Coisitas...gralhas! - 12

 


Porquê Telec[õ] e não "Telecome"?
      Ao contrário do que continua a ouvir-se na televisão e na rádio portuguesas, Telecom - do nome da empresa Portugal Telecom - deve pronunciar-se com a terminação em som nasal: Telec[õ]. Errado continua, pois, entre outros, o presidente da PT, Miguel Horta e Costa, quando diz a palavra com "o" aberto ("Telecome").
      Deverá pronunciar-se Telecom com a terminação em "õ", porque se trata de uma abreviação da palavra Telecomunicações (com "o" fechado) e constitui uma nova palavra, uma palavra portuguesa, devendo ser pronunciada segundo as regras fonológicas da nossa língua. Ora, em português, a terminação om pronuncia-se [õ]: bom, bombom, bom-tom, chitom, com, destom, diatom, dom, meio-tom, pompom, ronrom, semi-tom, som, tom, trom, zonzom, etc.
      N.E. - A mesma regra acima exposta para a pronúncia das palavras terminadas em om aplica-se aos com das terminações dos endereços na Internet, tipo XPTO.com (XPTO.c[õ]), Sonae.com(Sonae.c[õ]), etc., etc.
Ciberdúvidas


«Seja o próximo testemunho Actimel!»
     «Seja o próximo testemunho Actimel!» – vê-se, e lê-se, em painéis publicitários pelas ruas de Lisboa.
     Este discurso apelativo que nos convida a participar na publicidade a um produto – o Actimel – chama, de facto, a nossa atenção! A mim, provocou-me, de imediato, uma sensação de estranheza e de natural desconfiança. Ser um testemunho? Como é que alguém se pode tornar num depoimento? Será que não confundiram este termo com o outro que, aparentemente, só difere no gé[ê]nero?
     Não pude deixar de pensar nas técnicas da publicidade. E um documento publicitário joga com as sensações que provoca. Ora privilegia a arte de sensibilizar, ora a de chocar, a de desconcertar... E conseguiu! Mas a minha dúvida permanece: Terá sido intencional a escolha de testemunho em vez de testemunha? Porque, na realidade, é este substantivo (de um só gé[ê]nero) que designa pessoas (de ambos os sexos) que dão testemunho de qualquer situação. Ter-se-á o autor da publicidade debatido com as várias hipóteses, do tipo "Seja a próxima testemunha das maravilhas de…." ou "Dê o seu testemunho sobre os efeitos de…" e, perante a vulgaridade da norma, tenha optado pela fórmula do desvio?
     A dúvida persiste. E prefiro iludir-me com estas conjecturas…
Eunice Marta
Ciberdúvidas


Tema
Guerra Fria
Pergunta/Resposta
   Escreve-se guerra fria ou guerra-fria? E deve ser colocado em maiúsculas ou minúsculas?
Mário Azevedo
Portugal
   Aqui, não se vislumbra nenhuma vantagem na utilização do hífen. Também não o usamos em "II Guerra-Mundial", por exemplo. As maiúsculas, sim, justificam-se, por se tratar de um período histórico: a Guerra Fria.
R. G.
Ciberdúvidas


'Absteram-se' e 'obteram'?!
     
No melhor pano cai a nódoa e nem se pode dizer que tenha sido um deslize, uma vez que houve reincidência em dias e situações diferentes.
     Aconteceu com um muito conhecido comentador de um canal de televisão português e, mesmo que de lapsos se trate, é inaceitável que diga "absteram-se" por abstiveram-se e "obteram" em vez de obtiveram.
     É certo que são comuns os erros associados a verbos conjugados como aqueles que lhes deram origem, de que são exemplo os derivados de ter (como obter), de vir (como intervir), de ver (como rever), entre muitos outros.
     A norma obriga – a cultura e a responsabilidade exigem – que esses verbos se conjuguem como o verbo de que derivam. Mas formas como abstiveram-se, obtiveram, interveio, intervier, reviram são apenas algumas das muitas frequ[ü]entemente atropeladas.
     Não duvido que o comentador utilize natural e corre(c)tamente a maior parte destas formas, que por vezes são verdadeiras armadilhas. Mas lá que caiu, caiu…
     Já agora, muita atenção ao verbo reaver, derivado de haver e que na terceira pessoa é reouve e não "reaveu"… É que é mesmo caso para se dizer que… «a língua portuguesa é muito traiçoeira»!
Ciberdúvidas


Tema
«O primeiro outorgante» e «a primeira outorgante»

Pergunta/Resposta
   O primeiro outorgante ou a primeira outorgante?
   Em que situações devo utilizar o feminino ou masculino?
Anabela Duarte
Portugal
   O outorgante é sempre um indivíduo ou pessoa física. Deverá dizer-se «primeiro outorgante», se quem outorga é do sexo masculino; deverá dizer-se «primeira outorgante», se quem outorga é do sexo feminino.
Miguel Faria Bastos
Ciberdúvidas


