Crônicas V
por José António Baço
(Email)
(Textos publicados no jornal "A Notícia")

 

139 - Carta a Agripino Maia

Caro senador.

Não foi bonito aquele episódio na Comissão de Infra-estrutura. Quem essa Dilma Rousseff pensa que é para ficar dando lições de moral? Ainda mais para cima do senhor, que teve o cuidado de afirmar que condena as ditaduras. Aliás, o senador foi muito claro quando interpelou a ministra sobre o tal dossiê:
- O que é que me preocupa, ministra? O dossiê, na minha opinião - e de muitos brasileiros - é a volta ao regime de exceção.
Muito bem dito, senador. Eu ouvi e fiquei feliz com isso. E nem esperava outra coisa: é claro que um democrata autêntico como o senhor será sempre contra o autoritarismo. Aliás, nesse tempo em que a tal Dilma era torturada e mentia, mentia muito, aposto que o senhor era um destemido na luta contra a ditadura, inclusive com o risco da própria vida.
É claro que todos nós, eu e os leitores, sabemos que o senhor nada teve com o regime de exceção. O seu porte de democrata altivo é a prova disso. Uma pessoa conivente com a ditadura nunca andaria por aí de cabeça erguida, como o senhor. O peso na consciência seria tão grande que qualquer indivíduo com um mínimo de escrúpulos jamais a conseguiria erguer.
Aliás, acho que é mesmo uma questão fisiológica: esse pessoal que lambeu os coturnos da ditadura deve andar sempre curvado, porque não pode ter a coluna vertebral muito rija. Ah... eu sei que há uns tipos por aí que fazem afirmações malévolas. Dizem que houve gente que se beneficiou da ditadura, que foi nomeada para cargos sem eleições ou que criou expressões como rabos-de-palha. Mas são detratores que fazem tudo em nome de outros interesses.
E por falar em nome, vou fazer dois pequenos comentários. Posso parecer preconceituoso, mas o seu nome é capaz de fazer com que alguns eleitores não o levem a sério. Pô, senador, Agripino não parece nome de gente e sim nome de remédio para a gripe. Até imagino um médico a passar uma receita:

- Para acabar com essa gripe, tome três agripinos por dia.

Eu não tomaria. Porque acho que esses remédios provocam enjôo, engulhos no estômago.
Outra coisa é o nome do seu partido. Afinal, em que ficamos? É DEM? É Democratas? É DEM Democratas? Por que, raios, um partido quer se chamar "democrata"? Ora, num regime democrático é um pressuposto que os partidos sejam todos democráticos. Ou não?
Santa ingenuidade... como eu não percebi antes? É uma daquelas jogadas do marketing político, a lógica da "territorialização": só vocês podem ser chamados democratas. Os caras dos outros partidos nunca vão poder dizer:

- Eu sou um democrata.

É genial.

CHEIRO DE MOFO

Mas há uma coisa estranha, senador. Sempre que o senhor aparece na televisão fica um cheiro de esturro no ar. Sabe aquele odor exalado pelo entulho das ditaduras? Mas deve ser apenas impressão minha, porque o senhor disse, e eu acredito piamente, que condena os regimes de exceção. E o senador não ia mentir, né? Porque mentir, como fez a Dilma Rousseff enquanto era torturada, é uma coisa muito feia.
Ah... e uma prova de que o senhor nunca seria conivente com a ditadura. Será que as pessoas não viram aquela gravata vermelha? Esse vermelho é um toque que indica o seu lado esquerdista, quase comunista.
Aliás, a esta altura deve haver por aí uns tipos a pensar.

- Porrada nesse cronista.

O problema, senador, é que ainda há gente por aí com saudades da ditadura. Mas nunca o senhor, que gosta da democracia e é contra os regimes de exceção.
Saudações democráticas.
É como diz o velho deitado: "Regime de exceção é uma dieta à base de pizza?".


138 - Vote em mim, leitor-eleitor

Bom dia, leitor-eleitor. Hoje tenho uma proposta política a fazer: quero o seu voto.

Eu explico.

Tenho pensado em voltar a viver no Brasil. É uma mudança que, claro, traria perdas e ganhos. A maior perda, com toda certeza, seria deixar de viajar pela Europa com certa freqüência. Porque aqui as viagens para os países vizinhos são muito comuns. E com o surgimento das empresas aéreas low-cost, até pobres como eu podem andar por aí.

O fato é que, depois de muito refletir, encontrei a solução para o meu problema. Volto para o Brasil e entro para a política. Se conseguir me eleger governador, prefeito ou deputado, tenho certeza de que continuarei a viajar à grande e à francesa. Os políticos brasileiros são os campeões mundiais de viagens aéreas, os paladinos dos programas de milhas.

Só não decidi o cargo a que vou concorrer nem o partido. O cargo pode ser qualquer um, porque os políticos brasileiros ganham muito bem em qualquer nível (hummm palavra mal escolhida, porque os caras não têm nível). E só não aceito ir para o DEMO, porque não estou disposto a vender a minha alma ao diabo. Se bem que os caras devem precisar de mim. Um partido que decide se chamar DEM de livre vontade está mesmo a precisar de uns conselhos publicitários.

Isso das viagens foi uma descoberta genial dos nossos políticos. Os caras andam aí pelo mundo feito saltimbancos com o dinheiro público e muitos eleitores acreditam que eles estão a trabalhar a sério. É uma teta. E é para isso que eu conto com essa forcinha do leitor-eleitor: você vota, eu viajo.

PARLAMENTARISMO-VIAJANDÃO

Mas não pense que parto para essa candidatura sem um programa de governo. Bem na verdade é mais um programa de viagens, o que vai dar no mesmo. Para começar, proponho a mudança na forma de governo. A idéia é implantar um novo sistema: o parlamentarismo-viajandão.

Traduzindo: é um sistema no qual há os chefes de governo e os chefes de estado. Os chefes de governo ficam no país a governar. O chefe de Estado viaja (é aqui que eu entro). E vou abrir escritórios de trabalho em alguns pontos estratégicos do planeta. Na Côte DAzur, nas Seichelles e nas Bahamas.

Ahá o leitor-eleitor mais antenado já percebeu a diferença. É que os nossos políticos tradicionais são breguésimos e têm um péssimo gosto. Só viajam para lugares chatos, cinzentões e sem charme como a China, a Rússia e todos os cus-de-mundo dos EUA.

Ah e a grande inovação. Não vou fazer como fazem os políticos tradicionais, que convidam certos "jornalistas" amigalhaços do poder para as viagens. Eu explico. É que esses caras tornam a viagem um desassossego, porque a gente precisa estar sempre de olho na carteira. Aliás, leitor-eleitor, não parece estranho levar para os EUA um "jornalista" que não fala inglês? Pior é que nem o português

A boa notícia, caro leitor-eleitor, é que todos os meses eu pretendo sortear uma viagem entre os meus eleitores e eleitoras, com direito a todas as mordomias com o dinheiro público. Isso é corrupção? Perfeito. Quer dizer que já estou pegando o jeito da política.

É como diz o velho deitado: "A política brasileira é uma fábula adulterada: cheia de animais, mas sem nenhuma moral".


137 - Farelo para uns, capim para outros

"Essa classe do proletariado que vive como porcos do bolsa-farelo vai votar, vai ter maioria aqui."
A frase é do deputado Jair Bolsonaro, num discurso semanas atrás, alertando para o perigo de os pobres, pelo voto, um dia estarem representados no Congresso Nacional. Se fosse em qualquer democracia séria, o homem já tinha levado um democrático chute no traseiro. Mas é no Brasil...
Ora, chamar porcos aos pobres é a coisa mais asinina que um político pode fazer. Aliás, fico a imaginar: certas pessoas devem ter cuidado para nunca tropeçar. Porque se ficarem de quatro, nunca mais se levantam. É o estado natural dos mus devoradores de capim. Farelo para uns, capim para outros.
Nunca vi esse senhor na vida, mas mesmo sem viver no Brasil é impossível não ter conhecimento dos seus ornejos. Propor o fuzilamento de FHC (eu me contentava com piche e penas), defender a ditadura ou pregar a tortura são apenas algumas das suas alucinações. É a prova de que o homem vive um eterno surto psicótico.
O tal deputado é militar e usa a linguagem dos anos de chumbo.
Mas o que ele entenderá por proletariado? Proletariado é quem produz prole. Será que ele está a pensar na esterilização dos pobres? Ou, neste caso, quer que a gente cape os porcos do bolsa-farelo? Pobres pobrezinhos.
Aliás, os próprios marxistas, que estão na matriz da teoria da luta de classes, têm algum incômodo no uso da palavra proletariado. É coisa de outros tempos. Hoje o mais parecido com proletariado somos nós, eu e o leitor, que só temos a nossa força de trabalho para vender aos empresários capitalistas.
Heureca! O nobre deputado quer acabar com todos os trabalhadores. Já imaginaram? Uma sociedade só de gente "de bem". Hummm... mas quem iria trabalhar? Não vai dar certo.

EMPRESÁRIO CATARINENS
E

É um daqueles políticos tão extremados que acabam entrando para o campo do folclore, da excentricidade. Uma pessoa com o QI superior ao de uma anêmona não liga a mínima para o que ele diz. Mas infelizmente um desassisado sempre encontra outro desassisado ainda mais desassisado que ele e que o admira.
Nesta semana recebi um e-mail com o vídeo do discurso com a tal frase. Mas muitas vezes os e-mails trazem os nomes das pessoas que os repassaram. E neste caso pude ver que uma delas é (ou foi) vice-presidente de uma das mais importantes associações empresariais de Santa Catarina. Uma associação que reúne expressiva parte do PIB catarinense.
O e-mail traz comentários dos remetentes:
"Vejam o Bolsonaro antes que matem ele."
"Não adianta, deputado. Este povinho é muito burro e os políticos muito corruptos."
Que o deputado delire, dá para entender. É um estilo. Mas alguém ligado ao meio empresarial - e com responsabilidades cívicas - não pode ter opiniões tão fora dos gonzos. O tal empresário demonstra ter uma mente de brucutu e ainda vive num tempo em que, se uma pessoa falava demais, corria o risco de morrer.
Aliás, um empresário que publicamente (porque e-mails na rede são coisa pública) chama as pessoas de "povinho burro" está apenas a exercitar um ridículo ódio de classe. Eu, sinceramente, não compro sequer uma agulha de um cara assim. Adoro farelo, mas não como capim.
É como diz o velho deitado: "O farelo é bom para a diarréia. Será que é bom para a diarréia mental de certas pessoas?"


136 - Verbo solto

Vamos destruir tudo
É um autêntico trabalho de Sísifo. Os defensores do meio ambiente vivem a dar murros em ponta de faca. Por mais que façam, que protestem ou que denunciem, os resultados são escassos. Porque os dilapidadores da natureza vencem sempre. E a coisa parece ainda mais insana quando estamos a falar de Santa Catarina, que tem na natureza o seu maior patrimônio.
Quem manda no mundo? Para começar, os empresários gananciosos, que não se importam de transformar o planeta numa enorme lixeira, apenas para faturar uns
caraminguás. Depois vêm os políticos corruptos e medíocres (ih... um pleonasmo) que não se importam de chafurdar na imundície, desde que isso dê alguns votinhos. E, por fim, os cidadãos que formam essa imensa maioria silenciosa, uma gente que, em termos
ecológicos, vive a filosofia da vaca: cagando e andando.

A banda podre

Pois hoje tenho uma confissão, leitor: vou passar para o lado do bandido. Ou seja, vou me bandear para o ladox dos gananciosos, corruptos e alienados. E mais: ainda
apresento um manifesto a favor da destruição total e implacável do ambiente. Zás. É isso... vamos destruir tudo de uma vez e acabar com a agonia dos ecologistas.
E como o capitalismo não está aí para delicadezas, vamos arrebentar a natureza e ganhar dinheiro com isso.
Idéias? Não foi uma, nem duas e nem três vezes que fiz matérias sobre rios poluídos, nos meus tempos de reportagem. Lembro de uma matéria em Jaraguá do Sul, quando um rio ficou vermelho da tinta despejada por uma malharia. Ora, um rio colorido é uma coisa bonita de ver.
Um insight. Por que não pintar todos os rios catarinenses de cores exóticas para atrair turistas?
Imaginem. Durante a Copa do Mundo, todos os rios de Santa Catarina estariam pintados com as cores de cadax time. Podiam ser instalados telões nas margens e criar
bares para o pessoal ver os jogos. Desculpem a imodéstia, mas essa idéia é um gol de placa.
Só não poderíamos usar o rio Cachoeira, em Joinville, porque não há cor que pegue naquilo. Aliás, o pessoal anda a queimar dinheiro na tentativa de despoluir o
rio. Que flotflux, que nada. Vamos é dar liberdadex para as empresas poluidoras fazerem o que bem entendem e sujarem ainda mais (se é que isso é possível). Todos
pelo progresso.

É líquido?

Outra idéia. Criar uma empresa de transporte d’água – ou um aqueduto – para retirar água do mar e despejar no Cachoeira. Não entendeu? Era uma maneira de fazer o
rio voltar a ser líquido. Ou alguém acha que aquela gosma fétida a céu aberto pode ser chamada de líquido?
A cidade só tinha a lucrar. A porcaria toda ia escoar mais rápido para a Baía da Babitonga e apressar a poluição das zonas preservadas.
Quais as vantagens? Uma vez poluída a baía, de forma irrecuperável, estaria satisfeita a vontade dos gananciosos que não querem a reserva natural. E com o rio novamente líquido podíamos finalmente criar a tal linha de transporte fluvial entre Joinville e São
Chico. Não é genial?
Quanto à Baía da Babitonga e a Ilha de São Chico, a idéia é ainda mais radical. A gente devia contratar empresas para desmatar tudo de uma única vez. Era uma forma de evitar a agonia, porque parece ser o destino inevitável. Pensem nas vantagens. Uma vez tudo
destruído, os ecochatos não teriam do que reclamar e viveriam com menos estresse. Um sossego.
Qual a pretensão desse projeto? Ora, a gente desmata tudo e asfalta toda a ilha. Só teríamos que deixar umas áreas de relva, porque a "rapeize" não pode viver sem campos de golfe. Já imaginaram? Seria o paraíso das empreiteiras gulosas: asfaltar toda uma ilha é uma obra que dá para superfaturar à grande e à francesa. E tanto asfalto era uma solução para os problemas de congestionamento do trânsito que incomodam as pessoas
nos finais de semana.
É como diz o velho deitado: “vai tudo abaixo!”


135 - Mulheres de políticos e os chifres

Mulher de político sofre. Primeiro porque as coitadas têm que pisar miudinho para evitar qualquer saia justa. O menor deslize pode abalar a carreira dos maridos. E não pensem que a coisa é de hoje. Já o orador romano Cícero deixou esta frase para a posteridade:
- À mulher de César não basta ser honesta, ela tem que parecer honesta.
Pobres mulheres. A coisa é ainda mais pérfida porque os políticos ficam bêbados de poder e caem na sacanagem. E alguns deles, vez por outra, são apanhados com a boca na botija (literalmente, em alguns casos). Ter chifres parece ser uma fatalidade para as pobrezinhas. Se bem que, dizem as más línguas, algumas delas pagam na mesma moeda e também enfeitam a testa dos maridos.

