José de Matos-Cruz


IMAGINÁRiO128
24 ABR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

JUSTICEIROS




Exacerbando o eterno conflito entre o bem e o mal, em privilégio da investigação minuciosa e da dedução elementar, o fenómeno de Sherlock Holmes - além dos demónios e fantasmas da concepção literária, por Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) - ritualizou o imaginário heróico e a virtualidade justiceira, a partir de finais do Século XIX, com plena consagração através do cinema e da televisão. A partir do número 221B de Baker Street, em Londres, Holmes e o Doutor John Watson assumem uma extraordinária cruzada, de implicações criminais, políticas, sociais, fantásticas, subjugada pela obcecação detectivesca, o conflito solitário, o antagonismo inexorável, a expiação simbólica em que se debatem as luzes e as trevas. Quanto às obras-primas celebradas em pequeno ecrã, sobressai a série produzida, a cores, pela BBC em 1968, e editada em DVD sob chancela Prisvídeo, sendo protagonistas Peter Cushing e Nigel Stock. Um segundo lançamento inclui dois casos lendários - O Sinal dos Quatro e O Carbúnculo Azul - envolvendo tesouros perdidos, pactos misteriosos, diabólicas conspirações, gente bizarra, beleza fatal, ambição e liberdade, inocência e resgate IMAGINÁRiO17-116.

MEMÓRiA

1903-06JAN1987 - João Gaspar Simões: Escritor e ensaísta, crítico literário - «Tudo o que tenho dito sobre o romance acaba na mesma trivialidade: não há romance onde não houver imaginação psicológica».

24ABR1897-1941 - Benjamin Lee Whorf: «Cada língua contém termos que alcançaram uma referência cósmica, que cristalizam em si os postulados básicos de uma filosofia não formulada, nos quais está albergado o pensamento de um povo, de uma cultura, de uma civilização ou, até, de uma era».

PRIORITÁRiO

Anim’Arte - Revista trimestral de animação sócio-cultural, editada pelo GICAV/Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu; sendo director Manuel Rodrigues Martins, no número 61 - correspondente a Outubro-Dezembro de 2006 - destacam-se Escravatura em Portugal (Maria das Dores Almeida Henriques), «A Descoberta da Natureza», «Livro da Montaria» - D. João I (Natália Mendes), Espaço Banda Desenhada - 8 - O Estranho Fascínio do «Western» (Luiz Beira), Figuras Ilustres da Beira - 2 - José Leite de Vasconcelos, o Antropólogo (Júlio Cruz), Homenagem a Vítor Aguiar e Silva e, em Caderno Técnico, Malabarismo (Daniel Matos, José Carlos Cordeiro). Contacto: gicav@megamail.pt

CALENDÁRiO

15DEZ2006 - Durante um colóquio sobre José Anastácio da Cunha (1744-1787), em Braga, são revelados sete escritos inéditos do poeta e matemático, descobertos no Arquivo Distrital de Braga por Maria Elfrida Ralha da Universidade do Minho e Maria do Céu Silva da Universidade do Porto, os quais versam desde assuntos de balística até resoluções numéricas de equações polinomiais de qualquer grau, passando por logaritmos e potências IMAGINÁRiO113.

ABR-MAI 2007 - No Museu Ferreira de Castro, em Sintra, decorre o Ciclo de Conferências 2007, com o patrocínio da Câmara Municipal de Sintra: 21ABR - Nos 50 Anos de «A Casa Grande de Romarigães» de Aquilino Ribeiro por Serafina Martins; 26MAI - Nos 60 Anos de «A Lã e a Neve» de Ferreira de Castro por Vítor Viçoso.

ANUÁRiO





1782 - Em Lisboa, principia a impressão em fascículos de Principios Mathematicos de José Anastácio da Cunha, professor contratado pelo Intendente Pina Manique para o Colégio de São Lucas da Casa Pia, e instrumento do Programa Pedagógico por ele elaborado. O tratado inclui a Geometria de Euclides, a Aritmética, a Álgebra, a Geometria Analítica, a Trigonometria, o Cálculo Diferencial, Problemas de Máximos e Mínimos. A publicação em volume completo de Principios Mathemáticos para Instrucção dos Alunos do Colégio de São Lucas da Real Casa Pia do Castello de São Jorge, com vinte e um livros, foi concretizada em 1790, três anos após a morte do autor.








1937 - Benjamin Lee Whorf é nomeado Leitor de Antropologia na Universidade de Yale, onde em 1931 iniciara estudos de Linguística com Edward Sapir (1884-1939), de quem se tornaria discípulo, tendo elaborado a Hipótese Sapir-Whorf: Existe uma relação sistemática entre as categorias gramaticais da língua que uma pessoa fala e o modo como essa mesma pessoa entende o mundo que a rodeia e se comporta na realidade envolvente.

ANTIQUÁRiO

 


1897 - É construído o primeiro dirigível rápido - cujo voo inaugural apenas se realizaria em 1900, num aparelho elevado sobre o Lago de Constança, com cinco pessoas a bordo, embora só navegasse cinco quilómetros na direcção marcada pelo piloto. Em 1863, o conde e militar alemão Ferdinand Von Zeppelin (1838-1917) realizara um primeiro voo em globo, publicando as suas impressões sobre a utilidade dos globos aerostáticos em missões de guerra. O mundo não podia imaginar que, pouco tempo depois, sulcariam os céus umas aeronaves imensas, em forma de fuso ou de charuto, que o inventor baptizou como dirigíveis. Engenheiro civil, reformado, Von Zeppelin dispunha de tempo e fortuna, dedicando-se integralmente ao projecto. Assim, delineara um aparelho ligeiro, propulsionado por gases como o hélio, mais ligeiros que o ar, e cujo casco era um simples tecido impregnado de verniz, para torná-lo impermeável, e que se formava sobre uma armação de alumínio.

Poucos anos depois, apareceriam os grandes dirigíveis, destinados a viagens de longa duração; o mais importante deste tipo foi o Graf Zeppelin, que efectuou a sua travessia mais importante (29.467 quilómetros) entre 18MAI e 30JUN1930. Do mesmo tipo, foram o Akron, o Macon e o Hindenburg, que podiam levar uma carga até trinta toneladas.





29ABR1907 - Uma das maiores cantoras portuguesas, Regina Pacini (1871-1965) contrai matrimónio, na Igreja da Encarnação em Lisboa, com o magnata Marcelo Torcuato de Alvear. O ciumento marido, futuro Presidente da República da Argentina, e antes fervoroso admirador, que a perseguia com cascatas de flores e chorava durante as suas récitas, passou a adquirir pelo Mundo, e a destruir, todas as gravações com a voz da artista, que desistiu duma carreira apoteótica como soprano.

NOTICIÁRiO

Regina Pacini - O Heraldo de Madrid, dando conta do reaparecimento de esta ilustre cantora lírica no Theatro Real, no Banheiro de Sevilha, diz: «Cantou como sempre, isto é, com tanto gosto, delicada afinação, voz vibrante e poderosa, que seguramente não se poderia encontrar hoje rival para a Señorita Pacini nas particellas das óperas que formam o seu extenso reportório.»
05JAN1897 - Diário de Notícias

PARLATÓRiO

Dividimos a natureza em parcelas, organizando-a em conceitos, e os significados que atribuímos resultam, sobretudo, de fazermos parte de um acordo que se sustenta na nossa comunidade verbal, e está codificado nos nossos padrões linguísticos...
Não podemos conversar, senão obedecendo à organização e classificação de dados que um tal acordo determina.
Benjamin Lee Whorf

BREVIÁRiO

 Livros Cotovia edita Século Passado de Jorge Silva Melo.

Teorema edita Uma Temporada Com Marcel Proust [1871-1922] de René Peter.

Ariadne e Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra editam Jornais Portugueses do Século XX - Um Dicionário de Mário Matos e Lemos.

Oficina do Livro edita Afinal Havia Outra; fonotovela realizada por Aurélio Vasques, com argumento de Rita Fernandes sobre ideia de Sílvia Rizzo.

Universal edita em DVD, sob chancela Decca, Bartók: Quartetos de Cordas Nº2, Nº 3 e Nº 6 pelo Quarteto Takács: Roger Tapping (viola), András Fejér (violoncelo), Edward Dusinberre e Károly Schranz (violino).

Roma Editora lança Nabos na Cozinha de António Gomes de Almeida, com ilustrações de Artur Correia.

 





Paramount lança em DVD, Andy Warhol [1928-1987] - A Documentary Film de Ric Burns; narração de Laurie Anderson IMAGINÁRiO119.

EXTRAORDINÁRiO

 O INFANTE PORTUGAL
Primeira Jornada

 Capítulo Cinco
O CONTENTO DA SEREIA LEDA - 39

 

Com fragor, Nero Faial atirou para o chão o exemplar do Diário de Notícias todo escangalhado. Irritara-se com a crítica de Virtudes Plásticas, sobre a sua Exposição na Sociedade Lusíada de Belas-Artes, assinada por um tal Jacinto Magno.

– Só me apetece arremessar-lhe um extintor à cabeça... – balbuciou, num sorriso de auto-ironia cúmplice, pelo significado daquelas palavras, em sua relação intrínseca com certas qualidades sobrenaturais.

Ora, entre convenções e convicções, a condescendência não lhe parecia a melhor reacção própria quanto à auto-estima. E estava a apetecer-lhe, mais, esse prodigioso e benfazejo exercício lusitano que é o dormitar. Passar pelas brasas - aí lhe advinha outra cruel insinuação...

Tal indolência foi então sobressaltada por um seu pressentimento, que logo se materializou em zumbido através dos reposteiros, até assomar-lhe ao aposento. Reconheceu a campainha de entrada. Naquela ala, recolhida, da sinuosa residência de pessoas e possessos, nunca havia mais ninguém - quando ele ali estava, solitário e cioso da privacidade. Para saber quem era, Nero Faial tinha, pois, que ir ele próprio abrir a porta. Uma das várias saídas para a rua, e de sua comunicação exclusiva - o que muito, sinceramente, o fez estranhar. Quem poderia ser?

 – Continua




IMAGINÁRiO127
16 ABR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

TRANSIÇÕES




Explorada entre o crepúsculo e a ressurreição, a saga western permanece como um dos mananciais mais fascinantes e propícios à banda desenhada, com uma significativa primazia em sua expressão europeia. A partir de 1963, nas páginas da revista Pilote, as façanhas de Mike Steve - aliás Tenente Blueberry - enquadradas por Forte Navajo, atingiram um sucesso culminante pelo fascínio dum herói complexo, entre os dilemas do sombrio passado e os desafios do futuro incerto. Assim, o excepcional talento de Jean-Michel Charlier & Jean Giraud/Gir - aliás, Moebius - revirtualizar-se-ia em segunda fase, ou evocando A Juventude de Blueberry, continuada por François Corteggiani & Colin Wilson; além de Marshall Blueberry, por Gir & William Vance, ou de uma recriação em grande ecrã por Jan Kounen, sendo Vincent Cassel protagonista d’As Aventuras de Blueberry (2004). Em Portugal, o panorama de Mister Blueberry atinge em quadradinhos um momento excepcional, com o lançamento do álbum Dust - pela primeira vez sob chancela das Edições Asa, após o encerramento da Meribérica/Liber em 2005. E esta transição processa-se numa fase dramática, mas determinante do historial de Blueberry - em Tombstone, a 26 de Outubro de 1881. Quando está prestes a consumar-se o sangrento confronto dos irmãos Earp contra o bando de Clanton/Mc Laury, e onde um Blueberry bem vivo celebrará entre amigos os jogos da redenção e da fortuna IMAGINÁRiO12.

