69 - First Life
O Luís Gaspar, talvez numa tentativa de me converter ao Second Life, informa-me que Lá se encontram muitos praticantes de Reiki.
Não perguntei se havia praticantes das técnicas de Prem Rawat.
Sucede que, para gente dessa, como eu, e para praticantes de algumas outras formas de meditação, a Second Life é a vida que vivemos no dia a dia.
Acham que um gajo que compra um Rolex não está a criar um avatar alternativo de si mesmo?
E, no fundo, no fundo, em que consiste o trabalho de um marketeer a não ser o de motivar visitantes da vida real para uma vida alternativa? Desde os cabeleireiros às exposições de automóveis, das lojas de decoração de unhas aos portáteis em vermelho Ferrari, toda a vida que nos cerca é um convite a inventarmos o mundo em que vivemos.
Descubram a vida real. É giro e simples. (a nossa cabecinha é que é complicada.)
PS: Agradeço ao Luis o apelo a um teclado alternativo para o meu computador pifado. Sucede que se trata de um portátil, que agora tem teclas presas, e que vai seguir para um especialista.
68 - Graphic novels
A chegada dos Watchmen ao cinema está a reactivar a reedição dos clássicos da bd da década de 80.
Como fan de tal tipo de literatura, seja-me permitido recomendar alguns títulos imperdíveis:
Ainda de Alan Moore, a serie Promethea, quatro volumes belíssimos (mais um quinto que é uma merda), sobre uma deusa da imaginação que incarna em vários avatares ao longo dos anos. Pode ser considerada a primeira graphic novel ocultista. Claro que não tem nada a ver com aventuras tipo Wonder Woman e companhia...
De Frank Miller, esqueçam as brincadeiras gráficas de Sin City e deliciem-se com Ronin (talvez o argumento mais complexo, ex-aequo com os Watchmen). Do mesmo autor, obviamente, The Dark Knight Returns, a bd que fez renascer as histórias de super heróis como literatura adulta.
E boas leituras.
P.S. para os puristas da língua:
Fan não é uma palavra. É a abreviatura de fanático, abreviatura que funciona na maioria das línguas anglo-saxónicas e latinas.
Fã é uma pirosice linguística.
Nota da redação:
Ao Artur Tomé, sucedeu aquilo que não é raro acontecer entre os utilizadores de computadores: entornou a caneca do chá por cima do teclado.
Haverá por aí algém com um teclado solteiro, isto é, sem computador? O Artur usa pc. Se quer valer ao acidentado, envie-me um email que eu entro em contacto com ele.
67 - Um Bom Ano Novo
O Filme estreia a 6 de Março.
Até lá, se não leram, comprem a bd.
Um bom ano
66 - Leituras para o Natal
Uma burla de 50 mil milhões de dólares, faz-nos pensar que não é só o nosso banco central que não controla o que se passa à sua volta. E surge a pergunta: com tudo isto, quem nos garante que o dinheiro valha o que vale? Os números dos bancos centrais, dos programas de governo, das sociedades financeiras, correspondem a alguma realidade concreta?
E você que trabalha em publicidade, ainda acha que a basezinha da sua actividade é trabalhar para a brand image e criar mensagens galhofeiras? E que o velho princípio do "we sell or else..." é algo passé?
Sugiro-lhe que aproveite estas festas até ao fim do ano para um estágio back to basics.
De autores portugueses recomendo um livro:
Comunicação de Marketing, por João Pinto e Castro, edições Sílabo
Fundamental para quem se inicia numa carreira de marketing, óptimo para arrumar ideias e conceitos a quem já anda nisto há uns anos.
De autores estrangeiros, o velho clássico
Commonsense Direct and Digital Marketing, por Drayton Bird
Um livro que interessa a todos, criativos ou executivos, trabalhem numa empresa ou numa agência de publicidade. Embora Drayton seja um homem do marketing directo, há nestas páginas muitas pérolas para quem labute em comunicação mais generalista.
Imperdível são também as dicas que pode encontrar em www.draytonbird.com
The last, but not the least, www.rosenspan.com. Também é do direct, também é copy, também é útil a todos os criativos, above ou below the line. recomendo a sua secção Recent publications, um delicioso e divertido curso de criatividade.
E um bom Natal para todos.
(A propósito: em Jerusalem não neva em Dezembro.)
65 - Managementspeak - a crise é global.
Para acabar com a conversa sobre neologismos parvos na comunicação de marketing, junto um texto sacado do João Almeida AQUI .
O João está como director criativo da SABCO em Oman. Aproveito para pedir ao Pai Natal que lhe envie m bocadinho de neve para o braseiro em que ele vive.
O texto vem em inglês, língua que os meus leitores têm obrigação de conhecer e eu não tenho tempo para traduzir.
64 - Contra o paleopaleio nacional
Nada melhor para exemplificar os disparates da má utilização do português referido no post anterior que este texto de Ferreira Fernandes no DN da passada 3ª feira
Uma reportagem (no Público) diz-me que o restaurante em Foz Côa vindo com a miragem das gravuras paleolíticas fechou. Chamava-se Restaurante Paleocôa. Reabriu. Chama-se, agora, Snack-Bar Dois Manos. São notícias destas que me fazem acreditar no homem, a que alguns (entre os quais, pelos vistos, os donos do Restaurante Paleocôa) chamam Homo sapiens Lin., da classe dos Mamíferos, subclasse dos Placentários. E chamam isso não em reuniões sábias, a que não me oporia, mas ao pequeno-almoço. E ao almoço o que serviria o Restaurante Paleocôa? Bife de mamute? Batatas fritas fossilizadas?... Aquele restaurante fruto do Parque Arqueológico do Vale do Côa é a imagem perfeita do jeito português para lhe fugir o pé para a complicação pedante. Num museu português ler uma legenda obriga a curso de semiótica. Um estilista português entrevistado é ainda mais complicado que as suas patilhas. Uma escola portuguesa que ensina a melhorar o corpo chama-se inevitavelmente Faculdade de Motricidade Humana. Ponham os olhos no Snack-Bar Dois Manos: voltou a ter clientes e não só porque as suas francesinhas são boas. Tem um nome com que não nos engasgamos.|
63 - Falar claro
Da minha mãe, que era uma senhora calma e bem educada, o único conselho que recordo foi "Artur, fala claro e mija direito".
Tentei seguir o conselho, o que, até certo ponto, influiu na minha carreira de copy.
Ultimamente, não sei como é que as pessoas mijam, mas que falam cada vez menos claro, lá isso falam.
O problema não é só português. É europeu.
Para começar, há as modas. Uma palavra, raramente dita ou ouvida até então, cai subitamente no goto das multidões. Desde o "garante", lançado pelo Spínola no pós 25 de Abril, que tornou todos os oradores garante de qualquer coisa durante muitos anos, até ao moderno "concomitantemente", são inúmeros os termos usados como garante de bem falar, concomitantemente com outros termos técnicos usados fora da área de saber para que foram criados, "na medida em que" quem os profere julga conquistar o status de culto.
A vaga de termos sofisticados e usados fora do contexto, mais outros neologismos inventados e a armar ao pingarelho, espraiou-se pelas áreas da gestão de pessoal e executivos de marketing. Ele é a procura de colaboradores, não só pro-activos e assertivos, como até aqui, mas ainda carismáticos, desde que Barak Obama começou a dar nas vistas. E qualquer problema social se resolve com a procura de um novo paradigma.
No marketing, já muita gente usava "visualizar" como sinónimo de "ver". Agora, basta percorrer as páginas de qualqer Executive Digest, para ver como a doença alastrou.
O Alberto Pereira, um dos amigos com quem tenho discutido este assunto, comenta:
"Agora percebo porque actualmente estão a surgir , no vocabulário comercial, palavras que não existem no dicionário ou deslocadas dos contextos."
"Além do abominável "constatar", já velhinho, aparece o "externelizar" (como sinónimo de sub-contratar), o "recepcionar", em lugar de receber, ou "descontinuado" em lugar de não existe ou já não se fabrica. Também vejo, com preocupação, a palavra "corporação" passar a significar simplesmente empresa quando em português tem outro significado."
Evidentemente que o tema tem pano para mangas.
Como se dizia nos meus tempos de miúdo, no Cavaleiro Andante e Mundo de Aventuras...
...continua no próximo número.
62 - Marketing analógico e marketing digital
Aconteceram várias coisas interessantes durante esta semana.
Voltei a trabalhar em marketing directo.
Li um post de Drayton Bird no seu blog , sobre o uso de ferramentas da internet na campanha de Obama, cuja leitura recomendo. Aqui:
http://drayton-bird-droppings.blogspot.com/
E tomei conhecimento duma campanha promocional que uma jovem levou a cabo para lançar um novo conjunto musical. Os meios usados foram as tais ferramentas da net a que os asseclas de Obama recorreram. Os resultados foram notáveis em poucos dias. De tal forma qe a dita jovem já está a ser contactada por outros músicos para orientar a sua promoção.
Confesso. As técnicas que a moça usou constituem uma técnica de marketing directo digital, totalmente inovadora e que para mim é chinês.
Se eu me sinto profissionalmente diminuído? Nem um bocadinho. Até me sinto orgulhoso.
Sucede que a dita jovem tem o meu apelido e e acho que a sua iniciativa e criatividade deve alguma coisa aos meus genes.
Portanto, se me aparecer algum cliente cuja promoção exija que se recorra a direct marketing digital, só tenho que sub-contratar a minha filha.
61 - Requiem pelo assobio
Estava com uma amiga a ouvir rádio e passam o Gene Kelly num trecho do Americano em Paris. Às tantas, o Gene começa a assobiar e a minha amiga riu-se. " Isto ainda é do tempo em que se assobiava..."
Olhei para ela sem compreender.
"Não reparaste? Já não se assobia. Em música ou seja onde for. Uma noite destas passou aqui na rua alguém a assobiar uma música e corri para a janela a ver quem era. Um tipo já entradote, mas assobiava que era uma maravilha"
Pois, gozem. Que é que interessa que se assobie ou não?
É sempre triste ver uma arte desaparecer, sejam os sapateiros sejam os assobiadores.
60 - A Sociedade da desinformação
Vivemos tempos complicados na área financeira, como é sabido de todos e a publicidade do Millenium bcp confirma. O pobre do alfaiate do Jorge Gabriel viu o seu status descer para o de simples barbeiro e continua a não ter segurança para adquirir produtos do banco. E, se repararem na forma angustiada como ele continua a perguntar: "Tu recomendas Jorge, não recomendas?", a confiança não se vislumbra naquela alminha.
E o Jorge, com a navalha do outro encostada ao pescoço, lá faz um sorriso amarelo e diz que claro que recomenda.
Esta insegurança quanto á informação disponível encontra-se em muitas áreas para além da Banca.
A começar nas listas telefónicas.
Peguem na lista telefónica de Lisboa. A mesma espessura de há 15 anos atrás, só que 3/4 da lista são páginas amarelas. O telefone fixo evaporou-se assim tanto? Não, aquilo são só os assinantes da PT.
Então, e os fixos das outras operadoras? Quem os tem chama-lhes seus e não os mostra para a concorrência não os atacar com planos de preços.
Passemos aos cartões de crédito. Os Visa e Mastercards têm condições variáveis de banco para banco. O leitor pode querer comparar as condições que um dado banco oferece nas diversas variantes. A concorrência desse banco também. Moral da história: comparar condições é mais difícil do qe conhecer os beneficiários das rendas das casas da Câmara de Lisboa.
Creio que esta é uma das razões que levou ao descalabro do casino universal chamado banca. Nesta era da informação universal, quanto mais tecnologia existe, mais caixinha se faz com os dados que realmente interessam.
59 - O meu Magalhães
Custa-me dizer bem do Sócrates, mas acho que o Magalhães é uma excelente iniciativa comercial para dinamizar a indústria portuguesa. A empresa que os fabrica (ou monta, como queiram) meteu uma lança em África (e na América do Sul) pelo que, industrialmente falando, estamos todos de parabéns.
Quanto ao seu valor para preparar a juventude para o futuro, recordo o episódio referido no texto anterior, quando o meu pai me inscreveu numa escola de dactilografia, com o mesmo objectivo. Lá fui aprender a dedilhar HCESAR, para chegar ao semanário Opção e bater os mes textos em AZERT, pouco tempo antes de passar definitivamente para os computadores e readaptar-me ao QWERT.
Nem para agilizar a escrita no teclado aquela experiência serviu.
Um Magalhães para cada dois alunos da primária serve para entreter os pequenos, mas vai ajudar a perder-se ainda mais a capacidade aritmética (entra-se numa tabacaria, pede-se o Publico e um SG gigante, e qualquer empregado só sabe qual a despesa depois de meter os valores na registadora) para já não falar na incapacidade crescente de pesquizar informação fiável.