135 MIL COM PUTAS

Ora, políticos que pulam a cerca existem em todo o mundo. É uma lambança. Mas os Estados Unidos são o país mais pródigo nessa pilantragem. O caso mais recente é o de Eliot Spitzer, governador de Nova Iorque. O cara, um daqueles moralistas durões, estourou nada menos que 135 mil reais com putas (será que tinha um cartão corporativo?). Mas deu um tremendo azar e acabou descoberto.
Num dia Eliot Spitzer foi apanhado por ter andado no rala-e-rola com uma garota de programa e no outro apareceu em público a pedir desculpas... ao lado da mulher, Silda Wall Spitzer. Dá uma peninha, mas parece que o destino dessas mulheres é aparecer com aquele ar de resignadas e compreensivas. Infelizmente não há maquiagem que disfarce os chifres.
O caso mais famoso é, sem dúvida, o de Hillary Clinton. Ela também fez o mesmo ar de resignada e compreensiva quando se descobriu que a Sala Oval era o lugar onde o seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, se divertia a brincar com charutos e estagiárias. Terrível... o vício do fumo.
Mas os chifres das duas não competem com os de Dina Matos, que foi casada com o governador de Nova Jersey, James McGreevey. Qual a diferença? Ela descobriu que o marido tinha um caso extra-conjugal havia alguns anos... mas com um homem. Ora, ser traído por uma mulher gostosona é uma coisa. Mas perder o marido para um soldado musculoso é jogo duro...

UMA REBORDOSA

A revelação desses casos costuma acontecer nas democracias mais avançadas, como nos EUA. Por uma razão: lá os políticos sacanas são apanhados, ainda mais quando estouram o dinheiro público. E a coisa acaba vindo para a praça pública.
No Brasil, onde a democracia ainda está a engatinhar, é claro que os políticos também traem as mulheres, mas nunca são apanhados (o caso do Renan Calheiros foi um acidente de percurso). Se são apanhados, não deixam a coisa vir a público. Se as coisas vêm a público, eles assobiam para o lado e fazem de conta que nada aconteceu. E ficam na torcida para que a memória do eleitor seja mesmo curta.
O fato é que no patropi a coisa é uma autêntica rebaldaria. Um circo. Os caras-de-pau pensam que enganam alguém? O povão sabe dos malabarismos sexuais dos políticos e as histórias chegam mesmo a ser tema de conversas em mesas de bar.
- Ih... o cara montou uma empresa para a amante. E ainda compra serviços dela com o dinheiro público...
- E o outro, então, que descobriu a gravidez da amante e pagou para ela ir ter o pimpolho no exterior. Faz mais de 15 anos... e ela continua lá.
- Eh... esse truque é manjado. Eu sei de um que deportou a teúda e manteúda para a Europa, para garantir silêncio até que a poeira baixe.
E você, leitor, já ouviu algo parecido?
É como diz o velho deitado: “Sociedade machista é isso: homem público é político, mulher pública é puta”.


134 - Essa dupla é uma droga

Um telefonema possível.

Bush: Good morning, ally.
Uribe: Aliado? Não sei se devo rir ou chorar.
Bush: Qual é o problema, maifrendi?
Uribe: Ora, os teus aliados são como os iogurtes: têm prazo de validade. O Bin Laden, o Saddam, o Jean-Bertrand Aristide que o digam...
Bush: Mas isso são coisas do passado, coisas da política...
Uribe: Não se esqueça, señor Bush, que há quase 15 anos os EUA me incluíram na lista negra das pessoas ligadas ao narcotráfico.
Bush: Mas eu não era o presidente...
Uribe: Sim. Mas lembra quem era o presidente?
Bush: Hummm... deixa pra lá...
Uribe: Ah, ah, ah. Era o teu pai, cabrón. O Bush pai me acusa de ligação aos narcotraficantes do Cartel de Medellín. E o Bush filho me torna o principal aliado na América Latina. Vocês são esquisitos, muchacho.
Bush: Esquece... isso foi apagado. A tua ficha está limpinha.
Uribe: E qual é a razão do telefonema?
Bush: Dar os parabéns por essa idéia de levar o Chávez ao Tribunal de Haia. Genocídio... bem pensado.
Uribe: Sabes como é. Eu quero me manter no poder. Mas preciso de apoios. Tenho que fazer alguma coisa forte...
Bush: Que tal uma guerrinha? Funciona sempre...
Uribe: É... dava um jeitão ter uma guerra agora. Mas é arriscado...
Bush: Que nada. Uma guerra sempre serve para aumentar o apoio popular.
Uribe: Sim... e eu marcava pontos com a mídia conservadora aqui no meu país. Pode ser uma boa estratégia.
Bush: E já sabes... contas com o meu apoio irrestrito.
Uribe: Mas e se a Hillary ou o Obama chegarem ao poder? Aí eu me ferro... fico mais perdido que cego em tiroteio.
Bush: Ora, os democratas não ganham. Lembra que em 2000 eles até tiveram mais votos e não levaram? A nossa democracia tem uns truquezinhos...
Uribe: Si... Estranho é a coisa se chamar “democracia”.
Bush: Ah... e o McCain vem com sede de guerra.
Uribe: Dito assim, até sou capaz de começar umas provocaçõezinhas. Te cuida, Chávez, que lá vou eu.
Bush: É melhor começar pelo Equador. Nunca jogaste War? A gente ataca o mais fraco.
Uribe: Hombre, usted é um péssimo estrategista. É só ver a merda que fez no Iraque. Mas vou aceitar, porque é você quem dá as armas. Mas só US$ 600 milhões por ano, como tem sido até agora, é pouco...
Bush: Sem problemas. E seria uma despedida e tanto para mim... sair como entrei... com uma guerrinha.
Uribe: Sim... mas podias ganhar alguma dessas guerras, para variar.
Bush: Olha, Uribe. Tenho que desligar. Tenho o Sarkozy na outra linha... e o baixinho parece estar zangado.
Uribe: Xi. É mesmo. O nanico está no veneno...
Bush: E não é pra menos. Você foi jogar água no chope do cara.
Uribe: Eu tinha que dar uma demonstração de força.
Bush: Tão sutil quanto um macaco em loja de porcelana. Os homens estavam prontos para negociar a libertação da Betancourt e vocês invadem um país vizinho e promovem uma matança...
Uribe: Ora, diz para o Sarkozy não encher o meu “sarko”.
É como diz o velho deitado: “Bush e Uribe? É unir o inútil ao desagradável”.


133 - VERBO SOLTO

Retratos falados: pacóvios
Deus deve gostar muito dos pacóvios, porque fez milhões deles. Pode parecer teoria da conspiração, mas acho que eles estão envolvidos num plano maquiavélico para conquistar o planeta. Por serem muitos e por estarem em todos os lugares, alguns até chegam ao poder. George W. Bush, por exemplo, mostrou os estragos que um pacóvio pode provocar quando isso acontece. Aliás, essa é a prova de que cem pacóvios juntos podem formar um governo.
Fique atento. Olhe com mais atenção para os caras que governam a coisa pública, aqui pertinho ou lá em Brasília. Aliás, essa é uma das maiores “riquezas” do Brasil: tem pacóvios locais, regionais, estaduais e nacionais. Há pacóvios para todos os gostos.
Mas não é só na política. Olhe para o lado e, quem sabe, talvez identifique um deles. Veja, leitor, se reconhece algum destes tipos que elegi arbitrariamente.
Pacóvio caga-regras – Não lê, não estuda, não pesquisa... mas se julga muito bem informado. E, às vezes, até emplaca um texto no jornal. Lá por folhear o revistão semanal – que é feito à medida dos pacóvios – não ouve os outros, tem opiniões sobre tudo e adora impor as suas idéias. Não é um pensador, apenas um opinionista boquirroto.
Pacóvio digital – Em tempos de internet, os caras têm blogs de política e dedicam imenso tempo a fazer spam daqueles e-mails chatérrimos, cheios de informações erradas e desconexas. Por alguma razão que desconheço, são sempre de direita e odeiam o Lula (o alvo favorito dos seus e-mails).
Pacóvio-literati – É o pacóvio com muitos livros, talvez o mais chato de todos. O cara vive arrotando a sua superioridade intelectual para cima dos seres comuns. É pernóstico e tem um discurso cheio de citações. “Nietzsche diz que...”. Tudo fachada. Nunca
leu Nietzsche e se leu não entendeu. É um intelectual de orelha de livro.
Pacóvio apolítico – É um tipo perigoso. Não gosta de política e nem dos políticos (a não ser que um desses políticos lhe arranje uma teta pública, claro). Mas não sabe que ser apolítico é já uma atitude política.
E que só interessa aos conservadores, que querem manter o mundo exatamente como ele é.
Pacóvio viajandão – Os caras adoram ir para o exterior, para lugares chiques, e depois se pelam para ter uma fotografia publicada na coluna social. Quando não estão a viajar, são os “pacóvios arrivistas”, um tipo de pessoa que está mais interessada no alpinismo
social e num mundo onde não existe essência, só aparência. São espampanantes e têm uma vontade insaciável de aparecer.
Pacóvio pegador – Os caras parasitam os vestiários masculinos e as mesas de bar depois da pelada de futebol. “Sabe quem eu estou pegando?” Gozam mais quando contam do que quando transam. O pior é que muitas vezes estão a comer uma “pacóvia siliconada”, um tipo de mulher que tem um dedinho de cérebro e três palmos de peitos.
Pacóvio endinheirado – É o mais asqueroso de todos os pacóvios, um tipo que gosta de pisar os outros e que ganhou dinheiro muito por esperteza e pouco por inteligência. É pacóvio alguém que se ache poderoso apenas por causa do saldo bancário. É um pacóvio alguém que obrigue a empregada a usar o tal elevador social. É pacóvio alguém que use a expressão “você sabe com quem está falando?” É pacóvio alguém que tenha prazer em exibir sinais exteriores de riqueza.
E por aí vai...
É como diz o velho deitado: “Um pacóvio é apenas um pacóvio. Dez pacóvios são apenas dez pacóvios. Uma multidão de pacóvios faz um inferno”.


132 - VERBO SOLTO

Retratos falados: filhos da teta
Diga, leitor, qual é a coisa de que o brasileiro mais gosta? Carnaval, samba, sexo, cerveja, futebol? Que nada. É uma teta no poder público. Dez entre dez brasileiros
sonham em ter uma boquinha num lugar onde o cara ganha bem, trabalha pouquíssimo e ainda tem estabilidade no emprego. Se houver um cartão corporativo com crédito
ilimitado, então é o paraíso.
É óbvio que estamos a falar da função pública. Afinal, não há por aí empresários que gostem de jogar dinheiro fora. A iniciativa privada tem um compromisso com o lucro e a produtividade e não pode atirar reais pela janela. A não ser, claro, as empresas que têm negócios com o Estado e vivem do superfaturamento de obras e das maracutaias nossas de cada dia. Aí os caras acendem charutos com notas de 100 reais.

TETAS PARA OS AMIGOS
O poder público é uma vaca com muitas e fartas tetas. Que nunca secam. Todo mundo – inclusive o leitor – conhece alguém que conseguiu um emprego público por causa do QI (quem indicou). E quando a gente olha para certas pessoas em certos cargos, uma pergunta é inevitável:
– Como é que esta múmia chegou lá? Terá feito um concurso?
Que nada. Isso dos concursos é apenas para os otários que estão dispostos a trabalhar. É o reino do pistolão, a política à moda brasileira. E por política vamos entender o compadrio, o amiguismo e o lambe-botismo (virgi, acho que isto é um neologismo).
Deve fazer bem para o ego, porque muitos políticos, quando chegam ao poder, adoram ficar rodeados de puxa-sacos. E só há uma regra: é preciso usar a língua como instrumento de trabalho. Ah... e não estou a falar de poliglotas, porque os caras mal e porcamente falam o português. Outros idiomas... nem pensar. As criaturas usam a língua para lamber botas. Aliás, só na política brasileira, onde a falta de coluna vertebral é quase uma regra, pode haver uma expressão popular como esta:
– Quem não puxa saco, puxa carroça.

TOMA-LÁ-DÁ-CÁ
A coisa é pior nos governos – municipais, estaduais ou federal, não importa – que se eternizam no poder.
Dizem que o hábito do cachimbo faz a boca torta. É por isso que, mesmo que algumas vezes mudem os nomes, permanecem os vícios, as idéias (ou a falta delas) e a lógica do toma-lá-dá-cá. É a institucionalização da teta.
Quando a gente olha para certos quadros “profissionais” do poder público, em qualquer nível, fica com a sensação de que a expressão “aspone” não é apenas piada, mas um modus vivendi.
A coisa não é de hoje. Porque está na história e faz parte do próprio código genético da Nação. É o que se depreende, por exemplo, deste texto escrito em 1914 por Ruy Barbosa, que, além de jurista, também foi político:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Em que pese o tom moralista do texto de Ruy Barbosa, o fato é que causa asco saber que há tantas nulidades em lugares pelos quais não tiveram que lutar e que efetivamente não merecem. Uns verdadeiros filhos da teta.
É como diz o velho deitado: “Eu chego lá. Nem que seja preciso trabalhar”.


131 - VERBO SOLTO

O Brasil é o paraíso
Reunião de executivos de uma empresa européia.
CEO: Senhores, a ordem é expandir os negócios. Sugestões...
Dir. de planejamento: Uma nova fábrica?
Dir. operacional: Sim. Em Nice ou Cannes, que têm boas infra-estruturas...
Dir. de relações públicas: Tá louco, mon ami? Essas são duas das mais belas cidades do país. Ainda tínhamos uma revolução.
CEO: Por quê?
Dir. de relações públicas: Fala sério. O povão não ia deixar a gente destruir a paisagem. Os ecologistas iam fazer o maior auê...
Dir. financeiro: E o investimento é alto. Não sei se estamos preparados.
Dir. de recursos humanos: Sim. E os trabalhadores europeus são um problema... têm muitos direitos e custam caro.
CEO: Monsieurs, esta reunião é para encontrar soluções. E vocês só me aparecem com problemas.
Dir. de relações públicas: Mas as pessoas já não gostam de chaminés. De repente, todo mundo entrou numa de preservar a natureza.
CEO: Maldito Al Gore. Mas é moda, passa...
Dir. de relações públicas: Não passa. Aqui no Primeiro Mundo as pessoas estão esclarecidas e convictas. E já não se deixam levar pela conversa mole de políticos e
empresários.
CEO: Essa gente não gosta do progresso?
Dir. de relações públicas: Depende do que chama“progresso”.

Impasse e silêncio

Dir. de marketing: Eu tenho uma solução.
CEO: Diga, então...
Dir. de marketing: A globalização. A fábrica não precisa ser na Europa.
CEO: Sugira.
Dir. de marketing: O Brasil. Lá os caras são loucos por chaminés. E não se importam que a gente destrua a natureza.
CEO: Sério?
Dir. de marketing: Claro. É só dizer que a gente vai gerar empregos. Aí podemos fazer tudo o que quisermos. Ah... a mão-de-obra é baratinha.
CEO: E as autoridades?
Dir. de marketing: Ora, há Estados em que os caras são capazes de nos receber como heróis. Isso dos empregos ainda dá votos. E é o que interessa aos políticos brasileiros...
CEO: Os ecologistas não vão chatear?
Dir. de marketing: Ah... não é como aqui na Europa. Lá os ecologistas ainda são vistos como uns chatos que só servem para atrapalhar.
CEO: E o povo? As pessoas não vão se chatear se a gente destruir as belezas naturais e poluir o ambiente?
Dir. de marketing: Ah... o povo só fica ligado no samba, Carnaval e futebol.
CEO: Mas é importante criar um goodwill com a população...
Dir. de marketing: Já está tudo planejado. A gente chega e oferece umas traquitanas para as instituições de caridade, os hospitais, as escolas. Um investimentozinho de nada.... mas eles vão achar que estamos mesmo interessados no bem-estar das pessoas.
CEO: E a poluição?
Dir. de marketing: Já pensei. A gente cria um prêmio de “excelência ecológica” para as indústrias que não poluem...
CEO: ... mas todas as indústrias poluem.
Dir. de marketing: Sim. Só que ninguém vai tocar no assunto. A gente faz campanhas de publicidade nos meios de comunicação. Quem não abre mão da grana dos anúncios, não abre a boca.
CEO: Uau... esse lugar vai ser o paraíso para nós...
Dir. de marketing: Sim. E quando virar um inferno, a gente faz como fazem todas as outras empresas: deslocaliza e vai para outro país. É como diz o velho deitado: “O pior cego é aquele que não quer ouvir”.