CALENDÁRiO

08MAR2007 - Filmes do Tejo produziu, e estreia com Lusomundo Brava Dança (2006) de Jorge Pereirinha Pires e José Pinheiro; a história do grupo Heróis do Mar - nascido em 1981, com Pedro Ayres Magalhães, Rui Pregal da Cunha, Carlos Maria Trindade, Paulo Pedro Gonçalves e António José de Almeida - e um confronto entre as imagens de um Portugal antigo e moderno.



1936-20DEZ2006 - Lucia Vasconcelos: Nascida em Lisboa, 1936, filha de mãe polaca e de pai alemão. Com aprendizagem especializada na área da Fotografia, completou, em 1985, o plano de estudos do AR.CO, em Lisboa, onde foi professora entre 1988 e 1994, frequentando também cursos de História de Arte, de Literatura e Línguas. A partir de 1982, participou em diversas exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, e publicou vários livros com a sua criatividade IMAGINÁRiO23-38-84-123.



12JAN-18MAR2007 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Provocação - Gravura e Pintura - exposição das obras mais recentes de David Almeida, criador eclético na arte portuguesa contemporânea. Frequentou a Escola António Arroio e, além de curso da Sociedade Portuguesa de Gravadores, estudou holografia na Goldsmiths University of London e estagiou nos Moinhos do Vale do Lagat (França) e, com Stanler Hayter, no Atelier 17 em Paris.

1912-10JAN2007 - Carlo Ponti: Produtor de cinema, casado com Sophia Loren (1966) - «Eu sabia que ele era uma das mais importantes personalidades a fazer filmes, de Itália... Passei a admirá-lo profundamente e uma grande amizade nasceu entre nós - amizade que os anos transformariam em amor» (1959).

 

PRIORITÁRiO

 


Com o Terceiro Milénio, transpôs-se um deserto de inoperância e monotonia que vinham caracterizando - com raras excepções livrescas e algumas aliciantes miragens - o panorama público da banda desenhada em Portugal. Entretanto, vários passos em quadradinhos prosseguem o culto e rasgam novas vias para a animação da nona arte. Um realce especial vai para Geraldes Lino - que, como faneditor, lançou Jazz Banda, cujo projecto de pessoal improviso assim definiu: «cada autor/artista introduz a sua participação estética, distinguindo-se pela espessura do traço, ou na dinâmica corporal das personagens que desenha». Em número 2, sobressaem Pedro Massano, Rui Lacas, Pepedelrey, J. Coelho, Pedro Nogueira e Renato Abreu. Outro exemplo sob a chancela de Lino, a não perder, é a Tertúlia Bd de Lisboa, em fiel convívio/homenagem a criadores e outra gente dos quadradinhos. O número 105, em SET2006, foi dedicado aO Menino Triste de J. Mascarenhas. Contactos: geraldes.lino@iol.pt - http://pwp.netcabo.pt/j.mascarenhas/ IMAGINÁRiO65-103.

INVENTÁRiO

 


1977 - O Amigo Americano - Um artista de Hamburgo, com trinta a cinco anos, tocado por doença incurável, Jonathan Zimmerman é contratado por um francês, a fim de liquidar um mafioso no metropolitano de Paris, por uma larga soma... Adaptando um romance de Patricia Highsmith, Wim Wenders tece um envolvimento denso, ameaçador mas aliciante, sobre a actualidade - fatídica, corrupta - da sociedade capitalista, em que o indivíduo se debate entre o isolamento e a vitimação. Bruno Ganz e Dennis Hopper protagonizam esta versão peculiar da aventura criminal, em que se contrasta um percurso marcado por questões candentes, que permanecem ambíguas, sem resposta, delimitando uma visão complexa das grandes metrópoles europeias. Em figuração, cineastas míticos ou parceiros de Wenders, ele próprio ao lado de Nicholas Ray, Samuel Fuller e Jean Eustache, Peter Lilienthal ou Daniel Schmidt.

ANTIQUÁRiO






18ABR1857 - É lançado O Livro dos Espíritos de Allan Kardec - aliás, Hippolyte Léon Denizard Rivail, pedagogo e professor - que assinala o nascimento do Espiritismo em França, a partir das suas investigações sobre os fenómenos de origem paranormal ou mediúnica, averiguados e difundidos por toda a Europa durante o Século XIX. Apresentada na forma de perguntas e respostas, abrangendo quinhentos e cinquenta tópicos (a partir da edição de 1860, alargando-se a mil e dezanove items), a abordagem sobre textos psicografados processa-se por quatro incidências fundamentais: Das Causas Primárias, Do Mundo dos Espíritos, Das Leis Morais e Das Esperanças e Consolações.








19ABR1927 - Em tribunal de Nova Iorque, em júri constituído por doze cidadãos, só homens,  condena Mae West  a dez dias de prisão, por «corromper a juventude» com a peça Sex, de que é autora como Jane Mast, encenadora, intérprete e produtora. A sentença determinou ainda que o espectáculo na Broadway fosse retirado de cartaz, após trezentas e setenta e cinco representações, a que assistiram trezentas e vinte e cinco mil pessoas - entre as quais, alguns dos elementos judiciais e policiais envolvidos na detenção.

VISTORiA





Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exactamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Factos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele observa-os, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos factos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os factos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os factos. É, pois, rigorosamente exacto dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não um produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que os seus estudos se basearam no método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é, também, às coisas metafísicas.
Allan Kardec - A Génese, Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868 - excerto)

NOTICIÁRiO

 

Pic-Nic Elegante - O pic-nic que Domingo houve, no Dafundo, na Quinta dos Senhores Palhas, onde se reuniram vinte e seis senhoras e setenta homens, esteve muito animado. Antes do jantar, dançou-se no jardim. A mesa do jantar, que foi na sala grande, estava elegantemente adornada; e os lugares das senhoras achavam-se marcados com lindos ramos de camélias e violetas, que depois trouxeram para a sala do baile. As toilettes eram campestres; e os chapéus de fantaisie. D’entre tantas galas e louçanias, ocorre-nos que o café se tomou na bela varanda que dá sobre o Tejo, onde se dançou até à meia-noite.
17ABR1866 - Diário de Notícias

ANUÁRiO






1957 - A partir do conceito de Marcel Duchamp do ready-made, os estilistas Achille Castiglioni e Livio & Pier Giacomo criam os modelos Sella e Mezzadro, inspirados respectivamente no selim de bicicleta e no assento de tractor, os quais resultam em peças com tanto de lúdico como de funcional. Tidas como muito radicais para a época, apenas entraram em produção comercial vinte anos mais tarde.



IMAGINÁRiO126
08 ABR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004

 PRONTUÁRiO

 MISÉRIAS






Herdeiro consagrado, no cinema italiano, da comédia dramática, Ettore Scola foi distinguido como Melhor Realizador, em 1976, no Festival de Cannes. Consagrando a sua obra-prima, Feios, Porcos e Maus - um retrato de costumes, perverso e fascinante, que agora ressuscita em versão restaurada, com edição em DVD sob chancela Lusomundo. A acção decorre em bairro degradado da periferia de Roma - a grande cidade que se entrevê no horizonte, qual fronteira de um país civilizado. Em causa, uma interminável e extravagante família de irmãos, avô, parentes, crianças e amigos, vivendo na maior promiscuidade em exígua barraca, liderada pelo pai - ex-operário que perdeu um olho em acidente laboral, tendo recebido um milhão de liras como indemnização. Azedo e avaro, praguejador, Giacinto Mazatella defende o seu pé-de-meia de espingarda na cama ou, marginal, vagueia pelas miseráveis imediações - embriagando-se no bar ou afeiçoando-se a uma robusta prostituta... Além do assombro nas figuras características, que Nino Manfredi estiliza por excelência, Scola sublima a grotesca condição humana, moral e social, recriando com sarcasmo um universo de exclusão e exploração.

CALENDÁRiO

DEZ2006 - A revista Science considera a prova final da conjectura enunciada por Henri Poincaré (1854-1912), em 1904, a mais importante descoberta científica de 2006 e da última década. A formulação lançou um novo ramo da matemática, a topologia, que trata das propriedades de superfícies elásticas tridimensionais - como as formas do corpo humano, ou de uma bola de sabão. Grigori Perelman, um russo eremita, viveu em clausura durante sete anos, a trabalhar no problema. Em 2003, publicou o essencial da resolução, mas não foi de imediato reconhecido. Três anos depois, recusou a Medalha Fields, que lhe seria atribuída em Agosto, em confirmação do Teorema de Perelman sobre a Conjectura de Poincaré.

MEMÓRiA

1562-11ABR1607 - Bento de Goes: Por ordem de Nicolau Pimenta, Visitador da Companhia de Jesus em Goa, percorreu a Rota da Seda, em busca do mítico Cataio, e morreu exausto junto à Grande Muralha da China, próximo já de Pequim.

06OUT1866-1932 - Reginald Aubrey Fessenden: Inventor canadense, em 1900 aperfeiçoou o sistema de emissão de voz pela telegrafia sem fios; em 1906, logrou a primeira transmissão de rádio transatlântica e de Brant Rock Station, Massachusetts, o primeiro programa de radiodifusão (com uma mensagem natalícia, tocando Holy Night em violino e lendo passagens da Bíblia).

10ABR1917-15NOV1997 - Artur Bourdain de Macedo: Produtor e realizador do cinema português, filho de Artur Costa de Macedo, fundador da Orgacine.

1919-11ABR1987 - Primo Levi: «A memória humana é um instrumento maravilhoso, mas também falacioso. As memórias que temos dentro de nós não estão inscritas em pedra».

ANTIQUÁRiO

14ABR2003 - Cientistas de oito países anunciam a descodificação do genoma humano em 99,99 %, concluindo-se a sequência designada como livro da vida. Em Abril de 1953, James D. Watson e Francis Crick divulgaram a descoberta da estrutura do ADN e, três anos mais tarde, ficou conhecido o número correcto de cromossomas humanos - cuja representação gráfica, ou cariótipo, permite determinar as respectivas quantidade, dimensão e forma, e identificar os pares homólogos, cada um formado por duas cromátidas irmãs unidas nos seus centrómeros.