Petição em defesa do ensino do Português *

Crítica da qualidade do ensino em Portugal, em particular da língua portuguesa e da literatura, Maria do Carmo Vieira, professora do secundário, pôs uma petição a circular, exigindo a «dignificação do ensino» e pedindo a intervenção da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
Em causa, alega, está a aplicação dos novos programas de Língua Portuguesa, tanto do básico como do secundário, que se convertem em manuais escolares e exames nacionais que tratam a literatura como um «mero tipo de texto». Por isso, exemplifica no texto da petição, os alunos são convidados a «transformar um soneto de Luís de Camões numa notícia de jornal, um texto de Fernando Pessoa num requerimento, um auto de Gil Vicente numa carta de reclamação, ou ainda a envolver a poesia de Cesário Verde (...) com editoriais, textos publicitários e outros».
Maria do Carmo Vieira critica também alguns dos exercícios constantes dos exames nacionais de Língua Portuguesa do 9.º ano, em que textos de Alves Redol e de Luísa Costa Gomes são interpretados «com respostas de escolha múltipla e de verdadeiro/falso». Ou ainda o facto de um excerto de Os Lusíadas ter sido substituído, na 2.ª chamada desta prova, pela reprodução de alguns artigos do Tratado da União Europeia.
«Não permita que a língua seja separada da literatura e que a interpretação de um texto literário seja apoiado por respostas V/F ou de cruz», apela-se na petição, disponível em http://www.petitiononline.com/mercurio/ e que conta com cerca de mil assinaturas.
* In “Público” do dia 30 de Dezembro de 2005


Tema
Os gé[ê]neros das palavras

Pergunta/Resposta
   Gostaria de colocar uma questão relativamente ao género feminino das palavras? Com a evolução da língua portuguesa temos assistido à existência de machismo nas palavras? Será o feminino das palavras minorante relativamente ao masculino?
   Agradecia resposta rápida por favor. Obrigada e parabéns pelo "site".
Fátima Fernandes
Portugal

   Se olharmos para a língua de um ponto de vista “sexista”, poderemos, efe(c)tivamente, dizer que o masculino é predominante, pois, sempre que uma palavra tem as duas formas, o mais comum é ser dicionarizada a forma masculina. Acontece o mesmo nas concordâncias, dado que, se um adje(c)tivo qualificar em simultâneo dois nomes, a atitude mais gramatical é a colocação do adje(c)tivo no masculino…
   
   Não creio, no entanto, que se justifique tal abordagem. Muitos dos aspectos da língua são convenções comummente aceites e usadas. Além disso, esse aspecto da língua não tem sofrido alterações. No caso das concordâncias, por exemplo, o gé[ê]nero predominante no latim era o neutro, que era utilizado para designar muitos dos elementos da “Mãe Natureza”, seguindo-se o masculino. É, pois, uma prática que já vem de longe. Discutir se na base estava uma discriminação ou uma atitude «machista» é, creio, descontextualizar conceitos que não têm razão de ser fora do seu tempo, historicamente falando.
       Edite Prada
Ciberdúvidas


Tema
Aumentativo e diminutivo de sala, copo barca + cole(c)tivo resma + nome lenha + cole(c)tivo de burro
Pergunta/Resposta
   Gostaria de saber o aumentativo e diminutivo das palavras “sala”, “copo”, “barca”. E qual é o coletivo de “resma”, “lenha” e “burro”?
Valdir Mota
Brasil
   Sala: salão (aumentativo) e salinha (diminutivo).
   Copo: Copázio (aumentativo e pejorativo) e copinho (diminutivo).
   Barca: barcaça (aumentativo) e barquinha (diminutivo).
   Resma é um colectivo, que exprime o conjunto de vinte mãos de papel ou de quinhentas folhas.
   Lenha é o nome genérico da madeira para queimar.
   Burricada pode ser ajuntamento de burros, e neste caso funciona como colectivo.
F. V. P. da Fonseca
Ciberdúvidas


Tema
Sobre os verbos relevar e delimitar

Pergunta/Resposta
   Num teste de Português, foi-me pedido que «relevasse» no texto. Uma das questões tinha a seguinte estrutura: «Releve, no texto, marcas características do texto diarístico.»
   Eu sublinhei, no texto, algumas dessas marcas, mas a cotação atribuida foi zero. O professor queria que essas marcas fossem transcritas e explicadas na folha do teste.
   O dicionário não me esclareceu, portanto pergunto-vos: será a utilização do verbo «relevar» adequada nessa questão, tendo em conta os objectivos do professor?

Ricardo Andrade
Portugal
   Relevar significa: sobressair e pôr em relevo.
   Por aqui ficamos a saber que o verbo relevar está bem aplicado.
   A dúvida surgiu no modo como deveria dar relevo. Possivelmente nunca teria sido explicado como deveria ser dado relevo. E assim surgiu a referida dúvida. Todos estamos sujeitos a diferentes interpretações quando não nos são explicados todos os passos a dar.
A. Tavares Louro
Ciberdúvidas


Tema
O termo inercial

Pergunta/Resposta
   Gostaria de saber qual a forma correcta:
   referencial “inércial” ou referencial “inercial”
   O contexto é o da física e está obviamente relacionado com a inércia de um corpo.

