Estúdio Raposa

História 62
O Pastor e a Princesa

 

INDICATIVO

Vamos hoje ouvir uma história que está no livro de dois volumes “Antologia de Contos Portugueses” de Alexandre Parafita e editado pela Plátano. Chama-se a história, “O Pastor e a Princesa”

MÚSICA

Havia um pastor, menino ainda, que costumava apascentar o seu rebanho junto ao castelo do rei. No castelo vivia uma pequena princesa, que tinha uma cabrinha por companhia, a qual estava sempre a escapulir-se para junto do rebanho, obrigando o menino a ter de a ir devolver ao castelo.
Nas primeiras vezes o menino ia sempre com ar carrancudo, incomodado com o trabalho que a cabrinha que lhe dava; mas depressa mudou de atitude, pois quem passou a vir à porta receber a cabrinha foi a própria princesa, que lhe agradecia sempre com um sorriso demorado. E de tantas vezes isso acontecer, apaixonaram-se um pelo outro.
Os anos foram passando, até que um dia o moço, já crescidote, resolveu ir pedir ao rei a princesa em casamento.
- O quê?! Será que estás bom da cabeça? - reagiu o rei. - Quem és tu para te achares no direito de casar com a minha filha?
- Sou um pobre pastor, mas posso fazê-la feliz! - respondeu o moço.
- Pois então se queres casar com ela, e seres rei um dia, trata primeiro de arranjar um bom dote! - sentenciou o rei, convencido de que, dessa forma, arrumava o assunto de vez, pois, pobre como o moço era, não conseguiria certamente arranjar o dote que lhe impunha.
O jovem saiu do castelo triste e desiludido, e foi de terra em terra tentar arranjar forma de enriquecer. Mas nada encontrou de interesse. Logo ao passar o rio deu com um barqueiro muito velho, cansado de tanto trabalhar e aparentemente ainda mais pobre do que ele. O moço perguntou-lhe:
- Porque não larga este trabalho já que não tira daqui rendimento nenhum?
- Não posso largá-lo. Deram-me o remo quando eu era pequeno e fiquei preso a ele o resto da vida - respondeu-lhe o velho.
O rapaz continuou o seu caminho, mais triste ainda, até que foi dar a uma povoação onde as pessoas estavam ainda mais tristes que ele. E quis saber porquê.
- Estamos assim porque nos secou a única fonte que temos, e, por isso, estamos à beira de morrer à sede - responderam-lhe.
Sem solução para o problema, o rapaz continuou o caminho e foi dar a outra povoação, onde as pessoas estavam também muito tristes. Perguntou porquê e responderam-lhe:
- Temos uma macieira na povoação que desde sempre deu maçãs para todos, e agora deixou de as dar. Estamos aqui, estamos a morrer à fome.
O rapaz, vendo que também ali não era sítio que lhe permitisse ganhar dinheiro para o dote de casamento, meteu-se de novo a caminho, desta vez já disposto a desistir e regressar a casa. Foi então que lhe apareceu uma fada que, vendo-o tão desanimado, quis saber os motivos, oferecendo-se para ajudá-lo. Ele falou-lhe da exigência que o rei lhe fez e, por fim, lamentou-se:
- Agora vou regressar a casa tão pobre como de lá saí. Não me valeu de nada tentar arranjar dinheiro. Encontrei um barqueiro velho, cansado e ainda mais pobre do que eu. Fui depois dar a uma povoação a quem a única fonte secou, e agora estão em risco de morrer à sede. Por fim, fui a outra povoação onde a macieira que lhes matava a fome deixou de dar maçãs. Que posso eu fazer?
- Não desistas ainda - respondeu-lhe a fada, - e faz o que te vou dizer. Vais à povoação a quem a macieira deixou de dar maçãs, procura dois grandes ratos que estão a comer a raiz e verás como volta a dar frutos. Depois voltas à povoação que viu secar a fonte e procura um sapo que lhe está a entupir o cano. Faz isto que te digo e verás como já não vais regressar tão pobre.
- E o velho barqueiro, como o posso ajudar? - perguntou o rapaz.
- Diz-lhe que entregue o remo ao primeiro que ali passar.
O moço lá foi, e, ao chegar à povoação onde a macieira não dava maçãs, mandou reunir o povo e perguntou:
- O que me dais se puser a macieira a dar de novo maçãs?
- Pede o que quiseres - responderam-lhe.
- Dois burros carregados de dinheiro me bastam - propôs o
moço.
Aceitaram. Ele e os habitantes foram então à macieira e puseram-se a escavar junto às raízes até que descobriram os dois corpulentos ratos de que a fada tinha falado. Ficaram todos felizes e o rapaz lá seguiu o caminho com dois burros carregados de dinheiro.
Dali foi à povoação onde tinha secado a fonte, e, mandando reunir o povo, perguntou:
- O que me dais se fizer com que a vossa fonte volte a dar água?
- Pede o que quiseres - responderam-lhe.
- Dois burros carregados de dinheiro me bastam - propôs.
Aceite o contrato, o moço foi ao cano da água e, tal como a fada lhe dissera, lá encontrou o sapo atravessado. Tirou-o, e, para espanto de todos, a água voltou a correr.
O rapaz, agora feliz, e com os burros bem carregados, meteu-se a caminho do castelo para pedir de novo a princesa em casamento. Mas antes voltou a passar pelo barqueiro, deixando-lhe tantinho dinheiro. E por fim disse-lhe:
- Se queres que a tua vida mude, tal como a minha vai mudar, entrega o remo ao primeiro que aqui passar!
Ao chegar ao castelo, o rei nem queria acreditar que ele trouxesse tanto dinheiro. E como tinha dado a sua palavra, aceitou finalmente que a filha casasse com ele.
No entanto, ambicioso como era, não descansou enquanto não pediu ao futuro genro que lhe dissesse onde podia, também ele, arranjar tanto dinheiro. E o moço não se fez rogado em satisfazer-lhe a vontade:
- Se foi fácil para mim, também será para si. Primeiro vá a este sítio, depois vá àquele, mas antes tem de passar o rio.
O rei assim fez. Pegou nuns poucos de burros e lá foi. Só que ao passar o rio, o barqueiro, tal como havia combinado, passou-lhe o remo para as mãos. E assim o rei ficou de barqueiro o resto da vida. Quanto ao moço, após casar com a princesa, acabou por tornar-se ele o rei.

MÚSICA

Ouvimos uma história que fui buscar à obra de Alexandre Parafita, “Antologia de Contos Populares”, em dois volumes e numa edição muito bonita da Plátano. Esta história foi contada ao Alexandre Parafita por Guilhermina Bernardino Fernandes, na altura com 70 anos, moradora em Espinhoso, Vinhais.
Para a semana temos outra história.

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