INDICATIVO
O programa de hoje vai ser preenchido com excertos do livro “Desafios em Fusão” de Anna Ruta e Rui Reis, coletânea de textos trocados entre os autores, separados, em países diferentes.
MÚSICA
As palavras que vão anteceder a leitura dos textos são de de Paulo Afonso Ramos e fazem parte da nota introdutória do livro.
Escreve Paulo Afonso Ramos:
Este livro, que agora se encontra nas suas mãos, é um desafio!
E esse desafio não permanece só no título. Começa, agora, por ser um desafio ao Leitor que precisa de afastar os preconceitos para poder chegar ao fim. Porque é um livro de puro erotismo, escrito sem apelo nem agravo, de situações realmente vividas e transcritas para serem partilhadas através da sua leitura.
MÚSICA
E continua Paulo Afonso Ramos: (Este livro) Foi também um desafio para os autores, que, por questões sociais, recorreram ao anonimato, uma vez que aqui são também as personagens principais. Este, "Desafios em fusão" é um conjunto de epístolas paralelas da vida de duas pessoas que estão afastadas por milhares de quilómetros, vivendo em países diferentes. São missivas que nos mostram o amor, o sexo e desejos puros. Implicitamente, ou talvez não, também temos a oportunidade de encontrar uma abordagem de um cariz social que a distância preconiza, se o quisermos ler de uma forma mais global.
MÚSICA
Termina Paulo Afonso Ramos afirmando que “na componente erótica, esta "fusão", é o resultado de histórias vividas entre dois corpos que se amam apesar da distância constituir um obstáculo. Mas é também uma força conjunta que os une, um exemplo do que o amor é capaz.
Já na componente literária, poderá considerar-se uma ousadia, no sentido corajoso da palavra, ao descreverem, sem preconceitos e com as palavras directas, os seus momentos mais íntimos. Este volume, em pleno século XXI, não deixará nenhum leitor indiferente, constituindo, esse facto, mais uma boa razão para ser lido.”
MÚSICA
Não foi fácil selecionar entre os 27 textos que compõe o livro, três, para serem lidos, aqui.
Estão, quase todos carregados de um erotismo frontal, intenso e sem falsos pudores. Porém, ao transformar em sons as palavras de um livro, podem correr o risco de lhes emprestar cargas inesperadas e eventualmente, mais agressivas para ouvidos sensíveis.
Este programa tem procurado manter-se equilibrado na linha ténue entre o erotismo e o mais do que isso. Daí a preocupação da escolha se basear, de entre os 27 textos, naqueles mais facilmente aceites por todos os ouvintes deste programa. Para quem deseje entrar no mundo erótico dos autores, recomendo a aquisição do livrinho, uma edição de “Temas Originais”.
Ouçamos, então os três textos selecionados.
MÚSICA
Visitaste-me, docemente, expondo os teus seios para mim... Apareceste no monitor depois de longa espera, mas apareceste... Após dias e dias a inventar contornos, tive-te um pouco mais real, mais perto... Percorri tuas linhas, adivinhando a textura dos teus seios. Detive-me longamente nos mamilos, imaginando-os rijos e aproximei a língua, reactivando os teus sentidos... Toquei-os, de olhos fechados. Com eles abertos, a "tridimensionalidade" imaginada, seria frustrada. Reduzir-se-ia a dois eixos, X e Y, sem qualquer significado, sem qualquer emoção... Com eles bem cerrados, continuei a colher sensualidades, a fotografar com dedos todos os teus sinais... perdi-me em todos. Tentei contá-los com beijos ternos, a preto e branco, misto de sonho e composição digital. Excitei-me, sempre de olhos fechados para não deixar acontecer o acordar. Continuei viagem por caminhos estreitos e encontrei teu sexo colorido com o fluído do prazer provocado por dedos teus, sabiamente instruídos, sabiamente conhecedores da musicalidade e ritmo da "sinfonia - êxtase" que compões quando o desejo aperta. Ouvi mesmo, aqui tão longe e de olhos bem fechados, os gemidos com que fizeste acompanhar aqueles momentos. Não resisti! Abri os olhos, e mesmo limitado pela planura das imagens de ti, criei eu próprio a minha composição de vários andamentos, que terminando num "presto", me pareceu ser a mais indicada para acompanhar a tua dança, numas reais e vindouras três dimensões.
MÚSICA
Sempre desejou ser amada, como uma Princesa que se dá, em amor... Gostava de um misto romântico e selvagem porque assim é a paixão quando se aflora no contacto da pele com pele, língua com língua, encaixe quente, húmido e profundo. Naquele dia, cobria-lhe um corpete que lhe ocultava o peito já excitado pelas carícias trocadas. Era talvez a primeira vez que sentiam a química fluir em odor, sabor, puro calor. Ele despiu-a, em desejo. Penetrou-a, em intensidade. E um dia foi pouco para se darem um ao outro.
MÚSICA
A noite era de ausência, como tantas outras. O cansaço dominava-a em exaustão, e atirara-se para cima de cama, rendida a esta dormência de sentidos, não tocados. Embora fizesse calor, sentiu frio, tal como sucedia sempre que estava mais nervosa. Evocou-o, e adormeceu. Não se recorda do que sonhou, mas acordou em sobressalto, já o dia tinha raiado. Ainda o cansaço, (d)a ausência e a sensação de que algo poderia não correr bem durante o dia...
O calor invadira-a, não que a casa estivesse quente mas sentia um misto de tristeza, carência e sobretudo uma humidade íntima em sobressalto de espasmos que lhe inquietavam. Discorriam imagens das horas de prazer a que se tinham dedicado, um ao outro, em intermitência de beijos, massagens e penetrações. Recordar-se dele era excitante! Como se uma química inigualável existisse quando ainda só adivinhavam o encaixe, tantas vezes sugerido, descrito e registado na ardência de sexo palpitante, pele arrepiada, em mãos que, sozinhas, percorreram, ritmadamente, não só zonas erógenas como também a alma. Sim, porque ansiavam um encaixe de corpo e alma, harmonioso, sensual, espontâneo. Aconteceu, e repetia-se sempre que quisessem porque a fusão acontece quando há plenitude no tacto, na voz, no gosto e no odor que circulam em fluidos e fragmentos de pele, língua e sobretudo na intenção de coração.
Então porque se sentia tão insegura? Porque amava-o, mesmo sem o querer, e esperava. Porque não era suficiente escutá-lo em voz. Porque queria, de repente, atravessar o espaço distante, como uma flecha, e tirar-lhe num ápice o telefone ainda da mão e preenchê-lo de beijos e carícias despidas. Encaixar-lhe no colo, de frente, e roçar-lhe já molhada e de seios a descoberto, excitados, que entravam em sua boca sem pedir licença. E dizer-lhe, em terna ordem: "Vem, possui-me, sou tua! ...já, não aguento." E em sorriso, indecências e gestos penetrantes, vê-lo diante de si, em espasmos de prazer, gemidos sentidos em simultâneo orgasmo inebriante.
MÚSICA
Ouvimos três excertos do livro de Anna Ruta e Rui Reis, intitulado “Desafios em Fusão”. Agradeço, em particular, ao Rui Reis a amabilidade de me ter enviado um exemplar do seu livro e ao Paulo Afonso Ramos a utilização, neste programa, das suas palavras de introdução da obra.
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