Assim se aprendia publicidade...
...há mais de 40 anos!!! 
Textos do livro "TVP Técnica de Vendas e Publicidade" disciplina dada no Curso Comercial (idade média dos alunos 11 aos 16)
 
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Pequena história da publicidade

Historicamente, a publicidade é filha da propaganda. Esta existia muito antes daquela, e encontramos as suas primeiras manifestações nas inscrições com que os reis da Assíria e da Caldeia comemoravam os seus fastos e vitórias no, frontão dos monumentos.

Desde a mais remota antiguidade, os poetas e músicos cantavam a glória dos seus Mecenas.

Todavia, os primeiros vestígios da publicidade comercial encontram se na antiguidade romana. Não longe do registo dos leitores sobre o Forum, expunham se tabuletas anunciando vendas ou espectáculos teatrais.

Por outro lado, é certo que em todo o mundo antigo os vendedores ambulantes pregoavam os géneros pelas ruas, assim corno os mercadores à porta das lojas os ofereciam à venda aos transeuntes.

Na Idade Média, a propaganda dos senhores poderosos faziam na os trovadores de castelo em castelo, tecendo louvores aos Robertos d'Artois e aos Carlos d'Anjou. Propaganda também o era, se o quiserem, a pregação de Pedro Eremita ou de S. Bernardo a favor da grande empresa das cruzadas.

Da propaganda provem os estandartes, pendões, escudos e brasões de armas. E dessas formas provem a tabuleta, que viria a desempenhar no futuro uma função importante na publicidade.

A Idade Média oferece particularmente exemplos da publicidade oral. Os pregoeiros públicos chegam a constituir uma Corporação, embora nos séculos XIII e XIV pareça que a sua função se limitava a "pregoar vinhos".

A tabuleta só floresce mais tarde. No século XVI e XVII procura atrair a atenção do público com artifícios de apresentação. Confia se a sua execução, por vezes, a verdadeiros artistas. Sacrifica se no entanto a legibilidade à beleza artística. A tabuleta dessa época dará origem nos tempos modernos ao escudo simbólico usado à porta por certos profissionais, como os gravadores e os oculistas, por exemplo, mas muito menos pitoresco.

O cartaz aparece no século XV. O primeiro de que há memória foi impresso em Paris, no ano de 1482, destinado ao cabido de Reims para anunciar o grande perdão de Nossa Senhora.

O invento da tipografia transforma por completo o aspecto da propaganda. Dai por diante, a difusão das ideias confia se mais ao livro que à palavra.

Cerca dos fins do século XVI aparecem as primeiras "folhas volantes" e "novas à mão".

Em 1751, o abade Aubert lança o jornal Les Petites Annonces, o qual publica ofertas de casas à venda ou para aluguer de cargos a preencher, etc.

Em 1772, apareceu em França um cartaz anunciando o novo modelo de um guarda chuva.

Nos jornais do Império já se fazia publicidade redigida, Mas foi a iniciativa de Baile Girardin que devia ser decisiva na história da publicidade.

Esse criador do "jornal, deve ser franco, conciso e simples". E acrescenta adiante: "A publicidade assim compreendida reduz se a dizer : em tal rua, número tantos, vende se tal coisa a tal preço". Girardin estava longe de prever os artifícios a que volvidos oitenta anos, se tinha de recorrer para tornar os, anúncios atraentes. Época na qual a publicidade não tinha, como hoje, de forçar a atenção de compradores expostos a milhentas solicitações.

Os anúncios de jornal tomaram logo um desenvolvimento crescente, concentrados em geral na última página. Contudo, o anúncio de grande formato era ainda raramente empregado e com grande ingenuidade.

Ao começo, o texto era o principal elemento mas pouco a pouco o desenho introduz se no anúncio para apresentar o produto ou, por vezes, também a fábrica. A figura humana (vulto feminino na secção de costura de um grande armazém) só mais tarde aparece.