130 -Deus não dá o peixe, ensina a pescar

– Você existe mesmo?
– É claro que existo. Não estou aqui falando contigo?
– Ora, pode ser uma alucinação. Por que, raios, Deus ia sentar ao meu lado numa pescaria?
– Sabes que sou onipresente, que estou em todo lado. Mas quando quero tirar umas horinhas para relaxar, este é o meu rio preferido.
– Desculpe, Deus, se parece falta de respeito, mas acho que você é um tremendo pé-frio. Estamos aqui faz um tempão e não apanhamos um bagrezinho sequer. Que tal usar os seus poderes...
– Eu ensino a pescar, mas não dou o peixe. Tens é que acordar mais cedo. Tu chegaste tarde e os peixes com certeza já foram para outro pesqueiro.
– Já sei... lá vem a lenga-lenga de que Deus ajuda quem cedo madruga.
– Exato. Eu sempre vinha pescar aqui com o meu filho, mas desisti: nunca pego nada e ele sempre leva o samburá cheio. Parece que ele faz milagres com os peixes.
– Não acha que está velho demais para ficar aqui o dia inteiro sentado a pescar? É cansativo para uma pessoa da sua idade.
– Não sou velho.
– Desculpe a intimidade, Deus, mas você é mais velho que o rascunho da Bíblia.
– Eu apenas pareço velho. A culpa é do Michelangelo, que me pintou com estas barbas brancas lá na Capela Sistina. Mas estou em forma. Faço ginástica cinco vezes por semana e tenho um abdômen de aço.
– Hummm... se você fala português e vem pescar neste rio, então quer dizer que é mesmo brasileiro...
– Sou brasileiro... também. Aliás, quando criei este País foi com a intenção de vir para cá descansar. Não ficou bonito?
– O País é lindo. Mas aposto que, para compensar, você mandou os piores políticos do mundo para cá.
– Ahá... brasileiro é muito mal-agradecido. E eu não mandei os melhores jogadores de futebol para cá?
– Ok... mas se você é brasileiro, por que a gente não ganhou a Copa de 1982? Pô, a gente tinha um timão. E aqueles três gols do Paolo Rossi no jogo com a Itália foram a maior sacanagem.
– Deus pode estar em todos os lugares, mas às vezes eu me distraio. Naquele dia eu estava surfando em Bali e acabei por me esquecer da vida. É cada onda, brother...
– Yé, brother. Mas enquanto você descansa, o Rossi fica endiabrado. E aquela história de que Deus não joga, mas fiscaliza?
– Ingrato. Sabes que eu escrevo certo por linhas tortas. E repus a verdade na Copa de 1994. Ou achas que o Baggio chutou aquele pênalti para o céu por acaso? Foi a mão de Deus...
– Ora, esse é o Maradona.
– Pô, esse cara anda fazendo concorrência. Pode? Existe até uma tal igreja maradoniana.
– Liga não. Esses argentinos são malucos. Mudando de assunto, posso fazer uma pergunta?
– Claro.
– Por que Deus não pode ser mulher?
– É claro que pode. Mas é que o pessoal não ia se acostumar a dizer “a” Deus em vez de “o” Deus. Já imaginaste alguém a dizer “ai, minha Deus”? É meio cacofônico.
– E por falar nisso, adeus. Tá na minha hora.
– A gente se vê amanhã...
– Claro, se Deus... ou melhor, se você quiser. É como diz o velho deitado: “Um dúvida filosófica: se Deus é o criador de tudo, quem criou Deus?”


129 - O inimigo público número 1

Olhar para o chão. É a regra fundamental para quem quer caminhar por certas cidades da Europa. O inimigo número 1 dos pedestres pode aparecer a qualquer momento e está por todos os lados. Ou melhor, no chão: é a bosta de cachorro.
O pobre turista está em Trieste deslumbrado a olhar para uma fonte e "ploff"... pisou. Um passeio por qualquer rua de Lisboa pode acabar com a sola daquele tênis novinho e caríssimo (que você comprou para a viagem) cheio de caca de cão. Ah... a ironia é que em Portugal os donos dos bicharocos têm a mania de chamar a coisa de "presentinho de cão". Presentinho? Ora, façam o favor. Dá vontade de devolver:
Diga o dia do seu aniversário que eu também vou mandar um presentinho.
E mesmo em Paris, a cidade que mais recebe turistas em todo o mundo, ninguém está livre. Aliás, não sei se o leitor se lembra do filme "Pret-a-Porter", que o diretor Robert Altman realizou nos anos 90. É uma história feita de shortcuts e tem um ponto comum: todos os personagens, num ou noutro momento, pisam em bosta de cão. Pelo menos os diálogos ficam facilitados, porque nesse momento a expressão é sempre a mesma... só muda a língua.
- Merde.
- Shit.
- Mierda.
- Scheiße
E por falar em palavras, uma dúvida me assaltou enquanto escrevia este texto. O que seria mais recomendável escrever, em português suave: merda de cão ou cocô de cão? Sim, porque há pessoas que consideram merda uma palavra ofensiva. E até o computador tem os seus moralismos, porque o corretor ortográfico avisa que a palavra está errada.
Mas um marmanjo como eu escrevendo cocô ia ficar esquisito. E escrever "m...", como muita gente faz, é uma bosta. Aliás, merda não é palavrão. É parte da vida (a não ser para os que têm prisão de ventre, claro).

Biocombustível de caca
Muitos brasileiros que viajam para o Velho Mundo acham que os europeus são muito cabisbaixos. Errado. Os caras estão apenas olhando para o chão para não pisarem na caca.
Não sei se o leitor sabe, mas em San Francisco, na Califórnia, os caras inventaram um sistema para usar a porcaria de cão como biocombustível. É que a cidade é conhecida por ter muitos cachorros, que produzem toneladas mensais de caca. Aliás, isso exige uma reflexão. Se o álcool de cana-de-açúcar deixa um cheirinho de caipirinha no ar, vamos imaginar o cheiro de um combustível a partir da bosta de cão. Bleargh!
Mas o que mais chateia são os donos dos bichos. Dá uma peninha. Em geral os caras pertencem à geração dos empty-nesters e, por não terem os filhos por perto, transferem as afetividades para os cães. E pior: parece que os tipos nunca se cansam de limpar fraldas. Se não têm bebês, passam a recolher bosta de cão. Não consigo imaginar coisa mais nojenta do que os donos dos cães levarem os bichos para caminhar com luvas na mão e saquinhos no bolso. O cachorro solta a porcaria e o cara vai lá pegar. Pode ser civilizado, mas é um nojo. Uma merda, literalmente.
É como diz o velho deitado: "Plofft, splash, schlupp, squiich".


128 - Os especialistas e o adultério

São tempos muito estranhos, leitores.
Tão estranhos que hoje em dia é preciso haver especialistas para explicar quase tudo. É lógico que os especialistas são importantes em áreas como a medicina ou a engenharia, por exemplo. Mas há atividades em que os caras são tão necessários quanto uma escola de samba num velório.
É só ler os jornais para ver que temos especialistas em tudo: futebol, música, cinema, religião, literatura e o escambau. Ou, ainda mais alucinante: há especialistas em “gestão de crise midiática”, “usabilidade”, “conteúdos” ou “políticas públicas” (estes devem ter pouco para fazer).
Mas o que é um especialista, afinal? Diz o povo: é o cara que sabe cada vez mais sobre cada vez menos. E eu completo: o especialista perfeito é o cara que evolui até saber tudo sobre nada.

Especialistas em cibercornos

Os especialistas mais interessantes são os que, por estranhas razões, acabam ficando ligados ao mundo das infidelidades. E não estou a falar dos velhos detetives particulares.
Um dia destes, soube que existe uma profissão para lá de intrigante: são os psicólogos especializados em “antropologia do mundo virtual”. E para que servem os sujeitos? Pelo que entendi, eles cuidam de dar um jeito na cachola dos viciados em internet.
O leitor e a leitora, pouco familiarizados com as novas tecnologias, devem estar a perguntar.
– O que é um viciado em internet?
Ora, os caras passam horas, horas e mais horas à frente do computador. E posso garantir que não é para estudar filosofia. O seu marido costuma navegar pela internet até de madrugada? A sua mulher não larga o computador por nada? Hummm... há um cheirinho de sacanagem no ar. Então, tenho boas e más notícias. A má é que, segundo as estatísticas, o ciberadultério está na moda e o número de “cibercornos” não pára de crescer em todo o mundo. A boa é que os tais especialistas em mundo virtual garantem o tratamento psicológico (não sei se antes ou depois do adultério).
Uma coisa é certa: não vai faltar trabalho para os caras. Dizem que hoje em dia o número de viciados em internet é maior do que os viciados em heroína, por exemplo. Um estudo realizado por especialistas (claro) da Espanha revelou os seguintes dados: 2,5 milhões de espanhóis cometem o ciberadultério (namoram “inocentemente” nos chats), mas um em cada 20 acaba mesmo indo às vias de fato com a outra pessoa. Aliás, o número só não é maior porque na Espanha não há motéis.

Sonambulismo esquisito

Mas de todas as histórias, a mais estranha é uma ocorrida na Austrália há algum tempo. Um médico especialista em distúrbios do sono revelou um caso para lá de freak (esquisito) à comunidade científica. Uma mulher era sonâmbula e, nos ataques de sonambulismo, transava com quem aparecesse pela frente. Mas não fique a pensar mal dela, leitor. A tal paciente era uma respeitável senhora de meia-idade, casada, e nada podia fazer suspeitar dessas puladas de cerca.
O fato é que, segundo o relato do médico, a coisa durou um tempão. Até que, um dia, o marido, já muito desconfiado, seguiu a mulher e deu o maior flagra quando ela estava a transar com outro homem. Sabem o que aconteceu? Ora, o tal especialista livrou a cara da mulher: disse que não eram casos extraconjugais, mas, sim, ataques de sonambulismo. Dá para acreditar? Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...
Mas fica a lição, leitor e leitora. Se um dia for apanhado no flagra em cama alheia, não perca a compostura. Telefone a um psicólogo e finja que é um ataque de sonambulismo.
É como diz o' velho deitado: “Trair e caçoar, é só começar”.


127 - O chulé faz a diferença

Tive um professor de filosofia que um dia levantou uma questão interessante.
– Qual é o maior medo do ser humano? A morte ou a solidão?
Nem foi preciso refletir muito. Todos disseram que é a morte. Mas o professor, que adivinhava a resposta, propôs outra reflexão.
– Quem gostaria de ser imortal, mas passar a eternidade numa nave espacial a vagar sozinho pelo universo sem jamais encontrar outro ser humano ou qualquer coisa além da escuridão?
Visto dessa maneira, a solidão parece ser o pior dos males. E talvez seja. Porque é o grande fantasma da civilização moderna, a causa de muitas neuroses, infelicidades e depressões.
Toda essa conversa para introduzir um tema: as novas tecnologias, em especial a internet, têm servido para dar um drible na solidão. Há histórias felizes, outras nem tanto...

O amor é uma Bósnia

Faz algumas semanas a imprensa focou um caso interessante, ocorrido na Bósnia. "Prince Of Joy" (nickname), de 32 anos, procurou companhia numa sala de bate-papo. Foi lá que conheceu "Sweetie" (nickname), de 27 anos, e aconteceu algo comum nos chats: não foi preciso muito rame-rame para que os dois acabassem apaixonados.
Eram feitos um para o outro. Mas havia um problema: como ambos estavam casados – e infelizes no casamento –, era preciso dar com os pés nos respectivos. Um passo radical. E antes eles tinham de se conhecer pessoalmente, claro. Marcaram um encontro.
Quando chegaram ao bar, a surpresa: "Prince Of Joy" era Adnan Klaric e "Sweetie" era Sana Klaric. Marido e mulher. O inesperado encontro revoltou os dois, que decidiram pedir o divórcio alegando traição. Sana era a mais indignada e chegou a confessar:
– Pensei ter encontrado o amor da minha vida.
O juiz rejeitou o pedido de divórcio. Afinal, se os caras estavam apaixonados na internet, também deviam estar apaixonados na vida real. Mas parece que não. O problema da vida real é a proxemia: as pessoas podem roncar, ter mau hálito ou fazer um sexo horrível (se fizerem sexo, claro).

Salas de bate-papo

A internet é um remédio para a solidão. E o fato é que as salas de bate-papo são uma grande invenção para as pessoas que não conseguem encontrar uma "alma gêmea" na vida real. Eu não sei se o leitor já foi a um chat, mas aquilo parece o paraíso. Lá as pessoas parecem todas bonitas, inteligentes e bem-sucedidas. E, claro, ninguém tem chulé.
Há um padrão: nas salas de bate-papo, os homens procuram sexo e as mulheres procuram amor. Mas cá entre nós (e que nenhuma feminista nos ouça, porque não quero sutiãs queimados à porta de casa), as mulheres também procuram sexo. Só que para não parecerem vagabundas fazem de conta que querem só um relacionamento "sério". Há tantas pistoleiras nos chats que às vezes o sujeito tem a impressão de estar no Velho Oeste.
Ah... e não se iluda. Não há as tais pessoas inteligentes, bonitas e bem resolvidas nas salas de bate-papo. Se elas forem tudo isso, por que precisariam ir lá?
De qualquer forma, há sempre um chinelo velho para um pé cansado. E a coisa dos chats até tem virtudes, porque funciona como um filtro natural que junta as pessoas. Um cara burro no dia-a-dia continua burro na sala de bate-papo. A vantagem é que sempre pode encontrar outra pessoa ainda mais burra que ele... que se apaixona. Muitos acabam casando... e é aí que a maionese desanda.
É como diz o velho deitado: "Se está se sentindo sozinho, abandonado e sem ninguém ao seu lado, isso tem uma explicação: você provavelmente é um chato".