PRIORITÁRiO

 


Celebrando as referências clássicas de um imaginário fascinante, sobre Banda Desenhada e Ficção Científica - cujo culto persistiria vivo e virtual, através de gerações -, a Câmara Municipal de Moura publicou uma obra alusiva, imprescindível, a propósito do 15º Salão Internacional de Bd, sendo autor Jorge Magalhães, e na qual se conciliam o fascínio do especialista e a experiência do historiador. Ao sagrar As Madrugadas do Futuro, conjuga-se uma memória nostálgica, esparsa ou fragmentária, mas patente na tenacidade dos coleccionadores, com uma ilustração apelativa e profusamente colorida, privilegiando as obras em quadradinhos e afins, nacionais ou estrangeiras, publicadas a partir de 1940, em Portugal. Contacto: cmmoura@cm-moura.pt

TRAJECTÓRiA

BENTO DE GOES

 

Nasceu Luiz Gonçalves em Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel, em Julho de 1562. Foi para a Índia como soldado, entrando na Companhia de Jesus em 1584. Abandonando o noviciado, ao frustrar-se o sacerdócio, dirigiu-se a Ormuz, mas regressou à Companhia de Inácio de Loiola em 1588, para tornar-se Irmão como Bento de Goes. A 3 de Dezembro de 1594, pediu missão diplomática ao reino Mogol, onde logrou as simpatias de Ackbar, levando-o a manter-se em paz com o Vice-Rei, em Goa, através duma embaixada de que foi incumbido, em 1600-1601. Os superiores jesuítas da Índia pretendiam descobrir o caminho terrestre até à China, contornando e transpondo pelo poente as cadeias dos Himalaias, para desvendar o mistério do Grão-Cataio e a sua identificação com o Império Celeste, tal como presumia Mateo Ricci. Nicolau Pimenta confiou-lhe tal empresa, pois sabia o persa, o turco e os costumes muçulmanos. Disfarçado de mercador arménio, com o nome de Banda Abdullah ou Abdulllah Isahi, e acompanhado por dois negociantes gregos, Leone Grimam e Demétrio, dirigiu-se pelo Dekong, com o arménio Isaac como criado, a Agra em 29 de Outubro de 1602, e a Lahore a 6 de Janeiro de 1603. Com cartas de recomendação de Ackbar, chegou a Cabul, onde Grimam permaneceu. Prosseguiu com a irmã do Khan de Casgar, que, regressada de peregrinação a Meca, encontrara em Cabul, emprestando-lhe o produto da venda de umas pedras semipreciosas. Galgou o planalto de Pamir e, em Novembro de 1603, chegava a Iarcand, onde ficou até 14 de Novembro de 1604, visitando Chotan, para ser retribuído dos favores à rainha-mãe, da qual se fizera credor em Cabul. Prosseguindo para leste, por Zilan e Cucha, chegou a Chalis, onde recebeu as primeiras notícias dos missionários de Pequim e, em 22 de Dezembro de 1605, atingiu Soucheu, extremo da Grande Muralha. Ali, pôde identificar o Cataio com a China e Kambalik com Pequim. Dirigindo recados a Mateo Ricci, este enviou-lhe um jesuíta chinês, Ciommimli, aliás João Fernandes, que o encontrou mísero e doente. Faleceu em Soucheu, China, a 11 de Abril de 1607. Com notas avulsas da viagem, relatada num diário, contendo apontamentos que os devedores muçulmanos tentaram destruir, para evitar o pagamento, mas recolhidos por Isaac e Ciommimli, Ricci logrou reconstituir o itinerário de Bento de Goes, em 1608-1610.

RELATÓRIO

Benoît de Goès, Missionaire Voyageur Dans l’Asie Centrale (1603-1607) - J. Brucker (1879); Elogio a Bento de Goes - Ernesto Ferreira (1907); No Centenário de Bento de Goes (1607-1907) - Augusto Ribeiro - in Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa (1907); Em Demanda do Cataio - A Viagem de Bento de Goes à China 1603-1607 - Eduardo Brazão (1954); Bento de Gois - A Miragem do Catai - Luís de Albuquerque - in Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses - Séculos XV e XVI (1987); Viagens na Ásia Central em Demanda do Cataio: Bento de Goes e António de Andrade - Neves Águas (1988); Fantômes d’Islam & de Chine - Hughes Didier (2003)

:Anuário da Companhia de Jesus (1966); História Breve dos Jesuítas em Portugal; Bento de Góis - João Luís

DOCUMENTÁRiO

ORGACINE


 
A ideia de criar uma aldeia do Oeste em Portugal partiu de Artur Bourdain de Macedo (1917-1997), na expectativa inicial de atrair para a Orgacine, sobretudo, a rodagem de produções estrangeiras dedicadas ao género Western. Tendo concretização por meados dos anos ’70, o complexo Orgacine situava-se na zona do Freixial, e era constituído pelo exterior de uma cidade de cowboys - inteiramente construída, com uma rua principal e incluindo as fachadas de saloon, escritório do sheriff, igreja ou post-office; dispunha ainda de interiores para cenas de menor elaboração, apetrechados até de um ponto de vista técnico, podendo também ser utilizada uma significativa área abrangente para exteriores vários, em especial de montanha e outras zonas desoladas. A empresa oferecia, igualmente, meios humanos, concretamente para figuração, um guarda-roupa elementar e diversos animais. A localização era, sobretudo, propícia pelas condições mini-climatéricas da região, e pela proximidade de Lisboa. Bourdain de Macedo geria a Orgacine - Organização Cinematográfica Ldª, assistido por Ivone Hespanha. Para o proprietário, era, «mais do que uma empresa cinematográfica, a concretização de um sonho de muitos anos. Estamos ao dispor de equipas portuguesas ou internacionais que a pretendam utilizar, considerando especialmente risonha a hipótese de entrada de divisas». Nos Estúdios Orgacine foram filmados, entre outras, as longas metragens O Crime de Simão Bolandas (1984) de Jorge Brum do Canto - produzida por Bourdain de Macedo, com decoração de Manuel Lima; e Sem Sombra de Pecado (1982) de José Fonseca e Costa (exteriores); além da curta A Verdadeira Amizade (1976) de Armando da Silva Brandão, e de diversos spots publicitários alusivos ao género. A vocação original da Orgacine acabaria por se deteriorar, sobretudo pelo crepúsculo do fenómeno Western com rodagem na Europa, logo em Espanha, sobressaindo afinal carências envolventes em infra-estruturas. Durante alguns anos, as instalações da Orgacine foram utilizadas pela Cinemateca Portuguesa para depósito de material fílmico.

BREVIÁRiO

Imprensa da Universidade de Coimbra edita Os Bispos de Portugal e do Império - 1495-1777 de José Pedro Paiva.

Relógio d’Água edita Os Subterrâneos (1958) de Jack Kerouac (1922-1969); tradução de Paulo Faria.

EXTRAORDINÁRiO

 O INFANTE PORTUGAL
Folhetim aperiódico

 Capítulo Quatro
A MUSA DOS CABELOS DE LODO - 38

 Ela fitou-o então, curiosa, sob felina desconfiança. Magno sorriu-lhe, algo tocante e parcimonioso.

Sob o incógnito, Oktobraia sorveu, de imediato, tal pressão odorizante de aristocrata antigo, ou de intelectual cuja postura cândida logo a sossegou, lânguida. Valeria a pena!

- Deseja algo? Já nos conhecemos, não? - questionou Magno, incómodo pela  sua obsoleta convicção.

Pasmava a eslava. Porém fingida, e em correcto português sussurrou-lhe, com meiguice tonitruante:

- Ando à procura de um protector…

Continua



IMAGINÁRiO125
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PRONTUÁRiO

VALORES

 

Académico, ao representar a tradição e as instituições; subversivo, ao reflectir uma actualidade virtual... O cinema britânico sintetiza o sortilégio de um olhar estilizado entre os conflitos íntimos e os contrastes sociais. Expostos com sensibilidade, drama ou subtil ironia - que a excelência dos actores modela, em testemunho ou atmosfera, com a correspondente identificação do público. Eis, também, os parâmetros explorados por um versátil mas intenso Stephen Frears em Mrs. Henderson - em DVD, sob chancela Lusomundo - sendo protagonistas dois notáveis artistas veteranos: Judy Dench e Bob Hoskins, numa reconstituição histórica inspirada em factos reais. A partir de Londres, por 1937, relata-se a bizarra aventura de Laura Henderson, uma milionária para quem a viuvez significa uma oportunidade para viver a sua vida e forjar o seu destino. Após adquirir o Teatro Windmill, em pleno Soho, contrata como director o duvidoso Vivian Van Damm, causando sensação com espectáculos que primam pela nudez e pela quebra de tabus. Um fenómeno que põe em causa a moral e os preconceitos, rompendo os laços tradicionais entre elites e populares, e atinge o seu expoente trágico mas exaltante no auge da II Guerra Mundial, durante os bombardeamentos aéreos... Entre lágrimas e ruínas, o palco mantém-se como símbolo inviolável da sobrevivência e da liberdade.

CALENDÁRiO

1939-15DEZ2006 - Clay Regazzoni: Piloto de automóveis de Fórmula 1 - «Aprendi com ele o gosto pela vida. Se tinha outro talento, era o de pensar sempre de forma muito positiva» (Niki Lauda).

1911-18DEZ2006 - Joseph Barbera: Cartoonista americano, fundador do estúdio de animação Hanna-Barbera (1944), com William Hanna - «Dar vida à fantasia é um processo muito próprio, mas não devemos atribuir demasiada relevância à criatividade pessoal».

1933-25DEZ2006 - James Brown: «Francamente, não me interessa o que as pessoas pensam... Prefiro fazer as coisas à minha maneira... Gosto de me exprimir alto e em bom som, para que todos saibam que eu estou presente» IMAGINÁRiO57-90.

11JAN2007 - Clap Filmes produziu, e estreia Body Rice de Hugo Vieira da Silva; com Sylta Fee Wegmann e Julika Jenkins.

Primavera de 2007 - As editoras Houghton Miffin (EUA) e HarperCollins (GB) lançam The Children of Hurin que o autor J.R.R. Tolkien (1892-1973) deixou inacabado, e concluído pelo filho Christopher Tolkien após trinta anos de criatividade sobre a lendária Terra Média, povoada por elfos, hobbits e anões. Em causa, a história épica da família do homem que, na Primeira Idade, ousou desafiar Melkor - sagrando um destino colectivo, de «aventuras, tragédia, companheirismo e heroísmo» (Victoria Barnsley) IMAGINÁRiO19.

MEMÓRiA

03ABR1947-1980 - Luís Lello: «Não teve tempo para ser o grande actor que, em potência, se adivinhava» (Jorge Leitão Ramos).

1863-07ABR1947 - Henry Ford: «Ninguém pode construir uma reputação com base naquilo que ainda vai fazer».

PRIORITÁRIO

BD JORNAL - Jornal de Banda Desenhada e Não Só - Sendo director J. Machado-Dias, conjuga alternativas sobre o panorama português, em viabilidade própria e actividade artística, dos modernos aos clássicos, com um vasto leque de crítica e análise, entrevista, noticiário, selecção em quadradinhos; em foco no número 15, o Festival Bd 2006 na Amadora, Frank Giroud e O Decálogo, Pedro Silva e a Bd Mania Edição, os vinte anos de Dylan Dog, o lançamento de Kingpin of Comics, ou em apresentação BRK de Filipe Pina & Filipe Andrade. Contacto: bdjornal@yahoo.com

 

CINEMA - Revista da Federação Portuguesa de Cineclubes - Sendo director João Paulo Macedo, privilegia uma abordagem histórica e analítica sobre a sétima arte, como fenómeno cultural e social, sobre os movimentos nacionais, as obras maiores e as personalidades criativas, os certames em actualidade; em foco no número 35, o XV Encontro Nacional de Cineclubes e o Fike 2006, os cinemas brasileiro e galego, Ingmar Bergman, Sydney Pollack e André Techiné, ou os filmes Apocalypse Now de Francis F. Coppola e Alice de Marco Martins. Contacto: revistacinema@fpcc.pt

TRAJECTÓRiA

 

Pioneiro americano do ramo automóvel, nasceu em Wayne County, Michigan, a 30 de Julho de 1863, de emigrantes escoceses. Estudou na Escola Distrital de Greenfield. Em 1888, casou com Clara Jane Bryant, construindo o primeiro motor na banca da cozinha. Em 1891, ingressou como engenheiro na Edison Illumination Company, de Detroit. Em 1899, associou-se à Detroit Automobile Company. Fundou a Henry Ford Company (1900) e a Ford Motor Company (1903), sobressaindo o Ford Model T (1908-1927) como um dos carros mais vendidos de sempre. Inovador e de ampla perspectiva, foi precursor do recurso à montagem em série (1913) na execução de veículos a preço acessível. Privilegiou a cor preta, para uniformizar o processo de pintura. A partir de 1917, com a entrada dos EUA na I Guerra Mundial, envolveu-se na indústria bélica. Em 1919, atingiu os onze milhões de unidades produzidas. Durante a II Guerra Mundial, adaptou globalmente as suas estruturas às premências militares dos Aliados. As implicações económicas e sociais da sua influência suscitaram um fenómeno analisado como fordismo. Publicou A Minha Vida e Obra (1922), Hoje e Amanhã (1926) e Filosofia de Trabalho (1929), onde explicita os seus princípios e métodos de técnica e mecânica, planeamento e gestão, especialização e fomento. Faleceu em Dearborn, a 7 de Abril de 1947.