Quando esses pequenos e pequenas entrarem no mercado de trabalho, toda a informática está no telemóvel, com reconhecimento vocal a substituir os teclados e com o ecran transferido para uma área específica dos óculos. Vamos ter Ray-Ban e Adidas a negociarem compatibilidades com os sucessores do i-phone.
Até lá, as crianças vão-se entretendo, aprendendo umas coisas, mas ficando com os seus tempos livres cada vez mais dependentes da tecnologia. Ninguém já sabe jogar o pião (de madeira, lançado com ajuda de um cordel sabiamente enrolado.) Salve-se o skate, a fazer acrobatas todas as semanas, com tábuas e chapinhas ad hoc.
58 - Viagem no tempo
Nasci em 1944. Tenho 64 anos. Mas, quando vejo as notícias, parece que devo ter mais 100.
Entrei para a escola com tinteiros nas carteiras e canetas de aparo. Aprendi a arte de colocar tinta da China no tira-linhas, quase tão exigente como comer com pauzinhos. Aprendi a decalcar letra na mesma altura em que o meu pai, para enriquecer o meu curriculum, me mandava aprender dactilografia.
Os meus pais tinham irmãos mais velhos, toda a gente lia, e eu, desde miúdo, navegava entre os livros da Argonauta de um primo e folhetins do sec. XIX da minha avó. Apanhei Gibis do Capitão Marvel e Homem de Borracha, editados quando eu nasci.
Depois foram os primeiros computadores (toca a aprender CP/M). O Locoscript do Amstrad PCW, o MS-DOS, a surpresa do Mac, bla-bla
A minha filha carrega 2 Gigas de música numa coisa que parece um cartão de crédito um pouco espesso, há uma equipa portuguesa a trabalhar com transistores de papel e as series Ossos e CSI já nos preparam para os ecrans transparentes que aí vêm.
Tudo isto no tempo de uma vida só.
Tem sido uma vida e tanto.
Obrigado.
Não sei a quem, mas obrigado na mesma.
57 - Prazeres infantis
Mão amiga enviou-me um clip com Danny Kaye e Louis Amstrong numa interpretação originalíssima de “When the saints go marching in”.
A mão amiga desconhecia que esse trecho pertence a um filme que vi em miúdo e que guardei na memória como um tesouro. “The five pennies” foi o filme que me despertou para o jazz. Já lá vão… 50 anos. Meu Deus, como o tempo passa.
O ter revisto o Danny e o Louis levou-me ao You Tube à procura de outras memórias infantis e dos meus heróis e heroínas do cinema. Maureen O’Hara, em filmes de capa e espada e no “Homem Tranquilo”, com John Wayne. Burt Lencaster no “Facho e a Flecha” e “Pirata Vermelho”. Ann Margret no “Viva Las Vegas” e “Carnal Knowledge”. Stewart Granger em “Scaramouche” e “O prisioneiro de Zenda”. Até mesmo Annette Haven (sim, desses filmes, mas uma senhora e lindíssima).
Mas, ao prazer de rever toda essa gente, surgia uma sensação incómoda. A memória deixava de ser memória e passava a ser presente. Desaparecia o tempo, perdiam-se as três dimensões e tudo ficava presente mas…plano. Sentia a falta de recordar aquelas cenas e aquela gente com saudade.
O Homem Analógico tem sempre de encontrar defeitos nas novas tecnologias.
56 - Quem pega no espólio do Sam?
Aí pela década de 80 tive a oportunidade de orientar uns seminários sobre publicidade. Trinta horas para ensinar alunos que sonhavam seguir carreira como Relações Públicas. Para que aquelas crianças percebessem o que era criatividade, levava-as a uma visita de estudo a uma agência de publicidade e ao atelier do Sam.
Do Sam, os alunos sabiam, os que sabiam, que era o autor do Guarda Ricardo. Poucos tinham ouvido falar da sua colecção de cadeiras. Quando entravam naquele atelier ficavam totalmente desorientados. Nada do que pensavam saber sobre arte ou criatividade se aplicava ao que estavam a ver.
Havia um relógio do sec. XIX, com os ponteiros colocados num copinho, para poderem indicar a hora que se quisesse. Outro, com o mecanismo todo remontado de modo a que os ponteiros andavam para trás. Moral: não há destino que não possamos alterar.
Depois havia o chá da avózinha (mesa, cadeiras e serviço de chá à escala de 300%, para recordarmos como era visitar a nossa avó em criança).
E o Sam, com o seu sorriso infantil e mefistofélico não explicava nada. Deixava as visitas às voltas com a sua desorientação.
Por vezes, lá explicava as esculturas. Como qualquer um pode ser artista. Por exemplo, desde que possa alugar uma prensa e espalmar um petromax ou uma máquina de escrever.
Esculturas mais simples e mais criativas podiam-se fazer, por exemplo, com garrafas e cimento.
Modo de usar:
1. Despeje o cimento dentro da garrafa.
2. Espere uns 2 minutos e parta a garrafa.
Obtém-se assim uma coisa parecida com uma garrafa distorcida, em cimento, que constitui uma original peça escultórica para a sala.
O espólio do Sam anda em bolandas
(ver aqui)
Sam, onde quer que estejas, um abraço. Acredito que estejas no Céu, melhor alma não conheci eu. Mas acredito também que o Céu nunca mais foi o que era desde que para lá entraste.
55 - Qué feito da magia do marketing?
Terminada a tropa, arranjei emprego no centro de documentação da CUF. Artigos científicos com eventual interesse eram microfilmados e arquivados com os dois ou três assuntos fundamentais em destaque. Estamos em 72 e eu estou a trabalhar com um computador do tamanho dum T2. Quando algum engenheiro precisava de se documentar sobre parasitas da batata, introduzíamos "parasita" e "batata" no teclado, o computador fazia a triagem e cuspia as microfichas correspondentes.
Entretanto ia enviando curriculos para as agências de publicidade, trabalho que era o meu sonho de menino.
A selecção das agências a quem enviar carta era simples. Ia às Páginas Amarelas e escrevia para as que tivessem os anúncios maiores. Só consegui duas entrevistas com directores criativos e o resultado não era famoso. Foi então que recebi uma análise psicológica feita por computador (longa história, adiante). Envio-a para o Artur Portela na Ciesa, pedindo para a anexarem ao meu curriculum e comecei a trabalhar lá no dia seguinte.
Há dias recordei a história e pus-me a pensar como escolheria agora uma agência a quem enviar curriculum. Páginas Amarelas, Google, Sapo... Concluí que, se fosse agora, desistia da carreira e seguiria o plano B (agente da Judiciária, adorava Maigret).
Como é que uma empresa normal escolhe uma agência hoje em dia? Admitindo que não é assinante da Briefing ou doutro meio do ramo?
Uma agência justifica a designação de "serviço completo" alegando que faz toldos, placards, trabalhos em vinil... A pulverização é mais que muita. A criatividade não denota um fio de estratégia condutor, as mensagens parecem concebidas por equipas de humoristas... Curiosamente, a produção gráfica e televisiva é de qualidade. Mas, como cliente, eu queria uma entidade que me concebesse aquilo que as produtoras vão fazer. Onde é que as conheço, como é que as escolho?
Pois é, isto está estranho.
54 - A instituição
Tanto quanto me lembre, nunca nesta página promovi ou denegri uma empresa específica na área do marketing. Referi várias associações na área do new age (os meus leitores já deitam pelos cabelos as minhas referências ao Reiki e a Prem Rawat) e, creio que por duas vezes, recomendei que conhecessem o programa de actividades da Ordem de Cavalaria do Sagrado Portugal que promove eventos de reconstituição histórica ao longo do país.
Hoje queria falar da Marktest.
Trata-se da Instituição portuguesa que efectua estudos de audiência, inquéritos e que, de um modo geral, informa os profissionais do marketing e os media sobre hábitos de consumo dos portugueses. Décadas de prestígio nesta área.
Por coincidência, eu e dois ex-colegas desre ramo visitámos a Marktest nos últimos dias. Sem sabermos uns dos outros. Falámos com a Direcção, inquirimos condições financeiras para vários trabalhos, vimos as instalações. Depois, encontrámo-nos casualmente e descobrimos que tinhamos feito a mesma visita à Instituição.
Não, não vou expor aqui os meus comentários nem os dos meus amigos.
Mas recomendava aos profissionais do ramo, em especial aos que têm funções executivas, que visitassem a Marktest e conhecessem in loco as suas instalações, os seus métodos de trabalho e a forma como atendem quem os procura.
E uma continuação de boas férias para todos.
53 - Leituras para férias
"Os media já não são a mensagem. A mensagem é a mensagem.
...o conteúdo é sempre o mais importante, e não os meios pelos quais é entregue."
(Condensado de um texto publicado na Executive Digest sobre o livro "Punkmarketing" de Richard Laermer e Mark Simmons, ed. Lua de Papel)
Os executivos, de vez em quando, andam com a bolha. E pensam que descobriram a pólvora ao aderirem ao fogacho de uma nova moda da Bolsa, da informática, ou da gestão. Quando as bolhas dão o estoiro é que se descobre o valor das verdades mais tradicionais e lá vão os executivos back to basics.
Para hoje, venho recomendar dois livros de auto-ajuda para marqueteiros (detesto a palavra mas moda linguística que é brasileira tem muita força). São dois livros que serviram de base a quase tudo o que se escreveu sobre técnicas de vendas e êxito pessoal. Qualquer deles tem mais de 40 anos e, quando referir os nomes, vai haver um baah de desprezo na cabeça de muitos.
Antes de porem as sugestões de lado, já leram?
O primeiro é de Dale Carnegie "Como fazer amigos e influenciar pessoas". O b-a-ba incontornável da técnica de vendas. Encontram-no em qualquer bom alfarrabista.
O segundo, talvez menos conhecido do grande público é "Desperta e Vive" e o leitor poderá encontrar neste endereço uma mensagem de venda mirabolante. Não desanime e arranje o livro AQUI
E não se esqueçam que, por muitas novas tecnologias que surjam, plus ça change, plus c'est la même chose.
52 - A influência dos telemóveis no comportamento do marketing directo
E, quando parecia que todo o marketing se podia fazer através de call centers, desde os estudos de mercado à venda de produtos e serviços, eis que chegam os telemóveis.
O que não teria nada a ver com este filme se não fosse o facto de quantos mais telemóveis há menos telefones fixos estão ligados à rede. Comparar uma lista dos telefones (de Lisboa, por exemplo) de há 10 anos com uma lista de hoje é perceber que as sondagens e estudos de opinião têm cada vez mais problemas em fazer as suas previsões.
Quando se liga para um telefone fixo, quem atende está em casa. Quando se liga para um telemóvel, o cliente pode estar a conduzir, no meio do trabalho, ou, num delicioso episódio que uma operadora ouviu "Menina, agora não posso. Estou a sair do balneário e vou entrar no campo para jogar."
Pelo número do telemóvel não se pode saber a localização ou o poder de compra de quem atende o número, se o aparelho tem GPS ou câmara de video incorporada para vender reportagens domésticas à TVI. Sabê-lo-ão, mas só em parte, as operadoras a cujas redes o telemóvel está ligado ou empresas onde o cidadão se tenha registado.
E, como é que essas empresas captaram esses clientes? Com anúncios de imprensa, filmes ou mailings onde se destaca a forma de contacto. As chamadas efectuadas pelos call centers são, cada vez mais, follow up de mailings.
Ou seja, o marketing directo tradicional está de volta, meus queridos. Mais interactivo, mas de volta.
E quando as empresas compreenderem que a sua fúria de outbound não solicitado só irrita os clientes que ainda têm, e se limitarem à gestão dos contactos inbound (onde é o cliente que contacta o call center para pedir um reboque, um esclarecimento ou a anulação de um tarifário novo que uma chamada outbound lhe impigiu num momento em que o cliente estava distraído) então todos teremos a ganhar: clientes mais satisfeitos e fieis, empresas mais lucrativas e marketeers mais respeitados.
51 - A influência dos call centers na estratégia do marketing directo
O computador pessoal, primeiro, e a internet, depois, levaram todos os gestores e marketeiros a pensar que qualquer um podia fazer marketing directo em casa, ganhando montes de clientes por tuta e meia. Até o homem analógico que era profissional da área viu a sua profissão ameaçada.
Qualquer empresa tinha a sua base de dados para fazer mailings e o filho de um gestor que se amanhava com os programas. E desataram a enviar cartas dirigidas ao Exmo/a Sr(a). Se a maioria dos mailings em circulação já eram uma nódoa, aqueles conseguiam piorar o panorama.
