Coisitas...gralhas! - 11

 


ESTEREÓTIPO
- Proveniente do grego stereós, sólidos + typos, tipo, esta palavra, muito usada em artes gráficas, segundo o lexicógrafo Artur Bivar, com o sentido específico de obra impressa numa prancha de caracteres fixos, mas que algumas pessoas empregam, em sentido figurado, com a significação divergente de: padrão, lugar-comum, chavão, modelo ou paradigma, não se deve pronunciar como rima de pipo ou Xantipo, mas sim estereótipo, com acentuação esdrúxula. E isto porquê? Justamente porque, sendo i grego de typos breve, o acento predominante, como é da regra, terá de recair sempre a vogal da sílaba anterior. Recordemos, a propósito, estes exemplos, de formação idêntica: logótipo, linótipo e protótipo, que nenhuma pessoa bem falante articula como palavras graves.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


ESTAR EM STAND BY
- Ouvimos há dias, com bastante desagrado, em certo hospital de Lisboa, um médico muito conceituado dizer para dois pacientes octogenários que, dada a grande acumulação de trabalho, teriam de ficar ambos em stand by para serem operados às cataratas. Ora estes doentes, perante a expressão utilizada, cujo significado certamente desconheciam, não solicitaram logo, por acanhamento, esclarecimentos acerca do respectivo significado. Recorreram, pouco depois, em muito boa hora, ao precioso auxílio de uma carinhosa enfermeira, que, com bastante delicadeza, os elucidou acerca do assunto, dizendo que estar em stand by significava o mesmo que ficar em lista de espera.
Para que havemos de empregar palavras espúrias, de construção anglo-portuguesa, como a citada em epígrafe, se nos podemos expressar, com mais simplicidade, por meio de termos nacionais, cujo significado qualquer pessoa menos esclarecida pode apreender rapidamente, sem ter precisão de recorrer ao auxílio de tradutores?
Aqui deixamos expresso um voto de louvor para aquela enfermeira, que tão rapidamente soube encontrar solução para esclarecer a legítima ignorância daqueles dois infaustos pacientes, que, malgrado a sua avançada idade, ainda teriam de ficar (sabe-se lá até quando) em lista de espera! Deus a recompense, que bem o merece, pela sua desinteressada e oportuna cooperação linguística!
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


Esta é uma redacção feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco - Recife)

 "Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos.
(...)
Redacção completa aqui.


Os Média e a Ordem de Fénix
    
 Vinte e um de Junho. Primeiro dia do Verão. Mais um "best-seller" à venda por todo o mundo: Harry Potter e a Ordem de Fénix - infelizmente, os locutores portugueses esqueceram a lição de Bagão Félix (/félis/ e não "felics") e caíram logo na esparrela, pronunciando "fénics" em vez de /fénis/. Ou "finics", à inglesa, como preferiu um locutor da SIC, embora o resto do título tenha sido dito em português…
     Também na SIC, sobre o aniversário de Príncipe Guilherme, se referiu que o príncipe já começava a ser perseguido pelos "mídia"… Anglicismo ou brasileirismo? É que média vem da palavra latina 'media', plural de 'medium', que significa meios e se pronuncia /média/. "Mídia" diz-se e escreve-se no Brasil, forma adaptada directamente da palavra media, pronunciada à inglesa...
     
/Iôga/ ou /Ióga/?
    
 O primeiro dia de Verão foi, para praticantes de Ioga em Portugal de uma determinada escola, o "Dia Nacional do Yoga". A comemoração foi feita no Estádio Universitário, em Lisboa, no dia 22, e a televisão esteve lá.
     No noticiário, o locutor pronunciou a palavra com um "o" fechado, "/iôga/", acrescentando: "É esta a forma correcta de se dizer". Ora, se se quer esclarecer, talvez seja preferível dizer-se: "É esta a pronúncia preconizada pela escola".
     Em português de Portugal sempre ouvi dizer /ióga/. "/Iôga/"está de acordo, creio, com a pronúncia da palavra na sua origem e a escola pode optar por essa pronúncia. Daí a afirmar-se que é a maneira correcta… Vão lá dizer aos franceses que o correcto é "/iôga/" e não "/iogá/"…
     E ainda a propósito deste assunto: em Portugal, o alfabeto português não tem Y. Por isso, a forma correcta de se escrever é Ioga - mesmo que a escola opte por Yoga…
Do Ciberdúvidas