ANUÁRiO

1787 - Aimé Argand (1755-1803), químico suíço a viver na Grã Bretanha, patenteia aí o lampião - uma lâmpada de óleo que admitia até dez mechas, e se colocava nos faróis dianteiros dos primeiros automóveis. Os queimadores de tipo Argand adaptaram-se, também, às lâmpadas de gás, introduzidas nas grandes cidades europeias em princípios do Século XIX, para a iluminação pública e doméstica. Até meados do Século XIX, o principal combustível dos lampiões de Argand foi o óleo, inclusive de baleia; mas, ao principiar a exploração do petróleo, seria substituído pelo querosene, mais barato e seguro. Desde que a Humanidade encontrou o modo de alumiar-se, apenas havia ultrapassado a etapa da fogueira ou da tocha, passando para a do candeeiro, pelo que a invenção do lampião constituiu um progresso. O princípio era o mesmo que o do candeeiro: uma mecha submersa num líquido retido. No entanto, neste caso introduzia-se num tubo de vidro bojudo, que tinha a virtude de melhorar a incandescência e, por isso, dava uma chama muitíssimo mais brilhante e duradoura, que ficava protegida do vento e não produzia fumo.

1947 - Livros do Brasil lança o primeiro volume da Colecção Vampiro, uma edição de bolso dedicada à literatura policial, inaugurada com Poirot Desvenda o Passado de Agatha Christie. Seis decénios depois, mantém-se a periodicidade mensal, tendo já ultrapassado o número 700 IMAGINÁRiO66.

1957 - Por meados do Século XX, as relojoeiras suíças fabricavam cerca de trinta e quatro milhões de relógios mecânicos por ano, o quádruplo da produção do seu maior competidor, os Estados Unidos. Entretanto, ia-se forjando uma revolução na indústria de medir o tempo. Em 1952, fruto da colaboração entre a empresa Fred Lip de Besançon, França, e os engenheiros de Elgin, nos EUA, nasceu o primeiro relógio de pulso estimulado por uma pilha. Era um protótipo de laboratório, que nunca chegou a ser posto à venda. Passado um lustro, a companhia Hamilton começa a produzir um relógio a pilhas, e o modelo Hamilton 500 converter-se-á no primeiro relógio de pulso, eléctrico, a obter sucesso comercial.

NOTICIÁRiO

 

 Franz Schubert (1797-1821) - Um dos mais originais compositores d’este século, não só pela fisionomia do seu estilo, pode dizer-se inimitável, mas ainda e principalmente pela criação de um género novo, que nos lieder atinge profundezas de sentimento até aí inacessíveis à música IMAGINÁRiO116.
04FEV1897 - Diário de Notícias

 


Raio X - No laboratório radiográfico do nosso amigo e distinto fotógrafo Sr. Bobone, na Rua Serpa Pinto N.º 89, têm sido feitas algumas curiosas experiências com Raio X. Vimos ali ontem duas magníficas fotografias, uma da mão de um homem, e outra da mão de uma senhora, distinguindo-se em ambas corpos estranhos que ali se tinham introduzido, e que motivavam dores atrozes.
05FEV1897 - Diário de Notícias

BREVIÁRiO

Assírio & Alvim edita Retrovisor - Uma Biografia Musical de Sérgio Godinho de Nuno Galopim.

Tinta da China edita 1.as Páginas - O Século XX Nos Jornais Portugueses de Luís Trindade.

Bertrand edita Andromáca de Jean Racine (1639-1699); tradução de Vasco Graça Moura.

Frenesi edita A Arte de Ter Sempre Razão de Arthur Schopenhauer (1788-1860); tradução de Jorge Pereirinha Pires.

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Heifetz: It Ain’t Necessarily So; trechos clássicos e de jazz, pelo violinista Jascha Heifetz (1901-1987).

Teorema edita Os Tabus da História de Marc Ferro; tradução de Telma Costa.

Esfera do Caos edita Quatro Gigantes: Camões, Garrett, Camilo & Eça de Ramalho Ortigão.

Guerra & Paz edita FotoPoesia de Isabel Ruth: «...O que eu era outrora / já não se lembra de quem sou...»

Fundação Ciência e Desenvolvimento edita Pequenas Histórias Sem Importância de Pedro Serrazina.

Parceria A.M. Pereira edita Salazar, Agora E Na Hora da Sua Morte de João Paulo Cotrim e Miguel Rocha.

Editorial Caminho lança, na Colecção Universitária, O Teatro Para Crianças em Portugal - História e Crítica de Glória Bastos.

Edições 70 lança Fragmentos de Um Discurso Amoroso (1977) de Roland Barthes; tradução de Isabel Pascoal.




IMAGINÁRiO124
24 MAR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004


 PRONTUÁRiO

TRANSPARÊNCIAS

 

Constituindo uma alternativa aliciante entre a literatura e os quadradinhos, a novela gráfica tornou-se um fenómeno incontornável, a partir de meados da década de ’80 do Século XX, pela expressão anglo-americana, ao cativar o interesse de leitores tradicionais e, paralelamente, ao refundir o prestígio da banda desenhada. Apesar da controvérsia ou da resistência. Assim, no início dos anos ’90, e garantida uma correspondente cumplicidade editorial, o irrepreensível Art Spiegelman lançou a escritores maiores, como William Kennedy, John Updike e Paul Auster, o desafio de criarem argumentos que seriam confiados a ilustradores de paralelo gabarito. Afinal, apenas Auster assumiu o projecto, numa versão mutante - através de tradução visual sobre uma das suas obras já publicadas. Grata ao livreiro Bob Callahan, associado a Spiegelman, tal opção acabou por converter-se, em 1994, num momento solitário e excepcional: Cidade de Vidro - primeira parte da Trilogia de Nova Iorque - transfigurada pelo talento correlativo de Paul Karasik e David Mazzuchelli. Entre nós sob chancela das Edições Asa, eis um assombroso turbilhão romanesco - de personagens transparentes sobre fundo negro, de seres complexos em cenários criminais. Segundo Spiegelman, «é como se Quinn, confrontado na Grand Central Station, com dois Peter Stillman idênticos, escolhesse seguir o que tinha sido desenhado com pincel e tinta em vez daquele que tinha sido impresso» IMAGINÁRiO119.

VISTORiA

Assento da Vereação de 30 de Março de 1543, sendo El-Rei D. João III

Aos 30 dias do mez de março do anno de mil quinhentos e quarenta e tres annos, na camara d’esta cidade de Lisboa veio ter um moço de idade de dez annos, o qual era de Vianna de Caminha, que nasceu sem braços e escrevia com os pés lettra muito boa e muito limpa, e cortava com uma thesoura, e cerrava uma carta, e se penteava com os pés, e enfiava uma agulha; e seu pai se chamava Diogo Fernandes, e sua mãe Branca Dias; e por isto parecer cousa monstruosa se mandou pôr aqui por lembrança, pelos srs vereadores que este anno serviam, a saber: D. Garcia de Sa e o dr. Fernao Martins, e assinado por eles. E eu Christovao de Magalhaes, escrivao da dita camara, o escrevi por assim passar na verdade.
Cartorio da Cidade de Lisboa coligido por E. Freire de Oliveira (1885)

CALENDÁRiO

1922-04DEZ2006 - Joseph Ki-Zerbo: Autor de Histoire de l’Afrique Noire (1972), cidadão do Burkina-Fasso - «A África de que o Mundo necessita é um continente capaz de erguer-se, de caminhar pelos seus próprios pés…É uma África consciente do seu passado e preparada para avançar, reinvestindo esse passado no seu presente e no seu futuro».

1935-12DEZ2006 - Peter Boyle: «Não me parece que teria sido actor, se fosse uma pessoa inteligente».

MEMÓRiA

25MAR1347-1380 - Santa Catarina de Siena: «Ser a escrava de Deus significa não estar subordinada à autoridade de nenhum homem».

1643-31MAR1727 - Isaac Newton: «Se eu vi mais longe do que outros, foi porque estive aos ombros de gigantes» IMAGINÁRiO29.

PRIORITÁRiO

 

Editorial Presença lança O Perfume - História de Um Assassino de Patrick Süskind; tradução de Maria Emília Ferros Moura. O romanesco literário (um best-seller em 32ª edição, entre nós - 1986-2006) que inspirou a recorrência cinematográfica por Tom Tykwer, sendo protagonistas Ben Whishaw e Dustin Hoffman, ao abordar uma atmosfera inquietante e assombrada sobre a França do Século XVIII. Em causa, Jean-Baptiste Grenouille - estranho e associal, hipersensível a odores, e obcecado em criar o aroma absoluto. A essência da mulher, por cujo fascínio como perfumista devassará a volúvel volúpia entre monstros e vítimas, tornando-se um fanático, hediondo matador, de requintes sórdidos e abomináveis... Em conexão intemporal, a própria vulnerabilidade ou corrupção do ser humano, crepúsculo que se transcende além duma existência funesta.

TRAJECTÓRiA

NEWTON

 

Isaac Newton nasceu a 4 de Janeiro de 1643 em Woolsthorp, Inglaterra. Órfão de pai e abandonado pela mãe, foi criado pelos avós. Desde cedo atraído pelo artesanato mecânico, em 1661 ingressou no Trinity College, em Cambridge, estudando Matemática e Óptica. Em 1663, formulou o Teorema Binomial. Após a graduação em 1665, e por causa da peste, regressou à terra natal, onde observou a Lei da Gravitação Universal. Pela mesma altura, desenvolveu o Cálculo Diferencial e Integral e desvendou a Natureza das Cores. Em 1668, construiu o Telescópio de Reflexão. Professor de Matemática em Cambridge (1669) e membro da Royal Society (1672), em 1675 definiu a Teoria Corpuscular de Propagação da Luz. Entretanto, dedicou-se à Alquimia e aos Estudos Bíblicos. Em 1679, demonstrou a Lei das Áreas de Johannes Kepler. Relutante em divulgar as suas descobertas, em 1684 revelou-as ao astrónomo Edmond Halley, que o incitou à sua publicação, garantindo as despesas de impressão. Assim, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (1687) conferiu-lhe prestígio mundial e, também, o aborrecimento pela ciência. Em 1687-1690 integrou o Parlamento britânico. Em 1707, editou Aritmética Universalis (de 1673), prosseguindo uma carreira burocrática e académica. Em 1708, recebeu o título de Cavaleiro pela Rainha Anne. Esporadicamente, Sir Isaac Newton retomou o interesse pela investigação da Física e da Astronomia, vindo a falecer a 31 de Março de 1727, em Londres.

