INDICATIVO
E. M. de Melo e Castro é o autor cuja poesia vamos ouvir neste programa.
MÚSICA
O poeta, crítico e ensaísta E. M. de Melo e Castro nasceu na Covilhã, no dia 19 de Abril de 1932. Formou-se em Engenharia Têxtil em Bradford (Inglaterra), em 1956. Foi professor de Design Têxtil no IADE (Instituto Superior de Arte, Design e Marketing). É Doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo onde foi professor na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.
MÚSICA
Praticante e teórico da Poesia Experimental Portuguesa nos anos 60, introdutor em Portugal da Poesia Concreta (Ideogramas, 1961), E. M. de Melo e Castro é considerado pioneiro na videopoesia. Entre 1985 e 1989 desenvolveu na Universidade Aberta de Lisboa um projecto de criação de videopoesia denominado "Signagens".
MÚSICA
E. M. de Melo e Castro tem colaboração poética em numerosas revistas internacionais e portuguesas. Está representado em várias antologias em Portugal e no estrangeiro. Tem participado, individual e colectivamente, em numerosas exposições nacionais e estrangeiras, de poesia experimental. Foi galardoado com o Grande Prémio de Poesia Inaset-Inapa em 1990 e Prémio Jacinto do Prado Coelho, da delegação portuguesa da Associação Internacional dos Críticos Literários em 1995.
MÚSICA
Autor de uma vasta obra iniciada em 1950, já publicou mais de trinta livros de poesia e dezoito com ensaios críticos e teoria literária. Alguma da sua poesia está traduzida para Espanhol, Francês e Inglês.
Vamos ouvir de E. M. de Melo e Castro, sem interrupção, 5 poemas.
MÚSICA
A poesia é um gozo
um uso sabido
do uso errado
A poesia é um gozo
e se o não é
a culpa é do vizinho do lado
A poesia é um gozo
de palavras paralelas
daquelas
que não há
A poesia é um gozo
como um osso
encravado
A poesia é um gozo
o leitor
deve sentir-se gozado
MÚSICA
entre o real e o irreal
está a ambiguidade do imaginário
entre o real e o imaginário
está a ambiguidade dupla da invenção
entre o imaginário e o irreal
está a duplicidade ambígua da fantasia
entre o real e a invenção
está a ambiguidade tripla do rigoroso
entre o irreal e a fantasia
está a triplicidade bi-ambígua do sonho
entre o rigoroso e o real
está a quádrupla ambiguidade da ciência
entre o sonho e o irreal
está a quíntupla multi-ambiguidade da alucinação
entre a ciência e a alucinação
está a exponencial simplicidade
da dupla real e irreal
em gravidade zero
MÚSICA
todos os poemas são visuais
porque são para ser lidos
com os olhos que vêem
por fora as letras e os espaços
mas não há nada de novo
em tudo o que está escrito
é só o alfabeto repetido
por ordens diferentes
letras palavras formas
tão ocas como as nozes
recortadas em curvas e lóbulos
do cérebro vegetal : nozes
os olhos é que vêem nas letras
e nas suas combinações
fantásticas referências
vozes sobretudo da ausência
que é a imagem cheia
que a escrita inflama
até ao fogo dos sentidos
e que os escritos reclamam
para se chamarem o que são
ilusões fechadas para
os olhos abertos verem
MÚSICA
da pouca pesca
a pedra surge
como sombra de vício
de encontrar
uma forma textura
que propõe
seduzindo
o sinal desvendar
a pesquisa é o início
a sedução do olhar
o sinal que se abre
para ler e contar
mas como aprendizagem
de encontrar e entender
a estrutura do verso
é de pedra
de pedra.
MÚSICA
se olho as tuas pernas digo duas pernas
sem pensar mais nas pernas que nas pregas
mas sinto as tuas pernas duas pernas
mais do que sinto as pregas como pregas
e nem pregas nem pregos nem pregões
me podem impedir de pensar pernas
quando as duas e tuas pernas pões
na posição das diagonais eternas
e entre as pernas que tu usas tuas
e a única palavra que as nomeia
e o volume de que faço nuas
surge a imagem súbita do prego
que se prega nos olhos e que fura
no duro centro aonde a imagem dura
MÚSICA
Ouvimos cinco poemas de E. M. de Melo e Castro. O último que ouvimos faz parte do seu livro “Sim… Sim” editado pela Vega. Este livro vai dar lugar, um dia destes, à edição de mais um programa Poesia Erótica. Atenção, pois, ouvintes apreciadores deste poeta.
Até ai próximo programa.
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