A grande moda que então surgiu para criar pior imagem no marketing directo foi a dos call centers. As empresas passaram a subcontratar gabinetes cheios de colmeias, com operadores vidrados diante do script de um computador, os call centers subcontrataram o seu pessoal a empresas de trabalho temporário e assim surgiu a safa dos part times que desenrascam massas aos estudantes para irem a Paredes de Coura e comprar o seu portátil e aos mais seniores desempregados ou à procura de um complemento para a reforma.
O efeito sobre os clientes contactados está a ser desastroso. Esquecendo a primeira regra do telemarketing que diz não se fazerem telefonemas não solicitados, aquelas santas almas invadem o lar de cada um à hora do jantar ou a meio da transmissão de um jogo de futebol, ouvem donas de casa a dizer que a patroa não está em casa ou raspanetes de pessoas a quem o produto ou serviço anunciado não interessa minimamente.
Duas agravantes neste cenário:
Os scripts são criados por alminhas que nunca seriam admitidos como copy trainees numa agência de publicidade minimamente profissional.
Dificilmente o número de telefone permite uma segmentação decente, para além da geográfica. Isto na hipótese dos cada vez mais raros telefones fixos.
Sobre o cruzamento dos call centers com a realidade dos telemóveis falaremos para a semana.
50 - O meu texto de auto ajuda
Tal como o António Baço, nunca li Paulo Coelho porque não gosto.
Nem livros de auto ajuda, embora tenha navegado pelas águas do Reiki e das meditações.
Mas posso dar umas dicas sobre a matéria.
Por exemplo, se você deseja ser ou ter alguma coisa, tem que desejar com força esse objectivo.
O problema é que, se você precisa de pegar num livro de auto ajuda para saber o que quer, esqueça. O seu querer é demasiado diletante e você nunca conseguirá atingir velocidade suficiente para levantar voo.
Quanto à mentalização, não caia na armadilha em que quase todos tropeçam: se você se mentaliza que quer ser um publicitário com tanto êxito como o Edson Athayde, parabéns. Você já realizou o seu sonho. Você quer ser.
Daí a ser vai um grande salto interior, que você nunca dará enquanto só quiser ser.
Depois há a preparação para vir a ser/ter isso que deseja.
Como é que pensa que o António Baço chegou a cinto negro de taekwondo? Malhando o corpo e continuando a malhar com regularidade. Como é que pensa que o Luis Gaspar tem um dos podcasts com maior audiência na net? Para além de ter boa voz e ser um pioneiro do audio visual neste país? O Luis tem um estúdio de gravação profissional em casa. Isso diz-lhe alguma coisa sobre como querer e como fazer?
E eu? Bom, com um diagnóstico de coartação da aorta que me comunicaram aos 10 anos, as minhas aspirações materiais foram sempre distraídas por aquela espada de Damocles. Sucede que, quando entrei para a tropa estava curado, o que me despertou o interesse pelas várias formas de cura natural e pelo mundo das relações psicossomáticas que estabelecemos connosco próprios. Para além de ser especialista em entrar para agências na véspera delas falirem e andar quase sempre com uma mão à frente e outra atrás, houve uma resposta que sempre procurei desde criança. E hoje não troco a experiência de Prem Rawat por toda a fortuna do Bill Gates.
Quer ser belo como o George Clooney? O gajo confessa que passa 3 horas por dia na casa de banho. Quer ter o que quer que seja? Trabalhe para isso.
49 - Hoje não há crónica
Na semana do iPod, o mais recente ícone desta civilização, cheio de potencialidades, design e problemas de activação, o obituário de um amigo meu ocupa uma coluna nos jornais. O João Isidro esteve comigo na Opção e na 24ª Hora e, em tempos, ajudei no restabelecimento de uma relação amorosa entre ele e uma amiga minha.
No dia seguinte passo a manhã em jejum no Pulido Valente para um check up que inclui um TAC. Comigo na sala de espera está um casal, ela com cancro no colo do útero. Fumamos um cigarro no lindo jardim do hospital e comentamos como, na maior parte do tempo, as pessoas se esquecem de que estão vivas. e só quando vão a entrar na sala de operações é que dão valor a cada respiração e depois dão graças por estarem vivas e passam a apreciar devidamente o vento na pele, a frescura do orvalho e todas as simples mariquices que nos rodeiam.
No belíssimo Dandelion Wine de Ray Bradbury ("A cidade fantástica" na colecção Argonauta), um puto de 12 anos, magoa-se numa brincadeira, vê o sangue a sair da ferida e corre para o pai a anunciar a grande descoberta que fez: está vivo.
- Claro que estás - exclama o pai - Todos nós estamos.
O miúdo não se conforma:
- Mas, as outras pessoas, também sabem que estão vivas?
- Claro que sim, meu palerma.
E o puto, num murmúrio:
- Oxalá saibam.
Por tudo isto, desculpem lá, hoje não há Homem Analógico.
47 - Vem aí a Era do Aquário. A doer.
Não se trata de astrologia. Vamos falar de astronomia.
Tal como a Terra tem um movimento de translação à volta do Sol, também o Sol tem um movimento de translação à volta já não me lembro de que astro. E está agora a entrar na zona a que os antigos chamavam signo do Aquário.
Mau, afinal a conversa é sobre astronomia ou astrologia? Durante muitos séculos, ambas estavam fundidas numa ciência única. Não esqueçamos que, nos tempos de Isaac Newton, as duas ciências nobres eram a astrologia e alquimia.
O Sol percorre cada um dos seus signos durante 2000 e tal anos (astronomia: o ano solar dura 25000 anos, a dividir por 12, é fazer as contas).
Poupo-vos a caracterização dos períodos anteriores. Esta é suposta ser a era da comunicação. Pois, a Internet , os telemóveis, e GPS, não é? Isso é apenas uma amostra. Entramos na era do Aquário daqui a 100 anos. Ainda estamos nas dores de parto.
De qualquer forma, numa conversa com um grupo de malta nova, todos concordam em que já daqui a uns 10 anos, nada será como hoje em matéria de energia, sociedade e política em geral. A crise alimentar e dos combustíveis é só uma amostra do que aí vem. E que vai originar novas formas de relacionamento humano, de urbanismo, de trabalho, de governação.
As novas formas de terrorismo, polícias atacados nas esquadras, professores atacados dentro das escolas, juízes atacados dentro dos tribunais, são só sinais de que a forma como se exerce a segurança, o ensino e a justiça vai ter de mudar muito em breve. Bem como a forma como se manifestam os membros de uma organização dentro da mesma (partidos, clubes, países).
As amostras do Brave New World em matéria de ciência e tecnologia assustam-me um pouco. A nanotecnologia e a implantação de chips no corpo humano (inclusive no cérebro) já não são meras hipóteses de ficção científica. estãao em test em vários laboratórios.
A minha filha vai ter uma vida mais agitada que a minha. O que me assusta a mim mas a excita a ela.
Que ela e os seus amigos consigam criar uma sociedade mais justa e feliz que esta é o que lhes desejo.
46 - Para uma melhor digestão da cultura
Fernanda Câncio, no DN deste domingo, manifesta-se contra a profusão de música e ecrans de televisão à solta nos espaços públicos. Ruas, centros comerciais, restaurantes. Por muita qualidade que tenha a música (ou o desafio de futebol ou o concerto) é uma agressão aos nossos sentidos.
Mesmo assim, há quem goste, ou os comerciantes e autarquias seriamm forçados a oferecer silêncio e paz.
Parece que há cada vez mais gente com medo do silêncio, de estar a sós consigo mesmo.
Para o homem analógico ( se quiserem, para um cota, mas não é sinónimo ), a actual profusão de informação cultural, disponível a qualquer momento e acessível em qualquer lugar, entontece e irrita. Trazer vários megas de música no bolso, ligados ao ouvido por auriculares minúsculos, é um atentado ao bem estar do ouvinte e à criatividade dos autores. Para já não falar na qualidade da gravação e da música em si, quando elas existam.
Teoricamente pode-se ouvir O Anel dos Nibelungos enquanto se anda às compras.
Pode-se mas não se deve.
Cada música - cada livro, cada filme, cada peça de teatro, cada prato - exige um ambiente próprio para ser degustado. Guterres ouvia ópera no carro, pelo menos quando andava em campanha e quando estava no governo. Pessoalmente, não vou muito à bola com ópera, mas sei que não é coisa que se aprecie em andamento.
OK, a malta que faz downloads armazena outro tipo de músicas. Mas aí temos o problema do excesso de armazenagem. O prazer tem de ser imediato, tipo comida fast food, cheio de gordura e açúcar. Não há tempo nem pachorra para aprender a gostar de algo que exige uma aprendizagem prévia da mente e dos sentidos.
Lembro-me sempre daquela história contada pelo actor David Niven que, quando foi gerente de messe na Marinha, decidiu fazer uma surpresa aos seus comensais e, sem prévio aviso, serviu-lhes caviar. No fim da refição, e como ninguém se havia manifestado, perguntou a um comensal o que achara do jantar. " Quase tudo óptimo. Agora aquela geleia de amoras é que sabia a peixe".
45 - Que boa que era a FC de antigamente
A semana passada falei do More Than Human. Hoje irei falar de dois autores clássicos no ramo da ficção científica, mestres no ramo - e mais diferentes um do outro, em estilo e temáticas que é possível imaginar.
Nenhum destes autores tem algo a ver com xaropadas tipo Guerra das Estrelas. E, se falo hoje dees, é porque, estando os seus livros esgotados na Argonauta, foram agora reeditados na Europa América
O primeiro, o poeta interplanetário, chama-se Ray Bradbury. Os meus amigos que se recusam a tocar em livros deste género, conhecem-no via Truffaut. Foi ele o autor do Fahrenheit 451. As suas obras para que queria chamar aqui a vossa curiosidade são Crónicas Marcianas e o Homem Ilustrado. Ambos são colectâneas de contos, embora nas Crónicas Marcianas haja um elo de ligação entre as histórias, sob o tema da colonização de Marte. Tenho uma especial predilecção pelas 4 primeiras expedições a Marte. Os tripulantes das três primeiras não sobrevivem, aviso já. E os tripulantes da quarta sobrevivem por um motivo culturalmente muito triste...
O outro, frio e cerebral, mas com uma imaginação e capacidade produtiva sem par, chama-se Isaac Asimov. Para aém dos inúmeros artigos de divulgação científica (sobre tudo: álgebra, geometria, História, astronomia, ele que era bioquímico) criou dois monumentos no género.
O primeiro desses monumentos chama-se Fundação, Fundação e Império e Segunda Fundação. Creio que Asimov, com este trabalho sobre a decadência e queda do Império Galáctico, foi o criador da moda das epopeias em trilogia. A obra deveria ser de leitura obrigatória para qualquer um que esteja interessado em ingressar na actividade política. (Aviso à navegação: outros livros, sobre o mesmo tema, em fim de vida do autor, não entram neste filme).
O segundo monumento literário de Asimov é constituído pelas suas colectâneas de contos I, Robot e Sonhos de Robot.
Depois de inventar as Leis da Robótica que regulariam o fabrico dos cérebros positrónicos dos robots do futuro, de forma a garantir a segurança dos humanos que os utilizam, Asimov diverte-se a criar situações onde essas mesmas leis criam situações irritantes, intrigantes e por vezes perigosa para quem deveria ver a sua vida simplificada por estes simpáticos escravos de plástico.
Boas leituras.
44 - Para os meus amigos das Energias Livres
Não sei quantos dos que leem o Homem Analógico já eram meus leitores da página Energias Livres. O que recomendo a seguir é para uns e outros.
Refiro-me a dois livros recentemente lançados no mercado.
O primeiro, "Mais que Humano" de Theodore Sturgeon, editado agora pela Presença, fez-me ganhar um cliente durante a apresentação da agència. Já contei a coisa há uns anos atrás nas Histórias da Publicidade, resumo-a agora. A directora, ao apresentar o pessoal, anunciou-me como especialista em ficção científica. O cliente, com ar rígido de quem nunca brincou na vida, perguntou-me qual o melhor livro de ficção científica. E eu: "Há tantos...". E ele, muito duro: "Qual o melhor?". E eu: "More than Human, do Sturgeon".
Ganhámos a conta.
O outro é uma biografia de Maharaji, agora conhecido pelo seu nome de baptismo, Prem Rawat . Não confundir com o Mahesh dos Beatles. Este é aquele guru que veio para o Ocidente aos 15 anos e a quem s imprensa brasileira chamou o guru guri. O rapaz vai agora nos 50 e continua a correr mundo a divulgar o Conhecimento, quatro exercícios de "meditação" que despertam a paz interior que todos nós possuímos desde que nascemos.