ANUÁRiO

1687 - O matemático britânico Isaac Newton publica Philosophiae Naturalis Principia Mathematica - uma das mais importantes obras científicas de todos os tempos - onde desenvolveu a Teoria da Gravitação Universal, que formulara em 1665, explicitando como se movem os planetas e os astros no Universo.

1787 - Lévy Hutchins, um relojoeiro estadunidense que exerce a profissão na cidade de Concorde, inventa o despertador. Hutchins era um maníaco da pontualidade e tinha, por regra invariável, levantar-se às quatro horas da manhã, tanto no Verão como de Inverno. Por isso, quando acordava mais tarde, ficava deprimido durante o resto do dia. Finalmente, construiu uma enorme caixa, dentro da qual introduziu o mecanismo de um dos seus relógios, ao qual acrescentou uma campainha e outro mecanismo que a fazia tocar em cada hora. Hutchins nunca patenteou o seu invento.

EPISTOLÁRiO

 

Ó meu pobre pai, como a tua alma e a minha estariam felizes se, com o teu próprio sangue, tivesses cimentado uma pedra a mais nos muros da Igreja! Choremos, pensando que por nossa falta de coragem deixamos de merecer tamanho bem. E agora, larguemos os nossos dentes de leite; e exercitemos os de adultos: os fortes dentes do ódio e do amor. Revistamo-nos com a couraça da Caridade e empunhemos o escudo da santa Fé. Como homens feitos, corramos ao combate, e aguentemos os golpes, firmes com uma cruz ao peito, e uma cruz às costas...

E para que Deus nos conceda esta graça, a ti, a mim, aos outros, comecemos desde já a oferecer-lhe as nossas lágrimas, e o nosso desejo muito doce, mas muito amargo por causa das nossas falhas que nos privaram de tão grande bem. Eia pois, filho, afoga-te no sangue do Cristo crucificado; banha-te no sangue; sacia-te no sangue; inebria-te no sangue; protege-te, alegra-te e chora por ti mesmo, no sangue; cresce e fortifica-te, no sangue; deixa a tua tibieza e a tua cegueira no sangue do Cordeiro imolado: e iluminado enfim, corre, corre, meu viril cavalheiro, no encalço da honra de Deus, do bem da Igreja, e da salvação das almas - no sangue.
Santa Catarina de Siena - Carta a Frei Raimundo Cápua

PARLATÓRiO

Não sei como irei ser visto pelo mundo, mas, em minha opinião, comportei-me como um miúdo que brinca à beira-mar, e se diverte procurando, uma vez por outra, alguma pedra mais polida e uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano se expunha à minha frente, completamente desconhecido.
Isaac Newton (1727)

 Um dos problemas mais interessantes que se colocam na arte em quadradinhos, é a relação entre os autores, quando a criatividade é partilhada por um argumentista e por um ilustrador. Aquele interroga-se, inevitavelmente: que resolução gráfica irá ter esta ideia? Qual será o aspecto das personagens? O segundo também terá questões a colocar: como imaginaria o escritor esta acção? Onde pretenderia pôr estes diálogos? É por isso que interessa que se conheçam bem, discutam projectos ou opções, mas sobretudo que possuam estilos conciliáveis e, ainda melhor, pretendam testemunhos com idêntica eficácia e direcção. Em circunstâncias extremas, nem assim seria possível uma conversão. Sem especiais escrúpulos ou obsessões, creio que é o que sucede, em última análise, com Maus, e explica bastante o fenómeno do seu sucesso, das análises e interpretações que suscitou. Mas não é uma situação só de agora, ou apenas minha. Vejam-se um exemplo clássico como George Herriman, ou Chris Ware, um dos melhores cartoonistas actuais. São inconfundíveis, e isso acaba por fundamentar o seu prestígio.
Art Spiegelman

EXTRAORDINÁRiO

 O INFANTE PORTUGAL
Folhetim aperiódico

 Capítulo Quatro
A MUSA DOS CABELOS DE LODO - 37

 Apressada, eis que passou então por ele, entre a turba indistinta, uma mística loira. Toda instinto, ferene, naquela oportunidade equívoca. Esquiva, a disfarçar, estrangeirando contudo um rasto aventureiro em vão dissídio patriótico. Ao estilo vocacional de acaso, que atrai mesmo um lúgubre cronista.

Em impulso de estátua, torpe mas com elegância, logrou o cavalheiro Magno sustê-la por um dos braços. A custo, evitando que lhe caísse ao chão a miscelânea de livros e jornais que o ancoravam, no rotineiro turbilhão de leituras e delírios...

Continua



IMAGINÁRiO123
16 MAR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

JUSTICEIRAS

 

Consagrado pelo timbre de Hollywood, o cinema aventuroso forjou uma vertente aliciante sob o signo das mulheres ousadas, sedutoras, rebeldes, heroínas lutando contra as injustiças sociais, os preconceitos masculinos, a par com a liberdade sexual e o reconhecimento próprio. Tal espectáculo de emoção e humor, de fascínio e rendição, favorecido pelo engenho ou pelo empenho de famosas protagonistas, culmina em Bandidas de Joachim Roenning & Espen Sandberg - em DVD, sob chancela Lusomundo - reunindo duas populares vedetas latinas, Salma Hayek e Penélope Cruz, numa produção do prestigiado Luc Besson, também autor da ideia original. A acção decorre por 1888, em plena revolução mexicana, quando a sofisticada Sara e a rústica Maria se cumpliciam, após a vitimação familiar, opondo-se à ilegal apropriação de terras por um banco nova-iorquino, de modo a permitir a expansão do caminho-de-ferro americano. A solução é assaltarem as sucursais dos malvados capitalistas, logrando sucesso e proveito entre peripécias empolgantes e românticas…

CALENDÁRiO

1930-23NOV2006 - Philippe Noiret: «Graças à sua voz, ao seu porte, à sua pose, sabia como compor e comportar em si a alma francesa» (Dominique de Villepin).

1919-23NOV2006 - Anita O’Day, a Jezebel do jazz: «Quando estou a cantar, sinto-me feliz».

1923-26NOV2006 - Mário Cesariny de Vasconcellos: «Ao longo da muralha que habitamos / Há palavras de vida há palavras de morte».

NOTICIÁRiO

Horrível - Don Juan Vicente dirigia-se com sua esposa e filho para uma fazenda nas imediações de Teapa, México, quando lhe saiu ao encontro um bandoleiro, que procurou raptar-lhe a mulher. Don Vicente lutou, conseguindo matar o bandido. Quando, porém, deixou a fazenda para fazer declaração às autoridades saíram-lhe ao encontro um irmão do meliante mais três sujeitos, que lhe cortaram os pés, obrigando-o a andar na ponta dos ossos, e deceparam-lhe depois as orelhas, os pulsos e, tirando-lhe os olhos, finalmente esquartejaram a infeliz vítima, ainda palpitante.
21NOV1855 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

1595-17MAR1617 - Matoaka, aliás Pocahontas - cujo pai, Powhatan, governava a terra a que os ingleses chamavam Virgínia, e «a filha mais querida do rei» (Capitão John Smith).

1906-19FEV997 - Rómulo de Carvalho, aliás António Gedeão: «Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu, / sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito» IMAGINÁRiO82.

PRIORITÁRiO

Lucia Vasconcelos fotografa em expressivo preto e branco, e publica O Rosto da Festa - Açores 2000-2006, com texto de Fernando Aires: «Esta terra açoriana, fragmentada e atirada a distância, pedaços de lava dispersos pelas crateras da desaparecida Atlântida, agiu sobre a alma insular sempre em dois sentidos de fuga opostos: um, na horizontal, de migração para longes terras; outro, na vertical, na direcção da divindade. Expansão e recolhimento interior - dois movimentos antagónicos com a mesma raiz ínsula. Dualidade conflituosa que oscila entre o intimismo e a abertura ao mundo, entre a tensão e a distensão, entre o silêncio e a fala com os estranhos» IMAGINÁRiO23-38-84.

 Editorial Presença lança Alex Rider: Operação Stormbreaker de Anthony Horowitz; tradução de Maria Georgina Segurado. O romanesco literário que inspirou a aventura cinematográfica realizada por Geoffrey Sax, sendo novel protagonista Alex Pettyfer, ao sagrar um imaginário empolgante, de espionagem e sublimação heróica, concebido e consumado à escala dos mais jovens. Em causa, um adolescente que se julga igual a todos os outros, e exposto em circunstâncias extraordinárias a uma espiral de perigos e desafios, cuja assunção desvenda o desígnio humano predestinado, sublimado no conflito entre as luzes e as trevas... Afinal, o bem triunfa sobre o mal - conjugando o elã do espectáculo, sempre reiniciado por outras emoções e ameaças.

TRAJECTÓRiA

POCAHONTAS
A Saga e o Mito

Personalidade consagrada nas origens da América, sob o vínculo colonial, Pocahontas (1595-1617) teve uma intervenção decisiva para a sobrevivência da primeira companhia britânica de Jamestown, na Virginia. O seu nove verdadeiro era Matoaka, e o pai, Powhatan, liderava uma nação Alongquin constituída por mais de vinte e oito tribos, dominante na Costa Leste. Companheira do chefe Kocoum e, sob informação de Ralph Hamor, capturada pelo Capitão Argyle em 1613, como salvaguarda contra ataques dos nativos, Matoaka foi baptizada com o nome de Rebecca pelo Reverendo Alexander Whitaker, que lhe ministrou os ensinamentos cristãos e a cultura inglesa. Em 1614, Pocahontas desposou John Rolfe, cultivador e exportador de tabaco, cujas sementes transportara das Bermudas. Tendo garantido a harmonia entre os dois povos, o casal deslocou-se a Londres com o filho Thomas, em 1616, sendo ela recebida na corte dos Rei James I e da Rainha Anne como Lady Rebecca Rolfe, Princesa do Novo Mundo. Quando se preparava para regressar à América, faleceu em Inglaterra, vítima de varíola, aos vinte e um anos, sendo enterrada na Igreja de Gravesand. Anterior a 1609, a sua relação romântica com o Capitão John Smith - aventureiro, oficial da marinha, cartógrafo e escritor, que narra ter sido por ela salvo, em 1607, após feito prisioneiro pelos índios Opcchanacanough, que pretendiam executá-lo - é considerada mítica, embora se reencontrassem durante a estadia de Pocahontas em Londres.

 A História por Disney

 

Ao tempo da colonização americana, John Smith - um soldado inglês, entre os pioneiros em busca de fortuna - apaixona-se pela bela índia Pocahontas, filha do chefe Powhatan, na Virgínia de 1607. Amor que desafia o antagonismo de raças, desígnios de clã, crenças e culturas, numa época avassalada pelo predomínio territorial. Um imaginário exaltador, em coragem e heroísmo - entre o apelo místico, e um resgate além da fatalidade...

Épico romântico e primitivo, transfigurado pelo espectáculo musical, Pocahontas (1995) - com realização de Mike Gabriel & Eric Goldberg - é a primeira animação longa, sob chancela Walt Disney, baseada em acontecimentos reais - que fazem parte do folclore histórico - sem final feliz, mas sagrando os ideais pacifistas, pela virtualidade mística. Além da tradição lendária, Pocahontas viajou mais tarde para Inglaterra, onde está sepultada.

