INDICATIVO
A história que vamos ouvir hoje, tem por título “O Navio Encantado”
MÚSICA
Indo um dia um camponês à pesca, segundo era seu costume, aconte-
ceu-lhe em certa ocasião ver na rede uma coisa bastante volumosa e
pesada. Puxou e reconheceu que era uma caixa muito grande, um caixão. Imediatamente pô-lo às costas e ei-Io a caminho de casa. Chegado aqui, pôs-se a bater nele com uma pedra.
- Não faças isso - recomendou-lhe a mulher - para não dares
cabo do caixão.
Anoiteceu e o homem meteu-se na cama e lá por noite velha ouviu ele
um grande barulho. Levantou-se a ver o que aquilo seria e viu dois reis, cada um com a sua coroa na cabeça, a brigarem um com o outro. De repente apagaram-se as luzes e os reis desapareceram. De madrugada acordou ao som de uns gemidos.
- Tu trouxeste a desgraça para a nossa casa, disse a mulher.
Apenas o homem se levantou da cama, conseguiu abrir o caixão e encontrou dentro uma princesa deitada num sofá, com uma bolsa de dinheiro aos pés.
Pegou o pescador no dinheiro e a princesa lhe recomendou que a ninguém dissesse que ela estava ali. A casa pobre em breve se transfonnou em casa rica.
Daí a tempos acabou-se o dinheiro e o pescador veio fazer os seus
queixumes à princesa. Esta arrancou uma folha de um livro que trazia
consigo e deu-a ao pescador dizendo-lhe que se metesse no barco e deitasse a folha ao mar, parando só onde ela parasse. Ele assim fez e encontrou um lindo navio, do qual saiu uma lancha que levou o pescador. Este chegou à coberta e foi em seguida dar a uma sala onde estava deitada uma rainha.
- Tens a minha filha em tua casa? perguntou a rainha.
- Sim, real senhora - respondeu o pescador.
- Então não digas nada a ninguém, lhe recomendou a rainha -,
algum dia dirás.
E depois de ver a folha que guiara o pescador, deu-lhe uma bolsa de
dinheiro e pediu-lhe que a recomendasse à filha.
Chegando a casa, deu o pescador à sua encarcerada as lembranças de
sua mãe e juntamente o dinheiro que trazia, contando tudo o que com ele se passara.
- Eu hei-de, um dia, desencantar a minha mãe, observou a filha.
Aconteceu porém que passado tempo foi o rei daquele país à caça e
chegou à casa, onde estava a princesa dentro do caixão. Fez-lhe estranheza uma casa tão bonita e mandando chamar o pescador, participou-lhe que resolvera ir almoçar a casa dele.
O pescador, muito aflito, vem falar à princesa: esta, porém, sossegou-o,
dizendo-lhe que de nada receasse, que ela teria o cuidado de tudo.
Entrou o rei e viu uma mesa muito bem posta e a cada canto uma folha
e no lado que lhe estava reservado uma taça real.
Verdadeiramente admirado disse o rei:
- Tu tens pessoa real cá em casa?
Como o pescador dissesse que não, o rei retorquiu-lhe:
- Não o negues que bem o conheço pela mesa.
Comeram e beberam o rei e o seu séquito: mas ao saírem, notou o rei um ruído de uma porta que se fechava. Excitado pela curiosidade quis ver o que era e viu então uma princesa muito linda.
Desejou o rei falar à formosa princesa e isso disse ao pescador, mas
este esquivou-se dizendo que estava proibido de lhe falar. O rei saiu e o pescador foi logo comunicar à princesa o que se passara com o rei. A princesa respondeu-lhe, que não tivesse medo, pois era preciso que só um rei soubesse que ela ali estava.
Ao chegar ao palácio contou o rei ao filho o que lhe acontecera e não se cansou de lhe gabar a formosura da princesa. Para provar a verdade das suas palavras mandou o rei buscar a princesa e o pescador, que foram recebidos com grande alegria, no palácio.
O filho do rei gostou imenso da princesa e casou com ela. Já casado
disse a princesa ao marido:
- Agora vamos desencantar a minha mãe.
Meteram-se ambos num navio, deitou a princesa uma folha do seu livro
ao mar e só parou onde aquela também parou. Encontraram então o navio onde estava a mãe da princesa, que, como era natural, muito se alegrou de a tornar a ver.
Era a rainha que havia sido encantada por dois tios dela, os mesmos
que o pescador vira brigar entre si, querendo um e opondo-se o outro a que acabasse o encanto.
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Ouvimos hoje mais uma história recolhida por Xavier Athaíde de Oliveira e publicada no II volume dos Contos Tradicionais do Algarve, edição Vega.
Na próxima semana há mais uma história. Está prometido.
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