Maharaji não oferece credos, nem catecismos, nem frases daquelas que nos atulham o mail com pensamentos xaropososs de chefes índios ou lamas mais ou menos tibetanos. Há uma experiencia resultante de uma prática de posturas simples e é tudo.
O livro agora editado chama-se "A paz é possível- a vida e a mensagem de Prem Rawat", escrito por Adrea Cagan e editado cá pela Magnólia.
( http://www.magnolia.com )
Atenção: o livro fala da vida e mensagem. Não revela as técnicas do Conhecimento, só dadas a conhecer em sessão presencial.
Os curiosos poderão ver um vídeo de Maharaji em http://www.elanvital.pt
Boas leituras.
43 - A EDP Renováveis faz o quê?
Sou um nabo em economia. E um pouco mais ingénuo do que é normal na minha idade (ou qualquer idade acima dos 10 anos)
Por isso venho pedir aos meus leitores mais à-vontade nos mistérios da economia o favor de me esclarecerem sobre uma questão que me intriga sobremaneira.
A EDP Renováveis faz o quê?
Isto é, para além de colocar acções na Bolsa.
Comercializa energias renováveis? Mas isso não é o que faz a EDP tout court? Os colectores solares e as ventoinhas das eólicas produzem energia que injectam na rede e que é distribuída... como e quando?
Pode parecer uma pergunta parva, mas já a EDP 5D tem umas condições de contrato com os assinantes que me intrigaram. Ao adoptar o tarifário 5D, o assinante pode escolher se quer receber energia resultante de fontes renováveis, pagando um pouco mais.
Como é que é? A energia recolhida das fontes renováveis fica em stock e só é distribuída para alguns? O cliente normal recebe energia "normal" criada pelas barragens, carvão e fuel?
Grato pela atenção.
42 - Ellery Queen e as leis da Robótica
Sinto-me mais jovem que nunca, mas aquilo que se edita agora faz-me sentir velho.
Para além das canções europeias, outra coisa que se foi perdendo nestes ultimos anos foram os livros policiais e de ficção científica.
Se forem a FNAC ou ao Corte Ingles eles têm lá secções com esses títulos, mas as obras expostas não têm nada a ver com os clássicos da Vampiro e Argonauta. Em vez do cadáver na biblioteca ou do enigma do quarto fechado, os casos policiais giram á volta de documentos históricos que são supostos revolucionar conceitos religiosos, ou então sangrias desatadas com assassinos em série. Sob a designação de FC surgem trilogias sobre as mais variadas civilizações, numa tentativa gorada de misturar a Fundação de Asimov com as Brumas de Avalone.
Os clássicos estão desactualizados? Muitos sim. Mas "Dez dias de Mistério" de Ellery Queen ou "Rendez Vous com Rama" de Artur Clarke, são obras primas intemporais sem concorrência nas edições actuais. Ou, noutra onda, "City" de Cifford Simak ou mesmo "O Santo e os Diamantes roubados" de Charteris.
A solução é esperar pela Feira do Livro e percorrer os alfarrabistas.
Pois é, querem que me sinta velho. Mas não conseguem.
41 - Já não se fazem crooners como antigamente
Nesta semana entrei numa de saudosismo musical. Começou pela descoberta de um cd da Peggy Lee que eu já pensava perdido. Seguiu-se Aznavour, Brel, Sammy Davies jr.
Hoje, procura-se um intérprete com uma grande voz e encontra-se... Amy Winehouse?
No cinema aconteceu algo de semelhante, principalmente a nível da Europa. Jean Gabin, Jeanne Moreau, Vitorio Gassman, Mastroiani, Sofia Loren. Havia bom cinema europeu, popular e de qualidade, com grandes actores. Agora ficamo-nos pela lindíssima Juliette Binoche .
Vai-se a um ponto de venda de música e vêem-se prateleiras com catalogações que não exitiam há 15 anos. Techno, dance, alternativa... E a sacana da world music a englobar tudo, desde o fado aos cantares do Sudão. Depois, uma minúscula secção de crooners, com metade dedicada ao Frank Sinatra. O resto vai de Serge Gainsburough até Jerry Lee Lewis e pode incluir Cliff Richard.
Felizmente, esses mesmos pontos de venda têm uma secção mais recatada com música a sério, jazz e clássica.
Claro que é da idade e que os novos lançamentos musicais e cinematográficos não me dizem muito. Mas que saudades do audiovisual dos meus tempos.
40 - A Ditadura do Marketing Solidário
Para um publicitário como eu, educado nos princípios do reason why e USP, o marketing actual está estranho. Já não falo nos anúncios que parecem ter sido concebidos por humoristas manhosos Refiro-me a todas as campanhas que apontam, como benefício do consumidor, a solidariedade social a que a decisão de compra está associada.
Vejamos este anúncio.
Em headline:
"Recicle. Poupe água e energia. é preciso que você mude para o clima não mudar."
OK, isto é uma afirmação de quem? Uma empresa de reciclagem? Uma ETAR, uma distribuidora de água? Erro.
No bloco de texto lê-se:
"Sempre que comprar um exemplar do Diário de Notícias, Jornal de Notícias ou abastecer o su carro nos postos BP, você vai estar a contribuir para o Projecto socio-ambiental do Rock in Rio Por um Melhor (sic). O festival já plantou 19.000 árvores e seleccionou 20 escolas para receberem painéis solares através da iniciativa Rock in Rio Escola Solar.
Participe. Faça também a sua parte."
Daí que o Rock in Rio não se promove pelos artistas que apresenta mas pelos contributos que oferece ao ambiente.
A Actimel oferece parte da receita das suas vendas à Cruz Vermelha Portuguesa.
Já a Sociedade Ponto Verde faz identica oferta para a luta contra o cancro da mama.
Excluindo a publicidade pura e dura dos detergentes e produtos de beleza, todos os anunciantes parecem estar sujeitos a um decreto que os obriga a ser solidários. Não existe tal decreto. Mas lá que esta uniformidade traz água no bico, lá isso traz.
39 - Ecofascismo - 2
Imaginemos uma cental energética que distribui 1000 unidades de energia para 100 habitações.
E imaginemos essas mesmas 100 habitações, cada uma com uma central própria que produza 10 unidades de energia.
Resultado identico? Nem pensar. Grande parte da energia produzida pela central maior perede-se na rede de distribuição.
No petróleo temos a energia e despesa necessária para o transporte do combustível (petroleiros, auto-tanques), nos derrames para o solo que se verificam nos postos de combutível...Na electricidade temos a resistência dos cabos da rede à energia que neles circula, a perda de rendimento sempre que a mesma passa por um equipamento que desmultiplica a sua intensidade.
Como aumentar a rentabilidade das fontes energéticas e reduzir a quantidade de energia necessária para satisfazer os mesmos fins? descentralizando a sua distribuição.
Daí que, em vez de paternalismos sobre substituição de lâmpadas domésticas e das conquistas mecânicas e electrónicas para redução do dióxido de carbono emitido por BMWs e Audis, se devia promover a criação de fontes de energia recicláveis a nível individual ou regional.
Curiosamente, há quem o faça de forma discreta. As empresas de reciclagem promovem iniciativas no campo da agricultura, criando hortas em áreas urbanas e ensinando os seus utentes os segredos básicos dos adubos orgânicos e agricultura biológica. Talvez porque não pertencem a nenhum gigante industrial mais interessado na cotação das suas acções do que em promover uma sociedade libertária em matéria energética.
38 - Eco-Fascismo
Comecei-me a interessar pela temática da ecologia ainda o tema era apanágio de um solitário jornalista, o Afonso Cautela, em vésperas da década de 70. Meti o nariz nos primórdios do Movimento Partido da Terra. Entrevistei o professor Delgado Domingos para o semanário Opção.
E acho cada vez mais insuportável o que os diferentes media dizem sobre o tema.
É que tudo funciona como se jornais e TV fossem obrigados a manter páginas, suplementos e programas onde esclarecem, explicam e alertam para o que se faz, pro e contra, o meio ambiente. Melhor dizendo, sobre o ciclo do carbono.
Chovem de todo o lado dicas sobre como o cidadão pode reciclar, economizar e contribuir com pequenos gestos para o meio ambiente.
Curiosamente. quem se devia mais readaptar, não o faz. Gás e electricidade continuam centralizados nas mãos de empresas só preocupadas com a cotação das suas acções e na compra de empresas concorrentes.
Para a autonomia energética do indivíduo ou de pequenos aglomerados urbanos, legislação e iniciativas oficiais demoram e empanam na burocracia e má vontade.
Reconheço que o tema pouco tem a ver com o moodo de vida analógico face ao digital. Mas tem algum.
Para a semana vamos desenvolver o tema.
Artur Tomé
P.S.: o meu muito obrigado a todos os que se preocuparam com o meu estado de saúde nestes dias.
Devido a problemas de saúde (o Artur está a ser operado, nesta segunda-feira, 7 de Abril) esta página não será actualizada por algum tempo. Esperemos que por muito pouco tempo.
37 - A Bela e o Monstro
Dois anúncios recentes revelam o que de melhor e pior pode ser transmitido por um meio de comunicação.
Comecemos pelo melhor.
Na mais libertária mensagem que a publicidade já criou, dinamita-se o fascismo do conceito "ocupação dos tempos livres" e glorifica-se a aventura da criança a sós consigo própria e a descoberta do mundo que a rodeia. A chapinhar na lama, a saborear a chuva, a sujar-se com as suas brincadeiras. Imagens oníricas, fotografia fabulosa, o filme da Skip lava-nos a alma e faz-nos recordar a magia com que as crianças vão conhecendo o mundo que as cerca.
No extremo oposto, a campanha com os Reis Magos a gozarem com o Coelho da Páscoa da forma mais grunha, para promoverem a triplicação do saldo dos clientes nesta época. A promoção já tinha tido uma primeira fase por altura do Natal. Ligar os Reis Magos ao Natal e à Páscoa já é um tanto abstruso. Juntar bocas como aquela do "diz lá ó coelhinho, por onde é que te saem os ovos?" é de uma miséria moral que brada aos ceus.
36 - Bruce Lee e escolas públicas
Recordo os meus tempos de estudante no Pedro Nunes, vejo no You Tube aquele filme da professora agredida e sinto que estudei num ambiente aristocrático.
Exagero. Não preciso de ir tão longe.
As sessões da meia noite no Eden com filmes do Bruce Lee tinham uma assistência aristocrática, comparada com o comportamento daquela gente. O pessoal que imitava os kiais de Bruce Lee tipo gato assanhado era cosntituído por uns senhores, comparados com o comentário gozão "Olha a velha vai cair"
Pormenor curioso: os telemóveis são proibidos na sala de aula, mas foi um deles que registou a cena e a pôs na net.
E a professora que só apresentou queixa depois de todo o país ter visto o que aconteceu...isto tem que levar uma volta.
PS: esqueçam a mariquice da semana passada. Se o Miguel Esteves Cardoso pode escrever crónicas enquanto muda a cabeça do femur, também eu posso continuar a chatear os meus leitores com estes apontamentos
35 - Adeus, até ao meu regresso
Motivos de saúde têm-me mantido afastado da escrita. A situação vai-se manter por mais um mês, mais coisa menos coisa, pelo que só me resta agradecer ao Luis Gaspar a disponibilidade que tem tido para publicar os meus textos e aos meus eventuais leitores a promessa ( ou ameaça) de que voltarei a atacar em breve.
Verdade se diga que a realidade não tem dado muita inspiração para um ou outro comentário minimamente interessante. Na política, a escalada Santana, Menezes, Ribau, prova que é sempre possível ir-se mais fundo do que aquilo que se está. E agora com o Vaticano a anunciar novos pecados. Poluir é pecado. Manipulação biológica, também.
Estou curioso em saber se é pecado um agricultor usar sementes transgénicas.
Talvez voltemos a isso quando eu estiver recuperado.
Até mais logo.
(A Truca deseja ao Artur Tomé uma rápida recuperação)
34 - O meu tempo, nem pensar.
Creio que, a cada um de nós, chega a descoberta de que já estamos velhos quando damos por nós a resmungar "Se isto fosse no meu tempo..."
Pois, sucedeu agora comigo. Uma serie de novidades que seriam impensáveis e inaceitáveis há uns 20 anos atrás.
Para começar, a onda rosa.
As camisolas do Benfica são rosa bébé.
O vinho do Porto tem uma variante rosé.
E o Martini, idem.
Depois há a publicidade.