126 - Lá vem o Brasil descendo a ladeira

O Brasil anda cada vez mais estranho. O Febeapá (festival de besteiras que assola o País) é tão grande que o próprio Stanislaw Ponte Preta morreria com uma overdose de besteirol ao ler os noticiários. O País está a se tornar o reino da irrelevância, do risível e do destrambelhamento.
Funcionalismo – Há poucas coisas mais terceiro-mundistas do que haver um dia do funcionário público com direito a folga. E este ano a data calhou num domingo. Que fazer? Alguns prefeitos são craques em rir na cara de quem paga impostos: deram um jeitinho e liberaram o funcionalismo em outros dias da semana. Legais esses prefeitos. No ano que vem, o tal dia cai numa terça-feira. Hummm... há um cheirinho de feriado emendado. É inveja, claro. Afinal, ninguém ainda se lembrou de criar o dia do funcionário das empresas privadas (com direito a folga, claro).
Who? – Li, um dia destes, as declarações de uma tal Íris Stefanelli, a ironizar o romance do ex-namorado, um tal Diego Alemão, com uma tal Tatiana Welikson. Mas o que é isso? Quem é toda essa gente de quem eu nunca ouvi falar? Ora, um sujeito não pode ficar mais que seis meses longe do Brasil que já não conhece ninguém. Pergunta inocente de quem vive no exterior: o que essa gente fez de relevante para os seus affaires serem citados nos jornais?
Herói – O Capitão Nascimento é o novo herói da classe média brasileira. O homem não existe, mas tem dezenas de comunidades no Orkut. Não é de espantar o gosto pelo simulacro. Afinal, o personagem lava a alma da classe média do patropi... e lava em sangue. Com o filme, o Capitão Nascimento fez com que muita gente reencontrasse o seu lado fascistóide, que andava meio escondido e acanhado. Para quem gosta de criminalizar a pobreza, pobre bom é pobre morto. "Ah... que bom seria se, em vez de tropa de elite, fosse a tropa das elites..."
Sexy – Juliana Paes foi (re)eleita a mulher mais sexy do mundo por uma revista brasileira. Do mundo? Fico aqui a pensar que ela deve ter tido uma votação massiva em Bangladesh, na Arábia Saudita e até no Cazaquistão. Ora, é claro que a moça é um tremendo avião. Mas eleger a mais sexy do mundo só com votos dos brasileiros é uma tremenda parolice. Menos, moçada, menos...
Macumbeiro – O Corinthians perdeu o seu pai-de-santo oficial. Robério de Ogum deixou de dar proteção espiritual ao Coringão. Ora, a coisa é bisonha por duas razões (para não termos de procurar outras). A primeira é um time de futebol acreditar que, por ter um pai-de-santo a fazer despachos, é capaz de ganhar jogos e fugir do rebaixamento. A segunda é a imprensa dar importância ao fato. Fui ao site do homem e descobri que ele realmente tem poderes: há um lugar onde você põe a data do seu nascimento e ele adivinha a sua idade. Vai ser mediúnico assim em outro terreiro.
Topless – Luana Piovani não gosta dos paparazzi brasileiros. A gente pode pensar que ela não queira ter a sua privacidade invadida. Mas não. A moçoila vai a Nova York com um fotógrafo a tiracolo e tira uma foto em topless para publicar no seu site. Topless? Nem tanto, porque o providencial braço do irmão não deixa mostrar aquilo que os marmanjos querem ver. O que houve então? Nada. É um não-acontecimento, uma jogada promocional para pôr o nome da moçoila na ribalta. E os jornais vão na cantiga. Esperta a Luana, idiotas os jornalistas.
É como diz o velho deitado: "A gente pensa que é o fundo do poço, mas eles continuam cavando".


125 - A direita é burra?

Você é de direita ou de esquerda?
Já sei... vai ficar aí repetindo aquele discurso manjado de que essa discussão já não interessa:
– Todo mundo sabe que isso de ser de esquerda ou de direita é besteira, coisa do passado.
Ah... se concorda com essa treta, então deve ser de direita, porque é a fraseologia que os conservadores vêm repetindo ad nauseum nas últimas décadas.
Mas se é de direita, tenho uma boa e uma má notícia. A boa é que você está em maioria. Uma pesquisa divulgada no ano passado diz que 47% da população brasileira se consideram de direita e apenas 30% de esquerda. A má notícia: a direita é mais lenta de raciocínio que os caras da esquerda.
Ooooops! Não sou eu quem diz, mas a ciência. Ser liberal ou conservador não se resume às convicções de cada um. É também uma questão de atividade cerebral.

Os cientistas cofirmam

Um estudo recente, realizado na Universidade de Nova York, sob a orientação do pesquisador David Amodio, chegou a esta interessante conclusão: os cérebros dos caras da esquerda funcionam quase ao dobro da velocidade dos da direita. A pesquisa, publicada pela revista britânica “Nature Neuroscience”, foi feita por meio de eletroencefalogramas que permitiram analisar a atividade cerebral de mais de 40 pessoas.
O fato é que, segundo o estudo, um sujeito de direita tende a reagir de maneira conservadora quando submetido a um novo estímulo. E a rapaziada da esquerda é open-mind, reagindo de maneira mais rápida, aberta e criativa. A pesquisa não falava de política, mas de coisas práticas da vida. Ou seja: você está habituado a ir pela mesma rua todos os dias. Mas se um dia a rua está fechada, o pessoal da esquerda decide logo o que fazer, enquanto o da direita fica patinando para decidir.
A culpa, segundo os estudiosos, é do córtex cingulado anterior, uma partezinha no cérebro que determina a velocidade com que o indivíduo reage às mudanças e aos estímulos exteriores. A coisa é simples: os conservadores reagem de um jeito conservador... muito mais lento.

A esquerda festiva

Sem querer invadir o campo da ciência, tomo a liberdade de fazer uma leitura pessoal dessa pesquisa. Ela faz ruir, por exemplo, um clichê que a direita gosta de usar, em tom de deboche: acusar a esquerda de ser festiva. Ora, nada mais natural. O córtex cingulado anterior explica tudo. Se os caras são criativos e mais abertos, é lógico que vão gostar de festa. Quem gosta de festa é sempre mais sociável, socializante e até socialista.
É por isso que a mesa de bar é reduto das esquerdas e onde o pessoal forma grandes amizades. Só quem tem mente aberta pode gostar ambientes onde rola uma cervejinha, o alto astral e um interminável jogar conversa fora. Aliás, como dizia Vinícius de Moraes, nunca uma boa amizade surgiu numa leitaria.
Uma perguntinha inocente: alguém consegue imaginar uma “direita festiva”? Claro que não. Mas a culpa é do córtex cingulado anterior.
É como diz o velho deitado: “Dúvida: se o Lula deixou de ser de esquerda, isso significa que...”


124 - Machos, sexismo e homofobia

Apesar do que as mulheres pensam, ser homem também é muito complicado. O mundo dos heteros é habitado por fantasmas que provocam enormes amargos de boca: o medo de broxar, o trauma do pirilau pequeno ou, quem sabe, a ejaculação precoce. Mas a coisa não fica por aí.
O maior pavor do hetero comum é que alguém duvide da sua masculinidade. Não pode haver qualquer suspeita sobre a sua “macheza”. Se por acaso alguém um dia duvidar da sua orientação sexual, é o caos total. O hetero entra em colapso. O medo é tanto que os caras passam cada minuto da vida a tentar mostrar o quanto são machos.

Coisa de macho
O vestiário masculino, em especial depois da peladinha de futebol, é o pior lugar do mundo. É lá que os caras assumem o lado brucutu sem o menor pudor. Passam o tempo a falar de mulheres, mesmo as mulheres dos amigos (desde que os amigos não estejam presentes, claro), como se elas fossem simples figurantes do universo masculino. Coisa de macho, algo que nunca falta é o relatório das ocorrências sexuais. O vestiário masculino mais parece um estábulo, tal o número de garanhões.
– Tu sabe quem anda comendo a mulher do Juca?
– Não é o Ricardo?
– Não, o Ricardo transou com ela no ano passado, mas já acabou.
– Quem é então?
– O Marcelo, aquele casado com a Vanessa... aquela boazuda lá do country club.
– Essa Vanessa é um avião. Pô, esse Marcelo sabe se tratar bem.
– Pera aí. Não foi esse cara que andou com uns problemas esquisitos?
– Claro. Ele até andou fazendo psicanálise.
– Pô, isso de psicanálise é uma frescura... pra mim isso é coisa de quem tem o bilau pequeno.
– Tu já andou a olhar para o bilau do cara?!
– Tá me estranhando, cumpadre? É apenas uma forma de expressão...
– Eh... isso de falar na ferramenta dos outros é meio suspeito.
– Manera aí, mermão. Eu sou espada, pô.

Homofobia e macheza
O mais engraçado é que nesses ambientes os níveis de sexismo e homofobia sobem à estratosfera. Não importa se o cara é um fracassado na cama, se nunca conseguiu dar um orgasmo a uma mulher ou se elas fogem dele como fogem da lepra. Lá no vestiário ele é o macho e está no topo da cadeia alimentar de um mundo onde as mulheres (qualquer uma delas) são simples objetos.
Afinal, numa sociedade machista, ser macho é uma moeda de troca: quanto mais macho eu for, mais os outros machos vão me respeitar. É claro que essa lógica só vale para os imbecis... e são justamente esse os que acabam por se tornar também homofóbicos.
Aliás, sem querer freudianizar a coisa, sou capaz de apostar que quanto mais homofóbico é um sujeito, menor é a confiança que ele tem na própria virilidade.
É como diz o velho deitado: “Eles estão tão preocupados em mostrar aos outros machos o quanto são machos... que se esquecem das mulheres”.


123 - Vou estar gerundiando

Se fosse algum político da esquerda, a esta hora já tinha virado piada nacional. Mas a decisão de demitir o gerúndio veio de um governador da direita, José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, e quase não houve barulho nem risinhos sarcásticos. Lembremos que o deputado Aldo Rebelo, que é de esquerda, quis impedir as palavras estrangeiras e ainda hoje é tratado na base da gozação.
Uma pessoa com alguma memória é incapaz de cair de amores pelo tal DEM e os seus políticos. Afinal, é bom não esquecer que, por mais que mude de nome, o código genético do partido está repleto dos genes tortos da ditadura. Aliás, se em democracia um partido precisa afirmar, no próprio nome, que é democrata, então há algo de errado. É mais ou menos como um padre afirmar que acredita em Deus.
Mas desta vez eu estou de acordo.

VOU ESTAR CONCORDANDO

O decreto nº 28.314, assinado pelo governador, faz sentido. E não dá para entender a chiadeira dos puristas da língua (será que são assim tão puristas?). O gerundismo não devia ser apenas demitido, mas exilado, banido, escorraçado.
Ok... o gerúndio está de acordo com a sintaxe do português. Mas se, como quer Wittgenstein, os limites do pensamento são os limites da linguagem, fica fácil perceber o risco que a humanidade corre. Já imaginou se todos nós começássemos a falar ou a pensar como os operadores de telemarketing? Ia ser o inferno lexical.
- Vou estar chegando atrasado à reunião.
- Vou estar avisando na semana que vem.
- Vou estar respondendo à sua solicitação.
Aliás, o governador deveria ser ainda mais radical e proibir qualquer frase que começasse com esse execrável “vou estar”. Eu, pelo menos, “vou estar concordando”, porque acho correta a leitura política do decreto, que diz o seguinte:
- Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência.
Ou seja, o uso e abuso do gerúndio ajuda a propagar a ineficácia.

VOU ESTAR PERGUNTANDO

O gerundismo aponta para a preguiça. Há uma enorme diferença entre as duas formas de encarar um problema. Qual acha que será mais eficaz?
-        Vou resolver.
-        Vou estar resolvendo.
Ora, no segundo caso parece que a coisa nunca vai estar pronta.
O pior é que o gerundismo deixou de ser coisa apenas das pessoas menos escolarizadas. O vício já vai estar chegando ao gabinete do chefe.
Outra coisa, leitor. Não se preocupe, porque o gerúndio não faz grande falta. Em Portugal, por exemplo, ninguém usa e nem por isso deixou de conseguir comunicar. Aliás, o gerúndio é mantido vivo apenas pelos alentejanos. E talvez isso tenha alguma coisa a ver com o fato de eles serem considerados preguiçosos (o que não corresponde à verdade, garanto) e de terem virado tema de piada. Os portugueses, vale lembrar, contam piadas de alentejanos.
Uma coisa é certa: as pessoas precisam estar vendo que o gerundismo vai estar destruindo a elegância da língua portuguesa.
É como diz o velho deitado: “Ora, português mal dizido a gente acorrege”.


122 - Mulheres, silicone e livros

É comum ouvir as mulheres a repetirem a lenga-lenga: os homens que valem a pena estão casados ou são gays. Toda frase feita tem um fundo de verdade. Mas neste caso serve também para escamotear a incompetência de muitas mulheres para conquistar um homem a sério. Porque há muitas (muitíssimas) delas totalmente desprovidas de interesse.
Sempre que vejo uma mulher bonita sem namorado, fico logo a desconfiar. Ou é burra como uma porta ou uma chata insuportável. Quando não é as duas coisas ao mesmo tempo. Aliás, é incrível o número de mulheres sem o menor encanto que passa a vida à espera do príncipe encantado.

Cabeça de novela

O pior tipo de mulher é a que tem o cérebro formatado pelo novelão da Globo. Um toque: os homens não são propriamente contra as novelas. E até acham interessante saber que o sacana do Olavo matou a Taís. O que chateia é o fato de ter de esperar meses, meses e meses para saber disso.
O problema é o formato das novelas. Uma coisa que obriga as pessoas a ficarem em casa, todos os dias, prostradas como vegetais à frente da televisão, faz mal à inteligência. A mulher com cabeça de novela acaba sem ter o que dizer. E o silêncio é fatal para qualquer relacionamento. Ah... os tais homens que valem a pena provavelmente gostam de um bom filme do Fellini ou do Buñuel. Elas é que ainda não perceberam.
Se ainda não está convencida, leitora, então eu faço uma analogia. Imagine que chatice seria se o futebol fosse como as novelas e o meu time jogasse todos os dias. Eu sou torcedor do Santos, mas não me interessa ver a cara do Vanderley Luxemburgo na segunda, terça, quarta, quinta, sexta-feira... Argh! Aliás, mulheres que só falam em novela e homens que só falam em futebol são o vudu dos vudus.

Perfeitas e imperfeitas

Outro erro estratégico que as mulheres cometem é essa obsessão com um corpo perfeito. E tome ginástica. E tome dieta. E tome silicone. Os homens gostam de corpos bonitos, claro. Só que uma pequena imperfeição também pode ser sexy. Mas chato mesmo é saber que essa neurose do corpo perfeito não é por causa dos homens. Na verdade elas querem é mostrar às amigas – e inimigas – que estão gostosonas. Vai me desmentir, leitora?
Seria natural pensar que as mulheres desejam estar lindas para os homens. E, claro, para fazerem sexo fabuloso. Mas que nada. O sexo parece não ser assim tão importante. Um aviso. Não é preciso ter um corpo esculpido para fazer sexo gostoso. O que faz o sexo ser bom é a atitude, o desejo, a mente aberta. Outra coisa: no sexo é fácil descobrir perfeições nas mulheres de corpos imperfeitos, mas as imperfeições nas mulheres de corpos perfeitos acabam por ser gritantes.
Outro toque. Ter silicone no corpo não é necessariamente sinal de beleza. É uma fraude. Nenhum homem (pelo menos a maioria) gosta da sensação de transar com o Robocop. Ah... mais uma coisa. Acha que é importante dar uma recauchutada nos seios? Tudo bem. Mas alguns homens – os tais que valem a pena e não são gays – preferem que dê uma recauchutada no cérebro.
O que escolheria? Uns 200 gramas de silicone para pôr nos peitos ou 200 livros com textos a sério? Se escolheu o silicone, não fique a reclamar que os homens que valem a pena estão casados ou são gays. É você que não vale a pena.
É como diz o velho deitado: "Ela tem seios cheios de silicone, o bumbum cheio de silicone... e um enorme vazio no cérebro".


121 - A mais antiga profissão

Dizem que a prostituição é a mais antiga profissão do mundo. Que nada. A mais antiga profissão é a publicidade. Ou acha que a serpente no paraíso era o quê? Com falinhas mansas, ela conseguiu fazer Eva comer algo que não precisava e que só iria lhe trazer coisas ruins. É exatamente o trabalho dos publicitários: prometer o paraíso e não poder cumprir.
E nem os homens mais santos estão livres. O leitor já ouviu dizer que "o diabo veste Prada". Ora, mas adivinhe quem ganhou espaço nos noticiários justamente por calçar sapatos Prada... Isso mesmo: o próprio Joseph Ratzinger (as known as Bento 16), que passou a ser conhecido como o papa fashion. Não se surpreendam, leitores, se o diabo tiver infiltrado um publicitário no Vaticano.