Cláudio Valente
Portugal

   Devemos ter em atenção dois pormenores:
   a) Sob o ponto de vista ortográfico deverá ser referencial inercial.
   b) Sob o ponto de vista fonético, há toda a vantagem que seja [in?rci’al]. A palavra inercial tem acento tó[ô]nico na última sílaba e deve ter acento tó[ô]nico secundário na antepenúltima sílaba.
   As a(c)tuais regras ortográficas não incluem marcas do acento tó[ô]nico secundário.
   Há, no entanto, toda a vantagem que se mantenha a sílaba tó[ô]nica secundária para que esta palavra seja mais audível e nos recorde imediatamente a palavra inércia que está na base de inercial.
A. Tavares Louro
Ciberdúvidas


Tema
Sobre a pontuação
Pergunta/Resposta
   Apesar de criado bilingue, frequentei apenas a escola primária e secundária do ensino alemão. Aí aprendi as regras de pontuação, perfeitamente definidas por regras gramaticais.
   Ao ser confrontado com a língua Portuguesa, apercebo-me, contudo, que os textos não apresentam, muitas vezes, uma lógica, no que diz respeito a pontuação.
   Dizem-me os "entendidos", que as vírgulas servem apenas para obrigar o leitor a fazer uma pequena pausa...
   Será verdade? As vírgulas, no Português, não servem para separar frases encaixadas, listagens de adjectivos, etc.?

Vítor Martins-Augusto
Eng.º Metalúrgico
Portugal
   

Também em português a pontuação obedece a regras bem definidas pelas gramáticas, constituindo, ao mesmo tempo, um bom auxiliar na leitura em voz alta.
   A vírgula destaca certos membros da frase e separa termos com a mesma função. Observe-se, no entanto, que o seu emprego não é necessariamente rígido; uns autores utilizam-na muito, outros menos.
   De qualquer forma, trata-se de uma matéria rigorosa, intimamente ligada à análise sintá(c)tica, como se poderá observar no texto que se segue, retirado da obra Curso de Redacção I – A frase, de J. Esteves Rei, da Porto Editora, que regista grande número de situações de uso da vírgula:
       «(...)
       a) A vírgula põe em relevo os elementos seguintes:
       • O vocativo, podendo aparecer no início, no meio ou no final da frase.
       188. Oh primo Mateus, não diga isso!
   (Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal)
       189. Ai, menina Jenny, é que... veja. (Júlio Dinis, Uma Família Inglesa)
       190. Que é isso, Manuel? (Júlio Dinis, ibid)
       • O aposto ou qualquer elemento de valor meramente explicativo.
       191. No topo da escada, esbatendo-se na penumbra, surgiu o abdome e logo o rosto avermelhado de Macedo, proprietário da Flor da Amazónia. (Ferreira de Castro, A Selva)
       192. Empresto, sim. (Agustina Bessa-Luís, A Sibila)
       • O complemento adverbial quando colocado em ordem inversa.
       193. Mesmo às cegas, a Justiça instaurou-me um processo (...). (Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas)
       • O nome do lugar, nas datas.
       194. Vila Real, 10 de Março de 1992.
       • A oração subordinada adverbial, principalmente quando anteposta à principal.
       195. E, a meu lado, pela avenida escura das palmeiras, ia dizendo em voz baixa:- Se for polícia, tu não sabes de nada. (Jorge de Sena, Sinais de Fogo)
       • A oração intercalar.
       196. Mas no dia seguinte, como disse, encontrei-me na serra com companheiros de escola. (Vergílio Ferreira, Signo Sinal)
       • A oração relativa explicativa ou apositiva.
       197. Aquele seu gesto, que o Largo da Matriz conhecia há vinte anos, dava à calçada a rápida aparência de uma clareira de selva que deixa passar o elefante pesado e soberano. (Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal)
       • As orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio quando equivalentes a orações adverbiais.
       198. Ordinariamente ao meio-dia, ao acabar de almoçar, Maria Eduarda, ouvindo rodar o trem na estrada silenciosa, vinha esperar Carlos à porta da casa, no topo dos degraus ornados de vasos e resguardados por um fresco toldo de fazenda cor-de-rosa.
   (Eça de Queirós, Os Maias)
           199. E Januário, suspendendo o passeio ao longo do escritório, bateu com a mão espalmada num costal de escrituras, como se acabasse de sair a trunfo puxando o ás.
   (Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal)
       200. Carlos, entusiasmado com a letra dela, quase comparável à lendária letra do Dâmaso, ocupava-a agora incessantemente como copista, sentindo mais amor por um trabalho a que ela se associava.
   (Eça de Queirós, Os Maias)
       b) A vírgula separa:
       • Elementos com a mesma função sintáctica (sujeito composto, verbos e complementos), não unidos por uma das três conjunções: e, ou e nem.
       201. – E não tenho mesmo, não tenho – e ficou contemplando o seu próprio fumo que subia. Depois disse: – Às vezes, nas aulas, eu dou comigo a falar, a explicar, a gritar, a bater aos alunos, porque eu bato neles, e pergunto-me a mim mesmo o que estou ali a fazer. (Jorge de Sena, Sinais de Fogo)