Tema
Ponto nas abreviaturas, de novo

Pergunta/Resposta
   Porque é que se escreve sr. ou dr. com o ponto no fim e não se segue a regra utilizada na abreviatura eng.º em que o ponto substitui as letras suprimidas?
António Fernandes
Portugal

   De fa(c)to, numa abreviatura Eng., o ponto representa todas as letras suprimidas que estão depois da última letra. Mas nem sempre é assim, não podemos aceitar que esta seja uma regra rígida: por exemplo, em n.º, o ponto só representa parte das letras suprimidas depois das primeiras.
   O que se terá passado em Sr. ou Dr. é que a partir de originariamente S.or, D.or (com or em índice superior e o ponto a representar as letras intermédias [«Vocabulário Ortográfico» da Academia das Ciências de Lisboa, 1940]), foi ado(p)tada uma escrita só com o r (e este descido) por simplicidade. Então, dado que não é habitual pontos entre letras nas palavras do léxico, o ponto transitou para o fim: Sr., Dr. Neste caso, o ponto representa, da mesma maneira, letras que foram suprimidas (entre a primeira e a última letra).
   Isto parece um pouco arbitrário? Contrariando a lógica?
   Para o tranqu[ü]ilizar, lembro cara(c)terísticas do signo lingu[ü]ístico: Não é inteiramente livre, para que possa ser entendido por toda a comunidade lingu[ü]ística que o utiliza; é arbitrário (não segue sempre `estritamente´ regras ou lógicas) pois depende sobretudo da escolha dessa comunidade; carreia uma substituição.
   Ora, uma vez ado(p)tados Sr., Dr., na nossa comunidade, para signos escritos abreviados, em substituição respe(c)tivamente das palavras senhor e doutor (por sua vez também signos lingu[ü]ísticos) não somos livres de sobranceiramente preferir, por exemplo, *Sen. ou *Dou. No entanto, as ado(p)ções feitas não deixaram de ser arbitrárias: repare-se que a abreviatura Dr. já não é conveniente para substituir doutor quando se trata de alguém com o grau acadé[ê]mico de doutoramento (como, noutra comunidade, aos significados da palavra doutor na língua portuguesa pode estar associado um significante diferente...).
   
          Ao seu dispor,
D’Silvas Filho ®
Do Ciberdúvidas


Tema
«O mais mauzão» ou «o piorzão»?

Pergunta/Resposta
   Uma vez que na língua portuguesa não se pode dizer «o mais mau», expressão que deve ser substituída por «o pior», pergunto se em substituição de «o mais mauzão» se deve optar por dizer «o piorzão» ou, pelo contrário, se pode dizer mesmo «o mais mauzão».
Tiago Nené
Portugal

   Podemos empregar o mais mau em vez de «o pior». E também da natureza social de quem fala.
   O mesmo podemos dizer acerca de o piorzão ou o mais mauzão, etc.
   Felizmente que a nossa língua é suficientemente maleável para podermos empregar uma destas palavras ou expressões apresentadas. Tudo depende do contexto e/ou da situação e também das pessoas que falam: da sua cultura, profissão, maneira de ser, região onde trabalham, etc.
   Por tudo isto, só poderei dar uma resposta completa e clara, se o prezado Tiago me apresentar um texto ou textos, mesmo pequenos que sejam, em que se encontrem em evidência as palavras que deseja esclarecimento.
   Mas vejamos, pelo menos, algumas das suas afirmações:
   a) «… não se pode dizer "o mais mau", expressão que deve ser substituída por "o pior"».
   Nem sempre é verdade. Ora vejamos esta frase:
   «Aqueles quatro amigos são todos maus. Mas o mais mau é o que está lá atrás.»
   Dizemos o pior, quando nos referimos a outros casos, como por exemplo à profissão:
   b) «Aquele é o pior dos serralheiros que conheço.»
   Quanto a «o mais mauzão» ou «o piorzão», é preferível este. Não temos o hábito de dizer «o mais mauzão». É claro que também não é vulgar empregarmos «o piorzão», mas em determinadas situações não fica mal.
José Neves Henriques
Do Ciberdúvidas


