Estúdio Raposa

História 142
"Santiago e Caio"

 


INDICATIVO

Vamos ouvir uma lenda escrita por Fernanda Frazão, “Santiago e o Caio”

MÚSICA

A lenda que vou contar anda ligada a uma antiga família de Portugal, os Pimentéis de Trás-os-Montes. Consta que este apelido de Pimentel procedeu de uma alcunha imposta pelo rei Afonso III, por volta do ano de 1260, a um moço fidalgo chamado Vasco Martins de Navais, que se evidenciou pela esperteza e celeridade que em tudo mostrava. No brasão da família Pimentel estão incluídas as conchas (as vieiras) da nossa lenda, que também estão representadas na torre do Castelo de Bragança. Por outro lado, e como conta a nossa história, as vieiras são o distintivo dos servos de Santiago, e os romeiros que se dirigiam antigamente em peregrinação a Compostela levavam-nas como indicativo da finalidade da sua jornada.
Passou-se, a história que vou contar, no ano de 44 da era de Jesus Cristo.
MÚSICA
Certa manhã, saiu a passear um ilustre cavaleiro da Maia, chamado Caio Carpo Palenciano. Com ele ia a mulher, que desposara há pouco tempo, a nobre Claudina Lopo Zalenco, e vários outros parentes e amigos. Estava-se no Verão e, por esta razão, saíram cedo da vila, tentando aproveitar o fresco da manhã. Era uma cavalgada vistosa, a que se dirigia à praia de Matosinhos: um pouco à frente, iam Caio e Claudina conversando calmamente, e, seguindo-os, ia um animado grupo donde por vezes sobressaía um jovem fazendo caracolar o cavalo à volta de alguma dama. Era realmente um belo espectáculo, reluzente de armas, colorido de tecidos finos.
Cavalgavam pelo areal quando alguém avistou no mar uma barca navegando com proa ao norte. Pararam todos para observar a majestosa beleza da embarcação, que vogava calmamente com todo o pano desfraldado.
Estavam assim, um pouco esquecidos do tempo, entretidos a olhar o mar quando, repentinamente, o cavalo de Caio correu para a água. O cavaleiro tentou refrear o animal, mas este, obedecendo a uma força desconhecida, mergulhou no mar e desapareceram. Voltaram à tona, ambos, entretanto, à beira da embarcação, e o cavalo, dando um impulso, subiu para bordo. Estavam os dois cobertos de vieiras.
Caio, espantado com tantas maravilhas, perguntou aos marinheiros quem eram e porque lhe aconteciam tais coisas.
Responderam os navegantes:
- Somos cristãos, discípulos de um homem santo chamado Tiago. Vimos de muito longe, fugidos ao ódio de homens que perseguem os seguidores de Cristo e trazemos aqui, nesta barca, o corpo do nosso Mestre Tiago.
E porque vos dirigis para estas bandas? Foi o vento que vos trouxe ou fostes vós que traçastes a rota?
- Vamos para terras de Espanha, senhor, onde o nosso Mestre pregou o Evangelho de Jesus Cristo. Aí esperamos encontrar irmãos nossos e conseguir dar descanso ao corpo do apóstolo.
- E como explicais o prodígio operado pelo meu cavalo?
- Isso, senhor, significa que és um escolhido de Nosso Senhor! As conchas de que te vês coberto são o sinal de Santiago, que quer ver-te na lei de Jesus Cristo. A partir de hoje, distinguirão os servos deste santo homem!
Caio estava profundamente comovido pelo que ouvia, pelos milagres que via. Dentro de si sentiu crescer um sentimento desconhecido, uma espécie de paz total que o levou a pedir aos marinheiros que o considerassem um dos seus. Foi assim que Caio Carpo Palenciano recebeu o baptismo da água, sobre as ondas, segurando as rédeas de um cavalo coberto de conchas.
E uma vez desembarcado e novamente reunido à esposa e aos amigos, converteu-os a todos com a narração de tão pasmoso caso.
Dizem que deste Caio descende a nobre família dos Pirnentéis de Trás-os-Montes.

MÚSICA

Ouvimos uma lenda intitulada “Santiago e o Caio” que fui buscar à obra de Fernanda Frazão, “Lendas Portuguesas”.

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