Estúdio Raposa

História 72
"As Fiandeiras"

 

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A história que vamos ouvir hoje, chama-se “As Fiandeiras”. Trata-se de uma história tradicional portuguesa recolhida por Teófilo Braga.

MÚSICA

Era uma mãe que tinha uma filha que só pensava em casá-la bem. Foi a casa de um mercador que vendia linhagem, e pediu-lhe para que lhe vendesse uma certa quantidade de linho, porque a filha fiava tudo num dia. Trouxe o linho para casa e disse à filha:
- Tens de me fiar este linho hoje mesmo, porque amanhã vou buscar mais. Quando voltar a casa quero achar o linho todo fiado.
A pequena foi sentar-se à porta, a chorar, sem saber como obedecer à mãe. Passou uma velhinha:
- A menina o que tem, que está a chorar desse modo?
- O que hei-de ter! É minha mãe que quer à força que lhe fie num dia este linho, e eu não sei fiar.
- Deixe a menina estar, que eu lhe fio tudo se me promete que no dia do seu casamento me há-de chamar três vezes tia.
A menina olhou para dentro de casa, e viu o linho remexido, e todo fiado. No dia seguinte a mãe foi à loja, gabou muito a habilidade da filha, e pediu outra quantidade de linho para ela fiar. A pequena foi-se sentar à porta, a chorar, esperando que passasse a velhinha da véspera. Passou uma outra velhinha
- A menina o que tem, que está a chorar dessa maneira?
A pequena contou-lhe as ordens que tinha recebido da mãe.
- Pois se a menina me promete que no dia do casamento me há-de chamar três vezes sua tia, o linho há-de aparecer fiado.
A pequena prometeu que sim, olhando para dentro de casa deu com o linho remexido e pronto.
A mãe foi buscar mais outra quantidade de linho, e repetiu-se o mesmo caso; até que passou uma terceira velhinha, que lhe fez tudo com a mesma promessa. O comerciante sabendo daquela habilidade quis ver a rapariga, achou-a bonita e esperta e quis casar com ela; a mãe ficou bem contente porque o noivo era muito rico. O comerciante mandou-lhe um grande presente, com muitas rocas e fusos, para que quando casassem, as suas criadas todas fiassem.
No dia do casamento, fez-se um opíparo jantar, a que todos os seus amigos assistiram; quando estavam à mesa bateu à porta uma velhinha:
- Ai! é aqui que mora a noiva?
Então a menina disse:
- Entre minha tia; sente-se aqui, minha tia; coma alguma coisa, minha tia.
Ficaram todos pasmados de verem uma velha tão corcovada com um nariz muito pencudo. Mas calaram-se. Instantes depois, bateram à porta; era outra velhinha:
- É aqui que mora a noiva que se casou hoje?
- É, minha tia; entre, minha tia; jante connosco, minha tia - Voltou a menina a dizer
A velha sentou-se e todos ficaram pasmados do enorme aleijão que ela tinha nos queixos. Mas continuaram a jantar. Bateram outra vez à porta; era outra velhinha, que fez a mesma pergunta.
- Ora entre, minha tia; cá a esperamos, minha tia; há-de jantar connosco, minha tia. - disse a menina.
Também não causou menos espanto esta velha toda corcovada e com as costelas embicadas para fora; mas desta vez os curiosos, principalmente o noivo, perguntaram porque tinham aquelas suas tias tamanhos aleijões.
Disse a primeira:
- Tenho assim o nariz, porque fiei muito, muito, e as arestas do linho puseram-se assim.
- E eu, meu sobrinho, tenho assim os queixos, porque fiei muito linho, e fiquei assim por tanto trabalhar na roca.
- Pois eu, sobrinho, fiquei com estas corcovas por estar sempre para um canto com a roca à cinta.
O marido tanto que ouviu aquilo, levantou-se e foi pegar nas rocas, fusos, sarilhos, dobadouras e sedeiro e atirou tudo para a rua, declarando que na sua casa nunca mais se havia de fiar, porque não queria que lhe acontecessem à sua mulher iguais desgraças.

MÚSICA

Ouvimos hoje uma história recolhida por Teófilo Braga intitulada “As Fiandeiras”

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