INDICATIVO
Vamos ouvir mais uma história de raposas e lobos. Ia jurar que esta serviu de inspiração ao nosso grande escritor Aquilino Ribeiro no seu livro “O Romance da Raposa”.
Vocês sabem que podem ouvir esta história? Está aqui no Estúdio Raposa e este conselho só serve para os que ainda não fizeram o download deste famoso livro. Que não fez, fazem o favor de pedir aos vossos pais que o façam. É uma bela história que vocês vão recordar por toda a vida.
Ah, já me esquecia; a história que vamos ouvir intitula-se a “Raposinha Gaiteira” e foi recolhida por Adolfo Coelho na região de Coimbra.
MÚSICA
Era uma vez uma raposa que tinha por compadres um grou e um lobo.
Grous, são umas aves com pernas muito altas e bico comprido e que aparecem, no inverno, no Ribatejo e no Alentejo. Certo dia lembrou-se o grou de convidar a raposa para que fosse cear com ele umas papas de milho; a raposa foi mas nada pôde comer, pois o grou apresentou-lhe as papas dentro de uma almotolia e como a raposa não tivesse bico o grou comeu as papas todas. Mas, espera aí, não sabes o que é uma almotolia? Almotolia é uma espécie de garrafa feita de folha de flandres e onde se coloca azeite para servir à mesa. Ah, também não sabes o que é folha de flandres? Ora, folha de flandres é o mesmo material de que são feitas as embalagens de atum e das quais, dantes o meninos faziam barcos. bom, mas voltemos à história: passados dias, a raposa, para se vingar, convidou o grou também para comer papas, mas desta vez comeu ela tudo, pois tinha deitado as papas numa laje e o grou não pôde comer. A raposa tomou tal fartadela que nem podia andar, e como tivesse de fazer uma viagem, pediu ao compadre lobo que a levasse às costas, pois estava muito doente. O lobo isso lhe fez e a raposa ia dizendo pelo caminho:
«Raposinha gaiteira,
Farta de papas
Vai à cavaleira.»
O lobo perguntava-lhe: «Que dizes tu, comadre?»
«Ai a minha barriga, ai a minha barriga.» - respondia a raposa.
Assim foram caminhando até que o lobo caiu no logro que a raposa lhe pregou e então, reparando que estavam perto de um poço, disse para a raposa: «Ah! Tu assim me enganaste! Disseste-me que estavas muito doente e vais cantando pelo caminho:
«Raposinha gaiteira,
Farta de papas
Vai à cavaleira.»
Pois bem, fica neste poço para não me tornares a enganar.»
E atirou a raposa ao poço. A raposa meteu-se dentro de um balde que estava na borda do poço para se tirar água, ora com um, ora com outro; de que se havia de lembrar a raposa?
Disse ao compadre: «Olha, tu fizeste muito bem em me deitar ao poço, porque estão cá em baixo coisas muito bonitas; se tu queres ver, mete-te nesse balde que aí está em cima; vens ver o que cá está e depois voltas.»
O lobo caiu novamente no logro; meteu-se no balde e foi abaixo; e ao mesmo tempo que ele ia descendo, vinha subindo o balde em que estava a raposa. Esta, logo que se viu em cima, disse para o lobo: «Fica para aí para não seres tão tolo que te fies nas matreirices que as mais raposas tão matreiras como eu te queiram impingir.»
E foi-se cantando pelo caminho fora:
«Raposinha gaiteira,
Farta de papas
Vai à cavaleira.»
MÚSICA
E pronto acabámos de ouvir a história da “Raposinha Gaiteira”. Se comprarem o livro “Contos Populares Portugueses”, editado pela Ulmeiro e de autoria de Adolfo Coelho, lá encontrarão esta e muitas outras histórias.
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