ANUÁRiO

2004 - JumpCut produz Autografia, com argumento e realização de Miguel Gonçalves Mendes: «Um retrato em três actos» (a vida, o amor, a morte) na óptica de Mário Cesariny de Vasconcellos - «não o escritor ou o pintor, mas sim o homem e as suas convicções».

2005 - Terrence Malick dirige O Novo Mundo, com K’Orianka Kilcher no papel de Pocahontas.

BREVIÁRiO

Lusomundo edita em DVD, O Novo Mundo de Terrence Malick; com K’Orianka Kilcher e Colin Farrel.

Alêtheia Editores lança Intriga Cósmica - Johannes Kepler, Tico Brahé e o Crime Por Trás de Uma das Maiores Descobertas Científicas da História de Joshua Gilder & Anne-Lee Gilder; tradução de Irene Duan Lorena & Nuno Duan Lorena.

Verve/Universal edita em CD, I’m Your Man - Motion Picture Soundtrack de Leonard Cohen.

Relógio D’Água edita Decameron (1351) de Giovanni Boccacio (1313-1375).

Ambar edita O Voo da Passarola de Azhar Abidi; Bartolomeu de Gusmão (1685-1724), entre os feitos da história e a ficção científicaLIMAGINÁRiO61.

VISTORiA


Gota de Água

Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.
António Gedeão

 
Faz-me o favor...

Faz-me o favor de não dizer
absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor! -
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Mário Cesariny de Vasconcellos





IMAGINÁRiO122
08 MAR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004


 PRONTUÁRiO

 MULHERES

 

Embalada pelas lendas, bafejada pelos mitos, inspirada pelas fábulas, a banda desenhada permanece como uma das matrizes virtuais do imaginário - sempre motivada, aliás, ao recriar a identidade ou a fantasia, em sua essência mutante entre o sonho e a arte. Preservando embora a originalidade, o actual testemunho em quadradinhos manifesta, sugestivamente, uma privilegiada subversão dos mananciais clássicos pela realidade em causa... Assim propõe Eu Quero o Príncipe Encantado de Hélène Bruller - entre nós, com a chancela das Edições Asa - aliando a ironia e o engenho, na caracterização de um retrato virtual sobre a personalidade feminina, complexa mas fascinante. Tendo colaborado com Zep na ilustração de Guia Sexual da Malta Nova segundo Titeuf, Bruller desenvolve em estilo próprio uma expressão peculiar e irresistível - cujo grafismo colorido, caricatural, contrasta afinal a discrepância das emoções e dos anseios numa vivência íntima, quanto às neuroses e aos desafios do relacionamento social. O culto e o humor, os modos e as modas, a autenticidade e a diferença, perpassam por Eu Quero o Príncipe Encantado como um lamento exaltante, que cumplicia ou distingue raparigas e mulheres, as nossas heroínas de todas as idades.

ANTIQUÁRiO

08MAR1857 - Em Nova Iorque, operárias da indústria têxtil entram em greve pela igualdade de salários e a redução da jornada de trabalho para dez horas.

11MAR1537 - Fernão Mendes Pinto (1510-83) embarca no navio São Roque, de uma flotilha de cinco com destino a Diu, em auxílio da fortaleza ameaçada pelo poderio turco. Dessa pequena armada fazia ainda parte o Rainha, sob o comando de D. Pedro da Silva, filho de Vasco da Gama IMAGINÁRiO17.

18MAR1947 - Os irmãos Rui e José Andrade fundam - com Fernando Rodrigues, Santos Fernando, Mário de Meneses, Mário Ceia e Manuel Puga - os Parodiantes de Lisboa; ouviram-se no Rádio Clube Português ou na Rádio Comercial, até 1997, com falência de Rui Andrade. José Andrade continuou a Parada da Paródia com os Novos Comediantes, escutados em cerca de trinta emissoras locais e regionais.

CALENDÁRiO

1919-10NOV2006 - Jack Palance: «Uma das mais importantes razões da existência é fazermos algo - viver para além nós e partilhar uma ideia, uma ideia que pretendemos desenvolver e, por fim, completar... Despertando a nossa sensibilidade criativa!»

1927-22NOV2006 - Filipe de Sousa: Maestro e compositor, bibliófilo e coleccionador de arte, «conhecia profundamente a história da música portuguesa» (Mário Vieira de Carvalho).

21DEZ2006 - Lusomundo estreia 20,13 (Purgatório) de Joaquim Leitão; com Adriano Carvalho e Marco d’Almeida.

MEMÓRiA

10MAR1877-1969 - José Tomás da Fonseca: «É o escritor anticlerical português de maior renome» (1897 - Lopes de Oliveira).

14MAR1927-1998 - Mariana Villar: «Continuo fiel à minha primeira paixão: o cinema. Tenho paixão pelo cinema e amor pelo teatro» (1981).

VISTORiA

 

Mas os povos católicos?... Que é Portugal e quem somos nós, portugueses? Escravos duma nacionalidade exausta, com um povo devorado até aos ossos, cheio de fome, sem liberdade, fanatizado, escravizado, inconsciente, miserável... É católica a Espanha. Mas que é a Espanha? Uma nação depauperada, como nós exausta e decadente, também enferma e aviltada. O jesuitismo minou-a desde os alicerces... É católica a Itália. Mas essa só agora começa a libertar-se, fazendo substituir o templo pela escola, o frade pelo professor, o devoto pelo industrial. Porque a Itália tem sido um foco imenso de miséria moral e económica... É católica a Áustria. Mas como Portugal, como a Espanha, a Áustria é uma nação vencida, onde vegeta um povo miserável, em perpétuo conflito consigo próprio, os negócios sempre mal... Isto sem sairmos da Europa, porque o mesmo acontece nas duas Américas. Pois que são o Paraguai, o Brasil, o Chile, o Equador, o México, a Bolívia, católicos, comparados com os povos do norte, protestantes?
Tomás da Fonseca - Sermões da Montanha (1909 - excerto)

TRAJECTÓRiA

JACK PALANCE

 

O aspecto fisionómico, o sorriso cínico, a postura inquietante e uma irónica propensão pessoal fizeram de Jack Palance um dos mais populares malvados, sob o signo de Hollywood. Nasceu Walter Jack Palahnuik em Lattimer (Pensilvânia), a 18 de Fevereiro de 1919, sendo a modesta família de origem ucraniana. O pai trabalhava nas minas do carvão, tarefa que ele principiou também por exercer. Em paralelo aos estudos, na University of North Carolina e na Stanford University, dedicou-se a actividades atléticas, optando por uma profissionalização como pugilista de pesos pesados. Em 1940, alistou-se nos US Air Corps, tendo servido durante três anos; vítima de um grave acidente - a queda do bombardeiro que pilotava, sofrendo queimaduras graves - foi submetido a uma operação de cirurgia plástica, pela qual acentuou mais os seus traços mongólicos.

Em 1947, Palance iniciou uma carreira artística em palco, no Drama Club da Stanford University; dois anos depois, substituía Marlon Brando em A Streetcar Named Desire. Paralelamente, desenvolveu uma extensa actividade radiofónica e televisiva - designadamente para a CBS, em Studio One (1948-57); Playhouse 90, tendo recebido um Emmy ao interpretar um pugilista fracassado em Requiem For a Heavyweight (1956); Zane Grey Theatre, sob o signo do Oeste, ou The Greatest Show on Earth (1963-64); em vários telefilmes, como Dracula (1973), no qual desempenhou um assombrado e perturbante vampiro; além da série Bronk (1975-76), ou da apresentação de Ripley’s Believe It or Not (1982-86). Em 1949, Palance contraiu o seu único casamento com a actriz Virginia Baker - de quem se divorciou vinte anos mais tarde - sendo pais dos artistas Holly (nascida em 1950) e Cody Palance (nascido em 1956).

Em 1950, Palance lançou-se no cinema como gangster - num impressionante Pânico nas Ruas (Panic in the Streets), sob direcção de Elia Kazan - sem abdicar de periódicas intervenções no teatro. Tal como a propósito de Medo Súbito (Sudden Fear, 1952, David Miller), em 1953 recebeu uma nomeação ao Oscar para o Melhor Actor Secundário em Shane (1953), o mítico western de Gordon Douglas; proeza repetida, e finalmente lograda na mesma categoria, em 1991, com a sátira ao Oeste, City Slickers (Ron Underwood); na cerimónia teledifundida mundialmente, ao lado do exuberante Billy Crystal, tornaram-se memoráveis as suas elevações com um só braço. Pelo final dos anos ’50, Palance participou em múltiplos filmes europeus, sobretudo em Itália. Na vida real, um apaixonado pelo Oeste rural, possuía um enorme rancho, Land of Big Acorn, nas montanhas californianas de Tehachapi, onde se dedicava à criação de gado. Faleceu em Montecito, Califórnia, a 10 de Novembro de 2006.

INVENTÁRiO

MARIANA VILLAR

 

Estrela irradiante do cinema português, Mariana Villar foi uma das artistas mais efémeras e intensas. Como actriz ofuscou com a sua presença breve mas talentosa, como mulher exprimiu um encanto genuíno e natural.

Em 1952-54, Mariana protagonizou três longas metragens, sucessivamente dirigidas por Henrique Campos - recriando, em ficções próprias ou adaptadas, uma peculiar visão dramática e social, sobre o bem e o mal.

De certo modo, Mariana converteu-se no rosto e na presença que, simbolicamente, transferiram para o grande ecrã um reflexo estilizado sobre tal realidade nacional, entre dramas, conflitos, expectativas e vicissitudes.

Discreta, calorosa, ela representava um cativante elo feminino na família nossa, urbana ou rural. Inspiradora ou vítima, Mariana assumia a resistência e a coragem nesse pequeno mundo de ameaças e adversidades.

Nas fitas, nas personagens, que Mariana envolvia com invulgar fascínio, aliás muito se recortava da sua energia pessoal. Isso as tornou tão características, tão reconhecíveis com quem as compôs de corpo e alma.

Forjando, pois, um subtil artifício entre o registo codificado e a identidade própria, Mariana logrou uma evolução patente, sobretudo, em cada desempenho específico, cuja coerência inerente era a espontaneidade.

Talvez essa intervenção rápida e reiterada tenha, também, insatisfeito Mariana Villar, quanto às virtualidades de uma carreira em grande ecrã... Até uma ausência de quase trinta anos, preenchida por outros desafios.

Quando Mariana regressou em 1982 - após tantos gestos e máscaras pelo teatro e pela televisão, além da vivência receptiva no casamento e na maternidade - foi um enleio perturbante, como se nunca estivesse afastada.

À câmara de João Mário Grilo, Mariana confiou, porém, mais valores e atributos - segurança ao contracenar, serenidade na prestação. E, sempre, a incomparável fidelidade da sua imagem ao fenómeno das luzes e das sombras.

Assim, Mariana reconfigurou o espírito da actuação à dimensão do espaço fílmico, num contraste sugestivo entre sorrisos e olhares - pelo que destes é inextinguível ou, cúmplice, nos restitui o raro privilégio de espectadores.

Eis um processo mágico - a cinegenia, que supera a exibição e precede a experiência. Envoltas pela simplicidade e pela inteligência, Mariana Villar cumulou-as com a maturidade, que é a dádiva mais generosa a um intérprete.