Pacto com o Diabo

Os publicitários têm um pacto com o diabo e para isso venderam a alma. Mas acontece que o chifrudo foi enganado. Comprou uma coisa que não teria qualquer serventia, pagou uma nota preta e ainda por cima não recebeu o fruto da compra. Porque tal mercadoria não existe: os publicitários, todos sabemos, não têm alma.
Os indícios desse pacto são claros. Os publicitários são terríveis workaholics e só têm cabeça para uma única coisa: a publicidade. Ora, isso quer dizer que o cérebro dos caras opera com capacidade ociosa. E, diz a voz do povo (que, por acaso, é a voz de Deus), que cabeça vazia é a oficina do diabo.
Há tantas ligações entre os publicitários e o diabo que fica difícil disfarçar algumas delas. A marca do McDonald's, por exemplo, quando vista ao contrário, é o tridente do tinhoso. Ah... a marca da Apple, que fabrica os computadores MacIntosh, é uma maçã mordida, em mais uma referência à pobrezinha da Eva. E a empresa de artigos esportivos Charlie nem procurou disfarçar: o slogan é "Made In Hell" (fabricado no inferno).

Cascavéis de estimação

Dizem que é possível enganar a todos por algum tempo. E que é possível enganar alguns o tempo todo. Mas para enganar a todos o tempo todo, basta ter uma boa verba publicitária.
Nunca subestime o poder de um publicitário. Os caras são capazes de vender cascavéis como animaizinhos de estimação. Desde, claro, que consigam passar o filme 20 vezes no horário nobre da Globo.
Os sujeitos fazem a coisa de maneira tão competente que você, leitor, ainda é capaz de comprar uma cobra e pô-la na sua cama para dormir. A não ser, claro, que a sua mulher seja uma jararaca. Aliás, sabe por que as cascavéis não mordem os publicitários? Solidariedade profissional.
Mas o pior acontece quando os caras se metem na política. Porque aí o diabo assume a função de diretor de criação. Afinal, só um publicitário é capaz de construir a imagem de caçador de marajás do Collor. Só um publicitário é capaz de fazer acreditar que o Itamar sabia o que estava a fazer. Só um publicitário é capaz de vender a idéia de que FHC realmente é um homem que fala a sério. Só um publicitário é capaz de fazer acreditar que Lula é de esquerda.
Afinal, os caras sabem que quanto maior for a mentira, maiores são as chances de as pessoas acreditarem nela. Sabe por quê? Porque para os publicitários todos nós somos como o Homer Simpson: lentos no raciocínio e prontos a acreditar em qualquer mutreta.
É como diz o velho deitado: "Se eu não fosse um ser humano, até gostaria de ser publicitário".

120 - Uma avacalhação política

Quando conseguiu evitar a guilhotina, há alguns dias, o senador Renan Calheiros foi rezar. É um homem de fé. Tem fé nos políticos. Tem fé na Justiça. Tem fé na decência. E quando se junta todas essas "fezes", o que se tem é o Senado Federal.
Mas vamos imaginar como poderá ter sido o diálogo entre Renan e Deus.
Deus: O que estás fazendo aqui, Renan?
Renan: Eu vim rezar para agradecer...
Deus: Agradecer? Achas que eu tenho alguma coisa a ver com esse fuzuê?
Renan: Mas foi tudo de acordo com a lei...
Deus: Que lei? A lei dos cangaceiros de gravata? Não me faças rir. Isso é coisa do Demo...
Renan: Pô, Deus, eu faço parte do seu rebanho...
Deus: Xi, nessa coisa de rebanho sou um aprendiz perto de ti. Nem eu, que já dei uma ajudinha para multiplicar os pães, sou capaz de multiplicar os bois como tu.
Renan: Você sabe... eu tinha que sustentar aquela vaca.
Deus: Sim... és um verdadeiro homem do campo. Muitas fazendas, muitos laranjas...
Renan: Isso é coisa da oposição...
Deus: Olha, vou repetir. Não é a mim que deves agradecer. É aos canalhas... ou melhor, os "canalheiros"... que te livraram a cara lá no Senado.
Renan: Mas ninguém sabe quem são eles. Foi voto secreto... lembra?
Deus: O dono de tantas boiadas não sabe dar o nome aos bois? Aliás, as pessoas que estão à tua volta mais parecem uma gangue.
Renan: A culpa é sua. O povo diz que Deus dá a família, mas deixa-nos escolher os amigos...
Deus: E tu levas ao pé da letra: aumentas a família com a jornalista... e os amigos pagam a conta da tua farra. É uma bandalheira. E ainda dizem que o Senado é a casa do povo...
Renan: É uma casa com telhado de vidro. Se muita gente tem culpa no cartório, por que eu ia me ferrar sozinho? E os outros?
Deus: Nisso tens razão. Mas a tua chapa está quente. Tem gente querendo o teu couro.
Renan: É por isso que preciso de uma ajudinha: não dá para fazer desaparecer os colunistas dos jornalões? Pô, os caras não largam do meu pé.
Deus: Hummmm... isso vai ser difícil. Os colunistas políticos pensam que são eu.
Renan: Pelo menos pode me conceder a absolvição. Todo mundo sabe que o seu negócio é perdoar.
Deus: Sim... mas todo mundo sabe que a voz do povo é a voz de Deus. Estás surdo, Renan? O povo diz que está farto da avacalhação que tomou conta da política nacional.
Renan: O povo? Ora, amanhã a gentalha nem lembra disso. Não é a primeira vez que a culpa fica solteira.
Deus: Hummmm... solteira e peladona nas páginas da "Playboy"?
Renan: Uai, a moça precisa de dinheiro, agora que a fonte das empreiteiras secou.
Deus: É... há pessoas que para ganhar a vida estão sempre tirando a roupa.
Renan: Deus, você não está a levar a minha reza a sério...
Deus: Quando ouvi dizer que tu ias rezar, não pensei que estivesses a pensar numa igreja.
Renan: Hã?!
Deus: Pensei que estivesses a criar um neologismo: o verbo "resar". Ou seja, cuidar das reses. Aliás, dou um conselho: um agropecuarista com o teu talento é um desperdício na política.
É como diz o velho deitado: "Calheiros é um homem de fé. Ou seja, é um homem que se aproveitou da boa-fé dos brasileiros".

119 -

Chatos, sarnas e micoses

Deus deve gostar dos chatos, porque fez muitos deles.
Há muita gente que tem o dom de provocar urticária nos outros.
Se tivesse de dizer qual é o símbolo-mor da chatice, diria que são os fiéis dessas igrejas alopradas que pululam por aí: as criaturas não se contentam em salvar as próprias almas, mas vivem na obrigação de salvar também as almas dos outros. É um tédio. Os caras estão sempre à porta da nossa casa (nas piores horas) com uma revistinha que anuncia o fim do mundo. E o pior: eles nos acusam de ser os culpados, porque vivemos em pecado.

Inofensivos

Há os chatos que são como as micoses e provocam pequenas irritações. É o caso das pessoas que se referem a si mesmas na terceira pessoa. É comum entre os futebolistas brasucas. Um useiro e vezeiro era o centroavante Jardel, que jogou no Vasco e no Porto.
O repórter pergunta.
– Então, Jardel, acha que vai fazer um golzinho hoje?
O jogador responde.
– O Jardel está sempre de olho no gol. É por isso que o Jardel é artilheiro do campeonato.
É irritante. Mas não tanto quanto os caras que deixam o celular ligado quando vão ao cinema, teatro ou estão numa sala de aula. E, cá entre nós, gostaria de saber onde essa gente vai buscar aqueles toques esquisitos: galos a cantar, nuvens de grilos... e até o hino do Corinthians, mano. O pior é a cara-de-pau: os tipos estão no teatro, o telefone toca e eles ainda atendem.
Um tipo de chato inenarrável é o chato socialite. O cara não pode soltar um "pum" que a fotografia dele tem de aparecer na coluna social. Na maioria das vezes são pessoas irrelevantes, sem cultura ou qualquer charme. Mas sempre dão um jeitinho de aparecer. É o onanismo mental tornado celebridade.
Outro chato insuportável é o comedor de soja. Os caras viram vegetarianos não por gostarem de vegetais, mas por acharem mau matar animais para comer. Até aí tudo bem, é uma opinião. Só que a maioria das criaturas se preocupa mais com os animais do que com os seres humanos. São uns alienadões que fazem manifestações contra farra-do-boi e o escambau, mas não ligam patavina para os pobres que morrem de fome ou as guerras que provocam mortes atrás de mortes.

Patológicos

Também há os chatos patológicos, que parecem sarna.
Aquele casal te convida para um jantarzinho. E quando você está lá, pimba: fica refém da visualização de um álbum de fotos da última viagem.
– Olha nós aqui em Tracunhaém.
– E aqui no centro de Pindamonhangaba.
Pior mesmo é quando os caras têm filhos e querem mostrar fotografias dos pimpolhos. Não há paciência.
E há o chato musculoso. Os caras passam a vida nos ginásios a levantar pesos e ficam a olhar para os próprios músculos com um olhar apaixonado. Fazem pose. Viram de lado. Fazem beicinho. Mas quando abrem a boca, só sai abobrinha. Se eu mandasse no planeta, haveria uma regra. Para cada hora de maromba, duas horas de leitura.
Mas a quintessência da imbecilidade são os caras que gostam de impor a própria música. Essas toupeiras gastam uma nota preta no aparelho de som do carro e depois andam por aí com os decibéis quase a detonar os tímpanos alheios. É uma coisa que os capiaus gostam de fazer na praia: estacionam, abrem o porta-malas e bam-bam-bam. Há sempre exércitos desses imbecis. Ah... o verão vem aí e eles vão invadir a sua praia.
É como diz o velho deitado: "Irritante é uma pessoa que, quando tem uma tosse, em vez de ir ao médico, vai ao cinema".


118 -

É tudo culpa do casamento

Tem gente assustada com os números do divórcio. Em alguns países da Europa, as estatísticas não deixam margem para dúvidas: de cada dois casamentos, um acaba em separação. Os religiosos moralistas não param de chatear, dizendo que é uma praga dos nossos tempos. Que nada! O problema não é o divórcio, mas o casamento.
Casar é uma coisa tão complexa que os noivos deviam tirar brevê, como os pilotos de avião. Porque é muita responsabilidade. Uma pessoa que quer casar deveria ser obrigada a apresentar um atestado de capacidade física e psíquica. Aliás, é preciso ir mais longe e criar um seguro antifraude. Porque o problema nas relações duradouras é que muita gente compra gato por lebre.

Fraude

Imagine a situação. A mulher casa com um sujeito que, enquanto solteiro, era todo amor e cheio de atenções. Mas passado um simples ano de casamento, o cara fica preguiçoso, cria barriga e é capaz de passar um domingo inteiro a lavar o carro. E só pára se for para ver o futebol na televisão, com uma mão a segurar a lata de cerveja e a outra a coçar as partes baixas. Não há mais cineminha, flores ou jantares românticos. Há males que vêm para mau: um sujeito assim não deve ter interesse por sexo.
A história dos casamentos se repete. O cara casa com uma gostosona toda amorosa e, passados alguns meses, tem uma megera em casa. Para começar, aqueles orgasmos dos tempos de solteira, sempre cheios de gritos e gemidos, simplesmente desaparecem. E ela passa a ter dor de cabeça todos os dias. Sexo? Só aos sábados... e não pode ser na hora da novela. É a filosofia da vaca: "casando e andando".

Destino

A vida dá um destino comum às relações. Os homens começam a envelhecer empenhados em ganhar dinheiro para comprar aquele carrão. Quanto melhor o carro, maior o pênis. E quanto mais trabalha, menos vai a casa. Nada mais previsível que acabe por ter um caso com uma gaudéria qualquer que, mesmo achando que ele é um pacóvio, gosta de se ver a bordo daquele reluzente carrão esportivo importado. Diz a voz do povo: quando um homem casa, ou trai a mulher ou trai a sua própria natureza.
A mulher fica em casa a levar a vidinha – talvez vire artista plástica, porque tem tempo de sobra – e a curtir a novelinha. Esquece que é mulher e passa a ser esposa. Ter filhos é sempre uma boa maneira de manter a relação. E quando chegam os pimpolhos, ela se transforma. Esquece que é esposa e passa a ser mãe. Torna-se um ser assexuado que nada vê além dos filhos. E fica assim até ser avó e reiniciar o ciclo.
O destino de todas essas relações está traçado. E o problema, claro, é o casamento. É por isso que hoje só os padres e os homossexuais é que querem casar.
É como diz o velho deitado: "A principal causa dos divórcios é o casamento".


117 -

237 razões para fazer sexo

Diga, leitor, quais são as razões para você fazer sexo? É natural responder que é bom, que dá prazer ou que faz parte de uma relação. E só aqui eu acabo de dar três razões, que parecem ser suficientes. Mas fique a saber que é apenas o começo: porque há 237 razões no total. Não acredita? O número é resultado de um estudo realizado pelos pesquisadores Cindy Meston e David Muss, da Universidade de Austin, no Estado norte-americano do Texas.
A pesquisa envolveu um total de 1.549 estudantes (503 homens e 1.046 mulheres) e produziu um interessante painel de respostas, desde as mais óbvias até as mais intrincadas. O sexo é mesmo uma coisa estranha. Algumas pessoas transam por motivos óbvios, mas algumas encontram razões absolutamente malucas para irem para a cama com as outras. Drogas, tentativas de homicídio, revelação divina, questões de trabalho... enfim, um universo pra lá de esquisito. Vamos ver algumas das respostas.

Os bem-comportados

Ora, o mundo é cheio de gente sem imaginação, que faz sexo pelos motivos mais prosaicos. E por isso a maioria das respostas ficou no lugar-comum. Coisas pouco criativas como:
• Eu me sentia atraído pela pessoa.
• Eu queria ter prazer físico.
• Faz me sentir bem.
• Queria demonstrar o meu afeto pela pessoa.
• Eu queria expressar o meu amor pela pessoa.
• Eu me realizo quando amo.
Pô, é sexo sem qualquer perversão. Caretaços. É tudo tão amorosinho, bonitinho, comportadinho. Com essa gente tão atinada, deve ter sido o reino do papai-mamãe. Pelas respostas tão cor-de-rosa, dá mesmo para perceber que havia o dobro de mulheres na pesquisa. Mas houve uma resposta que chamou a atenção.
• Eu queria me sentir masculino.
Parece que está tudo bem, leitor. Mas a coisa muda de figura quando você sabe que a resposta foi dada por uma mulher. Não duvide.

O reverso da moeda

O sexo é uma arma perigosa e tem gente que não pensa duas vezes antes de usar. Para ter uma noção, vamos ver algumas das respostas, que fazem pensar, apesar de não terem sido maioria. Nem dá para acreditar que os entrevistados sejam universitários, pessoas educadas, tamanha a esquisitice das respostas.
• A pessoa me ofereceu drogas por sexo.
• Eu precisava do emprego.
• Eu queria a promoção.
• Era uma forma de autopunição.
• A pessoa me ofereceu dinheiro.
• Eu queria me sentir mais perto de Deus.
• Eu queria magoar uma pessoa inimiga.
• Foi por causa de uma aposta.
• Eu queria acabar com a relação de uma pessoa, por isso transei com o parceiro dela.
• Os meus hormônios estavam fora de controle.
• Eu queria contagiar alguém com uma doença sexualmente transmissível.
Como pode ver, leitor, há muitos motivos para uma pessoa fazer sexo. Mas depois de tudo isto, só resta dizer uma coisa: ainda bem que a maluquice não é uma doença sexualmente trasmissível.
É como diz o velho deitado: "Evite ficar muito tempo na cama. A não ser que seja o seu local de trabalho".