       202. – Meu tio interpelou-me: E tu, tu aí, também intercedes pela tua tia? (Jorge de Sena, ibid).
       • As orações coordenadas assindéticas (sem conector presente) ou justapostas.
       203a. O emigrante português chega ao Brasil, busca trabalho, instala-se. (Vitorino Nemésio, O Segredo de Ouro Preto)
    (...)
       c) Usos especiais da vírgula:
       • Em caso de elipse: supressão de uma palavra ou grupo de palavras.
       204a. Um é meu, o da calça branca; o outro, de meu genro. (Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas)
    (...)
       • Com as conjunções.
       .e – os termos de uma enumeração são separados por vírgula; o penúltimo e o último são separados por e, não se usando a vírgula.
       205. Sevilha, Barcelona, Paris e Roma são as cidades que penso visitar.
       Contudo, a vírgula aparece antes de e:
       – quando a conjunção e marca, além de uma simples adição, uma ideia de consequência, de oposição ou de surpresa;
       206a. Cumprimentei os pais dela, e juntei-me ao grupo. (Jorge de Sena, Sinais de Fogo)
       – quando as orações coordenadas têm sujeitos diferentes.
       206b. Estávamos num jardim que eu não conhecia, e havia vultos pelos bancos. (Jorge de Sena, ibid).
       – quando aparece repetida numa enumeração.
       206c. Sim, é verdade: tudo é magnífico, e são, e banhado pelo sol; (Eça de Queirós, Prosas Bárbaras)
       . ou – com esta conjunção, como podemos ver, seguem-se os mesmos princípios que com e.
       207.
   a) Outras vezes, a jogar, eu fico com as cartas no ar, ou seguindo com os olhos a bolinha da roleta, e pergunto-me que sentido tem aquilo tudo. A única coisa que tem sentido, porque apetece e mais nada, é uma boa mulhar. (Jorge de Sena, ibid).
       b) Mas, se assim acontecia, se, no conhecimento absoluto de nós mesmos pela paixão, nos identificávamos afinal muito menos com o objecto dela que com todos os outros seres que, nesse objecto, participavam da sua realidade e mesmo a constituíam, a paixão destruía-se a si própria, ou nós próprios nos destruíamos, e aos outros, nela. (Jorge de Sena, ibid).
       c) Num ano, ou morre o burro, ou morre o rei, ou morro eu! (De um conto popular)
       . nem – quando usada uma ou duas vezes, em geral, não é precedida de vírgula; se é repetida mais vezes, a vírgula é usada.
       208.
   a) E hás-de concordar que nem eu nem ela precisamos de pedir-te licença. (Jorge de Sena, ibid).
       b) Ó mulheres! Vós todas que tendes dentro do peito o mal que nada cura, nem os simples, nem os bálsamos, nem os orvalhos, nem as rezas, nem o pranto, nem o sol, nem a morte, vinde ouvir-me esta históris florida. (Eça de Queirós, Prosas Bárbaras)
       . mas – pode ser precedida ou seguida de vírgula: no primeiro caso, ela indica uma restrição ou oposição; no segundo caso, indica um tempo de reflexão, uma hesitação.
       209
   a) Muito obrigado, mas não vale a pena. (Jorge de Sena, ibid).
       b) Mas, ah gente! No meio daqueles negros todos, cabeça alta, bem escorado nas pernas, o lódão a ensarilhar tão lesto que nem se via, dava ganas de lhe gritar:
   - Aí, filho de bô’ mãe! Aí! (Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas)
       . porém, todavia, contudo e no entanto, adversativas; logo, portanto, por conseguinte e por consequência, conclusivas, podem aparecer:
       – seguidas de vírgula quando se encontram no início do período ou depois de ponto e vírgula;
       210. Todavia, é com verdadeira alegria que me acho neste canto que a polícia me deixa. (Eça de Queirós, Prosas Bárbaras)
       – precedidas de vírgula se vêm no início de uma oração, no interior do período;
       211. Vá onde quiser, porém fique morando connosco. (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo)
       – entre vírgulas quando se encontram após um dos termos da oração a que pertencem.
       212
   a) Era, contudo, verdade porque lá estava no chão, o balde que Firmino deixara. (Ferreira de Castro, A Selva)
       b) Preferiu, portanto, ignorar que Germa estava nesse momento totalmente desligada e ausente de si (...). (Agustina Bessa-Luís, A Sibila)
       Observação: pois – quando conjunção conclusiva, vem sempre posposta a um termo da oração a que pertence e, assim, isolada por vírgulas.
       c) O seu lugar estava, pois, esquecido, alguma coisa avassaladora e única tinha ganho terreno naquela alma, e não era possível expurgá-la mais. (Agustina Bessa-Luís, A Sibila)»
       Naturalmente, ao pontuarmos um texto, não precisamos de ter presente esta longa lista de normas. Mas a leitura, a escrita e um pouco de estudo e atenção são essenciais para um bom desempenho neste assunto.
Ciberdúvidas