Literatura bolsista

Segunda, 30
    A página PLM Invest (análise bolsista) comete duas proezas: é uma das mais visitadas na Internet em Portugal e, em cerca de 600 palavras, colecciona 41 erros. Faltam acentos, intromete-se vírgula entre o sujeito e o predicado, utilizam-se palavras estrangeiras com equivalência em português (por exemplo, «dollar» por dólar, «research» por pesquisa).
    Como o meritório autor é estudante (economia e gestão), uma colaboradora de Ciberdúvidas enviou-lhe uma mensagem electrónica em que indicava os principais lapsos e lhe sugeria que, para evitar tantos atropelos de português, procurasse ajuda.
    Transcrevemos parte da resposta:
    «Muito obrigado pelos seus /comentarios/, mas /infelismente/ a minha /pagina/ dedica-se a investimentos bolsistas e não a poesia ou literatura, pelo que estou mais preocupado com o seu /conteudo/ do que com a apresentação, ou propriamente com o /sitio/ onde ponho as /virgulas/, ou se escrevo /DOLLAR/ ou /dolar/, etc., etc.»
    Aqui está um jovem que ainda não descobriu a poesia, a literatura trágica, que pode existir na súbita descida das acções de uma das empresas que os analistas - também eles uns poetas - consideram seguras.

Carlos Marinheiro - Do Ciberdúvidas


Tema
Algarismos romanos: zero


Pergunta/Resposta
   Gostaria de saber se tem como escrever o zero em algarismo romano?

Anderson André Rinaldi
Brasil


   A pergunta que nos faz o prezado consulente é pertinente.
   A resposta imediata é que não: os romanos, tal como os gregos, nunca usaram qualquer símbolo para denotar o zero. Esta é a razão por que não houve ano zero no nosso calendário, e fonte de tanto debate acerca da passagem do milénio.
   A numeração romana, embora sofrendo várias alterações, sobreviveu até bastante tarde – o seu uso corrente na Itália durou até à Idade Média, quando a imprensa popularizou os números como os conhecemos hoje. O mesmo se passou com a numeração grega que, ao que parece, foi usada em Constatinopla até ao século XV. No entanto, esta evoluiu para um sistema decimal não posicional ao qual foi adicionado um símbolo para o zero semelhante ao nosso h invertido. Tal nunca aconteceu com a numeração romana.
   Quanto à origem do zero, haveria muito mais para dizer do que o espaço que me é aqui conferido permite. Tem tanto de incerta como de fascinante. Especula-se que Arquimedes poderá ter usado a letra grega omicró (inicial de "ouden" = lacuna, nada) para indicar a ausência de minutos ou segundos num arco. Mas parece mais verosímil que tenha tido origem nos sistemas de numeração posicional dos hindus, dos quais existem documentos de data incerta (talvez do século III) onde se  regista o seu uso. Estes podem ter ido buscar o símbolo ao mesmo "ouden" dos gregos. Já os Babilónios usavam um ponto com função de zero. Tal como fizeram os árabes, talvez para o distinguirem do símbolo que usavam para o cinco.
   O zero foi posteriormente introduzido no Ocidente, através da Espanha, pela numeração árabe "ghubar". Esta numeração era usada em Espanha já no século V, mas possivelmente ainda sem zero. Sabe-se que o Papa Silvestre II foi a Espanha aprendê-la no século IX, mas, uma vez mais, ainda sem zero. Terá pois sido entre os séculos X e XII que o zero se estabeleceu definitivamente na Europa ocidental. No seu "Liber Abaci", em 1202, Leonardo Fibonacci refere-se aos numerais árabes nos quais inclui já o "zephirum" (zero).

Manuel Portilheiro
Do Ciberdúvidas


Tema
A pronúncia da palavra ontem

Pergunta/Resposta
   Gostaria de saber, dado que me questiono constantemente, se a palavra ontem diz-se /óntem/ ou /ôntem/?
Ana A. Amaral
Portugal


   Pronuncia-se com o o fechado (ô) e nasal (on = õ). É este o valor normal da nasal representada por õ, om e ou, conforme os casos.
F. V. P. da Fonseca

Texto publicado no Ciberdúvidas.
Autoria de Maria Regina Rocha

Os erros de Marcelo

     Marcelo Rebelo de Sousa é um comentador de acontecimentos políticos, protagonista de um programa intitulado "As Escolhas de Marcelo", emitido aos domingos no primeiro canal da televisão pública portuguesa, RTP. No último domingo, dia 17 deste mês de Abril, resolveu alargar o âmbito do seu comentário e criticar erros de políticos na utilização da língua portuguesa. Mas... diz o povo, no seu entendimento de séculos, «Olha para ti e fica-te por aí» ou «No melhor pano cai a nódoa». E desta vez caiu. E não foi uma, não; foram, pelo menos, seis. A mostrar que todos, quando falamos e estamos preocupados mais com o conteúdo do que com a forma, por vezes cometemos erros, e por isso não nos fica bem criticar tão fortemente os outros, desvalorizando o contexto em que ocorreram esses erros criticados (num caso, um erro quase no final de uma entrevista de uma hora em directo; nos outros, um erro em discurso espontâneo, de improviso).
(...)
Restante artigo aqui.