Pode dizer se que entre 1845 e 1900 a técnica do anúncio não teve grande progresso.
Todavia o valor da publicidade na economia cresce muito depressa com o desenvolvimento industrial A máquina e os novos métodos de produção fabril dão grande impulso a publicidade, tal como hoje a conhecemos1 Desde 1880 as agências de publicidade tendem cada vez mais a tornar se verdadeiras empresas de produção e distribuição de anúncios.

Os meis correntes da publicidade dessa época eram as publicações ilustradas, os diários, os prospectos, a pintura mural, o cartaz e, logicamente a tabuleta. Mas a técnica era fraca. Não se preocupava com o estudo prévio do mercado, nem com a psicologia do consumidor, nem com as normas racionais da paginação e da tipografia. O cartazista, por exemplo, preocupava se exclusivamente com engendrar imagens que supunha agradariam ao público Mucha (1) e Chéret (2) representam a expressão mais elevada da publicidade de 1900 Não era propriamente ainda uma técnica, mas tinha a pretensão, no mais alto grau, de ser artística.
Méliés cria nos primeiros anos deste século o filme publicitário.

No começo também deste século, o nosso Pais notabilizou se pela realização de grandes campanhas de publicidade no estrangeiro sobre os Vinhos do Porto e, no mercado interno, a campanha de propaganda, durante o Governo da presidência de Vitorino Guimarães, do Empréstimo Nacional de 4 milhões de libras, editando se pela primeira vez em Portugal um milhão de prospectos ilustrados e realizando se reclamos em todos as teatros e cinemas do Pais com dísticos e filmes

Foi só depois da primeira Grande Guerra mundial que a publicidade começou a ser estudada e trabalhada metodicamente, auxiliada com vigor pelo desenvolvimento de novas indústrias; a luz de néon e fluorescente, o cinema e, sobretudo, a radiofonia. O aparecimento desta última, que se fez ouvir, enquanto os meios precedentes se dirigiam quase exclusivamente à vista, levou o anúncio ao próprio seio dos lares, o que foi de grande importância.

Em Portugal, foi o "modernismo", os artistas plásticos e os poetas quem primeiro chamaram a atenção dos industriais e comerciantes para o fenómeno publicitário em termos definitivos. António Soares, na realização de algumas embalagens de bom gosto;

António Pedro, com arranjos gráficos inconvencionais de capas de livros e revistas; os poetas do "Orfeu", da "Presença" e do "Momento", com o aproveitamento gráfico dos caracteres clássicos e dos papéis de embalagem Aos artistas "puros" seguiram se os artistas profissionais: Fred Kradoffer, com a exploração do cartaz, tratado como uma unidade gráfica e visual; Bernardo Marques e Carlos Botelho, no tratamento de capas, folhetos, programas e na apresentação das edições do SPN hoje SNI; Manuel Lapa, Thomaz de Mello e Lucien Donat, no arranjo de montras e decoração de estabelecimentos. Alberto Cardoso, na construção profissional de anúncios, desdobráveis e decorações; o surto de agências de publicidade, como a APA (dirigida por José Rocha*), BELARTE (dirigida por Mário Neves, Roberto de Araújo e Araújo Pereira); Oscar Pinto Lobo, na renovação do material gráfico dos CTT, culminando em tempos mais recentes no grafismo de categoria internacional de Manuel Rodrigues, António Garcia, Sena da Silva, Sebastião Rodrigues e na actividade de agências de publicidade ?Ovic?, ?Pac?, ?Havas? e recentemente ?Marca?, ?Forma ? e ?Elo? – constituem um friso exemplificativo da intervenção plástica na Publicidade.

Todo este esforço, porém, se confinou ao culto do bom gosto e poucas vezes ao estudo económico psicológico da publicidade como técnica ao serviço de um fim mercantil

Neste campo só muito mais tarde e historicamente depois de Jorge Domingues ter promovido o lançamento promocional e publicitário da máquina de costura "Oliva" a escala nacional, se encontraram em Portugal os técnicos entusiastas e dedicados que, quer nas Agências, quer na direcção de secções de publicidade de Empresas, conseguiram conciliar os padrões de bom gosto plástico com as coordenadas psico económicas que tornam a publicidade uma força ao serviço de um fim útil.

