INDICATIVO
O programa de hoje é preenchido com poesia de Natália Bonito.
MÚSICA
A Natália Bonito chegou ao Lugar aos Outros por recomendação de um seu conterrâneo, o João Bonito, que já ouviu o seu trabalho lido neste espaço.
MÚSICA
Encorajada pelo João, a Natália viu este programa, ouviu e gostou. E não é de estranhar o verbo “ver” aplicado ao Estúdio Raposa porque, de há algum tempo a esta parte, passei a disponibilizar os textos dos programas. A Natália Bonito achou o Lugar aos Outros uma forma de, nas suas palavras, “mostrar o trabalho de muitos autores que por aí deambulam”.
Esta foi a ideia primeira ao criar o Lugar aos Outros. Inicialmente, procuravam-se pela blogosfera, os autores que melhor correspondiam ao meu estilo de leitura. Nessa fase do Lugar aos Outros, nunca é demais recordá-lo, fui muito ajudado pela Menina Marota e pelo António Melenas. Especialmente pela Menina Marota, hoje publicamente conhecido o seu nome verdadeiro - Otília Martel - sobretudo após a publicação do seu livro de poemas “Menina Marota, um desnudar de alma”.
MÚSICA
Mas hoje falamos de Natália Bonito, uma jovem com 21 anos, natural de Canhas, uma povoação da freguesia da Ponta do Sol, na Madeira.
É, actualmente, finalista do curso de Economia, na Universidade da Madeira. Escreve desde os 12 anos, sendo em 2005, com 18 anos, apoiada pela Câmara Municipal da Ponta do Sol, na edição do seu primeiro trabalho de poesia, intitulado “Amor do meu Viver”.
MÚSICA
No passado dia 27 de Setembro foi lançado o seu segundo livro, intitulado “A Janela deste Mar”, com a chancela da Corpus Editora.
Está já a preparar outro livro de poemas que terá como título “Quatro Dimensões”.
É desta obra o primeiro poema que vamos ouvir, intitulado “Inspiração”.
Seguir-se-ão três outros poemas com os seguintes títulos: Apaixonantes sensações, Ingrata submissão e Estrofes solitárias.
MÚSICA
Vejo-te na sombra de um abraço,
Procuras a relatividade perdida
Na noite infinda de cansaço
Noite de entrega jamais esquecida.
Vejo-te presa no meu regaço
Sequiosa, floras a excitação prometida
Em beijos tocados no compasso
Da sinfonia foragida.
Vejo-te na dimensão deste espaço
Onde te rasgas despida
Para gáudio do aplauso
Desta miragem suicida.
Vejo-te nua, poética passo a passo
Por entre a penumbra desta descida
Que ampara cada pedaço
Desta visão entorpecida.
MÚSICA
Arde em mim a sensação
Dos minutos sem fim
Como se tudo fosse inspiração
Doce, com sabor a jasmim,
Como se eu fosse alma e coração
E tu pedaço de mim.
Clamo a evidência perfeita
Dos abraços ancorados
Na submissão desfeita
Pelo poder dos corpos suados
Que em cada palavra eleita
Oferecem poemas amados.
Olho o infinito da escuridão
Nesta noite de calmaria,
E sonho com a tua mão
Estendida na periferia
Do meu latente coração
Num gesto de sintonia.
Por instantes, sinto o teu respirar
Bem perto da liberdade
Que a minha mente teima em traçar
Com purpurina e vaidade
Na esperança de ver chegar
O momento da feliz verdade.
E vejo-te, ao longe, a sorrir…
Aproximas-te com lentos passos
Regateando as flores por abrir
Com gestos delicados e rasos
Que fazem lembrar notas a cair
Na pauta musical dos abraços.
És tu, apaixonante,
A vida do meu respirar;
És tu, meu amante,
Alma límpida por amar,
Rosto marcante
Que teima em ficar.
MÚSICA
Regresso à existência
Inexistente deste abraço
Como se a clemência
De cada passo
Não fosse mais que veemência
Inculto cansaço
Vil desobediência.
Sigo as pinceladas
Do quadro pintado à beira mar
Onde as ondas apaixonadas
Quiseram beijar
As pedras encharcadas
Das palavras por poetizar
Rudes ausências demoradas.
E mais uma vez regresso ao seguimento
Da curvatura lembrada
Nos céus do firmamento
Onde a lua ancorada
Dançou ao sabor do vento
Uma dança recusada
Sem desculpa ou argumento.
Sigo com o espírito calado,
A alma cede e é só escuridão
No resquício rasgado
Do meu coração
Despedaçado
Pela ingrata submissão
De ser apaixonado.
MÚSICA
O silêncio derruba a sensação
De ser verso descoberto
Na estrófica dimensão
Deste poema aberto.
Sinto as alvíssaras prometedoras
A derrubar
As pontes ameaçadoras
Do verbo criar.
Sozinha,
Choro a angústia do tormento
Grito o desalinho da frieza
Espero encontrar o alento
Desejo libertar a tristeza.
Sozinha,
Creio na sepultura dos incrédulos
Anseio um céu bem maior
Invento a loucura dos belos
Finjo ser primavera do amor.
MÚSICA
Ouvimos 4 poemas de Natália Bonito, uma jovem poeta madeirense, a preparar o seu terceiro livro de poemas.
MÚSICA
Dois dedos de conversa
INDICATIVO
De há muito que está prometido que os autores que editarem livros e que tenham a amabilidade de me enviar um exemplar, terão um dos seus textos, incluídos nos livros, lidos no Lugar aos Outros.
Há muito que não tenho cumprido esta promessa, pela simples razão de que não me têm sido enviados exemplares dos livros editados, quer pelos autores quer pelas editoras. Não foi assim que aconteceu com o Paulo Afonso Ramos. Antes mesmo da apresentação do seu livro, “Instantes”, apresentação realizada no passado dia 27 de Setembro no auditório da Câmara Municipal da Amadora, teve a amabilidade de meter na caixa do correio da Truca, em Telheiras, um exemplas do seu livro. Obrigado, Paulo Afonso e aqui vai um dos teus belos textos do livro, testo a que deste o título de “Velhice”. Pois...
MÚSICA
Parei à porta do destino, por tantas ruas que andei e com tantas pessoas me cruzei em gestos impensados e com palavras agridoces, que nem dei pelo tempo passar ...
Sempre acreditei que um dia, longínquo dia, eu te encontraria. Sempre te vi como um destino para lá de Marte e nem sequer questionei a minha loucura ...
Oh! Louco de emoção, por estar à tua porta, por estar contigo, num tempo quase parado e em que me sobra quase tudo ... apenas me falta a agilidade do meu corpo torneado de outros tempos ...
Nem sei se foi o destino que se cruzou com a minha velhice ou se foi ao contrário, nem sei se posso almejar o futuro.
Hoje interiorizei a tua imagem de sapiência e de cautela disfarçada, agarrei o teu silêncio na bravura desse espaço suave ... hoje comecei um novo ciclo.
Agora, deixa-me desfrutar os momentos. Deixa-me mesmo que não queiras ...
MÚSICA
E aqui termina mais uma edição do Lugar aos Outros. Até ao próximo
INDICATIVO