Do Ciberdúvidas


Tema
Ouvir na televisão ou ouvir pela televisão?


Pergunta/Resposta
   A dúvida que sempre me pareceu simples, devido a outro tópico de cá, deixou-me um pouco duvidoso.
   Que "ouvir pela televisão" está correto, não há dúvidas. O problema é se "ouvir na televisão" está correto também.
   A meu ver a segunda construção apenas estará correta se a pessoa estiver de fato na televisão (= emissora), ou seja, se ela estiver no estúdio donde veio a notícia que ela ouviu. No caso da pessoa estar sentada no sofá vendo a televisão, então, para mim, o mais apropriado seria "ouvir pela televisão". Mesmo porque a intenção é de adjunto adverbial de meio.
   O que acham?
Sílvio César Otero Garcia
Brasil

   Do meu ponto de vista ambas as frases são adequadas. Quando se diz «Ouvi na televisão» considera-se a TV como espaço estático onde se dizem (ou mostram) coisas que poder ouvir ou ver. É a expressão que usamos com outros meios de comunicação: «Li no jornal; vi no jornal», mas diz-se «Soube pelo jornal» ou «Ouvi na rádio; soube pela rádio».
   Em qualquer das situações, quando se utiliza a preposição por, a frase ganha mais dinamismo, e a TV, a rádio ou o jornal tornam-se meios que transmitem informações ou imagens. Não são apenas locais onde se encontram notícias, são meios através dos quais as informações passam.
   
   Edite Prada
Do Ciberdúvidas


Tema
Pinto calçudo

Pergunta/Resposta
   Gostaria de saber a origem da expressão «pinto calçudo». Sei que há uma personagem na obra de Oswald Andrade, Serafim Ponto Grande, com este nome, mas também tenho ouvido a expressão aplicada a crianças.
   Obrigado.

Eduardo Vaz
Professor
Vila Real
Portugal


   Pinto calçudo é a denominação de um pinto que tem as pernas revestidas, em grande parte, de plumagem. Calçudo é palavra derivada de calças. Essa plumagem do pinto é comparada a umas calças. Nem todos os pintos têm essa plumagem, só algumas espécies, que constituem uma minoria em relação à generalidade dos pintos.
   Por extensão, designava-se pinto calçudo o rapazito cujas calças aderem às pernas, que deixou os calções pelas calças compridas, que já não é menino mas ainda não é homem, e se mostra algo desajeitado na sua pele. O termo também se aplica a alguém que usa calças estreitas e ridículas, que não chegam bem ao fundo das pernas ou que está mal arranjado ou se veste desajeitadamente, ferindo a norma clássica.
Maria Regina Rocha
Do Ciberdúvidas

Tema
O feminino de carteiro

Pergunta/Resposta
   Sendo uma profissão onde já é normal encontrar muitas mulheres a desempenhá-la, gostaria de saber como as nomear.
   Obrigado.
João Guerreiro
Faro
Portugal


   As mulheres colegas de trabalho dos carteiros são carteiras! O fa(c)to de a palavra carteira ter um homónimo, isto é, uma outra palavra com igual grafia e sentido diferente, não vai, certamente, causar problemas de comunicação, pois o contexto ajuda a perceber o sentido. Numa frase como «A Maria é carteira», toda a gente vai perceber que carteira é a profissão da Maria. Do mesmo modo se se disser a «Maria perdeu a carteira», ninguém vai pensar que a Maria perdeu uma colega…
   Há outras situações semelhantes, como, por exemplo, músico, cujo feminino, música, é homónimo de música, que complementa a letra de uma canção.
   Por outro lado, quando dizemos que o «João é o corredor mais rápido da equipa» não pensamos naquela parte da casa que designamos com a palavra igualmente homónima de corredor!...
Edite Prada
Do Ciberdúvidas


Tema
«À borla» ou «de borla»?