A canção " E depois do adeus", que pensava ser ainda parimónio histórico, aparece como jingle da MacDonald's.
A lata com que se anunciam chamadas grátis à noite e ao fim de semana que custam só 9,9 euros por mês.
E aquele slogan, cúmulo de tudo o que é grunho, "eu é que não sou parvo".
Vale tudo, só porque é novidade e agressivo?
33 - A Grande Cruzada
Numa época em que anda tudo doido com a globalização e o choque tecnológico, um grupo de amadores lança uma proposta diferente de entretenimento: a reconstituição do nosso passado.
A Ordem de Cavalaria do Sagrado Portugal é uma cooperativa cultural dedicada à reconstituição da História Medieval. Desde torneios a feiras de artesanato, a Ordem recria hábitos, edifícios e tendas da época, indo até aos banquetes típicos da época a celebrar.
Com um vasto espólio de roupagens, armamento, tendas e maquetes de edifícios á escala de quase 1:1, esta cooperativa é uma solução original para o enriquecimento cultural de qualquer zona histórica
Iniciando as suas actividades em 1991, membro da Inter-Medieval ( Federação Medieval Internacionalde Sociedades de Recriação Histórica Medieval) a Ordem tem mantido um esforço rigooso e continuado na animação turística dos mais variados locais nacionais.
Para mais informações: www.ocsp.pt
Poderão encontrar uma reportagem sobre uma das suas últimas intervenções AQUI
32 - Estou a ficar velho
Escrevo a uma 5ª feira. A Visão oferece um DVD e a Sábado um livro. Amanhã o CM oferece um DVD e o DN faz o mesmo no dia seguinte.
E eu ainda me lembro do tempo em que se escohia um jornal por causa das notícias que trazia.
Sarkozy já casou ou não com Carla Bruni? Onde é que Sócrates fará o seu próximo jogging? No meu tempo os políticos eram notícia pelos seus actos políticos.
Agora a agenda política é definida pelos consultores de comunicação, os legisladores debatem assuntos transcendentes como a liberdade de fumar nas praças de touros...
Quero mudar de planeta.
31 - O café da minha aldeia
O café da minha aldeia ( liberdade poética, moro num dormitório de Lisboa ) tem um café. E eu tenho um vício ao pequeno almoço; bica, queque, jornal e cigarro.
É um vício único formado por todos esses componentes. Em faltando qualquer deles, o pequeno almoço fica estragado.
Felizmente, o meu café tem uma esplanada. protegida por um toldo de fazer inveja às tendas do Kahdaffi. Donde, que a ASAE se lixe, posso continuar com o meu vício matinal, talvez com um pouco mais de vento nos pés, mas nada de grave.
Pormenor curioso é o efeito socializante que esta legislação tabágica teve entre os clientes do meu café. Como a maioria é fumadora, a esplanada está cheia desde as 8 da manhã, e o café propriamente dito quase às moscas. Mas, para além disso, os dois grupos que se ficavam pelo "Bom dia" quando alguém se cruzava com outro alguém, agora descobrem-se como minorias étnicas, irmanadas no consumo (ou não) de cigarros. E começam a meter conversa uns com os outros, a conviver mais.
O café da minha aldeia é agora um retiro de sonho.
Os meus agradecimentoss à gerência.
P.S.: Queriam saber onde é o meu café? Esqueçam. A esplanada já está cheia.
30 - É Oficial: o fascismo chegou a Portugal
Ainda aqui há poucos meses houve aquele inquérito distribuído aos alunos de algumas escolas, para relatarem qual o tipo de família em que viviam e qual o nível de violência existente.
Agora os filhos são instados a exercer outro tipo de controlo sobre os pais.
Vejamos o JN de 10 deste mês:
"Pergunta aos fumadores : um "contrato" assinado entre si e os seus filhos, com a promessa de não fumar mais dentro de casa ou no carro, obrigá-lo-ia a cumprir a abstinência? Palavra de pai e mãe é sagrada. E o poder de persuasão das crianças consegue proezas. A ideia da assinatura de um documento entre as partes faz parte de um projecto da Associação para a Prevenção e Tratamento do Tabaco de Braga (APTTB), a iniciar em infantários e escolas do Primeiro Ciclo do concelho, já a partir do próximo ano lectivo. É que as evidências são assustadoras: 38% das crianças são expostas ao fumo.
Depois de um programa aplicado em contexto escolar, destinado a adolescentes, a estrutura associativa quis tentar a prevenção numa faixa etária diferente. Com base num estudo já divulgado, feito com crianças do Segundo Ciclo, no qual se chegou à conclusão de que o fumo em casa, do pai ou da mãe, faz com que os filhos reproduzam os exemplos, Manuel Macedo e José Precioso apresentaram, ontem, o "Domicílios Livres de Fumo". Pela saúde das crianças, o grupo mais vulnerável da sociedade.
"Todos sabemos que são as crianças que mandam em casa", brincou José Precioso, para quem a sua capacidade de manipulação pode ser usada como um mecanismo de autodefesa. "O tabaco é responsável por infecções respiratórias, otites e outras patologias. Não está ainda provada a sua ligação à asma, mas sabe-se que é indutor de crises", enumerou. Mesmo que não bastem os argumentos científicos, em breve os pais fumadores terão, dentro do lar, os seus mais acérrimos oponentes.
"Quando trabalhamos nas escolas e mostramos os efeitos dos cigarros, através de bonequinhos, os miúdos ficaram em pânico", relembra. Daí surgiu a ideia de os tornar aliados na luta antitabágica. Para Setembro, com o apoio do Centro de Área Educativa local, vários professores e educadores de infância terão uma acção de formação sobre o fumo activo e passivo, a partir do qual as crianças aprenderão a actuar, através de panfletos para oferecer aos pais e da assinatura do referido "contrato".
"Prometo que não vou fumar mais em casa ou no carro", pode ler-se num exemplo. "O estudo revela que há uma diferença grande nas percentagens dos filhos de pais fumadores que também fumam, reduzindo-se para três vezes menos nos filhos dos pais que não fumam em casa ou, simplesmente, não fumam. De 8,9% para 3,4%", refere. Os números não deixam margem para dúvidas dos mil miúdos que integraram a amostra, mais de 38% "levam" diária, ou ocasionalmente, com fumo dos outros.
"Uma em cada duas crianças são fumadoras passivas", assegura Manuel Macedo.José Precioso, por seu turno, garante que este é um "pequeno passo" dos pais que fará toda a diferença."
29 - Ano Novo, notícias novíssimas
Pinto Balsemão, no seu editorial do Expresso, compara o jornalismo de hoje com o que havia na época em que o expresso foi lançado. Agora não há censura, mas, queixa-se Balsemão, há menos o que noticiar.
Os acontecimentos do fim de ano parecem desdizê-lo. Cadilhe a apresentar lista própria para o saco de gatos do BCP, o responsável da ASAE a fumar no casino às primeiras horas do novo ano, a suspensão do Paris-Dakar...
Mas, admitamos que, normalmente, a cena mediática é uma pasmaceira. A ponto de os media usarem como matéria noticiosa, as tricas de figuras inventadas como públicas, as peripécias dos diferentes concorrentes a reality shows...
Por mim, há duas razões para o desconforto do fundador do Expresso. O semanário, a SIC, a SIC Notícias, vivem das mesmas fontes noticiosas. Não admira que as notíciaas soem a repetidas.
Por outro lado, uma sensação crescente que me advém dos resmungos de António
Barreto, Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente. Isto tudo anda mal, talvez, encerramento de centros de saúde, autoritarismo galopante, bla, bla.
Eppure, si mueve.
Ou seja, e se os acontecimentos reais que dinamizam a nossa sociedade, a sua
vitalidade, resultassem de uma vivência para onde políticos e jornalistas não olham? Os sinais vitais não estariam na Assembleia da República, nas cotações da Bolsa, mas noutros locais que a rotina dos políticos não apreendeu a rceonhecer?
Porque, apesar das legislações cretinas sobre em que tipo de papel embrulhar
castanhas assadas, há gente inteligente, criativa, com iniciativa, a manter isto vivo.
A gente é que ainda não aprendeu a olhar para lá.
28 - História do menino Jesus
Era uma vez um galileu
que aqui há séculos viveu
lá por terras de Arafat.
Ao entrar na vida adulta
revelou á turba multa
nova vida e nova fé.
Vivendo sem rei nem roque,
a pé, de burro, de bote,
escarnecendo dos doutores,
sem qualquer contrapartida,
muito antes da Seven-Up
ele veio dar vida à vida.
Conta quem sabe que ele
deu vista nova aos ceguinhos,
tirou lágrimas, pôs sorrisos.
A quem o seguiu lavou
tormentos e pecadilhos
que só a mente criou.
Passaraam os anos. Muitos,
dizendo-se seus seguidores,
em nome dele mataram,
criando novos temores.
Da sua vida só lembram
que duma virgem nasceu,
e sob Pôncio padeceu.
Celebram que esteve a ferros,
que sofreu morte atroz,
pendurado numa cruz
e que desceu aos infernos.
Limitado a tudo isto,
imposto em credo divino,
por vezes com ferro em brasa,
o pobre do galileu
devia ficar no Ceu
e nunca sair de casa.
Da sua escola de vida
e dos milagres que fez,
após séculos idos
ficaram missas e bulas,
a condenação da pílula
e o décimo terceiro mês.
(Boas Festas a todos os truquistas)
27 - Pedido de desculpas
Não interessa se muito mais gente foi a reboque. Eu fui e já não tenho idade
para cair em falsos mitos urbanos.
A ameaça dos copos de plástico baseava-se numa legislação da ASAE que afinal
não existe. Andei duas semanas a fazer figura de parvo e talvez a ajudar
alguns leitores a acreditar em tal mito.
Por hoje, ficamo-nos por aqui.
Um Bom Natal para todos
26 - Sai uma bica em copo de plástico escaldado!
Voltando aos copos de plástico...
Agora no campo do café.
Obrigar a servir café em copo de plástico é uma ideia de quem não gosta de
café. A chávena permite-nos aquecer as mãos à sua volta. O copo de
plástico, se contém café quente, fica quentíssimo, só se pode segurar pelo
rebordo com o indicador e o polegar, obrigando-nos a beber o café com o
mindinho espetado.
Não sei quem são os ditadores que, na Europa, determinam tais leis (eu não
os elegi) e assusta-me a prontidão e o rigor com que tais normas são
aplicadas.
Por tudo isto, convido os leitores do Homem Analógico a subscreverem esta
petição
http://www.petitiononline.com/naoasaeß∑
25 - A polémica da segurança alimentar
Dois amigos leitores de Truca tiveram a amabilidade de comentar o meu último texto sobre as ginginhas.
São eles o Alberto Pereia, professor numa comunidade piscatória que não identifico por razões de segurança de certa tasquinha e Mário Beja Santos, o homem que introduziu em Portugal o conceito da defesa do consumidor e tem uma vida de luta e de livros publicados sobre tal matéria.
Uma polémica educada...
Texto de Alberto Pereira
Caro Artur
Tens toda a razão. Temo que o "higienicamente correcto" nos esteja a impedir de gozar as pequenas coisa da vida.
Vou, um vez por semana, comer um delicioso peixe grelhado numa taberna, perto da minha casa, que se um dia a ASAE lá vai encerra a casa.
Senão, vejamos as "infracções ":
- Só tem um casa de banho e sem janela nem ventilação;
- O peixe é fresco, comprado no mesmo dia a pescadores artesanais, está à vista e portanto não é congelado nem embrulhado em plástico;
- As batatas são cozidas com pele, servidas com pele e em cima de um simples prato;
- A salada não é lavada com lixívia ou seus substitutos modernos;
- O pão é casqueiro, artesanal, servido num prato e cortado às fatias e sem saco de plástico protector;
- O vinho vem de uma pipa, do lavrador, e é servido num jarro "ao ar e às moscas"...
- A porta da sala de jantar dá directamente para rua, onde passam os carros e directamente para cozinha e para o grelhador;
- O azeite era servido em galhetas mas lá agora lá passou a ser em pequenas garrafas. Vá lá...
- As sobremesa são uns pudins e bolos caseiros, de fatia, feitos pela vizinha do lado, que é reformada, e assim lá ganha algum dinheiro...
- Para o cúmulo o melão é partido, à vista do cliente, por uma faca que serve para partir o pão, as batatas e outros alimentos, e servido em talhadas, novamente "ao ar e ás moscas"...
