INDICATIVO
Vamos ouvir uma história recolhida por Adolfo Coelho e publicada no seu livro “Contos Populares Portugueses” editado pela Ulmeiro.
MÚSICA
Era uma vez um homem que tinha muitos filhos e era muito pobre,
e como não tivesse em que ganhar pão para lhes dar, foi para criado
de certo rei, para ver se assim podia sustentar melhor os filhos.
Ao fim de um ano de serviço, disse ele ao rei: «Senhor, peço que me deis a paga do meu serviço, pois quero ir viver com os meus filhos e mulher, de quem estou separado há um ano.» Então o rei disse-lhe: «Não te pago em dinheiro, mas leva essa mesa, e toda a vez que queiras comer dirás: 'Põe-te, mesa', e terás comer para ti e teus filhos.»
Foi- -se o homem muito contente e no caminho teve fome, e então disse: «Pôe-te, mesa» e logo apareceu a mesa coberta de ricos manjares.
Comeu o homem à farta, e dos sobejos ainda repartiu com algumas
pessoas pobres que encontrou no caminho. Como porém anoitecesse,
o homem foi pernoitar a uma estalagem, e à vista do estalajadeiro
ordenou à mesa que se pusesse, e logo apareceram novamente ricos
manjares. O estalajadeiro, vendo isto, esperou que o homem estivesse
dormindo, e trocou a mesa por outra igual no feitio, mas que não tinha
o condão daquela.
Levantou-se o homem de madrugada, pegou na mesa às costas
e foi para casa da mulher e dos filhos. Ao chegar ali, disse: «Meus
queridos filhos e minha querida mulher, já não precisamos de trabalhar
para comer, pois el-rei deu-me uma mesa que nos apresenta comer
todas as vezes que eu quiser.» Então a mulher e os filhos, que estavam
cheios de fome, disseram que lhes desse de comer; mas debalde o homem dizia: «Põe-te mesa, põe-te mesa», que a mesa não se punha.
Lembrou-se então ele que talvez o estalajadeiro lha tivesse trocado, e
voltou à estalagem, mas ele negou e tornou a negar, que tal não tinha
feito. Foi-se o homem ter com o rei e contou-lhe o sucedido. Então o
rei deu-lhe uma peneira e disse-lhe:
«Quando quiseres dinheiro, dirás:
"Peneira, peneirinha" e cair-te-á dela dinheiro em vez de farinha.» Foi-
-se o homem ainda mais contente do que da primeira vez, mas como
fosse outra vez pernoitar à estalagem, e o estalajadeiro visse que ele
tirava dinheiro da peneira, fez o mesmo que tinha feito à mesa; o
homem, ao chegar a casa, viu que tinha sido novamente logrado. Voltou
a queixar-se ao rei; ele deu-lhe uma cacheirinha. Vocês não sabem o que é uma cacheira, mas eu explico. Cacheira é um pau ou uma moca. Esta era cacheirinha p era um pau pequeno. Voltemos à história: disse o rei: «Vai à estalagem com esta cacheirinha, e diz: 'Desanda cacheirinha', e enquanto o estalajadeiro não te der a mesa e a peneira, manda-a sempre desandar.» Foi o homem e fez o que o rei lhe disse, e o
estalajadeiro, maçado com pancadas, deu a mesa e a peneira ao
homem. Voltou este todo alegre e contente para sua casa com as três
prendas que lhe dera o rei. Quando os filhos, ele e a mulher tinham
fome, logo tinham comer; quando precisavam de dinheiro, também o
tinham, e quando os filhos faziam alguma coisa mal feita, também o
pai mandava desandar a cacheirinha, e assim educou os filhos muito
bem, e quando eles chegaram a ser homens foi oferecê-los ao rei,
para irem servir a pátria, e foram uns valentes soldados.
MÚSICA
Ouvimos a história “ A Cacheirinha”, contada por Adolfo Coelho no seu livro “Contos Populares Portugueses”
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