Pergunta/Resposta
   É, hoje, muito comum ouvir-se a expressão «à borla», cf. «viajar à borla».
   No entanto, a expressão que sempre ouvi é «de borla». Qual a mais correcta?    Gostaria também de conhecer a sua origem.
   Obrigado.
João Varela
Inglaterra

   Nos dois dicionários consultados, Academia das Ciências de Lisboa e Houaiss, as expressões «à borla» e «de borla» são consideradas equivalentes.
   Numa pesquisa através do corpus CETEMpublico in www.linguateca.pt, as duas expressões têm um número aproximado de utilizações, nos 471 exemplos em que ocorrem.
   O dicionário Houaiss regista ainda a possibilidade de a palavra ocorrer sem a preposição em frases como «Conseguiram uma borla para o teatro».
   
   A palavra borla – que se distingue da sua homónima, com significado de pompom, ou insígnias de doutor – tem a sua primeira ocorrência datada de 1858, significando, segundo o dicionário Houaiss, «calote passado em prostituta»; adquire, depois, tanto em Portugal como no Brasil, o sentido de ajuda, «gozar um prazer ou aproveitar gratuitamente um serviço». No mesmo dicionário propõe-se como origem provável uma pronúncia alternativa, ou corruptela, da palavra burla, que, uma vez identificada como palavra diferente, adquiriu o seu significado também distinto.
Edite Prada
Do Ciberdúvidas


Tema
Pontuação em endereços

Pergunta/Resposta
   Na actividade que exerço actualmente, tenho frequentemente que actualizar endereços em bases de dados, e quase sempre me questiono qual a forma correcta de pontuar um endereço, preciosismo meu talvez, mas realmente incomoda-me não ter a certeza de como escrever correctamente.
   Dever-se-á usar sempre vírgulas? E os espaços, travessões, hífenes, barras...?
   Existe alguma regra específica para cada elemento do endereço?
   Por exemplo, nos seguintes endereços, uso normalmente a seguinte pontuação:
   1) Edifício Magnólia - Rua das flores, Lote 22 - 4º Habitação 42;
   2) Travessa das Camélias - Bairro Floral, 57 - R/C Esq. Trás B;
   3) Praça dos Ornatos, 38A - 1º Dto.
   Está correcta, a forma como pontuei, ou não, os exemplos?
   Também, na alínea 3, tenho dúvidas quanto ao uso de espaço, ou não, em números afectos a letras.
   Grato pela vossa atenção.

Bruno Pereira
Assistente Administrativo
Porto
Portugal


   Tenho ideia de que a grafia dos endereços dependerá, em alguma parte, do ditame de um livro de estilo. É isso que sugiro que faça: um conjunto de regras estilísticas que aplique sempre nos mesmos casos. Tem, portanto, margem para escolher a forma que lhe parecer melhor. Vou elencar algumas sugestões com base naquilo que se fazia quando trabalhava com texto deste tipo:
   Todos os elementos são separados por vírgulas, excepto o último, quando corresponde à localidade (com ou sem código postal):
   Edifício Magnólia, Rua das Flores, lote 22, 4.º andar [ou piso], habitação 42 – 1600-234 Lisboa.
   A maiúscula é obrigatória apenas para os nomes próprios (dos edifícios, das vias, dos bairros, das localidades...). Elementos como o número da porta, a designação do andar, se é esquerdo ou direito, etc., terão maiúscula inicial apenas se o requisito estilístico a observar assim o determinar. Também devem ser maiúsculas as letras que especificam os números das portas (30-A) e os andares (1.º C).
   Nos números afectos a letras, como lhes chamou, o habitual é uni-los com hífen. O exemplo que melhor ilustrará esta situação será eventualmente o da famosa porta 10-A, do estádio do Sporting Clube de Portugal.
   A forma usual de abreviar rés-do-chão é r/c. A preferência por maiúsculas (R/C) já é uma questão de estilo.
   Se empregar hífenes ou barras, não se admitem espaços nem antes nem depois: 10-A, 35-A/B/C (forma prática de escrever 35-A, 35-B, 35-C).
   É frequ[ü]ente abdicar-se da abreviatura de número: Praça dos Ornatos, 38-A em vez de Praça dos Ornatos, n.º 38-A.
   Algumas abreviaturas de uso corrente:
   Al. = Alameda
   Av. = Avenida
   B.º = Bairro
   dto. ou d.to = direito
   Ed. = Edifício
   esq. = esquerdo
   fte. ou f.te = frente
   Lg. = Largo
   n.º = número
   Pç. = Praça
   Pcta. = Praceta
   R. = Rua
   r/c = rés-do-chão
   Trav. = Travessa
R. G.
Do Ciberdúvidas