Tema
A expressão «Desculpe lá
Pergunta/Resposta
   A expressão «Desculpe lá!» é correcta?
   Recordo-me de a minha professora de português do 12.º dizer que não, mas não sei porquê!
   Obrigado.
Paulo Miguel Rocha
Portugal
   Não há incorrecção gramatical na frase «Desculpe lá!».
   A palavra funciona como partícula de realce. Tem a vantagem de ser curta e sonora. Além disso, mantém um pouco de advérbio de lugar porque a frase também significa: «Desculpe, a senhora que está aí.»
   Referir a pessoa com quem se fala por uma partícula de realce que funciona normalmente como advérbio de lugar não é, de fa(c)to, elegante.
   Há, portanto, frases mais cerimoniosas como, por exemplo:
   «Peço que me desculpe.»
   «Peço-lhe desculpa.»
   «Desculpe-me, senhora professora!»
   «Desculpe, se faz favor.»
   etc.
A. Tavares Louro
Ciberdúvidas


GIPSOFILA
- Seguindo o hábito popular, o professor Fernando J. da Silva registou, no seu "Dicionário da Língua Portuguesa", esta palavra, como se fosse paroxítona (grave), mas ela é, e sempre foi, esdrúxula. Diga-se, pois, gipsófila, em consonância com anglófi1a ou germanófila, e não gipsofila, como rima de Camila, fila ou gorila, embora seja esta a pronúncia habitual do nosso povo, que, obedecendo à lei do menor esforço, procura evitar sempre as articulações de acentuação proparoxítona.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


 GENÉVE
- O correspondente vernáculo do nome desta cidade suiça é Genebra, exactamente como o da bebida alcoólica ali produzida, que ninguém ainda se lembrou de apelidar, por enquanto, de genève, pelo menos em Portugal.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


GARRETT
- Usado pelo nosso escritor João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, este apelido inglês, cuja pronuncia aproximada é Guérete, na língua original, e proferido por muita gente culta Gàrré, à maneira francesa, o que se considera erro crasso. Ora, para ficarmos de bem com Deus e com o Diabo, tarefa nem sempre fácil, talvez seja melhor adoptarmos a prolação intermédia, como aconselhou, há mais de 50 anos, Vasco Botelho de Amaral, inolvidável fundador da "Sociedade de Lingua Portuguesa".
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


GALÃ
- Proveniente do castelhano galán, que significa nessa lingua com vestuário de gala, o vocábulo gala, cuja primeira vogal é, por vezes, proferida aberta, como a sua correspondente da palavra mala, deve articular-se melhormente surda como a de baliza. Era esta, outrossim, relativamente a tal assunto, a convicção do professor Domingos Azevedo, conforme se pode observar na pagina 286 da sua "Gramática Nacional", dada à estampa em 1880, e mais tarde (precisamente em 1895) confirmada por João de Deus e António José de Carvalho, a página 431 do vetusto, mas ainda hoje prestimoso, "Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil".
Modernamente, designa-se por galã o indivíduo que, numa peça teatral ou fita cinematográfica, desempenha o principal papel de namorado, amante ou cortejador.

Quanto ao plural de galã, grafado erroneamente galães, na página 86, 6ª edição, do "Dicionário da Língua Portuguesa", atribuído a Morais Silva, mas cuja publicação foi efectuada em 1858, 41 anos após a sua morte, devemos seguir apenas o preceito contemporâneo de acrescentar apenas um s ao singular do termo, à semelhança do que acontece com os outros substantivos de rima idêntica: irmã-irmãs, maçã- maçãs, romã - romãs, que ninguem diz nem escreve, porque subscrevia um imperdoavel disparate: irmães, marçães e romães.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


 


GAIATO
- Desde os recuados tempos da nossa infância que nos habituamos a ouvir pronunciar gaiato, com o primeiro a surdo, como o das silabas iniciais das palavras: gatinho, galante e garatuja. Ficamos, por isso, bastante surpreendidos, quando uma conhecida locutora da nossa televisão oficial proferiu duas vezes gàiato, com o primeiro a muito aberto, como o a dos vocábulos: gago, pato e rábula.
Ora, ainda que gaiato derivasse, por exemplo, de Gaia, forma sintética de Vila Nova de Gaia, o que na realidade não acontece, com a sua passagem de palavra tónica a pretónica, a primeira vogal teria, porem, de ensurdecer, conforme é usual. Claro que existem bastantes excepções de natureza regional, mas estas não invalidam a regra, que nos foi ministrada em Lisboa, há mais de meio século, pelo saudoso professor Eça de Almeida, no outrora chamado Liceu de Gil Vicente.
De origem incerta, este vocábulo da linguagem popular, que alguns lexicógrafos filiam no francês gai, como substantivo, significa: menino, garoto, criança, rapaz travesso; como adjectivo, porém, emprega-se normalmente com o sentido específico de: alegre, manhoso, ladino, astuto, finório, malicioso, espertalhão.
Enquanto não se puder justificar a abertura da primeira vogal de gaiato, releguemos essa aberrante pronunciação para o arquivo das inutilidades.

Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais



Ciberdúvidas regressa no dia 19
com o apoio da Fundação Vodafone e dos CTT


Ciberdúvidas vai regressar às suas a(c)tualizações diárias a partir do dia próximo dia 19, assegurados que foram, finalmente, os apoios indispensáveis à continuação deste serviço público de esclarecimento, debate e promoção da Língua Portuguesa.
A Fundação Vodafone e os CTT, Correios de Portugal constituíram-se patrocinadores oficiais do Ciberdúvidas, suportando a meias parte dos custos de manutenção do serviço público que presta na Internet em prol da Língua Portuguesa, como não há outro, nos seus moldes e natureza, em todo o espaço da lusofonia.

O Ciberdúvidas vai estabelecer, entretanto, uma parceria de colaboração com a Porto Editora, que, em devido tempo, será pormenorizada.
Estas três entidades responderam na semana ora finda à petição promovida pelo tradutor australiano Chrys Chrystello, num movimento de enorme repercussão, sem o qual, não temos dúvidas em afirmá-lo, não estaríamos aqui a dar esta boa nova a quantos amam e querem saber sempre mais sobre esta nossa «língua de oito pátrias», como lhe chamou o saudoso João Carreira Bom, co-fundador e principal responsável deste proje(c)to.
A todos os que viabilizaram a continuação do Ciberdúvidas deixamos o nosso mais sentido agradecimento, nomeadamente à Fundação Vodafone, na pessoa da sua presidente executiva, dr.ª Luísa Pestana, ao Conselho de Administração dos CTT, presidido pelo dr. Luís Nazaré, e à Porto Editora, na pessoa do dr. Rui Pacheco, dire(c)tor da Divisão Multimédia.
Permita-se-nos, ainda, uma nota de gratidão à Universidade Lusófona, que tem acolhido nas suas instalações, em Lisboa, o Ciberdúvidas, muito devido ao empenho pessoal do resp(c)tivo reitor, Prof. Doutor Fernando Santos Neves, assim como ao portal SAPO e, em particular, ao seu dire(c)tor, dr. José Carlos Baldino.