116 -

Eu transei com Bruna Surfistinha

Ficou curioso com o título?
Foi apenas um truque para chamar a sua atenção. É claro que eu nunca transei com a moçoila. Mas o assunto da crônica é literatura e uma intelectual com o talento de Bruna Surfistinha, autora de best-sellers no Brasil e no exterior, parece ser uma boa maneira de começar.
Dizem que a arte morreu. Não sei se concordo, mas o certo é que, no mínimo, ela deve estar moribunda. Fiquemos pela literatura. Quem decide quais os livros que são bons o suficiente para publicação? É fácil imaginar que são pessoas cultíssimas e com altas referências literárias. Mas que nada... são autênticas toupeiras. É só ir às livrarias para ver que as estantes mais parecem centros de reciclagem de lixo.

Hilário

Vejam, por exemplo, um caso ocorrido no Reino Unido. Há pouco tempo, um inglês chamado David Lassman decidiu enviar um manuscrito para as 18 editoras mais importantes da terra de sua majestade. Resultado: foi rejeitado por 17 delas. Algumas respostas diziam que a história não interessava, que era chocha e sem graça.
Menos mal que, no meio dessa gente toda, apareceu uma editora a recomendar uma olhada no clássico “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, porque havia muitas coincidências entre os dois textos. E é claro que havia.
David Lassman fez uma sacanagem: pegou no texto original de Jane Austen, preparou um manuscrito e rebatizou a obra como “Primeiras Impressões” (era o título provisório do original de Austen). E, para completar a patranha, assinou como Alison Laydeen, um nome absolutamente desconhecido... porque não existe.
A intenção de Lassman, ele próprio escritor, era mostrar que, em tempos de Harry Potter, é difícil um novo talento furar as barreiras das editoras. E, assim, bons textos e bons escritores simplesmente passam em branco.

Amebas

Fico a imaginar a ironia. Provavelmente foi uma das editoras que rejeitou Austen a lançar, no mercado inglês, a tradução do livro da Bruna Surfistinha. A puta serve, a escritora não. Pulamordedeus! Os britânicos perderam o juízo.
Coisas do tal mercado. E não é só no Reino Unido que a porcaria é publicada e bons textos são rejeitados. Em todos os lugares há “autores” que mereciam ser enjaulados por crimes contra a natureza. É uma sacanagem derrubar árvores, fabricar o papel e depois imprimir textos que parecem ter sido escritos por orangotangos.
Se você quiser publicar um livro hoje em dia, há algumas fórmulas que não falham. Escrever textos idiotas sobre auto-ajuda. Fazer o caminho de Santiago e virar mago. Ser garota de programa. E, se nada disso funcionar, é ter dinheiro para publicar a própria “obra” (palavra que aqui adquire também aquele sentido escatológico).
Devem ser amebas a decidir o que vai para o prelo. Afinal, que outra razão haveria para José Sarney ter tantos livros publicados? E o pior: ser um “imorrível” da Academia Brasileira de Letras.
É como diz o velho deitado: “A minha vida é um livro aberto. A da Surfistinha é um livro de pernas abertas”.


115 -

Ex-presidentes, ex-ministros, ex-gays

Pode parecer uma teoria da conspiração, mas o mundo está sendo dominado por uma praga: os “ex”. Ou seja, o mundo não pertence aos que “são”, mas aos que “foram”.
É o caso, por exemplo, do ex-presidente FHC. O homem deixou o poder praticamente escorraçado, com a popularidade no fundo do poço (e continuava a cavar). Mas nos últimos tempos ressurgiu, com aquela vistosa plumagem de pavão-tucano, a dar pitacos sobre as direções que o País deve tomar. Ora, se ele conhecia o caminho, por que não encontrou um rumo quando estava no governo? É aí que mora o perigo. Ser “ex” dá credibilidade... mesmo aos mais incredíveis.
O melhor emprego do planeta deve ser o de ex-ministro brasileiro, em especial da área econômica. Os caras só fazem porcaria quando estão no poder, mas depois que saem do governo passam a ser autênticos oráculos sobre a arte de bem governar. É impressionante. Muitos ex-ministros faturam uma dinheirama preta em congressos e seminários onde só precisam dar palpites sobre o trabalho dos outros. É uma lógica bem brasileira: quem não sabe fazer dá palestras para ensinar como se faz.

Tio Sam

Outro caso interessante é o de Al Gore. Enquanto vice-presidente de Bill Clinton, o homem era acusado de ser meio pateta. Mas um dia perdeu as eleições e ganhou o fabuloso estatuto de “ex”. E tudo ficou lindo e maravilhoso. Hoje Al Gore vive a correr o mundo com um papo-cabeça ambientalista e virou celebridade planetária. E o melhor: cada vez que abre a boca numa palestra, fatura logo uns 100 mil dolarezinhos.
Outros “ex” que chamam a atenção são os ex-atores (ou ex-canastrões). O caminho foi aberto por Ronald Reagan, que foi um sofrimento como ator. Mas ingressou na política e foi um sofrimento como presidente. É o mesmo percurso que o brucutu exterminador Arnold Schwarzenegger está a seguir. E, para desespero de muitos americanos, parece que não se contenta em ser apenas governador da Califórnia: também quer ser presidente. “ I’ll be back!”

Ex-gays

O leitor sempre ouviu falar que não existem ex-gays. Ou seja, que a passagem de um lado para outro lado da linha é um caminho sem volta. E tem aquela pergunta fatal.
– Você conhece algum ex-gay?
O mito está desfeito. Afinal, existem ex-gays. E muitos. A maioria acabou descobrindo alguma religião e, acreditem, se converteu à heterossexualidade. Há um grande número de ex-gays casados (casar com um ex-gay deve ser o sonho de milhões de mulheres). O mais interessante é que muitos ganham a vida num trabalho pra lá de relevante: ensinar os gays a se tornarem ex-gays.
Mas a coisa ainda continua confusa. Um dia destes li uma matéria sobre um ex-gay que não resistiu à tentação e foi para a cama com outro homem. É um ex-ex-gay.
É como diz o velho deitado: “O Brasil é governado por um presidente que abandonou as convicções políticas e agora é de ex-querda”.


114 - A ocasião faz o ladrão

Diga lá, leitor. Se tivesse que deixar a sua carteira – recheada de reais – aos cuidados de uma pessoa qualquer, quem escolheria? Um italiano de Milão? Um alemão de Berlim? Um holandês de Amsterdã? Ou um brasileiro de São Paulo?
Nem é preciso fazer uma votação para saber a resposta. Sou capaz de apostar que a maioria entregaria a carteira a qualquer um, menos ao cara de São Paulo. É uma conclusão legítima. Os brasileiros desconfiam uns dos outros e acham que a desonestidade e a corrupção estão entranhadas na sociedade.
E há outra coisa. No patropi, o povão cultua tudo o que tenha a ver com o tal Primeiro Mundo. Ou seja, os europeus são ricos e civilizados, portanto dignos de confiança.

Bom e mau

Tenho boas e más notícias, leitor.
A má é que, se escolhesse um desses europeus, corria o risco de ficar sem o seu rico dinheirinho. A boa é que o brasileiro seria mais honesto que todos eles. É o que diz um estudo realizado pela “Reader’s Digest”, na sua edição de agosto. A revista decidiu fazer um “teste mundial de honestidade” e escolheu 32 grandes cidades de todo o mundo.
Foi assim. Os jornalistas da revista “esqueciam” celulares em lugares públicos (um total de 30 em cada cidade). Depois ficavam de tocaia para ver a reação das pessoas que os encontravam. Por fim, ligavam para o número do telefone e perguntavam se a pessoa queria devolver o aparelho.
Uma coisa é certa: ainda há pessoas honestas no mundo. E parece que moram todas em Ljubljana, na Eslovênia. Os caras devolveram 29 dos 30 aparelhos. Aliás, vou arriscar um palpite: o que não devolveu provavelmente era um político. Entre os povos mais honestos ficaram ainda os canadenses (28 celulares devolvidos), coreanos (27) e suecos (26).

Amigos do alheio

Mas houve lugares em que os caras sequer atendiam a chamada e davam no pé com os telefones. Os índices de (des)honestidade bateram no fundo do poço nas cidades asiáticas de Kuala Lumpur e Hong Kong, onde foram devolvidos apenas 13 aparelhos.
Mas a nódoa cai sempre no melhor pano. Será que ser rico é sinônimo de honestidade? Parece que não. Porque em Amsterdã, na Holanda, uma das sociedades mais abastadas do planeta, só foram devolvidos 14 míseros aparelhos.
Ah... e em Buenos Aires a gringalhada não está para brincadeiras: os portenhos surrupiaram um montão de celulares e ficaram em 26º lugar. ¿Qué pasa hermanos?
E agora o leitor deve estar ansioso por saber o “índice de honestidade” dos paulistanos. Segundo a revista, foram devolvidos 21 telefones, o que colocou São Paulo em 14° lugar, à frente, por exemplo, de Paris, Berlim, Milão, Zurique, Sydney, Londres, Madrid e Lisboa.
É um bom resultado. Mas fica uma dúvida. E se fosse em Brasília? Ia ser devastador. Com tantos políticos por lá, a revista corria o risco de nunca mais ver um único celular.
É como diz o velho deitado: “A fórmula para o sucesso é a honestidade. Se conseguires evitá-la, o futuro está garantido”.


113 - Você é um mentiroso

Você mente, leitor?
Se respondeu que não, então já mentiu.
Porque todos mentem. Não sou eu quem diz, mas inúmeros estudos científicos realizados aqui e acolá em universidades de todo o mundo. Aliás, li que uma pessoa mente quase 200 vezes por dia. É difícil acreditar. As pessoas falam tão pouco umas com as outras que é impossível imaginar diálogos suficientes para tanto.
Mas os estudiosos vão além e dizem que as pessoas são educadas para a mentira. Duvida?
Lembra, quando era criança, daquela tia chata que adorava apertar as suas bochechas e dar aqueles beijos gosmentos? Você odiava, mas os seus pais diziam para calar e não dizer a verdade.
E, você, leitor, que na adolescência escondia a revista Playboy em baixo do colchão? Acha que a sua mãe não sabia? Ora... ela fazia que não via para não ter que falar de sexo.
E as mulheres, quando a gente cresce?
– Acha que eu estou gorda?
– Hã... hummm... hã... claro que não...
Imagine, por exemplo, que uma amiga teve um filho feioso, mas acha o pimpolho a coisa mais linda do mundo (as mães são assim).
– Não é lindinho o meu bebê?
Você mente? Ou é capaz de dizer que a criança é a cara do E.T.?

Mentira branca

A mentira está tão entranhada nas nossas vidas que nos Estados Unidos surgiu uma categoria chamada “mentira branca”. São as petas que você aplica nos outros, mas de maneira a transitar bem pelo meio social. É mais ou menos como o vício da bebida.
– Você mente?
– Sim, mas apenas socialmente.
Os tais estudos dizem que as pessoas que mentem nas situações de trabalho têm mais chances de dar certo. O cara que sempre diz o que pensa não vai longe e, pior, ainda fica com fama de chato.
Outra revelação é que as maiores vítimas das mentiras são as pessoas mais próximas, em especial as famílias. Exemplos? Você, leitora, nunca alegou ter uma dor de cabeça na hora do vamuvê? Ou nunca fingiu um orgasmo? Nem unzinho? Ahá... tá mentindo...
E você, leitor, já falou à sua mulher sobre aquela fantasia de ficar preso no elevador com a vizinha boazuda? Ou confessou que, se aquela colega de trabalho der mole, você nem pensa duas vezes para dar uma puladinha de cerca?

Todos mentem

O certo é que todo mundo mente, mas em graus diferentes. Há umas mentiras mais complexas, porque têm o objetivo de dissimular as intenções.
– Eu não votei no Lula porque discordo das políticas dele.
É uma mentira clássica das classes médias. Na verdade o que a pessoa queria dizer é:
– Eu não voto no Lula porque acho um horror o país ser governado por um retirante analfabeto.
E por falar em política, quando estava no jornalismo diário, havia uma pergunta que moía o juízo na hora das entrevistas com as “otoridades”. Sempre que estava à frente de um prefeito, governador ou ministro havia uma pergunta que ficava batucando na cabeça.
– O senhor acredita mesmo nas merdas que diz ou tem algum prazer em menosprezar a minha inteligência?
As mentirinhas das pessoas normais são quase sempre inofensivas. Mas os políticos mentem por ofício. Os mais perigosos são os que mentem para os outros, mas acreditam nas próprias mentiras. Porque são lunáticos. E muitas vezes chegam ao poder.
É como diz o velho deitado: “A mentira tem pernas curtas. Mas corre mais rápido que a verdade”.


112 - Uma crítica de cinema... pornô
Não há nada mais chato que um crítico de cinema. Mas hoje peço perdão ao leitor, porque vou escrever sobre filmes... pornográficos. É um universo esquisito, para gente esquisita: os caras que vivem nas locadoras a alugar esses filmes são sempre estranhos, soturnos e têm aquela cara de quem só faz sexo com a própria mão.
Mesmo assim, o cinema pornô até tem um lado positivo. Os problemas da vida cotidiana não existem e os caras dos filmes estão sempre cheios de disposição. Transam no telhado, em baixo da escada, em cima das árvores.
O leitor já notou que as mulheres do pornô nunca têm dor de cabeça (devem tomar aspirina 24 vezes por dia) e estão sempre prontas para a vadiagem. E elas nunca dizem coisas chatas, como por exemplo:
– Aí não pode... aí dói.
Outra coisa interessante: os homens não chegam estressados do trabalho. Aliás, nos filmes pornográficos ninguém trabalha ou tem contas a pagar. Pensando bem, talvez eles sejam mais felizes que nós: muito sexo e nenhum trabalho é o ideal para nove entre dez marmanjos.

Códigos

Uma coisa interessante dos filmes pornôs é que o óbvio nunca acontece. O leitor lembra de ter visto um filme desses em que a “ação” acontecesse na cama, com apenas um casal num pacato “papai-mamãe”? Aí está: no mundo do pornô ninguém transa na cama.
Outra coisa difícil de entender: não há um único filme em que o cara não dê tapinhas no traseiro da mulher. O leitor já experimentou fazer isso na vida real? Há mulheres que gostam de levar tabefes no bumbum? Se houver, eu desconfio: uma mulher assim é capaz de revidar com chicotes.
É claro que os atores são sempre muito bem dotados. A coisa parece bem no cinema, mas levanta (se é que levanta) dúvidas na vida real. Uns sujeitos com “coisos” de 30 centímetros entre as pernas oferecem mais riscos de lesões corporais do que prazer.

