INDICATIVO
Vamos ouvir uma história recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira e publicada no seu livro Contos tradicionais do Algarve” I volume, edição Vega.
Mas antes de ouvirmos a história quero dizer-vos que não houve nenhum pai nem nenhuma mãe a escrever-me sobre isto de eu contar as histórias tal qual foram recolhidas, isto é, com alguma violência pelo meio. Nem que sin, nem que não; ninguém respondeu. E como ficaram calados eu usei o velho ditado que diz “quem cala consente” e vou passar a ler as histórias sem qualquer adaptação que as torne menos...menos...violentas.
Aqui vai a história de hoje. Intitula-se “As três nuvens”
MÚSICA
Era uma vez um lavrador muito rico e tinha três filhos: dois, os mais velhos, eram muito estimados pelos seus pais e andavam ricamente vestidos; o mais novo era desprezado.
Tinha o lavrador uma rica propriedade, onde aparecia um medo.
Caseiro que lá se deixava dormir numa noite era encontrado morto no dia seguinte. Vendo o pai que a propriedade estava muito estragada, porque os vizinhos metiam nela os seus gados, resolveu mandar o filho mais novo guardá-la. Aceitou o mancebo a incumbência, pois era muito bom e obediente, mas pediu ao pai que mandasse no dia seguinte buscar o seu cadáver para não permanecer por muito tempo insepulto.
Despediu-se do pai e dos irmãos e foi para o seu desterro, levando consigo uma cítara, seu instrumento favorito.
O prédio onde o caseiro costumava dormir ficava no centro da propriedade. O rapaz chegou ali e tirou do prédio uma cama que colocou sobre um parque, de bonita vista, através do prédio. Logo que escureceu foi deitar-se, entretendo-se muito tempo a tocar o seu instrumento. Alta noite adormeceu. Tinha pegado no sono, sentiu-se afogado sob um grande peso; sentou-se na cama, pegou na cítara e disse em voz alta:
- Que peso é o que sinto? Olhem que parto a cabeça seja a quem
for.
E pôs-se a fazer um grande sarilho com a cítara, como se fora um alfange.
Então ouviu o mancebo uma voz:
- Não me mates, dizia a voz, porque te faço bem. Eu sou a nuvem negra, e, quando tiveres necessidade de alguma coisa, chama por mim.
No dia seguinte ergueu-se ele da cama e dirigiu-se para casa, onde era esperado por quatro homens com uma tumba para o levar ao cemitério.
- Podem retirar-se: ainda não foi desta, disse o mancebo.
Na noite seguinte repetiu-se a mesma cena com a diferença da resposta:
- Não me mates: eu sou a nuvem parda e, quando queiras alguma coisa, chama por mim.
Na terceira noite, e depois da mesma cena das noites antecedentes, ouviu:
- Não me mates: sou a nuvem branca. Sempre que te seja preciso, chama por mim. Eu e as minhas irmãs estávamos aqui encantadas, foste tu que nos desencantaste com os maviosos sons do teu instrumento.
E a nuvem branca desapareceu como tinham desaparecido as outras.
Conservou-se o mancebo por algum tempo na propriedade, sendo raríssimas vezes visitado pelo pai e isso no mero intuito de examinar como o filho a administrava.
Um dia teve saudades da família e foi visitá-la. Logo que entrou na casa paterna viu muitos alfaiates ocupados em talhar e fazer riquíssimos fatos de homem; soube então que o rei mandara anunciar que casaria com a princesa o cavalheiro que se saísse vitorioso de três torneios a seguir.
Entretida a família nos arranjos dos dois irmãos, que aspiravam à mão da princesa, nenhum caso fizeram do irmão mais novo. Este demorou-se pouco tempo em casa dos seus e retirou-se para a propriedade.
Nessa noite pensou que ele poderia entrar nos torneios, e quando foram marcados os dias para as lutas já tinha formada a tenção de lá se apresentar.
Na manhã do dia do primeiro torneio disse o mancebo: - Valha-me a nuvem preta.
Apareceu logo uma nuvem e dela saiu uma jovem. - O que me queres? perguntou.
- Entrar no torneio e sair vencedor.
A jovem ergueu uma pequena vara, proferiu algumas palavras, e apareceu um cavalo negro, trazendo pequena mala, onde vinham riquíssimas vestes e armas de cavaleiro da mesma cor do cavalo.
O mancebo vestiu-se, empunhou as armas, montou no cavalo e entrou no torneio, saindo vencedor. Logo que saiu da cidade desapareceram o cavalo, as vestes e as armas.
No dia seguinte disse:
- Valha-me a nuvem parda.
Apareceu outra nuvem, de onde saiu uma Jovem que perguntou ao mancebo o que queria.
- Entrar no torneio e sair vencedor.
E sucedeu como no dia antecedente. Quando ele entrou na praça percebeu que a princesa o atendia com especial agrado. Ainda outra vez saiu vencedor, retirando-se logo para fora da cidade e desaparecendo o cavalo, as vestes e as armas.
No terceiro dia invocou a nuvem branca e entrou no torneio montado em cavalo branco e com armas brancas bordadas a ouro. Ficou vencedor, e então viu-se cercado das pessoas da corte que o convidaram a ir à presença do rei. O mancebo foi.
Na presença do rei e da princesa, tirou a viseira. E o rei e a princesa agradaram-se do jovem e logo foi ali resolvido o seu casamento.
Os dois irmãos do mancebo conservavam-se a certa distância e, quando viram que estava resolvido o casamento com o seu irmão, tiveram grande desespero. Um deles lançou-se da janela à rua, morrendo despedaçado, o outro atravessou-se no próprio alfange.
Houve grandes festas no palácio e em todo o reino por ocasião daquele casamento.
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Acabámos de ouvir uma história que tem por título: “As três nuvens” e foi recolhida por Xavier Lima de Oliveira na região de Loulé.
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