Neste seu relançamento, em condições nunca antes reunidas, Ciberdúvidas contou ainda com a intervenção da ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues para o destacamento, em exclusividade de funções, do Prof. Carlos Rocha.
A todos, e por mor da Língua Portuguesa, o nosso bem-haja!


Ciberdúvidas em risco de fechar 

Lisboa, 27 Jun (Lusa) - O Cíberdúvidas da língua portuguesa, consultório linguístico na Internet com um arquivo de 16 mil questões, poderá encerrar até Setembro, caso não obtenha apoios financeiros, alertou hoje o responsável pelo site.
De acordo com José Mário Costa, responsável pelo consultório em conjunto com a Sociedade de Língua Portuguesa, o Ciberdúvidas está em "grandes dificuldades", já com atrasos de pagamentos aos colaboradores, correndo o risco de encerrar.
Ao fim de oito anos e meio de existência, o "site" acumulou um arquivo de 16 mil respostas a dúvidas sobre ortografia, sintaxe e pronúncia da língua portuguesa, respondidas por uma rede de especialistas da área.
Fundado por José Mário Costa em conjunto com João Carreira Bom, o Ciberdúvidas é visitado diariamente por 3.000 a 5.000 pessoas, e responde a uma média de 500 novas questões todas as semanas, feitas na sua maioria por estudantes e professores, mas também por jornalistas, advogados e médicos.
Depois da morte inesperada de João Carreira Bom em 2002, o "site" chegou a estar encerrado durante um ano por falta de financiamento, pois o jornalista foi sempre o mecenas do projecto.
O Ciberdúvidas "é um serviço de interesse público, gratuito, sem fins lucrativos, que responde a dúvidas e promove o debate e a divulgação do português", sublinhou José Mário Costa em declarações à Lusa.
Recordou que o "site" chegou a ter apoios do Ministério da Cultura e do Programa Operacional para a Sociedade de Informação (POSI), que entretanto acabaram.
José Mário Costa afirma-se "em desespero", pois já tentou obter apoio mecenático de empresas públicas e privadas, que "não mostraram interesse" em financiar a sobrevivência do "site" "porque não lhes dá muita visibilidade".
Contudo, nos contactos oficiais que tem mantido, obteve a garantia da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que será destacado um professor para coordenar o consultório de perguntas do "site".
Também está a tentar diligenciar contactos com o Ministério da Cultura e com o Instituto Camões, que coloca igualmente a hipótese de destacar um bolseiro para trabalhar no consultório.
Porém, apesar da boa vontade manifestada por algumas entidades oficiais, o projecto só se manterá se houver um apoio financeiro, pois o site "gera despesas mensais de 5.000 euros", segundo o responsável.
Uma das primeiras consequências da falta de verbas será a ausência de resposta a novas dúvidas colocadas, "porque deixará de haver dinheiro para pagar aos especialistas que as esclarecem", observou.
José Mário Costa comentou que em Espanha deverá surgir em breve um projecto semelhante, resultado da colaboração entre a agência de notícias espanhola (EFE), a televisão estatal (TVE) e o Instituto Cervantes (homólogo do Instituto Camões) com o objectivo de promover o castelhano e "evitar a descaracterização da língua".

Muito obrigados pela estimulante mensagem, mas, infelizmente, não vai ser possível voltarmos em Setembro. A despeito do serviço público que presta – nos moldes e no âmbito como não há outro no espaço da lusofonia –, a verdade é que o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa não conseguiu, até à data, qualquer apoio, de entidades públicas ou privadas, que garanta a sua continuidade.
       Ciberdúvidas da Língua Portuguesa


ESPECTACULAR
- Por que razão é que um desastre, de maior ou menor envergadura, terá de ser sempre apelidado, na linguagem quotidiana de certos jornalistas, de aparatoso ou espectacular? Para evitarmos o emprego de tais chavões, como lhes chamava o saudoso professor Rodrigues Lapa, não seria melhor dizermos simplesmente, sem outros qualificativos, que sucedeu, ocorreu ou aconteceu um desastre em determinado local?
Em nosso entender, espectacular e aparatoso podem ser palavras muito estimulantes da imaginação; mas não se coadunam lá muito bem com qualquer acidente, porquanto lhe atribuem significação inadequada.
Senão vejamos: aqueles adjectivos querem dizer o seguinte (em qualquer dos sentidos): pomposo, ostentoso, flamante, alegre, jubiloso, prazenteiro, radioso, magnificente, esplendoroso.
Para terminarmos esta breve dissertação linguística, acrescentamos ainda aqui o seguinte conselho: se não quisermos empregar o vocábulo desastre, sem adjunção de qualquer outro qualificativo, poderemos escolher ainda qualquer destes adjectivos, que poderão servir de prestimoso bordão na dolorosa caminhada jornalística: deplorável, tremendo, horroroso, terrível, temeroso, apavorante, espantoso, extraordinário, inesperado, medonho, inconcebível, assustador, conforme a exigência das circunstâncias.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