RELATÓRiO

Longas metragens em grande ecrã: Duas Causas (1952), Rosa de Alfama (1953), Quando o Mar Galgou a Terra (1954), A Estrangeira (1982).

EXTRAORDINÁRiO

 

O INFANTE PORTUGAL
Folhetim aperiódico

Capítulo Quatro
A MUSA DOS CABELOS DE LODO - 36

 

Agora, e junto ao Cinema Eden, Magno deteve-se, instintivamente, como se um sabor a inferno lhe assenhoreasse o palato, golfado das entranhas gástricas. Aquele abrasivo mal-estar era um dos seus sintomas fulcrais, quando algo subtil lhe ia escapando ou precisava de prestar uma atenção.

Já se vê - fatalmente, onde há um coração há uma guitarra. Um luto anónimo, uma luta inanimada. Um madraço, uma mortalha.

Em suma, faltar-lhe-ia - aqui, enfim - um contraponto sexual. A inserir neste lance de elucubrações e reminiscências à desfilada, que o ultrapassavam mesmo na sua locomoção compenetrada. Assim, posto em alerta, o estático Magno tornou-se consciente ao que vinha acontecendo em seu redor.

 Continua




IMAGINÁRiO121

01 MAR 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

FANTASMAS

 

Em cinema, a fantasmagoria e o sobrenatural foram explorados - graças à essência do imaginário - como um domínio virtualizado entre a realidade e o surreal, revestindo personagens de funesta vitalidade. É de tais parâmetros que se reveste Frágeis - em DVD, sob chancela Lusomundo - do catalão Jaume Balagueró, conjugando uma abordagem sofisticada, a partir da tradição britânica, com implicações fascinantes e terríficas. Assim, o centenário Hospital Pediátrico de Mercy Falls está prestes a fechar para ser demolido. Porém, a transferência dos serviços e o desmantelamento das instalações sofrem atrasos por acontecimentos imprevistos ou dramáticos, como um acidente ferroviário. Enviada de Londres para auxiliar no turno da noite, a enfermeira Amy cedo se apercebe duma atmosfera assombrada, a qual assusta as crianças e levanta suspeitas do passado - sobre uma menina mecânica que viveria no terceiro piso, encerrado e selado há mais de quarenta anos... Uma atmosfera victoriana, soturna e dissolvente, sob o fenómeno da paranormalidade, reexpõe os mistérios que sobressaltam entre o céu e a terra, através da premonitória matriz infantil, sobre os obsessivos medos e pavores humanos.

MEMÓRiA

02MAR1867-1930 - Raul Brandão: «Os mortos chamam por nós cada vez mais alto» IMAGINÁRiO48.

1903-02MAR1987 - Randolph Scott: «Era um gentleman. Nunca houve outro como ele. Se no Sul existissem mil Randolph Scotts, os Confederados teriam ganho a Guerra Civil» (Budd Boetticher).

03MAR1847-1922 - Alexander Graham Bell: «Um país que conseguir o domínio do ar, em última análise logrará o controlo do mundo» IMAGINÁRiO36.

07MAR1887-1961 - Stuart Carvalhaes: «A vida da cidade enfastia-me. É questão de saúde. Os vinhos cá fora são melhores, não são tão falsificados» IMAGINÁRiO102.

ANTIQUÁRiO

25JAN1915 - O inventor do telefone, Alexander Graham Bell inaugura o Serviço Intercontinental, entre as cidades de Nova Iorque e São Francisco IMAGINÁRiO36.

01MAR1925 - Em Portugal, principiam as emissões regulares de rádio, com o P1AA-Rádio Portugal e por iniciativa de Abílio Nunes dos Santos Júnior, um amador que, mais tarde, viajou para os Estados Unidos, de modo a estudar o fenómeno e adquirir o mais recente material de radiodifusão.

07MAR1957 - Constituída em 15DEZ1955, por iniciativa do Governo, a Radiotelevisão Portuguesa/RTP inicia, nos Estúdios do Lumiar em Lisboa, as suas emissões regulares, para cerca de sessenta e cinco por cento da população de Portugal. Em 07JAN1980, a RTP principiou as emissões a cores.

2006 - Inspirado na obra artística de Stuart Carvalhaes, José Pedro Cavalheiro/Zepe conclui Stuart, em animação produzida por Zeppelin Filmes e Animais. Alma vagabunda e solitária, etilizada pelos vapores do tinto e pelos sabores das azeitonas negras de talha, Stuart confunde-se com a cidade de sombras e de sonhos, expressando-se a preto e branco.

CALENDÁRiO

1925-21NOV2006 - Robert Altman: «Ser realizador de cinema é uma oportunidade para experimentar muitos tempos de vivência».

23NOV2006 - ContraCosta estreia 667 - O Vizinho da Besta de Eduardo Condorcet; com Ana Azevedo e Carlos Costa.

BREVIÁRiO

Plátano Editora lança Um Sorriso ao Canto da Boca de Sérgio Ferreira [1946-2006]LIMAGINÁRiO26-33-67-104.

2006 - Na Colecção Prémio Stuart, Assírio & Alvim edita, com El Corte Inglés, Stuart, a Rua e o Riso de João Paulo Cotrim.

2006 - Ambar edita Lume Sob Cinzas e Paisagem Com Figuras de Raul Brandão; organização de Vasco Rosa.

2006 - Zeppelin Filmes edita em DVD, Stuart de José Pedro Cavalheiro/Zepe.

VISTORiA

Esta paisagem morta, esta cor de glicínias das pedras, as vagas fantásticas do nevoeiro, descendo até ao lago para ascender e ficar suspenso como um velário, dão-me uma cena irreal de que me custa a separar. Não compreendo bem, não sinto bem a vida desta coisa monstruosa e oculta no oceano só para as aves e os pastores. Há em mim uma apreensão, medo de interromper este grande silêncio e de chegar a ouvir esta grande mudez.
Raul Brandão - O Caldeirão do Corvo  (excerto)

TRAJECTÓRiA

BELL 

Alexander Graham Bell nasceu em Edimburgo, a 3 de Março de 1847, no seio de intelectuais: neto de um professor de retórica, o pai era mestre de dicção. Da mãe colheu inclinação para a música, e foi pela linguística que o adolescente - estudante na cidade natal e em Londres - entrou em contacto com o mundo do som. Tendo contraído tuberculose em jovem, a família emigrou para o Canadá, com um clima benéfico. Em 1870, residiam no Ontário; um ano depois, fixaram-se em Bóston. Recuperado, desenvolveu o método do discurso visível (para expressão dos surdos-mudos de nascimento) com o progenitor, e investigou a transmissão eléctrica da voz humana. Professor de fisiologia da fala na Escola de Retórica da Universidade de Bóston, fazia experiências com o recém criado telégrafo, em 1874, quando construiu o aparelho que lhe proporcionaria fama mundial: o telefone, registado em 1876. Casou-se, então, com Mabel Hubbard. Inventou ainda o audiómetro (para medir a acuidade do ouvido), a balança de indução (que localiza objectos metálicos no corpo humano) e, em 1886, o primeiro cilindro de cera para gravar som, ou gramofone. Em 1892, foi-lhe concedida a cidadania americana. Esteve entre os fundadores da revista Science (1883) e da National Geographic Society, a que presidiu de 1896 a 1904. Em 1895, interessara-se pela aeronáutica, organizando a Associação Para Experiências Aéreas (1907). Faleceu em Cape Breton, Nova Escócia (Canadá), a 2 de Agosto de 1922.

RANDOLPH SCOTT

 

Era alto, sólido, insinuante, por vezes áspero, patenteando uma enorme resistência. Portanto, seria reconhecido como um dos ídolos de Hollywood, consagrando o ideal americano da aventura, contra todas as adversidades e tomando as suas próprias decisões. E foi assim, mesmo na vida real, sendo considerado o cavalheiro da Virgínia. Segundo Lee Marvin, um especialista em anedotas sobre o seu colega, enquanto um duplo rodava as cenas perigosas, Randolph Scott permanecia no local, mas nem olhava, lendo tranquilamente o Wall Street Journal! Ainda jovem, exercendo já a profissão de engenheiro, Scott optou pelo palco. Então, iniciou-se como actor na Pasadena Community Playhouse. Tendo conhecido o milionário Howard Hughes em plena partida de golfe, uma paixão de sempre, logrou as suas primeiras aparições em grande ecrã por finais de 1927. Durante uns tempos, fez várias tentativas para uma autêntica apresentação no cinema. Conseguiu-o dois anos depois, numa intervenção já saliente em The Far City (1929).

A partir de meados dos anos ’30, Randolph Scott passou a controlar a sua própria carreira artística, fazendo nítidos ensaios - quanto às personagens mais a seu gosto, àquelas que melhor se coadunavam ao seu tipo carismático, ou que poderiam suscitar uma maior adesão entre o grande público. A princípio repartiu-se, pois, por uma significativa variedade de actuações românticas. Nesses tempos de experimentação, partilhou a sua residência com outro estreante, de nome Cary Grant! Depois, Scott tornou-se protagonista de vários filmes baseados em novelas de Zane Grey, sendo considerado - em regime de privilégio, após meados dos anos ’40 - o herói/mito do Oeste por excelência. Proprietário da empresa produtora Ranown, associado a Harry Joe Brown, financiou desde 1952, ao estilo da Série B, uma famosa série de westerns em que Budd Boetticher o dirigiu.

George Randolph Crane Scott, de seu nome completo, nasceu em Orange County (Virginia), em 1903. Na prática, iniciou a vida adulta com catorze anos - ao mentir precisamente quanto à sua idade, para se alistar nas forças de combate, durante a I Guerra Mundial. De regresso a casa, decidiu prosseguir a sua formação académica. Estudou engenharia na University of North Carolina e formou-se na Woodberry Forest School. Ao longo dos decénios, e apesar dos desníveis de produção e da própria qualidade das fitas, Scott soube envelhecer, habilmente, um recorte pessoal e mesmo as suas personagens. Concluído Ride the High Country (1962) para Sam Peckinpah, onde assume com humor e nostalgia o seu próprio culto, retirou-se do cinema. Afinal, pôde desfrutar uma das maiores fortunas de Hollywood, avaliada entre cinquenta e cem milhões de dólares - incluindo investimentos em seguros, imobiliário e petróleo. Foi casado com Marion Summerville e Pat Stillman (1944). Faleceu em 1987.

INVENTÁRiO

 STUART

 


José Herculano Stuart Torrie D’Almeida Carvalhais nasceu a 7 de Março de 1877 em São Pedro, freguesia de Vila Real de Trás-os-Montes. Em 1901, fixou-se com a família na capital, Campo de Ourique. Em 1903, saiu do Real Instituto de Lisboa. Em 1905, começou a trabalhar no estúdio de Jorge Colaço. Iniciou-se como caricaturista, pela sátira de teor político. Em 1913, partiu para Paris, Montparnasse, onde foi publicado e reconhecido. No regresso, introduziu a banda desenhada em Portugal, com O Quim e o Manecas (1915) em O Século Cómico. Foi um dos fundadores de O ABC-zinho (1921). Colaborou em A Corja e no Diário de Lisboa. Em 1930, retomou O Quim e o Manecas no Sempre Fixe. A partir de 1933, em pleno Estado Novo, explorou a crítica de cariz social. Em 1940-50, ilustrou para o Diário de Notícias. Denunciou a tragédia de duas Guerras Mundiais. Em 1949, recebeu o Prémio Domingos Sequeira. Devotado à boémia da Lisboa popular, aí encontrou fecunda e estilizada inspiração, da miséria à prostituição, usando todo tipo de materiais - carvão, pau de fósforo queimado, borra de café, mancha de vinho, guardanapos, papéis gastos. Modernista, trabalhava rápido e em traço livre, deixando milhares de originais dispersos. Trocados por comida, um copo, cigarros, remédios ou dinheiro para a renda de casa. O preço duma sobrevivência malbaratada, a que correspondia o mais versátil talento - como pintor, fotógrafo, cenógrafo, figurinista, decorador, autor de cartazes ou capas de discos. Faleceu em Lisboa, a 2 de Março de 1961.



