INDICATIVO
Vamos ouvir uma história recolhida por Ataíde de Oliveira e que fui buscar ao seu livro “Contos Tradicionais do Algarve”. Intitula-se “A filha do Governador”
MÚSICA
Tinha um rei um governador de sua confiança.
Este governador casou e sua mulher faleceu quatro anos depois de dar à luz uma criança do sexo feminino. Como o pai se receasse de que sua filha fosse mais tarde objecto de sedução, meteu-a numa casa escura e era ele quem ia todos os dias levar a comida e pentear a criança. Mais tarde o pai tornou a casar, e a segunda mulher começou a desconfiar de o ver todos os dias desaparecer com a comida e entrar numa casa onde apenas havia galinhas e pombos.
Espreitou o marido e num dia, que ele estava ausente, para longe, entrou ela na casa das galinhas e viu uma porta. Abriu a porta, desceu um alçapão e foi encontrar a menina, que, nesse tempo, tinha 12 anos, a pentear-se.
- O que faz aqui, minha menina?
- Meu pai tem-me aqui há muitos anos.
A madrasta, o que raras vezes acontece, dedicou tanta estima à criança, que todas as vezes que o marido se ausentava, ia estar na sua companhia. Tinha a menina 14 anos pôs-se sozinha a brincar com uma faca na parede da sua clausura e fez nela um buraco, que ocultou ao pai e à madrasta. O buraco foi tão grande que por ele saiu e viu-se num jardim, que era do rei, e tinha um filho já homem. A menina foi perdendo o medo e num belo dia entrou numa casa, que estava no centro do jardim. Estava sentado um mancebo que correu para ela e levou-a para casa. Perguntou-lhe quem era, mas a menina nada respondeu. Vendo o príncipe, pois que era ele, que a menina tinha interesse em ocultar o seu nome, não mais instou, nem tentou saber por que via chegara ela àquele lugar. Ali esteve ela muitas vezes sem o pai nem a madrasta o sonhar. Um dia conheceu a madrasta que a menina estava pejada.
Ficou admirada. Perguntou-lhe se tinha dali saído, e ela mostrou-lhe o buraco na parede. Felizmente o marido ausentou-se por alguns meses e chegou a casa alguns dias depois de a filha ter a criança. A madrasta, logo que a menina nasceu, saiu pelo mesmo buraco da parede, foi à casa, que estava no centro do jardim e depositou a menina sobre a cama do príncipe. Quando este chegou e viu a criança, pegou nela e foi pedir a uma comadre que amamentasse às ocultas, aquela menina. Daí em diante empregou todos os meios para saber quem era a mãe da criancinha. Tentou tudo quanto lhe foi possível, e como o rei, seu pai morresse, e fosse ele agora o rei, convocou os seus conselheiros, e depois de todos reunidos, disse:
Deitei semente à terra
E a terra era bela
Dela colhi o fruto
Que é feito agora dela?
Ninguém soube responder, mas não perdeu o príncipe a esperança de o vir a saber. Começou por visitar os seus conselheiros, e, sob falsos pretextos, examinava todas as casas. Entrou em casa do governador e viu tudo; quando ia a sair notou que não entrara na casa das galinhas e ali entrou. Viu uma porta, abriu-a e descobriu o alçapão.
- O que é isto, governador?
- É um subterrâneo, onde tenho coisas velhas.
O rei desceu e viu a menina. Então o governador pediu perdão de o ter enganado e contou ao rei a razão porque ali ocultara sua filha desde a idade de quatros anos. O rei sorriu-se e pediu a menina em casamento.
Houve grandes festas, mas enquanto o governador foi vivo, nunca chegou a saber que sua filha tivera uma criança em solteira, apesar de bem guardada no subterrâneo.
MÚSICA
Ouvimos hoje uma história tradicional do Algarve recolhida por Ataíde de Oliveira.
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