Acredite, há estilos

O mais surpreendente é que há estilos. É uma indústria profissional, com segmentações e filmes para todos os gostos. Pode ser um pornô com héteros, com homossexuais, com travestis ou o escambau. Há todas as variações sexuais que se possa esperar. Uma das variantes de sucesso são os filmes caseiros. Dá para imaginar. Entra a patroa, a irmã da patroa, a empregada, a tia, a vizinha e, se bobear, até o papagaio.
Mas esses são os filmes bem comportados. A maior alucinação são uns estilos para lá de doidões, mas que têm um públicos cativo.
Um estilo esdrúxulo é o tal “duplo anal”. O leitor e a leitora entenderam do que se trata, claro. Pode ser ingenuidade, mas nunca imaginei que isso fosse possível. É a prova de que as leis da física de Newton são falíveis.
Mas, do meu modesto ponto de vista, o ex-líbris do cinema pornô é o tal sexo sujo, ou coprofilia. Aliás, põe sujo nisso. Dizem que é raro, mas tem apreciadores e é um estilo cultuado por muitos pornomaníacos. O leitor imagina o que é isso? A coprofilia é quando uma pessoa obtém excitação sexual com as fezes do parceiro. Acredite. Parece que defecar em cima da outra pessoa dá prazer. E há quem faça filmes sobre o tema (neste caso, podemos dizer, autênticos filmes de merda). Bleargh!
É como diz o velho deitado: “A loucura é contagiosa. E se transmite pelo sexo”.


111 - Dodô, Jaqueline e eu

Parece que o assunto do doping está novamente na boca do povo, com os casos envolvendo o jogador Dodô, do Botafogo, e Jaqueline, da seleção de vôlei, que joga na Itália. Pergunto: o que há de comum entre os atletas que são apanhados com substâncias esquisitas no organismo? É a reação.
– Eu sou inocente.
No esporte, a culpa nunca é dos atletas, mas daquela substância estranha encontrada num chá, num creme ou num remédio inofensivo. No caso dos dois, por coincidência, foram remédios para emagrecer. Não vou comentar o caso do Dodô (por mim ele pode fi car balofo que não me chateia), mas eu e toda a torcida do Brasil sabemos que a Jaqueline não precisa emagrecer. Dez entre dez marmanjos do patropi acham que ela está gostosa como é agora.
Diria o poeta:
– Jaqueline, você já é bonita com o que Deus lhe deu.

Acontece a todos
Essa gente que ganha a vida no esporte devia tomar mais cuidado.
Afinal, os caras do antidoping podem aparecer a qualquer momento. E não estou falando apenas por falar. Eu próprio já tive que fazer um desses exames. Não acreditou, leitor?
É uma daquelas coisas que a gente imagina que nunca vão nos acontecer. Eu, por exemplo, jamais pensei ter que fazer um exame antidoping. Mas um dia aconteceu. Estava a disputar o Campeonato Nacional de Taekwondo do ano passado (disputo as categorias acima dos 35 anos de idade) e o chefe de equipe avisou:
– Os gajos fizeram o sorteio do antidoping e saiu o teu nome. Vais ter que mijar na latinha.
É claro que pensei ser uma brincadeira. Mas não era. Tive mesmo que fazer o tal exame. Aliás, em Portugal qualquer competição federativa tem antidoping. E como não é algo que aconteça todos os dias, vou contar ao leitor como é a coisa. Em primeiro lugar, como é óbvio, o sujeito precisa ter vontade de fazer um xixizinho.
Mas é difícil, ainda mais sob pressão. Então os caras te entopem de água até quase arrebentar.
E quando vem a vontade de mijar é que começam as esquisitices.
Porque o médico (a coisa é sempre feita sempre por especialistas) é obrigado a ficar olhando para o, digamos assim, “coiso” do atleta. Dizem que já houve casos em que uns caras levaram urina de outros para não serem flagrados.
– Eu tenho de ver a urina a sair, para saber que ela é mesmo sua.
Ora, isso pode fazer sentido para atletas profissionais como o Dodô ou a Jaqueline (aliás, nem imagino como será com as mulheres, se o médico tem que ver a coisa sair). Para um “atleta” como eu, que só pratica esporte para se divertir, não faz sentido.
E na minha idade não há droga nem macumba que faça o rendimento melhorar. Mas regras são regras e os médicos não abrem mão dos procedimentos.

Shrink Facto
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Mas eu estava tranqüilo. Porque nunca usei qualquer coisa proibida. A não ser talvez...
– Doutor, o antidoping identifica cerveja?
– Isso não interessa. Aliás, pela densidade da sua urina, posso garantir que aquilo que você bebeu ontem à noite não era água...
Outra coisa desconfortável é o “shrink factor”. Ou seja, quando um homem está pouco à vontade, sempre acaba por ficar com o “coiso” mais encolhidinho, tímido. O que é ainda mais complicado quando se tem outro homem a olhar a 10 centímetros de distância.
Mas o tal médico até tinha um certo sentido de humor.
– Vá lá. Põe o monstro para fora e vamos acabar logo com isto.
Palavras erradas. Eu não me importo que chamem a coisa de “monstro”. Mas aquele sorrisinho estranho na boca do sujeito podia indicar uma gozação. E aí já era sacanagem.
É como diz o velho deitado: “O primeiro antidoping a gente não esquece”.


110- As irmãs e o incesto

O leitor sabe o que são as tais cidades-irmãs?
Se souber, peço que escreva um e-mail, telefone ou mande uma mensagem de nuvens de fumaça.
Se eu fosse um marciano recém-chegado à Terra, ia achar que as cidades-irmãs deveriam ser aquelas que estão bem pertinho. Floripa seria irmã de São José. Joinville, de Araquari. Chapecó, de Xaxim. Blumenau, de Indaial. Lages, de São Joaquim. E por aí adiante.
Mas o curioso é que as cidades-irmãs estão sempre muito longe. Quilômetros e quilômetros. E, mais interessante ainda, a maioria fica em lugares que vale a pena visitar. Ou seja, são os paraísos do "político-turistão-viajandão". Os Estados Unidos, a Europa e, hoje em dia, até em algumas regiões da Ásia que já começam a entrar na moda.
Eu não sei se o leitor já se deu ao trabalho de ler os documentos que as prefeituras redigem para explicar o conceito. Eu li alguns e cheguei a uma conclusão simples e direta: isso de cidades-irmãs é conversa para boi dormir. Os políticos insistem na relevância dos tais programas, mas é fácil adivinhar as razões. Ninguém se diverte mais com as cidades-irmãs do que os políticos e os acólitos.
Ora, esses programas servem é para essa gente viajar e torrar o dinheiro do povão. E com uma grande vantagem: eles fazem de conta que estão trabalhando e os eleitores acreditam. Aliás, o leitor já viu como são formadas as comitivas nessas viagens? Vai a patroa. Vai o cara que fala a língua do país (porque alguém tem de saber pedir os pratos nos restaurantes chiques). Vai o amigalhaço. Vai o amigo do amigalhaço. E, se não der muita bandeira, talvez até a amante da "otoridade".
O leitor lembra de algum resultado concreto dessas visitas? Ou é a minha fraca memórica ou realmente não há resultados. É só gente a se esbaldar no bem-bom. E dos dois lados. Porque na Europa ou nos Estados Unidos os caras adoram passar uns diazinhos nos trópicos. E se for na teta, melhor ainda. Do outro lado, o sonho de consumo de todo brasileiro – político ou não – é viajar para o tal Primeiro Mundo (é uma espécie de jequice institucional no Brasil).
É o que me faz perguntar: o leitor sabe quantas prefeituras aqui em Santa Catarina, por exemplo, têm um cidade-irmã na África? Não tenho as estatísticas, mas sou capaz de apostar num rotundíssimo "zero".
O que os políticos escolhem? Ir para a luminosa Paris ou para uma tenebrosa cidade cheia de estropiados da guerra em Angola? Alguma dúvida, leitor? A cidade-irmã tem de estar no tal Primeiro Mundo, onde há coisas boas para se ver. Deve ser divertido andar pelos Champs-Elisèes às custas do contribuinte.
É como diz o velho deitado: "Isso de cidades-irmãs cheira a incesto político".


109 - Ser do contra

Agora na contracapa do Anexo D. (Jornal "A Notícia" - nota da Truca) É bom estar neste lugar que, numa distensão, podemos chamar “do contra”. E como é uma estréia, a rapaziada do jornal pediu que eu falasse um pouco sobre mim. Sou contra. A coisa mais chata do mundo é uma pessoa escrever sobre o próprio umbigo. A não ser que seja o umbigo da Gisele Bündchen, claro.
Ser do contra é uma coisa natural do ser humano. Por exemplo, qualquer brasileiro já nasce torcendo contra a Argentina, até em jogo de par ou ímpar. É o mesmo com coreanos e japoneses, belgas e franceses, portugueses e espanhóis. A coisa está no código genético dos povos. Mas tudo tem os seus perigos. Porque há os contras do bem e os do mal.

Do bem
Os contras do bem formam um timão. Walter Benjamin era contra o nazismo e preferiu morrer a se entregar aos chucrutes de Hitler. Jack Kerouac era contra a mediocridade da sociedade norte-americana e decidiu pôr o pé na estrada. Victor Jara, que resistiu à ditadura de Pinochet, perdeu as mãos... e depois a vida. D.H. Lawrence era contra o moralismo vitoriano e decidiu escrever escândalos.
Há mais. Gauguin era contra a vida burguesa dos salões parisienses e foi pintar e bordar no Tahiti. Mishima era contra a ocidentalização do Japão e cometeu o seppuku. Berth Morisot era contra a arte só para homens e foi um dos alicerces do impressionismo. E Julinho da Adelaide só surgiu porque Chico Buarque era contra a ditadura. Há muita gente boa e interessante.

Do mal
Já os contras do mal são todos seres comezinhos. O moralismo é a regra para todos eles. A filosofia de vida dos caras é regida pela supressão do prazer e são todos ditadores em escala microscópica. Ou, em português culto, uns caga-regras:
- Não trepe.
- Não use camisinha.
- Não olhe para o malabarista do sinaleiro.
- Não vote nos comunistas.
- Não discorde.
Se a humanidade tiver muito azar, alguns desses caras chegam ao poder. Afinal, a expressão maior dos contras do mal são os ditadores, no sentido concreto e figurado. Os sujeitos são contra a felicidade e, por isso, tratam logo de atacar as liberdades (Hitler, Stalin, Pinochet, Idi Amin ou os milicos-presidentes da nossa ditadura). O mais estranho é que alguns sobrevivem à democracia. No Brasil, por exemplo, muitos dos caras que foram da ditadura, portanto contra os brasileiros, hoje estão na DEMtadura.
Os contras do mal navegam sempre a favor da corrente. É mais fácil, mas não produz grandes homens.
É como diz o velho deitado: “Se a boiada está indo para um lado, eu vou na direção contrária”.


108 - Chávez foi longe demais

É possível esperar tudo do presidente venezuelano Hugo Chávez.
Sacanear George Bush e chamá-lo de “pajarito”. Dizer que Lula é um menino de recados dos EUA. Ou deixar o índio Evo Morales na ilusão de que realmente vai mandar na Bolívia.
Mas, de todas as bacoradas de Hugo Chávez, esta é a mais abusada e motivo para um incidente internacional. "Fechem as fronteiras, senhores." Isso é claramente uma declaração de guerra. Quem esse cara pensa que é para dizer que a seleção da Venezuela daria uma goleada na seleção do Brasil? E por 3 a 0? Ora...
Tenha juízo, Chávez, porque essas declarações são um ultraje:
– Se a Pátria amada for um dia ultrajada, lutaremos sem temor.
A retaliação será fatal. Os nossos jornalistas (que preferem a modernidade de Bush ao atraso dos bolivarianos) podem declarar a Guerra dos Adjetivos e usar munição semântica pesada: “autocrata”, “personalista”, “militarista”, “golpista”, “fanfarrão”, “populista”, “fidelista”, “atrasado”. Podem mesmo abrir o dicionário das maldades e chamar o presidente venezuelano de “ditador eleito”.
Chávez fez a ameaça de goleada em rede nacional de televisão. Não é à toa que ele mandou fechar a RCTV. Porque só num país em que a televisão está dominada pelo governo esse tipo de insanidade pode acontecer. Uma televisão íntegra como a RCTV iria repor a verdade: a seleção venezuelana não pode ganhar do Brasil porque Chávez é um “hijo de puta” opressor que não dá liberdade de expressão futebolística aos jogadores. E, claro, iria conclamar a burguesia local para ir às ruas pedir a destituição do presidente.
Aliás, talvez a RCTV nem ligasse para o assunto. Os caras gostam tanto dos EUA que, mesmo com a Copa América acontecendo na Venezuela, iriam transmitir jogos de basebol, futebol americano ou luta de mulheres na lama. Diriam que a realização da Copa América era mais uma idéia diabólica de Fidel Castro. Afinal, depois de trocar o uniforme de guerrilha pelos agasalhos, o velho líder cubano está claramente numa fase esportiva. A RCTV até exibiria um documentário – apresentado pelo Mandrake e o Chaves (o outro) – para provar essa teoria.
O fato é que os brasileiros foram insultados. Ok... também ouvimos Chávez ameaçar Kirchner com a lorota de que a Venezuela daria uma goleada na Argentina. Bem, se fosse uma goleada de 7 a 0, acho que era suficiente para os brasileiros perdoarem esse desatino. Aliás, cá entre nós, Chávez, se a seleção venezuelana conseguir mesmo meter uns sete gols na Argentina, acho que o Brasil é capaz de aderir à sua revolução bolivariana. Sério.
É como diz o velho deitado: “Futebol é a pátria das marias-chuteiras”.


107 - Relaxa e goza

Não dá para entender as críticas à ministra Marta Suplicy. É uma tremenda injustiça. Não concorda? Então, imagine a cena. O cara está há horas na fila azarando aquela loira que é um autêntico avião. Mas, como tem um vôo marcado, acaba por não aterrissar na pista da boazona. A fala da ministra resolve o problema.
– Ouviu o que a Marta Suplicy disse? Os vôos vão atrasar e o melhor é relaxar e gozar. Eu conheço um hotelzinho aqui ao lado do aeroporto que você vai adorar...
E pronto. A tensão vai logo pelos ares.
Ora, a atitude de relaxar e gozar não serve apenas para diminuir a irritação das pessoas nas filas dos aeroportos. É a fórmula para a paz mundial.
Aliás, acho que o conselho da ministra não pode valer apenas para os passageiros das companhias aéreas. O "relaxa e goza" devia ser transformado em lei pelo Congresso Nacional. E tenho certeza de que a proposta teria uma votação unânime.
Afinal, é uma regra que os políticos brasileiros vêm seguindo há muito tempo. É só ver o caso exemplar do senador Renan Calheiros, que gozou com a tal jornalista de Brasília. E só foi apanhado porque relaxou. E isso de fazer filhos e deixar os outros pagarem a conta é coisa de gente relaxada. Se não for a mais pura gozação.
Aliás, acho que a proposta da ministra Marta Suplicy deveria ir mais longe. Que tal uma mudança na bandeira nacional? A idéia é trocar o "Ordem e Progresso" por um "Relaxa e Goza". Faz sentido. Não sei se o leitor sabe, mas a frase da bandeira é atribuída ao filósofo Auguste Comte (vá de retro, positivista). A origem seria um lema criado pelo pensador francês:
– O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim.
Está a ver, leitor? Os caras que inventaram a bandeira nacional deram uma facada no texto original e amputaram o amor, a parte mais importante. É preciso restituir a verdade histórica. Pergunto: por que o Brasil nunca entrou na etapa da ordem e do progresso? Ora, porque ainda está na fase do amor. Aliás, só o amor explica essa loucura que os políticos têm pelas jornalistas.
Tenho, inclusive, a sensação de que esta lógica vai levar o País a cumprir o destino de se tornar a nação mais desenvolvida do planeta.
Primeiro o Brasil, depois o mundo. O "relaxa e goza" devia entrar para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, logo no artigo 30:
– Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal... e a relaxar e gozar.
Na onda do "relaxa e goza", o Brasil poderia inovar ainda mais e lançar a Declaração Universal dos Direitos dos Políticos, que começaria assim:
– Todo político tem direito a transar com uma jornalista gostosa.
A moda já pegou.
É como diz o velho deitado: "Troca a tensão pelo tesão... relaxa e goza".