Parece nos justo registar que o grupo constituído por Jorge Domingues, Eduardo Magalhães, Thomas de Mello, Araújo Pereira, foi o pioneiro da publicidade organizada, metódica e produtiva.

* Detectei, aqui, uma gralha. De facto o responsável pela APA era Fernando Leitão. José Rocha dirigia uma empresa (rival) com o seu nome: Organizações José Rocha.

Com maior ou menor felicidade, num ou noutro caso, foram lançadas as sementes que vieram a ter continuadores válidos em Renato de Figueiredo, Orlando Costa, Eurico Costa e tantos outros.

Mas foi sem dúvida Jorge Domingues, pela normalização da propaganda médica, quer pelos seus trabalhos redaccionais e direcção de campanhas para várias agências a sua actividade com Eduardo Magalhães no estudo dos Estatutos do Clube Português de Publicidade e do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Publicidade e Vendas e organização do Centre Técnico Profissional, a personalidade mais destacada na publicidade portuguesa dos últimos vinte anos.

Todo esse intenso e dedicado trabalho de divulgação, normalização e elucidação foi coroado no recente aparecimento do jornal "Publicidade e Artes Gráficas", dirigido por Araújo Pereira, em cooperação com Rodrigues Rocha, animador que foi, com Mário de Meneses Santos, da rádio publicidade portuguesa,

Paralelamente, Igrejas Caeiro, seguido de outros produtores continuadores no tempo de uma tradição estabelecida por José Castelo e Oliveira Cosme, criou um estilo sério de programa rádio publicitário que, juntamente com Gentil Marques, constitui, porventura, a mais evidente prova de que o estilo cria o público,.

Cabe neste registo, necessariamente resumido e imperfeito, uma referência a Dias da Silva, que trouxe a serigrafia como veículo gráfico; Joaquim Pavão, com as Feiras Populares organizadas pelo jornal "O Século"; Mário Neves, com a magnifica realização da FIL e a equipa do Fundo de Fomento de Exportação, com a representação de Portugal em certamens nacionais e internacionais de renome.

Neste campo, deve se a Thomas de Mello uma inteligente acção coordenadora, aceitando e facilitando a colaboração de novos valores.

Alguns artistas plásticos, uns jovens, outros consagrados (Lima de Freitas, Dimas de Macedo, António Alfredo), deram o seu concurso a este movimento de autonomização da publicidade portuguesa e, por isso a influência académica, nem por isso menos útil, de agências estrangeiras e figurinos norte americanos, não pode desvirtuar o que de autêntico e válido existe entre nós.

Daí que Agências, jovens de idade, mas maduras de processos, como CIESA, G. Thibaud & C.°*, Rádio Press Office, etc., procurem, em Portugal, conciliar as linhas mestras da publicidade norte americana, com a idiossincrasia nacional.

E ao citar alguns nomes, sabemos que ficaram sem um apontamento outros tantos e muitos mais, como Carlos Rafael, Sena Fernandes, Marques da Costa, Fernando Santos Silva, Saiviano Cruz, etc.
Esperamos que todos quantos tenham tido papel decisivo na renovação e metodização da publicidade portuguesa possam fornecer elementos que se registarão com prazer na próxima edição.

Sendo a bibliografia portuguesa de publicidade assaz reduzida (o livro "Técnica de Publicidade", de Araújo Pereira, "Técnica de Vendas", de Miguel de Almeida, e TVP. Técnica de Vendas e Publicidade), não e vê onde se possam recolher mais elementos,

*Nesta agência fizeram a sua aprendisagem, incluindo estágios no estrangeiro, alguns dos mais conhecidos publicitários, ainda em actividade nos anos 90: Telmo Protásio, Branca Protásio, Silva Gomes, Luís Gaspar, Orlando Costa, Figueiredo Nunes, Olga Pereira, António Esteves, João Velez, Luís Moutinho, Francisco Orta, Martinez, etc., etc. Veja se reconhece alguns deles:


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