de “KATON”.
- Um jornalista pergunta ao cidadão chinês : O que acontece quando dá KATON à sua mulher ?
- Mulhel fica alegle, calinhosa e bondoóóósa. Beija e ablaça o dia inteloo e noite intelinha. Non dá sossego, ela qué tlansal quantas vezes tu aguentas. Chama-te meu amol, minha vida, adolo-te, amo-te !
- Jornalista pergunta ao cidadão chinês : Esse produto é assim tão fantástico ?
- SIM ! SIM ! SIM ! Galantido ! funciona muuiiitooo... mesmo ! Non falha nunca !
- Jornalista pergunta ao cidadão chinês: O nome do produto é só... “KATON” ?
- SIM ! SIM ! “KATON” ... “KATON DE CLÉDITO”!!
(Da Truca)


As minhas primas III





Há algum tempo, comecei a divulgar na Truca as fotografias de primas minhas, acompanhadas de meia dúzia de palavras sobre as raparigas.
A coisa teve algum sucesso o que acontece quando aparece alguém a dizer que não gosta. O mesmo se passa, por exemplo, com a Poesia Erótica do Estúdio Raposa; ninguém ouve, mas depois, a estatística diz que são mais os ouvintes do Poesia Erótica do que todos os outros programas juntos.
Adiante.
Com tal sucesso, deu-me para partilhar essas fotografias e notas biográficas, aqui, no Facebook. Foi assim que os meus amigos e amigas passaram a conhecer a Carmencita e a Idalina.
Tudo parecia correr ao gosto do pessoal, eis senão quando, surgem protestos, sobretudo de amigas, pelo facto de eu falar de primas e não de primos.
A justificação que apresentei (não tenho primos) não convenceu o “auditório”, o que me deixou...incomodado.
Felizmente, em meu auxílio, surgiu a minha prima Eleutéria, de quem falarei um dia destes, que fazendo parte da tribo dos facebookers, soube da minha aflição. “Querido primo, safa-te falando do meu ex-namorado, o Belmiro. Afinal. Ele esteve quase, quase a ser teu primo!”.
Ideia salvadora acompanhada da fotografia do Belmiro.

Eu conheci o Belmiro quando namorava a Eleutéria. Havia qualquer coisa que não batia certo naquele namoro.
Ela é uma rapariga de beleza vulgar; o tipo, um pãozinho de alto calibre. Broa de Avintes. Mas há coisas que só na cama se explicam e nunca espreitei a buracos de fechadura.
Acabado o namoro não deixei de me dar com o Belmiro. Engenheiro informático, resolveu muitos problemas do meu computador quando eu usava “janelas”. Encontrei-o algumas vezes, sempre atracado a grandes mulheraças. Um tipo muito porreiro. A última vez que o vi, foi no “Avatar”.
Nessa altura, para alguma surpresa minha, estava acompanhado de um tipo bem parecido. Anunciou-me, então, que ele e o João, o amigo, estavam à espera da aprovação da lei do casamento de casais do mesmo sexo. “Eu e o João vamos ser muito felizes” - rematou o Belmiro.


As minhas primas II





Eu já esperava que a minha prima Idalina me pregasse esta partida ou outra semelhante. A Idalina, (nunca percebi como é que com este nome ela podia ter a profissão que tem, como se verá mais adiante) começou a sua vida profissional como modelo, na Austrália. Tão bem se saiu que foi convidada para se iniciar na carreira de porno star. De início, parte da família (a parte católica) não viu com bons olhos a opção profissional da Idalina mas uma notória boa qualidade de vida (bom carro e apartamento de luxo) a que se juntou uma peregrinação a Fátima, permitiu que voltasse a ser convidada para a Ceia de Natal. Mas, voltemos à partida que a Idalina me prega! Logo que soube que eu andava a publicar os olhares das primas, escreveu-me a dizer que ia testar a minha lata - daí eu já esperar pela partida. "Vou mandar-te o meu melhor sorriso. Quero ver como te vais arranjar" - dizia no seu email. A resposta está à vossa frente, caros truquistas: este também vê, embora no singular. E que olhar!


As minhas primas I









Tenho algum orgulho em dizer que tenho primas espalhadas pelos cinco continentes. Ou não fossem os portugueses...aquilo que nós sabemos. Estão a ver a minha querida Carmencita, que vive aqui, ao lado, em Espanha, a dois passos de qualquer amizade portuguesa. Consta que é muito liberal no que diz respeito a amores e esse é, nos tempos que correm, um excelente cartão de visita para se poder viajar. Ela conhece este mundo de uma ponta à outra tal é a sua capacidade de viajar. Recebe convites de todo o lado e de todo o lado lhe chegam a Granada, onde mora, presentes valiosos. Um dia perguntei-lhe qual era o seu segredo; respondeu-me com este meio sorriso desarmante. Ou armante.