106 - Odete Roitman é persona non grata

Diga lá, leitor, se não se sente mais seguro agora que Hugo Chávez é persona non grata em Santa Catarina? E essa é apenas uma das muitas razões para estarmos alegres.
É bom saber que os deputados estão realmente preocupados em proteger os catarinenses de todos os perigos. Ora, Chávez é um canibal. Dizem que ele anda mancomunado com Fidel Castro. E, todos sabemos, os comunistas comem criancinhas.
Mas houve algumas críticas. Há gente que acusa o deputado de falta de originalidade, só porque a idéia é uma cópia do que aconteceu no Paraná. Pura injustiça. É preciso explicar: não foi uma cópia, mas um benchmarking. Ora, o benchmarking é outra boa notícia, a prova de que a modernidade chegou à política catarinense.
A única crítica que se pode fazer à proposta é a de ser tímida. Faltou maior agressividade. O deputado poderia, por exemplo, ter criado um decreto para proibir a Seleção Brasileira de ganhar a Copa América, na Venezuela. Já imaginaram se o campeão tiver de receber a taça das mãos de Chávez? É melhor abdicar do título.
Valeu a pena votar, leitor eleitor. Porque desta vez temos a certeza de que os deputados estão mesmo a tratar de coisas sérias. Aliás, é difícil imaginar algo mais sério do que espicaçar Hugo Chávez. Mas, diz a imprensa, o autor da proposta de esconjurar o presidente venezuelano não estava lá para votar na própria iniciativa. Fala sério...
E, para finalizar, tenho uma sugestão. Como ainda faltam 38 semanas para o fim do ano, eu proponho ao deputado a escolha de mais personae non gratae. Uma por semana seria suficiente.
Tentando seguir a sofisticadíssima linha de raciocínio usada para escolher Hugo Chávez, adianto a minha lista aos leitores.
A Odete Roitman. O abominável homem das neves. O Fidel Castro. O Bicho-papão. O Pato Donald (o imoral não usa calças). A Cuca. O Evo Morales. O Sassá Mutema. A cegonha. O Neném Prancha. O Paolo Rossi (maledetto). O Saci-pererê. O Daniel Ortega. A mula-sem-cabeça. O Rafael Correa. O E.T. de Varginha. O Papai Noel (sempre de vermelho e gosta de criancinhas... é comunista). O National Kid. Os Smurfs (só uma Smurfete para tantos smurfs é mau exemplo para as crianças). A Branca de Neve. Os Teletubbies (ah... o roxinho não me engana). E o Sobrenatural de Almeida.
Acho que os leitores devem colaborar, escrevendo ao deputado com sugestões de outros nomes. Parece que ele tem muito tempo ocioso.
É como diz o velho deitado: “De minimis non curat praetor” (Pessoas importantes não se ocupam com ninharias).


105 - Lunático, mas milionário

O planeta está cheio de lunáticos.
Mas o rei – ou melhor, o presidente – de todos os lunáticos é o americano Dennis Hope. O homem é a prova de que o mundo pertence aos malucos, em especial os malucos americanos, que até conseguiram eleger um presidente como George Bush.
O que fez o tal Dennis Hope? Ora, o sujeito teve uma idéia que, de tão absurda e idiota, só poderia se tornar um sucesso e fazer dele um milionário. Ah... antes que tente adivinhar, ele não inventou o “Big Brother”. É outra coisa.
Há 27 anos, o Dennis Hope decidiu tomar posse da Lua, ao abrigo de uma antiga lei dos Estados Unidos, da época da conquista do Velho Oeste: quem pedir primeiro a posse das terras tem direito a elas. O leitor já deve ter visto naqueles faroestões mais antigos.
O lunático-beleza garante que escreveu ao governo dos Estados Unidos pedindo a confirmação da posse, não só da Lua mas de todo o universo. É claro que não recebeu resposta. Mas diz o povo: quem cala, consente. Dennis Hope entendeu o silêncio como um consentimento e se autoproclamou presidente do governo galáctico.
O lunático-beleza se tornou o manda-chuva do universo e, com a autoridade a ele autoconferida, decidiu criar a única agência imobiliária legal do sistema estelar. E há muito tempo começou a vender terrenos lunares. Lotes com vista para a Terra que custam apenas 65 reais por hectare.
É um negocião, leitor. Aliás, parece ser tão bom que o lunático-beleza diz ter vendido terrenos a mais de 300 mil terráqueos. A lista de celebridades que, segundo Hope, já possuem o seu cantinho na Lua é muito interessante. George W. Bush seria uma presença inevitável. Mas, segundo ele, também Clint Eastwood ou John Travolta. Ah... uma dica, leitor. Parece que a Nicole Kidman já comprou o seu terreninho. Já imaginou que pode ter a sorte de ser vizinho lunar da beldade? E você, leitora, saiba que o Tom Cruise também já tem lá o seu lugarzinho? Aproveite.
A esta altura o leitor deve estar louco de vontade de comprar o seu lote na Lua. Então, não perca tempo. Vá ao site, informe-se e não perca a chance de fazer um negócio do outro mundo. E não se preocupe com a seriedade da transação, porque a empresa entrega o título de propriedade. O endereço é www.embaixadalunar.com.
É como diz o velho deitado: “O maluco deve lavar a cara com óleo de peroba, tamanha a cara-de-pau”.


104 - Eu adoro Cuba

Há muito tempo queria conhecer Cuba. Estava nos meus planos e cheguei mesmo a ensaiar umas viagens, mas sempre surgia um contratempo qualquer e eu acabava por não ir.
Finalmente realizei esse projeto. Há cerca de duas semanas fui até Cuba e posso dizer que adorei tudo o que vi. A começar pela gente simples, capaz de viver feliz longe da loucura das cidades e dos shoppings. Sim, leitor, existe vida fora dos centros comerciais.
Em Cuba, não há poluição nem estresse no trânsito, essas coisas tão típicas das sociedades ocidentais. Aliás, hoje em dia as pessoas tendem a medir o atraso ou o avanço das sociedades pelos seus carros. Em Cuba é diferente. É certo que há muitos carros antigos, mas também há alguns novinhos e luxuosos. Que, como é óbvio, devem pertencer aos ricos do lugar. Mas não importa.
Foi interessante, por exemplo, ver tantas pessoas a usar a bicicleta como meio de transporte. Homens e mulheres já de uma certa idade que mantinham a juventude de quem pedalou e trabalhou de sol a sol durante toda a vida. Mas fiquei com a impressão de que a bicicleta era para compensar os transportes públicos, que não funcionam muito bem.
É claro que fiquei a perguntar a mim mesmo.
- Será que essa gente não sente falta de ter um iPOD, uma televisão de plasma ou mesmo da internet?
O fato é que o povo de Cuba não precisa disso. As pessoas têm algo muito mais importante: os laços comunitários. Parece estranho e fora do nosso tempo, mas as pessoas ainda conversam umas com as outras. Passam horas sentadas nos bancos à frente das casas em amenas cavaqueiras.
É um lugar pacato e não se vê agitação política. Mas a maioria da população vota nos socialistas.
Todos os lugares têm as suas coisas estranhas. Havia uma estátua de Cristóvão Colombo, que as gentes locais juram ter nascido em Cuba e não em Gênova, na Itália. Parece improvável, mas o pesquisador Mascarenhas Barreto, por exemplo, diz ter provas documentais de que o navegador nasceu em Cuba, em 1448. Vendo os argumentos, a tese até faz algum sentido.
Ah... a esta altura, você, anticomunista empedernido, já deve estar furioso por eu estar a falar tão bem de Cuba. Mas não se exalte, porque eu nunca fui à terra de Fidel Castro. Estou a falar da vila de Cuba, uma cidadezinha de três mil habitantes no interior do Alentejo, em Portugal. Dizem que é a vila mais hospitaleira do país. Eu fui e adorei.
É como diz o velho deitado: “As iludências aparudem”.


103 - Uma humilhação literária

Um dia destes, um leitor enviou, pela internet, uma lista com os cem maiores romances do século 20. Apesar das boas intenções de quem faz uma lista dessas (acho que foi um jornalão brasileiro), será sempre uma iniciativa pretensiosa e questionável. Afinal, a literatura – e a relação do leitor com um texto – não é uma ciência exata.
Mas há uma utilidade prática. Uma lista como essas serve de baliza para analisar os caminhos das nossas leituras. Eu confesso: no meu caso, foi uma covardia. Afinal, como tenho dedicado o meu tempo a leituras de interesse acadêmico (filosofia, sociologia, comunicação etc), acabei por negligenciar os romances. Li apenas 14 desses livros:
“O Processo”, de Franz Kafka ; “Doutor Fausto”, de Thomas Mann; “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; “O Castelo”, de Franz Kafka; “O Estrangeiro”, de Albert Camus; “O Inominável”, de Samuel Beckett; “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez; “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; “1984”, de George Orwell; “A Peste”, de Albert Camus; “Macunaíma”, de Mário de Andrade; “O Amante de Lady Chatterley”, de D. H. Lawrence; “O Lobo da Estepe”, de HermaHesse; “Revolução dos Bichos”, de George Orwell.
Eu, por exemplo, acho que “A Revolução dos Bichos” e “O Amante de Lady Chatterley” são presenças questionáveis nessa lista. Sou capaz de lembrar muitos títulos mais interessantes e relevantes.
Aliás, para diminuir a minha humilhação, os senhores que organizaram a lista podiam abrir um precedente. Ver o filme também deveria contar, porque assim eu subia aos 25. Só o “Dr. Jivago” eu vi mais de uma dezena de vezes. A Globo sempre passava o filme perto das eleições, para mostrar aos eleitores os perigos de votar na esquerda.
Se ter lido poucos livros da lista é uma humilhação, pior mesmo é não conhecer alguns dos autores incluídos na lista. Não faço a menor idéia de quem sejam Italo Svevo, Lawrence Durrell, Dino Buzzati, JuaRulfo, Carlo Emilio Gadda, Ignazio Silone, Georges Perec, Michel Butor, RomaiRolland ou Pär Lagerkvist. Shame on me.
Pelo menos a lista serviu para mostrar que preciso me esforçar mais. E vou já começar a ler logo o primeiro lugar: “Ulisses”, de James Joyce (tentei quando era adolescente, mas desisti). É uma forma de recuperar o tempo perdido. Aliás, o clássico “Em Busca do Tempo Perdido” é o segundo da lista. Mas esse eu não vou ler. Já tentei e acabei por concordar com aquela pessoa que escreveu, certa vez, que ler Proust é como tentar arar o campo com agulhas de tricô.
É como diz o velho deitado: “Só faltam mais 86 livros. Se viveres até aos 150 anos terás tempo de sobra”.


102 - Mulheres gordas e sexo no escuro

As mulheres são mesmo um bicho estranho e cheio de manias.
Há uma insanidade sempre previsível: elas acham que estão gordas. O mais chato é que não admitem opiniões em contrário. Aliás, até ficam ofendidas quando alguém discorda. É assim no Brasil, no Alasca ou até na Somália.
Mas grave mesmo é o caso do Reino Unido. Um estudo publicado há alguns dias trazia a seguinte revelação: muitas mulheres britânicas têm vergonha da própria nudez. O pior é que muitas chegam ao exagero de nunca tirar a roupa na frente dos parceiros. Só topam transar no escuro. Jogo duro.
Bem... conhecendo as inglesas, de certa forma até dá para entender essa paranóia. Pode parecer preconceito, mas tenho um palpite: no dia em que o criador do universo inventou a Inglaterra, os deuses da beleza estavam de mau-humor. E sua alteza real Camilla Rosemary Moutbatten-Windsor (também conhecida como Camilla Parker Bowles) não me deixa mentir.
Se já é um absurdo com as inglesas, difícil mesmo é entender as brasileiras, que são bonitas por natureza. O problema é que o delírio do corpo perfeito – a febre das plásticas, botoxes e silicones – fez com que elas se desviassem dos padrões da autêntica beleza nacional. É uma insensatez, porque os homens brasileiros não gostam de barbies peitudonas e sem traseiro.
Aliás, outra coisa previsível nas mulheres é que elas nunca ouvem a opinião masculina. Mas perguntam:
– Acha que estou gorda?
– Claro que não.
É inútil responder. Só a pergunta interessa, a resposta entra por um ouvido e sai pelo outro.
Mas se o leitor fosse arriscar um palpite, qual seria a mulher perfeita?
Não tenho qualquer dúvida. Fico com Machado de Assis que, pela voz de Bentinho, descreve a desejada Capitu, no seu “Dom Casmurro”.
– “Não podia tirar os olhos daquela criatura de catorze anos, alta, forte e cheia, apertada num vestido de chita meio desbotado.”
Aliás, se a moral da época permitisse referências menos abstratas ao traseiro da moça, então Machado de Assis descreveria o modelo ideal da mulher brasileira. Porque é essa mulher – alta, forte, cheia e com um derriére redondinho – que está na mente dos homens.
Entre Capitu e a Barbie é claro que os homens escolhem o produto nacional.
É como diz o velho deitado: “As mulheres vivem em permanente crise de confiança. Não confiam nos homens. Não confiam nos espelhos. Não confiam nas balanças”.


101 - O dr. Cunha e o sr. Pistolão

O leitor sabe qual é a maior herança cultural que a colonização portuguesa deixou no Brasil?
– O bigode?
– As padarias?
– A caneta na orelha?
Que nada.
– É a corrupção.
Quem já morou nos dois lugares não pode ter dúvidas: Portugal e Brasil só podem estar entre os países mais corruptos do mundo. Duvida?
O ranking da Transparência Internacional coloca Portugal em 26º e o Brasil no 62º lugar (notem a relação dos números) nos índices de corrupção. Há uma diferença: é que no Brasil a corrupção acontece no atacado e em Portugal no varejo.
A sacanagem na sociedade brasileira produz grandes escândalos. Mensaleiros, sanguessugas, lalaus, orofinos, cuecões. E não podemos esquecer aqueles políticos que, para garantir a popularidade, distribuem dinheiro a proto-jornalistas (ou seriam procto-jornalistas?). Tudo feito em forma de patrocínios legítimos, claro.
A sociedade portuguesa é corrupta no miudinho, nas coisas do dia-a-dia. É quase um estilo de vida e está presente no quotidiano das empresas, das universidades, dos partidos. Se você procura um bom emprego, por exemplo, só tem hipóteses de conseguir se conhecer alguém de dentro que dê uma forcinha.
Aliás, são países onde manda o QI – quem indicou. Não por acaso o folclore dos dois lugares tem duas personagens que, apesar dos nomes diferentes, são quase irmãos gêmeos: a “cunha”, em Portugal, e o “pistolão”, no Brasil. São os caras com algum poder de influência que sempre dão um jeitinho de conseguir as coisas para os amigos.
É fácil ouvir:
– Em Portugal, as coisas só acontecem quando se “mete uma cunha”.
– No Brasil, as coisas só acontecem quando se “tem um pistolão”.
E, para finalizar, sabe qual é o mais relevante laço histórico entre os dois países? É que ninguém vai preso. Em Portugal, por exemplo, há hoje apenas oito pessoas presas por corrupção. Oito, repito. E gente envolvida com a imigração ilegal. No Brasil, mensaleiros e sanguessugas continuam livres e na maior cara-de-pau. Os que não se reelegeram têm sempre um pistolão para arranjar um bom cargo público.
É como diz o velho deitado: “Só há uma diferença: uns são corruptos em euros, outros em reais”.