Estúdio Raposa

Poesia 26
Poemas Hindus

 

INDICATIVO

O 4º programa deste espaço do Estúdio Raposa tinha por título “50 poemas - parte I” e era constituído por 25 de 50 (daí o título) poemas de amor recitados, segundo a lenda, por Bilhana, no sec VI d.C, enquanto subia os 50 degraus que o levavam ao cadafalso.

MÚSICA

Na altura ficou prometido que, mais tarde, seriam lidos os restantes 25 poemas. Pois a promessa vai ser cumprida mas...parcialmente.
Eu explico. Fui buscar estes poemas a um precioso livrinho editado pela Assírio & Alvim, intitulado “Os Cinquenta Poemas do Amor Furtivo e outros poemas eróticos da Índia antiga” com introdução e versões de Jorge Sousa Braga. Um livro que apelidei de precioso porque para além dos poemas traduzidos por Jorge Sousa Braga, contém 13 gravuras eróticas, antigas, dignas de moldura.
Esta obra, para além dos 50 poemas que valeram a Bilhana o perdão do rei por interferência de uma deusa, encantada pela beleza dos poemas, esta obra, dizia, oferece outros poemas eróticos, escritos, há séculos em sânscrito. Sânscrito que, como se sabe é a língua indo-europeia de registo escrito, mais antiga. É uma das línguas sagradas do bramanismo tendo sido a língua que, mesmo depois de cair em desuso, era utilizada na poesia por ser polida e sagrada.
MÚSICA
Vamos ouvir alguns poemas não sem que, antes, recordemos estas palavras de Jorge Sousa Braga:
Na Índia antiga, o sexo não era considerado em oposição à espiritualidade. Ao acto sexual era atribuído um lugar de honra. Homens e mulheres estudavam o Kama Sutra e textos similares. Os templos estavam cobertos de baixos-relevos ilustrando as mais diversas posições sexuais. Não é de admirar que uma percentagem significativa dos poemas que sobreviveram às monções, às guerras e chegaram até nós sejam poemas eróticos. A experiência erótica completa, desde o desabrochar do amor até depois da sua consumação, está brilhantemente representada nesses poemas.

MÚSICA


Esta mesma lua ilumina a minha amada
O vento acariciou já o seu rosto
A lua impregnou-se da sua beleza
E o vento do seu perfume
Quem ama de verdade pouco lhe basta
Para suportar a separação
Que ela e eu respiremos o mesmo ar
E que os nossos pés pisem o mesmo chão

MÚSICA

Suspiro por vê-la quando estamos separados
Anseio por abraçá-la quando a vejo
E quando abraço essa beleza de olhos rasgados
Fundir-me com ela é o meu único desejo

MÚSICA

Não pode o lótus florir de noite
Nem a lua brilhar durante o dia
Apenas o teu rosto
Consegue realizar essa magia

MÚSICA

A lua tenta todos os meses em vão
Captar a beleza do teu rosto
Descontente com o resultado
Destrói tudo e começa de novo

MÚSICA

Se a floresta negra dos seus cabelos
Te convida a explorar os vales
E os seios essas abruptas montanhas
Acordam o montanhista que há em ti
O melhor é parares antes que seja tarde
Escondido como se fosse um salteador
Jaz à espera o amor

MÚSICA

Embora não tenham limites as minhas conquistas
Para mim há apenas uma cidade
E nessa cidade um palácio
E nesse palácio um quarto
E nesse quarto uma cama
E nessa cama uma mulher
Adormecida
A jóia mais valiosa
De toda a minha coroa

MÚSICA

- Aonde vais na noite escura?
- Ao encontro daquele por quem o meu coração anseia
- E sendo formosa e jovem e insegura
não tens medo de ir sozinha?
- Sozinha? Não. Armado de arco e de flechas
O amor faz-me companhia

MÚSICA

Quando verei de novo firmes as tuas coxas
Que em defesa se cerram uma contra a outra
Para depois se entreabrirem ao desejo obedientes
E ao cair do vestido de súbito revelarem
Como um selo de lacre sobre um segredo obscuro
Húmidas ainda as marcas das minhas unhas

MÚSICA

A beleza não está no que dizem as palavras
Mas no que dizem sem dizê-lo
Mais desejáveis são os seios entrevistos
Através das madeixas do teu cabelo

MÚSICA

Proibido...completamente indecente ...
Anseia no entanto o meu coração
Por essa rapariga adornada com
As flores vermelhas da primeira menstruação

MÚSICA

O desejo a impele ao encontro do amante
O receio a detém por um momento
Parece a seda de um estandarte
Que ora se abandona ora se furta ao vento

MÚSICA

As manchas vermelhas de betél
As negras marcas do aloés
O aroma dos cremes perfumados
As pegadas de laca
As flores caídas das suas tranças
Nos lençóis em desalinho
Deixam supor as diversas posições
Que adoptou a amada
Com o seu amante enquanto faziam amor

MÚSICA

Quando o meu amante se deitou a meu lado
Por si só se desprendeu o meu cinto
E mal suspenso da cintura
O vestido deslizou-me pelos quadris
É a única coisa que sei
Pois mal senti o contacto do seu corpo
De tudo me esqueci
De quem era ele
De quem era eu
De como foi o nosso prazer

MÚSICA

Esmagados contra o meu peito
Os seus seios estremecem... Entre as suas
Coxas flui a seiva doce do amor
«Não... outra vez não ... Deixa-me descansar. ..
E aos sussurros sucedem-se as súplicas
E às súplicas… os suspiros
E aos suspiros o silêncio ...
Terei adormecido? Estarei a agonizar?
Ou será que estou a sonhar?

MÚSICA

Neste vão e flutuante mundo
O que resta a um homem?
Pode dedicar-se à oração
Mas se isso porventura não resulta
O melhor é refugiar-se entre os seios duma mulher
Acariciar as suas coxas quentes
E possuir o que entre elas se oculta

MÚSICA

Ouvimos neste Poesia Erótica, poemas do livro da Assírio &ALvim, que recomendo, “Os Cinquenta Poemas do Amor Furtivo e outros poemas eróticos da Índia antiga” com introdução e versões de Jorge Sousa Braga.
Até ao próximo programa.

MÚSICA

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