- As mesas são de taberna para seis pessoas, sem toalha, apenas uns toalhetes de papel, com bancos de madeira corridos sem costas, o que faz imenso "mal à coluna", e podem ter várias pessoas estranhas entre si a almoçar, na mesma mesa, sem qualquer privacidade para se conversar. Até já tenho entrado em conversa, com esses estranhos, sobre variados assunto o que, nos tempos que correm, até pode ser perigoso...
Só ainda não compreendi como é que há dois anos lá vou almoçar, ao tal "antro de perdição" e ainda estou vivo...
Temo que a ASAE, um dia, encerre a minha "tasca" do peixe grelhado, "para
bem da minha saúde, claro" e assim lá se vai um dos meus prazeres semanais favoritos.
Um abraço
Alberto Pereira
Texto de Mário Beja Santos
Meu Caro Artur Tomé,
Ponho-me na posição cómoda do meio termo. Sou: a favor do saco de plástico para entregar pão; contra os cepos de madeira nos talhos; a favor de uma medida individual de azeite; considero que temos todos ganho com o vinho engarrafado e o fim da carne picada há vários dias. Nunca comemos tão seguro como hoje, dá-nos imenso jeito o fim das frigideiras das bifanas com sujidade à vista e haver análises aos banhos de fritura.
Bebi ginginha em copo de plástico, em Óbidos. Confesso que não me escandalizei, corro menos riscos, e não vi ninguém a protestar.
Sente-se hoje em dia que a saúde pública é um dado estrutural, como a
tolerância religiosa. Não se esqueça que continuo a usar azeite a granel ( é meu) mas não o comercializo; como galinha do campo abatida quando quero, mas igualmente não a passo para o churrasco do comerciante local
E bebo ginginha em copos de vidro, lá em casa.
Penso, no entanto, que as medidas higiénicas não devem funcionar como um rolo compressor das práticas culturais, do beber e comer. Essa dos rissóis e parecidos parece-me asneira grossa. A ASAE também anda trabalhar para o mediático, como vivemos num país em que não se dá formação aos manipuladores nem se cuida da elaboração de normas para esses artesãos indispensáveis à nossa gastronomia, o mais fácil é entregar os preceitos higiénicos à indústria, o que devemos repudiar.
Chegou o momento de exigirmos a definição clara de fronteiras entre o
irrepreensível na saúde pública (mesmo na comida tradicional) e o bacoco da
modernidade
..Receba um abraço do
Mário Beja Santos
24 - Socorro, querem que eu beba ginja em copos de plástico
A ASAE é uma instituição na berra, devido ao seu afã de nos proteger a saúde de quem nos fonece produtos alimentares.
Erro, produtos alimentares e bebidas. Fecharam uma taberna histórica de Lisboa porque, entre outras razões, querem que se sirva a ginja em copos de plástico.
Aturei o fim das colheres de pau nas cozinhas e dos galheteiros à mesa a morte do arroz de cabidela e da aguardente de medronho num silêncio estoico. Mas agora chegou a hora de dizer BASTA.
Sucede que a ginja se bebe em copos próprios, por muita patine que revelem
de serviços anteriores. Ginja em copo de pláitico é piroso, é grunho, é ... ...americano.
São as empresas alimentares americanas que nos servem copos cheios de gelo banhados em xarope de cola. E que nos mostram os herois dos filmes e séries de TV nas esquadras, escritórios e gabinetes médicos, a beberem café por enormes copos de plástico.
Eu não sou americano. E tal como me vou ver reduzido a fumar o meu cigarrito em casa, vou paassar a ter de comprar uma garrafa de ginjas com elas, e levá-la para casa, depois de procurar aqueles copos maravilhosos por onde a beber.
A vida é dura
23 - Somos todos S.A.
Grande escândalo escorreu por várias crónicas esta semana quanto à proposta
do PSD profissionalizar os seus quadros e gerir o partido como uma empresa.
Não vejo motivos para o escãndalo nem para a surpresa.
Afinal, os clubes de futebol já se estão a converter em empresas cotadas na
bolsa. Há anos que os gurus do marketing lançaram o alerta de que, para
vingar no mercado de trabalho, cada um de nós tem de se estruturar como uma
empresa. É a filosofia do YOU, S.A.
Se o que interessa são resultados, mediante a satisfação dos mais básicos
quereres dos diversos clientes e targets, então vamos a assumir esse novo
estado de coisas e dizer preto no branco que o que vale são os ratings no
nosso mercado. As filosofias e as teorias de distribuição de riqueza que vão
dar uma curva.
De futuro, os secretários gerais manter-se-ão ou serão demitidos conforme a
cotação do seu partido em bolsa.
E se um partido do governo se sentir muito incomodado com as críticas de um
partido da oposição, não as discute: lança uma OPA sobre os gajos.
22- A maior notícia do ano
Seis meses depois de os gémeos Mccann terem ficado sem jantar, o engº
Sócrates instalou uma mini-eólica na sua residência oficial.
A notícia é importante porque a mini-eólica é de produção nacional,
concebida e produzida pelo INETI, e vai ser comercializada para o mercado
nacional e europeu. Importante também porque, associada à nova legislação
que permite aos cidadãos portugueses serem auto-suficientes em energia, é
mais um paso concreto na perspectiva da descentralização energética neste
país.
O gesto do engº Sócrates, embora simbólico, é um excelente incentivo a esta
iniciativa, por muito que custe ter de elogiar um gesto daquele homem.
A equipa responsável por este produto é coordenada pela engª Ana
Estanqueiro. A empresa Autonomia já está a comercializar este produto.
Na próxima semana iremos rever as vantagens da descentralização energética.
Por hoje, ficamo-nos por aqui.
21 - Vidas Encnadas
O casal Maccann dá uma entrevista a uma Tv espanhola para que a senhora possa mostrar ao público que sabe chorar.
O episódio só não chega a ser asqueroso porque se integra num quadro social mais geral: todos (individuoas, empresas, instituições) encenam realidades para mostrar que são ou fazem mais do que aquilo que era suposto fazerem.
As empresas, qualquer que seja a sua actividade, gastam mais esforços de comunicação a provar que contribuem para o equilíbrio ecológico do que a comunicar as características e vantagens dos seus produtos. A revista Visão, em colaboração com o Continente e outras empresas, vai plantar uma árvore por cada exemplar vendido, reflorestar a serra da Estrela, etc.
Responsáveis por instituições dão entrevistas para divulgarem as suas preocupações com falhas das instituições que dirigem, dirigiram ou onde ocupam lugares de responsabilidade há anos. Como se não tivessem nada a ver com o estado das coisas que denunciam.
Vivemos num mundo de faz de conta, arrastados por modas intelectuais, a querer provar que estamos engagés com os temas sociais que estão na berra, mas pouco fazendo, na sua função profissional, para que o mundo real melhore.
Vivemos num mundo de faz de conta, gerido por consultores de imagem, construído pelos interesses dos media.
E a realidade anda por aí, sem que demos por ela.
20 - Somos todos mutantes
Vão pensar que eu sou centenário se confessar que aprendi a escrever com canetas de aparo e um tinteiro. Havia todo um savoir faire da pressão a exercer pela caneta no desenho das letras.
Depois aprendi a escrever à máquina. Horas e horas de treino com o teclado HCESAR, para se conseguir um rendimento de escrita superior ao de dois dedos
hesitantes.
Mais tarde, a glória e a euforia do computador pessoal. Um Amstrad PCW, a trabalhar em CP/M com o Locoscript, o melhor processador de texto pre-ratos.
Aprendi as bases de tantas versões de sistemas operativos e software que nunca me motivei a aprender os segredos de nenhum deles a fundo. Sabia que a
sua utilidade não duraria muitos meses.
Não esqueço o sobressalto de quando propus a um cliente que fizesse uma acção de direct-mail, e ele a concordar, todo entusiasmado. Eles próprios poderiam tratar disso porque tinham um stencil no escritório!
E chegámos à globalização. Mais transformações tecnológicas e sociais por ano do que em cada década dos meus verdes anos.
E o que é espantoso é a forma como a sociedade analógica absorve as novidades, assimila as transformações sociais que elas arrastam, cria novas linguagens e ortografias (vejam-se as mensagens SMS). Novos hábios, novas tecnologias, novas vigarices (downloads ilegais, por exº).
Somos uma raça maravilhosa, não somos?
Já agora, algum de vocês trabalhou com um stencil?
19 - A palavra que me falta
Este texto era para ter saído na semana passada. Não saiu porque andava à procura de uma palavra que não encontrei.
Continuo sem encontrá-la. Vou avançar com o texto, pedindo ajuda ao leitor para propor a palavra que falta.
História nº 1
O tema surgiu num programa da manhã, na TV, no qual a apresentadora entrevistava um senhor brasileiro que tinha previsto com antecedência um desastre aéreo no Brasil. Depois disso, criara fama como adivinho. Eu estava a ouvir de costas para a televisão, mas a voz do homem soou-me simpática. Modesto e simples, percebia-se que acreditava no que dizia. A apresentadora parece ter acreditado nele também e fez-lhe uma pergunta inteligente: se o facto de se prever determinado acontecimento pode fazer com que o evitemos. Nem pensar nisso. Está previsto, acontece.
O pior veio a seguir.
Face a um homem que adivinha o futuro, a apresentadora decidiu pedir-lhe uns
exemplos das suas capacidades e inquiriu-o sobre o futuro de Scolari, de
Mourinho e de José Sócrates.
O entrevistado respondeu com umas banalidades simpáticas, mas não é esse o
ponto.
Com um entrevistado que a apresentadora admitia poder prever o futuro, o que
mais a interessava saber era o destino daqueles senhores?
Não é um tanto... ( e aqui entraria o tal adjectivo que me falta),
História nº 2
Uma amiga minha pratica Reiki. Não é profissional, ajuda eventualmente
familiares ou amigos sem levar dinheiro. Falando com uma vizinha doente,
ofereceu-se para a ajudar com a terapia alternativa que pratica. A vizinha
melhorou e agradeceu-lhe muito (não interessa para o caso qual era o mal nem
de que forma se manifestaram as melhoras. O filme aqui é outro.)
Dias depois, uma segunda vizinha veio bater-lhe à porta. Soubera da ajuda
que a minha amiga dera à vizinha nº 1 e queria saber se também aa podia
ajudar.
- Tudo bem. Qual é o problema?
- Sabe, o meu namorado deixou-me e eu queria que a senhora fizesse com que
ele voltasse.
A minha amiga diz que não lhe caíram ao chão porque não os tem.
- Não faço ideia de como é que isso se faz e, mesmo que soubesse, não o
faria.
A vizinha nº 2 deixou de falar à minha amiga, mesmo quando se cruzam na
escada.
Ora bem. Quando se tem uma oportunidade que nos pode oferecer algo
interessante e positivo e a queremos usar para objectivos mesquinhos, isso é
o quê?
Parece-me que todas as histórias do génio na garrafa que oferece 3 desejos é
uma parábola sobre isso.
18 - Porque é que eu acho que os pais são culpados
( Nota prévia)
Isto hoje não tem nada a ver com o tema da secção. É só um desabafo e o Luis
tem toda a liberdade de não o publicar.
Então é assim: há um casal de pais com dois problemas - perderam uma filha
e a polícia suspeita de que eles têm algo a ver com o assunto.
Para enfrentarem o segundo problema, o casal contratou:
dois advogados ingleses topo de gama
dois advogados portugueses topo de gama
o analista de informação de Gordon Brown que saiu do governo para trabalhar
com eles a tempo inteiro
quatro assistentes do dito analista.
Dinheiro para pagar esta gente, vai aparecendo.
Para procurar a Maddie, há uma conta de donativos com um milhão e tal de
libras.
.... e os pais não têm um único sacana à procura da miúda.
17 - Recato analógico
É um termo arcaico, mas há muita coisa arcaica e interessante no mundo do homem analógico. Vamos esquecer a vertente moralista que tal termo arrasta consigo. Fazer uma coisa com recato implica fazê-la com tempo, não propriamente em segredo, mas de forma discreta.
E, desde as brincadeiras das crianças até aos divertimentos dos crescidos, o recato está a desaparecer do mundo civilizado. As crianças que pegando num objecto mais rotineiro, o transformavam, na sua imaginação, nos seres mais incríveis, que jogavam ao bilas criando as suas próprias regras, estão agora praticamente impedidas de sonhar, ante a boa vontade de educadores que tratam de ocupar os seus tempos livres.
Quem ia de férias para o campo ou praia para relaxar e não fazer nenhum, vê-se agora cercado de percursos hípicos, viagens em balão e escolas e concursos de surf.
Quando uma família dava uma festa e convidava os amigos, era para se conversar uns com os outros, enquanto se comia e bebia sem olhar para o relógio nem ligar ao fígado. Agora, uma festa tem de ser fotografada, sair nas revistas, convidar umas tias profissionais de festas, e toda a gente tem de sorrir e rir muito para a fotografia.