As asneiras dos 'media' I
   
Ele "interviu", eu "reavejo", elas "haverão", tu "fizestes", "prespectiva", eu sei lá que mais, é o ror diário de asneiras dos nossos "media" de maior audiência com a rádio e o "Correio da Manhã" em lugar de tal destaque que, só deste último, se poderia fazer diariamente um glossário da asneira nacional.
   É urgente que alguém proponha na Assembleia da República um modelo de exame para candidatos à carteira profissional de jornalista, locutor e quejandos. E digo na Assembleia da República porque este é um problema nacional, se não patriótico. Os portugueses não sabem falar a sua língua porque, além de mal ensinada e "desensinada" nas escolas, é hediondamente violada dia-a-dia pelos expoentes da
   comunicação nacional.
   Mãos à obra na campanha "Exame de Português nas provas de selecção de profissionais da comunicação social"!...
Francisco Rodrigues Pereira
Portugal
05/07/2005 ara enviada ao Ciberdúvidas


Tema
«Tem de se avir comigo» + «em de se haver comigo»
Pergunta/Resposta
   Numa resposta sobre «ter a ver/ que ver com» (= ter relação com), ao refutar a forma *«ter a haver com», a Dra. Edite Prada dá conta dos usos destes 2 verbos, apresentando exemplos extraídos de vários corpora linguísticos, entre os quais figura uma abonação da suposta expressão *«ter de se haver com alguém», conforme transcrevo:
   «b) Surgem quatro exemplos com ter de se haver, no sentido de ter de prestar contas:
   (8) «A própria FAYAL COAL teve de se haver comigo nos fornecimentos de carvão.»
   Sei que o assunto então em causa era outro, mas aproveite-se agora para desfazer a confusão neste idiomatismo, pois o erro é bastante vulgar (proximidade fonética? Confusão com as contas do «deve e haver»?...).
   Com o sentido de «tirar satisfações com alguém», «ter de prestar contas a», «entender-se com», «governar-se», «orientar-se», «ajustar-se», os dicionários (por ex., o da Academia) registam «avir»/ «avir-se» (lembra o Dicionário de Verbos, de Ana Guedes e Rui G., D. Quixote, que a regência usual é "avir-se com"). Por ex.:
   1. Se continuas assim, tens de te avir comigo.
   2. Eu não me meto na discussão. Eles que se avenham!
   Mesmo que pareça parco de formas, a conjugação é regular – como o "vir", nota o DLP Aurélio Séc. XXI – e não autoriza qualquer confusão com um uso reflexivo de "haver"... Se se mantém vivo em expressões fixas, esse seu uso familiar e popular atesta a forte tradição.
   Será possível esclarecer a origem desta incorrecção? Como surge tal troca, inclusivamente em textos escritos, em jornais...?
   Agradeço a vossa resposta.

Maria de Lourdes Falcão S.
Tradutora
Lisboa Portugal

   Analisando o que dizem os dois dicionários que a consulente cita, podemos verificar que:
       1.º
   O Dicionário da Academia só contempla a forma pronominal do verbo avir-se, para o qual apresenta a descrição que se transcreve:
       1 conciliarem-se opiniões, pontos de vista, chegar a acordo «Como eles não se avinham, teve de intervir»
   2 conseguir adaptar-se a uma situação; habituar-se a ela de forma a obter um bom resultado «Se te avieres com ela, e se te mostrares tão pronto de braço como de língua, virá a ser tua»;
   3 resolver um problema, uma situação difícil sem intervenção alheia; governar-se; orientar-se «com a minha família me avenho eu»
   Fam. Expressão usada para manifestar desinteresse pelos problemas dos outros «Se o barão pensa de outro modo, lá se avenha»
   
   O dicionário Aurélio XXI introduz o verbo como não pronominal, avir, descrevendo-o como pronominal a partir do ponto 3, como se transcreve:
   
   P. 3 sair-se de dificuldades, arranjar-se, haver-se «Deixa-os lá. Que se avenham»
   4 pôr-se em concórdia, conciliar-se, harmonizar-se
   5 combinar-se ajustar-se.
   [Irreg., conj. v vir]
   
   2.º
   Consultando os sentidos do verbo haver nos dois dicionários, verifica-se que ambos referem a existência de sinonímia entre avir e haver enquanto pronominais. Transcreve-se o que é dito em ambos os dicionários:
   
   Dicionário da Academia
   
   Haver
   […]
   IV 3 +se resolver uma dificuldade ou situação específica; sinónimo de arcar arranjar-se, avir-se, comportar-se, dar conta, portar-se proceder «Tinha que se haver com o serviço da casa e o cuidado das crianças»
   4 +se entender-se com alguém para resolver uma situação difícil; enfrentar alguém com que se tenha um desacordo; sinónimo de avir-se, entender-se «Se falhares tens que te haver comigo»»
   
   Aurélio XXI
   
   Haver
   P. 13: proceder, portar-se, comportar-se;
   14 entender-se, arranjar-se, avir-se «Rubião tinha vexame por causa de Sofia; não sabia haver-se com senhoras» (Machado de Assis)
   
