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Vamos hoje ouvir uma história recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira e publicada na obra “Contos tradicionais do Algarve”
MÚSICA
Era uma vez um rapaz, que vivia com sua mãe. Eram muito pobres e o rapaz vivia de vender lenha que colhia no mato. Num dia viu junto da margem de um ribeiro uma cobra que lhe pediu a passasse para a outra margem.
- Temo me faças mal - respondeu o mancebo.
- Nada receies; antes pelo teu bom serviço te farei rico.
O rapaz pegou no bicho e foi pô-lo do outro lado do ribeiro, onde havia um casarão. Então deu-lhe a cobra um relógio de ouro, dizendo-lhe que lhe pedisse quanto necessitasse, e recomendando que não o desse, nem emprestasse e nem o vendesse.
Depois disto foi o rapaz para sua casa, deitou-se à noite, mas no dia seguinte levantou-se tarde, dizendo à mãe que já não precisava de trabalhar. Efectivamente não trabalhava porque o relógio lhe dava tudo o que ele lhe pedia.
Enamorou-se o rapaz de certa rapariga muito formosa, que um dia lhe pediu o relógio emprestado. Emprestou. A moça foi nesse dia passear à praia e foi raptada pelos mouros, levando o relógio. Correu o rapaz a contar à cobra a sua desgraça; e a cobra informou-o de que a rapariga estava em certa cidade da moirama, mas que no dia seguinte chegaria um barco muito bonito, embarcasse nele e se deixasse levar.
«Ao chegares à terra verás uma porta - continuou a cobra - e em seguida um jardim; entra e encontrarás grande casaria. Debaixo de uma das janelas há um poço sem água e a ele virá assomar-se a tua namorada. Quando lhe perguntares pelo relógio, responderá que lho roubaram e se encontra agora em casa de um indivíduo, em cuja casa ela é cozinheira. Desce ao poço que ela aí te dará de comer.
Lá te aparecerá um batalhão de ratos comandados por um capitão, a este pedirás que mande os seus ratos buscar à cadeia a que está preso o teu relógio, e irá buscá-lo um rato coxo».
Tudo assim sucedeu como a cobra vaticinou. Apresentaram-se os ratos, menos o coxo:
Não te admires - disseram os ratos ao rapaz - como é coxo, não anda tão depressa. Daí a pouco apareceu o coxo, dizendo que não podera vir mais cedo porque o sujeito que tinha o relógio tardara em adormecer. Logo que o rapaz se viu com o relógio, comprou fato novo, montou num bonito cavalo e foi agradecer à cobra os seus conselhos. Em vez do casarão, encontrou um lindo palácio. Perguntou quem morava ali, responderam os criados que era uma princesa encantada, mas que terminara já o seu encanto. O rapaz viu a princesa a bordar. Namoraram-se e casaram, pois a rapariga - a noiva - ficara entre a moirama.
MÚSICA
Acabámos de ouvir a história intitulada “A Princesa Cobra”, recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira e publicada no seu livro “Contos tradicionais do Algarve”, editado pela Vega. Até à próxima história.
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