Até a publicidade já foi recatada, Criativa mas recatada, intimista.
Vejam-se agora os anúncios, cheios de gente histérica, grupos sempre a correr e aos saltos, multidões a trocarem de carro só para mudarem de desodorizante de ambiente ...
Vale a pena afazer e saborear coisas com recato. Digere-se melhor, educa-se a sensibilidade aprecia-se melhor a vida
16 - Quem dá o pão dá o ensino
Ainda na semana passada se falava aqui da delegação de serviços públicos
nas mãos de particulares. Ora, neste último Expresso, volta a surgir um novo
e interessante exemplo desta tendência.
A história vem contada numa crónica de Daniel Oliveira e reza o seguinte:
"Para defender as crianças da manipulação, o Ministério de Educação
português resolveu avançar com um projecto escolar: ensinar os alunos do
primeiro ciclo a ter "sentido crítico" em relação aos anúncios que vêem na
televisão. O mais interessante vem depois. Quem é que aplica este programa?
Um comité dirigido pelo director geral do Grupo Nestlé. E quem paga? Danone,
Continente, Diageo, Kellogg's e Nestlé."
Daniel Oliveira faz os seus comentários, eu faço os meus.
Acho meritório que tal grupo de empresas pague e promova um programa
educativo sobre regras alimentares. Que possam ou saibam, ou queiram
desmistificar as armadilhas da publicidad, já me deixa algumas dúvidas, mas
adiante.
O que me choca é que o mesmo Estado que fecha escolas, descoloca
professores, fecha centros de saúde, entregue a particulares uma missão que
lhe deveria competir.
Como dizia na semana passada: isto ainda vai acabar mal
15 - Isto ainda vai acabar mal
Se o leitor for contactado telefonicamente por uma empresa com uma proposta
de novo tarifário para o seu telefone, instalação electrica ou qualquer
outra coisa similar, se ligar para a assistencia tecnica de uma empresa, ou
para pedir uma informação, vai ouvir do lado de lá "Bom dia, fala fulano de
Tal da empresa Xis, em que posso ajudá-lo?" Sucede que, na maioria dos
casos, o fulano de Tal nunca viu as instalações da empresa Xis e trabalha
num call center, pago por uma empresa de trabalho temporáario que o alugou
à empresa Xis.
Por outro lado, a noite do Porto vive dias de sobressalto, com guerras
entre grupos de segurança que já provocaram algumas mortes.
O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Já lá vamos.
A segurança nos estádios de futebol entrega cada vez mais responsabilidades
a seguranças particulares, em vez de à PSP.
Só mais um exemplo:
A empresa de exércitos privados, Blackwater, especializada em preparar
guarda-costas privativos para políticos em áreas de forte instabilidade
militar, foi contratada para actuar no interior dos Estados unidos, na
segurança das populações atingidas pelo furacão Katrina.
http://content.hamptonroads.com/story.cfm?story=108106&ran=202193
Cada vez mais, as mais diferentes institiuições (empresas e países)
subcontratam a particulares trabalhadores e funções que até há poucos anos
eram da responsabilidade dos seus funcionários (polícia, exército,
gestores)
Não quero entrar em considerações caretas de desresponsabilização social,
mas que isto ainda vai acabar mal, ai isso vai.
14 - Com quem vamos fazer a revolução?
Temos a tecnologia para inverter o consumo disparatado das fontes de
energia finitas. Temos a burocracia que empata a sua implementação. Temos
as falsas soluções que pretendem apenas mais do mesmo (lâmpadas
economizadoras em casas com televisores de plasma e home cinema,
biocombustíveis para tornar menos poluentes as bombas que fazem mais de 200
km/h e aceleram os custos dos cereais para alimentação, etc.)
Falta passar à acção. Uma sociedade energeticamente sustentável exige
colaboração tecnológica entre vários especialistas e uma política de acção
minimamente coerente entre aqueles que a vão pôr em prática.
Ao ver o assalto ao campo de milho transgénico, é melhor começar a pensar
em escolher bem os companheiros de jornada.
Por exemplo, Quercus e Greenpeace são óptimos a denunciar tudo aquilo que
alguém faz, mas divulgar, ou apoiar, iniciativas ambientalmente positivas
não é com eles.
Aqui há tempos, escrevi, com Beja Santos, o livro Consumactor, onde incluia
algumas das instituições que tentavam ter alguma acção positiva junto da
sociedade depradadora. Para o caso de o leitor não se ter apercebido da
edição de tal livro, junto (AQUI) uma lista junto de quem o interessado poderá
obter informação e colaboração prática.
13 - O dia depois de amanhã ... a sério
No passado domingo, Anthymio de Azevedo deu uma interessantíssma entrevista
ao Notícias Magazine. Entre outros factos interessantes, a bomba: daqui a 25 anos não há água no Sul da Europa. As chuvas vão-se ficar pelo Norte da Europa, a seca do Norte de África vai subir por aí acima, e a população do sul vai ter de começar a emigrar para cima.
25 anos. Dez, mais dez, mais cinco.
Não se trata de uma boca de um alarmista profissional ou de um político a querer aproveitar a onda do aquecimento global na corrida à presidência.
Aquele homem é uma paz de espírito, calmo e racional, os dados que apresenta são banalidades conhecidas dos geógrafos e meteorologistas em todo o lado.
Por cá, os homens digitais, que só vêem o rendimento imediato para os seus investimentos, vão programando mais campos de golfe no Algarve ( o leitor que me lê já deve ter percebido que os campos de golfe são um dos meus ódios
de estimação).
E começo a imaginar um mundo futuro (talvez ainda lá chegue, não sou assim tão velho), com os Vales de Lobo desérticos e desertados, com as vivendas a servir de abrigo temporário para as tribos do Norte de África que sobem por aí acima.
Boas férias, caro leitor. E, se está a pensar em comprar uma casa de Verão,
comece a olhar para as maravilhas do Minho.
12 - Guerra das energias - o faz que anda da consciência verde
Em teoria, as energias renováveis iriam possibilitar a criação de novas
comunidades autosuficientes, menor dependência do consumidor em relação aos
seus fornecedores monopolistas de energia.
Pura ilusão.
As centrais fotovoltaicas que se constroem são "as maiores do mundo", as
campanhas de sensibilização do consumidor para economizar água e
electricidade são acompanhadas por anúncio de complexos turísticos topo de
gama. Feche a torneira enquanto lava as mãos e tome só banho rápido de duche
porque aqueles campos de golf papam água como tudo para se manterem greens.
Quer instalar um equipamento fotovoltaico na sua vivenda para ser
autosuficiente em matéria de electricidade? Vai descobrir até onde a
burocracia pode ser empata...energias livres.
A alternativa ecológica para o automóvel é, claro, melhores transportes
públicos. Toda a conversa sobre motores híbridos, bio-combustíveis e
materiais recicláveis para o seu automóvel, são apenas tentativas de
sobrevivência de um modelo de produção e vivência que está em coma e não o
reconhece.
Quando se fala em coma, não é uma figura de estilo. O sub-solo das cidades
encontra-se envelhecido, em degradação crescente (canalizações, sistemas
electicos, condutas de gás). Substituí-la custa uma fortuna e lançaria o
caos urbanístico em todas as cidades sujeitas a tais intervenções. Mantê-la
é esperar por desastre, mais dia menos dia.
A solução é começar de novo, com soluções novas, um mundo novo ao lado do
antigo.
11 - A guerra das fontes energéticas - capítulo 1
Ainda não está declarada, mas as escaramuças já se sentem por aí. Para além
dos choques de civilizaçáo entre os diferentes seguidores do Livro, está a
surgir outro choque de civilizações entre os utilizadores das fontes
energéticas.
Resumindo ( e a desenvolver nos próximos capítulos)
Dum lado a civilização baseada no recurso a fontes de energias fósseis.
Fontes que são monopólio de poucos, centralização da produção, intensiva e
localizada, controle da rede de distribuição da energia produzida. Como
resultado, cidades em processo cancerígeno, em crescimento constante,
esvaziamento do meio rural, produção centralizada e industrializada dos bens
alimentares, uniformização dos bens de consumo, ditadura do automóvel que
define urbanizações, vias de comunicação, etc.
Do outro lado, o recurso às fontes de energia renováveis. Sol e vento
acessíveis praticamente em qualquer lugar, digestores de biomassa onde quer
que haja lixo orgânico a reciclar (vegetal, comida ou cócó de animais)
convertível em gás metano e adubo. Possibilita comunidades descentralizadas,
reduz a poluição, liberta o utilizador dos dítames das grandes
distribuidoras.
Co-existência? Simbiose de recursos? Pura ilusão.
Vamos ver a seguir como elas se chocam.
10 - A EDP e as enegias alternativas
Multiplicam-se por todo o país plantações de ventoinhas eólicas, centrais de
energia solar, aproveitamento de biomassa... Todas essas fontes de energia
têm, obrigatoriamente, de ligar a energia assim produzida à rede da EDP.
E o que é que a EDP faz a essa energia que recebe e paga ao preço que
entende? Distribui-a por todos nós?
Sim, mas devagar.
Consultando o site da EDP, encontramos a seguinte informação:
" Cliente edp 5Dverde
A edp detém uma posição de liderança a nível mundial no desenvolvimento das
energias renováveis.
Como cliente edp5D poderá participar, com a edp, na construção de um
ambiente mais equilibrado e sustentável. Para tal, tem à sua disposição o
tarifário edp5Dverde. Ao aderir a este tarifário, comprometemo-nos a que
seja introduzida na rede uma quantidade de energia equivalente ao seu
consumo anual, proveniente de fontes ambientalmente limpas (hídrica, eólica
ou solar).
Compromisso edp5Dverde
Por cada cliente edp5Dverde a edp contribuirá anualmente com 15 euros para
um fundo de investigação e desenvolvimento em tecnologias limpas."
P.S.: Só há um pequeno contra: o custo por KWh aumenta um bocadinho em
relação à tabela normal.
Vamos a ver se nos entendemos. Toda a energia alternativa que a EDP recebe (
e compra) só é fornecida a pedido dos consumidores? Tendo eles que pagar
mais que o consumidor "normal" pela sua consciência ecológica? E aquele
"fundo de investigação em fontes ambientalmente limpas", qué dele? Onde
pára?
Não esquecer que as centrais eólicas e solares que po cá temos, são
fundamentalmente resultado de investigação e tecnologia alemã.
Há aqui qualquer coisa que não bate certo em matéria de política energética
e o Homem Analógico vai começar a debater essas estranhezas a partir da
próxima semana.
9 - A Grande Seca de 07-07-07
Para combater as secas, algumas tribos de índios pele-vermelhas faziam a dança da chuva. Eram supersticiosos ignorantes.
Hoje, os mais civilizados do planeta, para combater as alterações climáticas, produzem uma seca televisiva à escala planetária, com Madonna e Jennifer Lopez a cantar e dançar.
Talvez seja mais científico ( pelo menos a associação que Al Gore fundou
arrecadou umas boas massas). Massas que irão ser aplicadas sabe-se lá onde e
como.
Já agora, gostava de fazer umas perguntas:
1 - Com tantas centrais eólicas, solares e fotovoltaicas espalhadas pelo mundo, porque é que não se ouve falar de nenhuma dessas soluções ecológicas
em África? Sol é o que por lá não falta, caraças.
2 - Porque é que os edifícios construídos com aproveitamento de energia
solar e materiais recicláveis só aparecem em aldeias turísticas? ( sendo utilizadas 2 ou 3 meses por ano, a economia que proporcionam não será muito significativa).
3 - Porque é que soluções individuais ou regionais em fontes de energia
alternativa têm de enfrentar tantas burocracias e ficarem ligadas à EDP ou à
GALP?
Para a semana vamos ter uma conversa sobre centralização dos meios de produção e o seu impacto no meio ambiente.
8 - Quarteto Fantástico no cinema, Roma na TV
Creio que o último filme que me lembro de ter visto com direito a intervalo foi o Aliens. No bar, um espectador de meia idade, abanava-se, visivelmente aflito, e queixava-se " E dizem que a segunda parte ainda é pior que isto..."
Portanto, foi numa altura em que os cinemas ainda eram frequentados por espectadores. Havendo bar, não havia pipocas.
Nesses longíquos tempos (bolas, foi com o Aliens, não foi assim tão antigo) o cinema estava destinado a passar histórias com mais densidade de figurantes e de psicologia do que as séries de televisão. Estas, mesmo com as ocasionais excepões de "Eu, Claudio" ou "Colombo" tinham histórias mais leves, diálogos mais acessíveis...