   Pelo transcrito, se pode concluir que não há erro ou confusão no uso do verbo haver enquanto pronominal com o sentido de «prestar contas» ou «chegar a acordo»; «ajustar-se», para usarmos definições que surgem nos dicionários consultados. Pelo contrário, nessa acepção avir-se e haver-se são sinónimos! Seja o verbo composto ou não.
   Quanto à parcimónia das formas do verbo avir, a conjugação, irregular como o verbo vir, que é possível consultar no dicionário ‘on-line’ disponível no endereço www.priberam.pt, é plena em todos os tempos e modos.
Edite Prada
Do Ciberdúvidas


Porque se escreve Quixote com x, em português?
Ciberdúvidas/Antena 2
O cinema e a música portuguesas e a necessidade de uma cláusula de excepcionalidade são o tema do programa Páginas de Português deste domingo, dia 24, depois das 18h00 (hora de Portugal), na Antena 2. Fernando Cristóvão (ex-presidente do antigo ICALP) falará da Declaração Universal da Unesco sobre a Diversidade Cultural e ouvir-se-ão, ainda, extractos de algumas páginas do romance de Mário de Carvalho Um deus passeando pela brisa da tarde. Finalmente, o Prof. Fernando Peixoto da Fonseca explicar-nos-á por que se escreve Quixote com x, em português.
[Com repetição, depois, às 22h00 de quarta-feira, 27.]


Tema
Como traduzir "template"?
Pergunta/Resposta
   Como traduzir "template"?
   Pretende-se dizer que este é um documento modelo ou de referência, que poderá ser utilizado quando se verificar uma determinada ocorrência.
Olívia Alves
Secretária
Portuga
l
   "Template" tem, em informática, o significado genérico de «padrão» ou «molde».
   Usa-se para designar um conjunto de dados previamente gravados e que servem de base à inserção de outros dados.
   O conteúdo do «template» varia com o tipo de aplicação a que se refere.
   Tanto pode determinar o formato de um documento num processador de texto, como a máscara de entrada de dados numa base de dados ou o "layout" de uma publicação num programa de edição electrónica.
   O uso do termo «modelo» é inteiramente corre(c)to, em especial se – como se infere da pergunta – existem vários «templates» e a escolha de cada um é condicionada por circunstâncias específicas.
   Essa designação já existe há muito tempo para os diferentes impressos usados em numerosos serviços e empresas.
   A declaração electrónica do IRS, por exemplo, é idêntica a qualquer "template" de uma folha de cálculo, com as células definidas e formatadas previamente e onde só falta introduzir os dados.

Mais sugestões de tradução de termos da informática, aqui.
Do Ciberdúvidas


Hêlena', 'hêrói', 'êxame'??!
     Num curioso livrinho Venha comigo aprender Português (Europress, 2002), escreve o seu autor, Pedro da Fonseca:
     «Ouvindo a gente certos locutores da nossa Televisão, fica-se envergonhado pela maneira ridícula como se pronunciam algumas vogais. (…) Pronunciam "Êmilia"; 'Hêrculano'; 'êxame'… Evitem apupos e não sujeitem os analfabetos a imitar dislates assim! Dignifiquem o cargo, pois é um dever dos mais relevantes.»
     Ora, esta é uma questão da língua portuguesa que considero bem actual e pertinente. Ouve-se, cada vez com mais frequência, na Televisão, na Rádio, em algumas pessoas "cultas" com quem falamos, pronunciarem 'Hêlena', 'êfectuar', 'êleição', 'êdição', 'êmissão', 'êxacto', 'êxame', 'êxemplo' 'hêrói', etc. etc. A lista seria infindável.
     No entanto, a nossa intuição di-lo e a regra confirma-o, que o e átono no início de palavra, antecedido ou não de h e seguido ou não de r, tem valor de i. Claro, se esse e estiver em sílaba tónica, a pronúncia já será a de um e fechado ou aberto, como em erro [/êrro/] ou esta [/ésta/].
Do Ciberdúvidas


ESMERO
- Embora algumas pessoas profiram este substantivo com a vogal da penúltima sílaba fechada, como se fosse rima de tempero/ exagero ou desespero, o certo é que a sua prolação se faz, pelo menos entre o sul do Mondego e o Vale do Tejo (zona da chamada pronuncia-padrão), sempre com e aberto, como nas seguintes palavras: Nero, reverbero, sincero, vero e Celtibero.
Na página 210 do seu "Dicionário de Rimas para Portugueses e Brasileiros", também Costa Lima alinhou este vocábulo entre os consonantes com: Lutero, Antero, Homero, sincero e Assuero.
Anteriormente a esta abonação, já Domingos de Azevedo, na sua "Gramática Nacional", impressa em 1880, mandava articular esméro, e não esmêro, como nos pretendem agora inculcar alguns locutores mal informados, apesar da sua cultura universitária.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais


ESTIBORDO
- Precisamente porque abrimos a sílaba tónica do termo náutico bordo, assim também devemos proceder em relação aos seus cognatos: bombordo (lado esquerdo no navio, quando se olha da ré para a proa) e estibordo (lado aposto a esse). Quem proferir, por conseguinte, bombôrdo ou estibôrdo, em lugar de bombórdo ou estibórdo, que são as prosódias correctas, está a cometer um lapso imperdoável.
Francisco Alves da Costa
Jornal Olivais