IMAGINÁRiO120

24 FEV 2007 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano IV · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

INSPIRAR

Testemunho da primeira edição do Farol de Sonhos - Encontro Internacional Sobre o Livro e o Imaginário Infantil, que a Biblioteca Municipal de Cascais acolheu, em São Domingos de Rana, entre 11 e 15 de Outubro de 2006 - três obras alusivas foram publicadas, em si mesmas estimulantes e significativas: José Barata Moura - «um homem de pensamento e acção», segundo o «retrato imperfeito» traçado por José Jorge Letria, «e figura de referência da nossa contemporaneidade»; Katsumi Komagata - autor entre simplicidade e a genialidade, ao conceber e realizar, «com cuidado de artesão, livros que relatam pequenas histórias» (Eduardo Filipe, Ju Godinho e André Letria); e Anamalaminute - uma surpreendente exposição sobre o talento de vinte ilustradores, correspondendo ao desafio para representarem os seus animais de estimação, reais ou figurados. Projecto recorrente «de educação e de cultura» - na aliciante síntese do Presidente da Câmara de Cascais, António d’Orey Capucho - o Farol de Sonhos concretiza uma ideia original de José Jorge Letria e André Letria, aliando o melhor da criatividade e da experiência, em Portugal e no estrangeiro, tendo em vista um envolvimento privilegiado dos mais jovens.

CALENDÁRiO

1925-01NOV2006 - William Styron: Autor de A Escolha de Sofia, «podíamos ler dez páginas suas e dar por nós, sem nos apercebermos disso, em águas profundas. Até as pequenas coisas eram terrivelmente boas» (Tom Wolfe).

09NOV2006 - No Quarteto, Bosque Secreto estreia Brumas de Ricardo Costa - Peniche, uma viagem no tempo; e O Beijo de Solveig Nordlund - com Rita Miranda e André Nunes.

14NOV2006 - Em Seattle, Bill Gates apresenta o leitor multimédia Zune; o novo media player da Microsoft, com tecnologia wireless sem fios, lê ficheiros de áudio, de vídeo e de fotos, trazendo incorporado um sintonizador de rádio, e será lançado na Europa até ao fim de 2007.

1952-15NOV2006 - René Stern: autor de Adler, de que foi modelo físico e piloto aventureiro em quadradinhos: «Proponho uma certa visão do Mundo». 

1927-17NOV2006 - Ferenc Puskas: «Faz parte da história do futebol. Tinha um remate poderoso e uma aceleração incrível» (Luis Suárez).

23NOV2006 - ContraCosta estreia Juventude em Marcha de Pedro Costa; entre as ruínas do Bairro das Fontainhas, com Mário Ventura Medina e Vanda Duarte. Columbia & Warner estreia 007 - Casino Royale de Martin Campbell; o regresso de James Bond, em remake sobre o romance de Ian Fleming para a série oficial, sendo novo protagonista Daniel Craig IMAGINÁRiO63.

MEMÓRiA

1923-1997 - Gilbert Delahaye: poeta, criador e autor de Martine/Anita, sendo ilustrador e continuador Marcel Marlier LIMAGINÁRiO113.

ANUÁRiO

1941 - Ian Fleming viaja a Portugal - onde assiste, no Casino do Estoril, a uma partida de bacará entre espiões, que inspirou Casino Royale (1952), o seu primeiro livro sobre a saga de James Bond - 007.

1947 - Manuscritos do Mar Morto - Numa primeira gruta de Qumran, junto ao Mar Morto, descoberta por dois pastores beduínos que andavam à procura duma ovelha perdida, são encontradas inúmeras ânforas repletas de rolos de papiro, contendo manuscritos pertencentes aos Essénios, comunidade judaica que viveu entre 150 aC e 70 dC. A pesquisa arqueológica subsequente, iniciada pelo dominicano Roland de Vaux (1903-1971), tendo-se prolongado até 1956, revelou um total de onze cavernas que seriam local do cenóbio duma seita monástica e ascética, a que terá pertencido Jesus Cristo.

1957 - Formato Reduzido - Em Portugal, o Decreto-Lei Nº 41062 vem permitir a importação, distribuição e exibição livre de filmes em formato sub-standard, visando estimular a construção de novos cinemas. Conhecida como regulamentação do filme em 16 mm, tal legislação pretenderia - como a Imprensa reflectiu - «evitar a venda e divulgação, mesmo em exibições particulares, de filmes de formato reduzido de carácter imoral ou subversivo» (Plateia), incidindo também sobre a produção. Tornava-se necessária uma Licença de Exibição da Inspecção-Geral dos Espectáculos, e o pagamento de uma Taxa correspondente a 20% das impostas para os filmes em 35 mm. Exceptuando os de carácter científico e técnico, quando sujeitos à Inspecção ou em poder de estabelecimentos oficiais que os utilizassem para fins didácticos, as empresas distribuidoras, casas comerciais, associações desportivas e recreativas, e quaisquer outras colectividades, não podiam alugar, vender, exibir ou ter em seu poder filmes (de formato inferior a 35 mm), que não fossem visados pela Comissão de Censura. Os filmes apreendidos iam a hasta pública - caso pudessem ser comercializados, revertendo o produto da venda para o Fundo do Cinema Nacional; ou eram queimados - levantando-se um auto de inutilização.

GALERiA

Anita

Uma adolescente como as outras, com quem tem partilhado vivências através de gerações, Anita nasceu em 1954, com a publicação do seu primeiro álbum, Anita na Quinta, originalmente chamada Martine, sob chancela Casterman. O escritor Gilbert Delahaye foi o criador, sempre com ilustração de Marcel Marlier, até à morte do autor em 1997, quando as histórias passaram a ser concebidas também por Marlier e pelo filho, Jean-Louis. Desde a primeira aventura, Anita contou com o irmão João, a menina africana Berta e o gatinho Pom-Pom. O cão Pantufa surgiu em Anita na Praia, o terceiro livro. A partir de 1958, o nome Marlier também aparece na capa e, com Anita no Carrossel, o desenho assumiu diversos contornos. A evolução gráfica ressaltou em Anita na Montanha (1959), acentuando-se o realismo e a profundidade. Em 1965, a colecção foi lançada em Portugal, com Anita Dona de Casa. Quatro anos depois, Anita e a Festa de Anos deu início a um tipo de expressão sucedânea em quadradinhos. Nas décadas de ’70 e ’80, Marlier experimentou técnicas várias de efeito plástico e de narrativa com balões. Nos anos ’90, Delahaye envolveu Anita em temáticas de intervenção social, como Anita no Hospital (1996). Com a viragem do milénio, um novo álbum passou a ser editado em cada doze meses. Actualmente entre nós, a cargo da Editorial Verbo, estão disponíveis quarenta e três títulos de Anita - que, divulgada em todo o mundo, e com álbuns traduzidos em quase todas as línguas, é também conhecida como Martine (França), Zana (Albânia), Martina (Alemanha), Maja (Croácia), Mimmi (Dinamarca), Marinka (Eslovénia), Martita (Espanha), Debbie (EUA), Mary (GB), Mamika (Grécia), Tiny (Holanda), Marti (Hungria), Tini ou Martini (Indonésia), Mairin (Islândia), Lilli (Itália), Mapuka (Macedónia), Martinka (Polónia e República Checa) ou Aysegül (Turquia).

VISTORiA

 

O Mestre ensinará os santos a viver segundo o livro da Regra da Comunidade, para que possam procurar Deus com todo o coração e alma, e fazer o que é bom e correcto perante Ele tal como Ele ordenou pela mão de Moisés e de todos os Seus servos os profetas; para que possam amar tudo o que Ele escolheu e odiar tudo o que Ele rejeitou; para que possam abster-se de todo o mal e perseverar em todo o bem; para que possam praticar a verdade, a rectidão e a justiça na terra e deixar de seguir teimosamente um coração pecaminoso e olhos lascivos, cometendo todo o tipo de mal. Ele admitirá na Aliança da Graça todos aqueles que se devotaram livremente à observância dos preceitos de Deus, para que possam juntar-se ao Conselho de Deus e possam viver perfeitamente ante Ele de acordo com tudo o que foi revelado referente aos seus tempos determinados, e para que possam amar todos os filhos da luz, cada um segundo o seu lote no desígnio de Deus, e odiar todos os filhos das trevas, cada um segundo a sua culpa na vingança de Deus.
Manuscritos do Mar Morto (Manuscrito iQS - excerto)

BREVIÁRiO

2006 - Ésquilo edita Manuscritos do Mar Morto de Geza Vermes; tradução de Rosário Morais da Silva, revisão científica por António de Macedo.

NOTICIÁRiO

A actriz Cinira Polónio organizou uma troupe, partindo com ela em excursão pela província. Contratou o Theatro do Príncipe Real em Coimbra, onde deu o seu primeiro espectáculo. Foi com a troupe o animatographo que ultimamente trabalhou no Theatro D. Amélia.
01FEV1897 - Diário de Notícias

INVENTÁRiO

 

Paródia às fitas de espionagem da saga de James Bond e sucedâneas, a partir do primeiro romance do género por Ian Fleming, cujos direitos de adaptação fílmica foram adquiridos anos antes de Albert R. Broccoli e Harry Saltzman iniciarem a série oficial.

Charles K. Feldman & Jerry Bresler assumiram a produção. Com um orçamento avaliado em seis milhões de dólares, a rodagem principal começou em Janeiro de 1966, com realização de John Huston, Ken Hughes, Val Guest, Robert Parrish e Joe McGrath.

Envelhecido e retirado, nostálgico das suas proezas com a amada Mata-Hari, (o agora) Sir James Bond (David Niven) é requerido pelos líderes dos serviços secretos britânico (Intelligence Service), francês (Deuxième Bureau), americano (CIA) e soviético (KGB), para combater o crescente poder da S.M.E.R.S.H., através do diabólico Le Chiffre (Orson Welles)...

Pouco resta da ficção original, e excelentes autores (como Billy Wilder e Ben Hecht) trabalharam no argumento (atribuído a Wolf Mankowitz, John Law & Michael Sayers), desgarrado e inconsequente - o que foi agravado por uma filmagem desfasada, entre os referidos directors.

O elenco inclui também Deborah Kerr, Peter Sellers, Ursula Andress, William Holden, John Huston, George Raft, Jacqueline Bisset, Woody Allen, Charles Boyer, Jean-Paul Belmondo ou Peter O’Toole.

Burt Bacharach compôs a banda musical, cuja canção The Look of Love atingiu os tops do sucesso. A estreia mundial decorreu em Londres, a 13 de Abril de 1967. Nos Estados Unidos e Canadá, rendeu - até 1984 - cerca de 10.200.000 dólares.




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