Em qualquer altura deste percurso histórico, a coisa inverteu-se.
O cinema passa a capitalizar em series de argumento e psicologia primários
(Shreck, Matrix, Senhor dos Aneis, X-Men, Homem Aranha ) e a televisão a
apresentar series com maior densidade psicológica e qualidade de representação
( Sopranos, Dr. House, Irmãos e irmãs...)
Estamos a chegar até ao exagero de o cinema dar guarida a pepineiras de baixo orçamento como o Quarteto Fantástico e a televisão se engalanar com a mais bela, grandiosa e cuidada recosntituição histórica que o audio-visual já ofereceu aos espectadores em todos os media possíveis: Roma.
O Quarteto no cinema, Roma na televisão.... Isto deve querer dizer qualquer
coisa sobre o mercado do espectáculo, mas não percebi bem o quê.
7 - A CAPELINHA DA DESAPARIÇÃO
Os pais de Madie dirigiram-se ao aeroporto de Lisboa para aí colocar um cartaz sobre o desaparecimento da filha e ficaram muito chocados ao saber que teriam primeiro de pedir autorização para o efeito. Dias antes, uma jornalista alemã foi censurada por ter colocado perguntas inconvenientes aos ditos pais.
E eu, que desde o primeiro dia acho tudo isto uma história muito mal contada, acho melhor exarar as minhas dúvidas antes que alguém aprove uma lei a considerar heresia qualquer dúvida que possa haver sobre o assunto.Primeira dúvida: rapto?
Aqui há 20 e tal anos, ficava em casa de manhã com a minha filha de ano e meio. Esperava que ela adormecesse e saía para tomar café, ler o jornal e fazer compras. Demorava-me entre 15 a 30 minutos. Certro dia, fiquei fora uma hora. Quando entrei no prédio, o berreiro da Marta ouvia-se nas escadas.
É por isso que, para além de achar...estranho que 3 crianças (três) fiquem a
dormir sózinhas em casa enquanto os pais vão jantar, não consigo imaginar um
raptor a entrar naquela casa, pegar numa de três crianças e sair com ela silenciosamente. Como qualquer pessoa que já passou por um infantário lhe
pode dizer, três crianças a fazer berreiro é algo muito mais estridente que
um alarme de automóvel.
Segunda dúvida: todos estes apelos não são contra-producentes?
Admitindo que Maddie foi raptada, volte a pôr-se na pele do raptor. Não pode sair com a miúda de casa para lado nenhum. Não a pode esconder com todo
este bruáá. Não a pode levar para lado nenhum. Resultado, tem que se livrar
do corpo depressa.
Mas é toda esta mediatização que mais me irrita. Para além da crescente
sacralização da pobre pequena. Todo o cenário sobre a ida a Fátima, o encontro com o Papa... Pouco falta para que o Algarve passe a ter uma capelinha da desaparição.
6 - BIG BROTHER GOOGLE
Em 1983, surgiu um filme sobre um helicóptero com design fascinante e um
argumento que não o era menos. O filme chamava-se Blue Thunder e tratava de
um heli espião, que pode pairar sobre um prédio practicamente sem ruído que
o denuncie e ver e ouvir o que se passa dentro do mesmo, através de
microfones ultra-sensíveis e câmaras de infravermelhos. O filme de John
Badham, com interpretação de Roy Scheider e Malcom Mc Dowell era uma
denúncia vigorosa sobre a invasão da vida privada por parte das autoridades
e acabou reciclado numa serie de TV com uma visão mais condescendente das
suas capacidades de intromissão.
Recordei agora esse filme ao ler uma notícia neste último Expresso
(suplemento Única, pag 120) sobre as possibilidades oferecidas poelos Google
Maps.
É possível passear nas ruas de uma cidade "ver" quem entra, entra ou sai de
detreminados locais. O pormenor da imagem obtida é exemplificado no artigo
com a foto de uma condutora a sair do carro, a quem se vê nitidamente que
usa tanga por baixo das calças. Parece que também dá para espreitar para
dentro das janelas.
Em 83, Blue Thunder era quase ficção científica....
Hoje, basta ir a http://maps.google.com
5 - O alfarrabista digital
Claro que, para uma personalidade analógica, o mundo digital também traz
alguns aliciantes.
Para um viciado em alfarrabistas como eu, a net compensa a pasmaceira
crescente em que se tornaram os vãos de escada dos livros em segunda mão.
Não só os números antigos da Vampiro, Xis e Argonauta estão a cair cada vez
mais no esquecimento, como os próprios vendedores se estão a tornar mais
embezerrados.
Solução: procurar na net. E aí encontram-se números atrasados de todos os
nichos de culto da nossa adolescência: o Coyote, de J. Mallorqui, livros da
Modesty Blaise, tudo o que a nossa memória guardou religiosamente.
Não há aquele cheiro fascinante do papel velho, mistura de livros antigos e
do bolor da loja. Mas lá aparece tudo o que se procura e que se pode
encomendar sem aturar os maus modos dos empregados.
Vantagem adicional, é descobrir-se factos e gravações novas sobre os nossos
ídolos, que nem supunhamos que existissem.
Procura-se Brenda Lee, para ver o que a miúda gravou desde Dynamite, e
descobre-se uma sexagenária que gravou rock, blues, country e espirituais.
Procura-se Ann Margret, para ver se é possível repescar a sua gravação com
Al Hirt ( o melhor disco para constituir família) e descobrem-se gravações
infindas da sueca que nos seduziu em Carnal Knowledge).
Para já não falar nos objectos que pensávamos terem passado à história.
Pessoialmente ando a fazer o circuito de aparelhagens rádio giradiscos, e a
babar-me com as reproduções maravilhosamente retro que encontro.
Vivemos uma época interessante.
4 - No tempo das juke-boxes
Tenho um pequeno problema com o arquivo das músicas numa geringonça MP3.
Não é fácil explicar porquê. Vou tentar.
Quando eu era miúdo, o acesso a música limitava-se à rádio e aos discos dos
amigos mais abonados. Uma e outra hipótese com pouca variedade de cantores e
de géneros.
Foi então que me apaixonei por uma voz que surgiu na rádio: a Brenda Lee.
Tinha a minha idade (na altura uns 14 anos), o tamanho da Rita Pavoni, e uma voz de cana rachada que eu adorava.
Só que, da Brenda Lee, a rádio só passava o I'm Sorry.
O êxito da canção foi tal que passava na rádio umas 6 ou 8 vezes ao dia, só sendo ultrapassada em frequência pela Granada, do Mário Lanza.
Enjoei o raio da canção.
Foi aí que descobri as juke-boxes. Umas caixinhas cheias de neon, com uma pipa de discos de 45 rotações, com opções de escolha muito maior do que a rádio oferecia.
Continuei a ouvir a Brenda, mas agora a cantar Dynamite e All Alone am I. E
descobro o Jerry Lee Lewis, mas isso não interessa para agora.
Reencontri a Brenda Lee há poucos anos. CDs com antologias que me elucidaram sobre uma carreira que me havia passado ao lado. Aquela amostra de gente cantava pop, rock, espirituais e folk.
Tirei a barriga de misérias de saudades da miúda.
Só que, ainda hoje, quando ouço um disco da Brenda que inclua I'm Sorry, passo por cima e nunca a voltei a ouvir.
Mas desconfio que a minha paixão pela Brenda não seria a mesma se , quando eu e ela éramos miúdos, houvesse já o iPod. Quando um prazer está sempre acessível, não há oportunidade de digerir a emoção. A saudade , em doses ligeiras, tempera o prazer.
É por isso que os casais que propõem uma separação temporária e amigável, são capazes de ter alguma razão.
Pelo menos, para evitar que a relação se transforme num I'm Sorry.
3 - Saudades de Scaramouche
Vi o filme em cinema, na minha adolescência. Voltei a vê-lo há uns largos anos na televisão, gravei-o e perdi a fita. Vou voltar a vê-lo hoje à noite na TV e tentar que a gravação seja mais duradoura.
Mortinho de saudades. Scaramouche não é só o filme com o mais longo duelo de
esgrima do cinema, é também (não se riam, por favor) um dos filmes de aventuras com os actores mais bonitos. Stewart Granger, Eleanor Parker, Mel Ferrer e Janet Leigh, têm uma elegância e uma beleza raramente vista num filme de capa e espada.
Para uma geração analógica pode parecer altamente arcaico alguém adorar um filme e só o ter visto três vezes em quarenta anos.
Tenho uma notícia a dar a essa geração: trata-se de uma situação que tem as suas vantagens.
Releiam os comentários que fiz ao filme. Infantil e naif como tudo. Um fascínio que não passa de uma memória de adolescente.
Agora imaginem que eu tinha acesso ao DVD desde há décadas. E que, durante tal período, o poderia ver as vezes que quizesse.
Claro que já terria aborrecido o filme há muito. Achado idiotas o duelo desde os camarotes até à ribalta do palco, foleiras as perucas brancas, maricas a magreza elegante de Mel Ferrer e as mangas tofadas da camisa de Stewart Granger.
Gosto do filme ainda hoje porque só o pude ver poucas vezes.
Por isso é que as gerações mais novas acham Casablanca uma estopada. Passa
tantas vezes nos canais de cabo que nem pensar em comprar o DVD.
Voltarei, para a semana, à esta questão do prazer e da saudade. Por agora, aproveito a onda e vou procurar no Google gravações do Pirata Vermelho e do
Facho e a Flecha.
2 - O regresso do vinil
Há modas que, quando aparecem, parecem muito modernizantes e que vêm para ficar. Desde o canivete suíço, passando por relógios digitais em tudo o que era material escolar e de escritório, várias correntes tecnológicas aliciaram o consumidor com o tudo em um.
Hoje é o telemóvel, que acumula o fazer chamadas com GPS, câmara de vídeo e fotográfica, rádio, TV, net e gravador…
Um dos problemas é que, perdida a geringonça, há uma série de serviços que vai à vida. O outro é a qualidade dos serviços que assim ficam disponíveis.
Evidentemente que, já nos canivetes suíços, quem queria um saca-rolhas a sério, uma tesoura ou um corta unhas que cortasse, comprava um desses utensílios a sério numa loja específica.
Agora, com todo o saber na net, com toda a produção criativa ao alcance do rato, todos auguram o fim dos CDs e de qualquer outro suporte físico para gravação de filmes ou do que quer que seja.
Todos? Não. Numa pequena aldeia gaulesa, uma aldeia global espalhada pelas áreas mais civilizadas do planeta, o vinil está de volta. O que implica gira-discos que precisam de mesas bem estabilizadas, cabeças de gira-discos montadas por profissionais, agulhas que têm de ser limpas com cuidados especiais, E um amplificador decente e colunas com capacidade de reprodução fiel.
No meio do delírio do MP3, ouvido em auscultadores que parecem tampões de ouvidos, o prazer de ouvir música em alta-fidelidade está a renascer.
Nem tudo está perdido.
1 - O Homem Analógico
O homem digital vive o momento presente e, quando deseja alguma coisa, é para agora já.
O homem analógico vive o presente integrado no movimento do passado e, quando deseja alguma coisa, prepara as condições para o ter.
Para o homem digital, neste momento, são 17.10. Para o analógico são cinco e dez da tarde, ou, se algum acontecimento importante está na calha para daí a pouco, faltam vinte para as cinco e meia.
O homem digital guarda as suas fotos e todas as músicas da sua vida no seu MP3 (ou no seu telemóvel, com ligação à Internet, câmara de vídeo e fotográfica, etc). O homem analógico tem um equipamento para cada fim, podendo até dar-se ao requinte de ter uma colecção de discos em vinil mais o respectivo gira-discos ligado ao sistema de alta-fidelidade.
Para comer, o homem digital tira um alimento do congelador e mete-a no micro-ondas. O homem analógico vai ao talho, à peixaria, ao lugar da hortaliça e cozinha a sua refeição, temperando-a a seu gosto.
Claro que tem alguma coisa a ver com a idade. Mas não é uma questão de se ser cota, avesso às novas tecnologias se bem que é preciso ter uma vivência que o analógico deseja preservar. É só perto da idade adulta que se descobre o prazer e os vícios do viver analógico.
Considero-me mais analógico que digital. Pela idade ou pelo signo - creio que há mais analógicos entre os Touros e mais digitais entre os Aquários , mas vamos deixar a astrologia para lá.
Para resumir, fica a ameaça: enquanto o Luís me aturar, vou despejar algumas crónicas sobre o modo como um analógico vê o mundo em que vive. E o que pensa dos novos objectos, tecnologias e modos de vida que o cercam.
Até para a semana.